Tempestade dantesca na Córsega, saiba mais

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Tempestade dantesca na Córsega, uma catástrofe no mar

Estamos em pleno verão europeu. O calor é escaldante, como nunca se viu. Mesmo assim, ou até por isso, o litoral neste 2022 estava repleto de turistas. Hotéis lotados, marinas sobrecarregadas de tantos barcos, e as companhias que vendem charters em veleiros, felizes com a agenda lotada. Mas, os que estavam navegando próximos da ilha de Napoleão Bonaparte, ou fundeados em suas baías, nem de longe imaginavam o que estava por vir. A previsão do tempo havia anunciado o risco de tempestades por alguns dias. Mas na Córsega, depois de 15 de agosto, o contrário é que teria sido surpreendente. Assim, acostumados, os marinheiros sabem que devem estar alertas. Contudo, nenhum deles suspeitava da ‘tempestade perfeita’ que os rondava.

Tempestade na Córsega
Imagem,

Manhã de 18 de agosto de 2022, Córsega

O capitão de um catamarã consulta o boletim da Météo France, na noite de 17 de agosto. A previsão sinaliza “alerta de ventos” e descreve “uma zona de baixa pressão complexa 1007 a 1012 hPa, com fortes trovoadas associadas”, mas prevê para a noite um vento variável vindo de Leste, com 21 a 27 nós . Já para o dia seguinte, seria vento variável entre 4 até 16 nós , refrescando de Sudoeste, e aumentando para 16 a 21 nós no final da tarde.

Nada de mais para quem está habituado.  Entretanto, o capitão, num aparente sexto sentido, decide consultar outras previsões.

Mapa da Córsega
Em vermelho, a Córsega.

“À noite, por volta das 22h, consulto os diferentes modelos meteorológicos, o risco de tempestades no WeatherPro e também o post de um amigo no Facebook que também analisa o tempo: vemos previsões de rajadas de vento sobre a Córsega em mais de 100 nós para as 8 horas da manhã!”

“Então, olho novamente para o boletim meteorológico oficial (Météo France), ainda nada alarmante. Estou tranquilo, mesmo assim decido abaixar a vela de proa, e também prender com segurança os dois remos, o caiaque, a prancha de windsurf e o kitesurf (depoimentos ao www.voilesetvoiliers.ouest-france.fr).”

Ele teve sorte. Entretanto, a maioria das mais de 100 embarcações que estavam próximas não tiveram sequer tempo para agir.

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barcos na tempestade
Imagem, You Tube.

“Você está numa máquina de lavar”

Nicolas Perreira Da Rocha estava em seu catamarã Porquerolle atracado, quando a violenta tempestade estourou na Córsega na manhã de 18 de agosto. Ele acordou de supetão pelo barulho tonitruante de um trovão. Mal saiu do beliche e sentiu grandes solavancos. Era seu barco saltando a cada onda que entrava.

Nicolas subiu correndo e tentou ligar o veleiro para sair daquele local mais raso e assim evitar ondas altas. Mas  mal se controlava debaixo de uma tempestade com ventos de até 100 nós.

“Eu estava nos controles, lutando. De repente percebi meu bote de apoio voando como uma pipa depois de uma rajada. Atordoado, olhei ao redor e vi que o mastro estava se desintegrando, pulei no mar para não ser esmigalhado. Na água, a força das ondas é como “uma máquina de lavar”, disse ele ao www.bfmtv.com. Felizmente, as ondas o levaram para a praia em minutos.

Uma vez na areia, ainda aturdido, Nicolas vê ao longe o lampejo de um carro de bombeiros, ele corre, eletrizado pela euforia de estar vivo. Depois de meia hora passada no quartel próximo, retorna ansioso ao local do naufrágio achando que pode salvar o barco.

“Eu estava completamente indefeso. A ondulação tinha quatro metros de altura, um a mais que meu barco. Eu o vi agonizante, gemendo, sendo cortado pelo poder dos elementos, era excruciante assistir.”

Catamarã destrocado por tempestade
O Porquerolle sem mastro foi dar na praia . Imagem, www.varmatin.com, Dra.

Em poucos segundos o catamarã foi jogado na areia. Em seguida, destroçado pelas ondas. “Não tive chance de salvá-lo.” Desolado, Nicolas desabafou ao www.bfmtv.com“O aquecimento global levou o meu barco, a minha casa. Agora não tenho nada, está tudo no fundo do mar, tudo reduzido a migalhas.”

resgate do que sobrou do barco depois da tempestade
Nicolas resgata o que sobrou de seu barco. Imagem, DR.

A tempestade na Córsega

Segundo o france3, ‘Em 18 de agosto, durante as violentas tempestades que atravessaram a Córsega, 110 operações foram coordenadas pelo centro operacional regional de vigilância e resgate no mar no Mediterrâneo de Ajaccio e Toulon.

Barcos destruídos
Imagem, FaceBook.

Noventa embarcações encalharam, afundaram ou foram danificados (26 em Haute-Corse, 64 em Corse-du-Sud )

a tempestade na Córsega
O resultado da tempestade em imagem de Raphael Poletti para Le Monde.

No mar houve duas mortes e 12 feridos. Enquanto isso, cinco pessoas morreram em terra por desabamentos de casas, encostas, postes e árvores.

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veleiro na pedra
Imagem, SIMON GINESTY.

Segundo a fr.euronews.comA Météo France admitiu ter ficado surpresa com a situação, conforme explica o especialista  François Gourand: “Estamos cada vez melhores na previsão de alguns desses fenômenos, mas os modelos às vezes são falhos, porque não representam suficientemente bem esses fenômenos muito localizados. Estamos chegando aos limites do que as previsões meteorológicas podem detectar”. 

barcos na praia
Imagem, ©DR.

Em 25 de agosto foi decretado o estado de calamidade pública na Córsega. O corsematin.com informou ainda que ‘O Estado também anunciou a próxima aquisição de cinco boias meteorológicas, a fim de melhor antecipar esses eventos extremos que podem se repetir no futuro. Treze mil pessoas tiveram que ser evacuadas.

Assista ao vídeo e saiba mais

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Comentários

6 COMENTÁRIOS

  1. É curioso usar o adjetivo “dantesco”, ligado ao elemento fogo do Inferno de Dante, para qualificar uma tempestade marítima. Pela extensão que se deu ao uso do adjetivo, não está errado, pois enquadra-se nos conceitos de pavorosa, desesperadora, mas essa relação entre os elementos fogo e água chamou minha atenção.

  2. A matéria é muito interessante e uma excelente ilustração do que já nos faz o aquecimento global, entretanto é necessária uma revisão, pois os valores de intensidade dos ventos estão confusos. Muitos valores em nós são seguidos por “(km)” o que confunde sobre qual seria a correta unidade, além disso um valor em nós que foi convertido explicitamente para quilômetros por hora está incorreto: o texto coloca “até 100 nós, ou 224 km/h”, porém 100 nós são 185,2 km/h.

    • Você tem razão, Everaldo. Na hora que escrevi o post pensei em ‘traduzir’ nós para Km/h. Mas esqueci e acabei publicando com (Km) entre parêntesis para, depois de pronta colocar a velocidade em linguagem leiga. Mas esqueci. E de fato 100 nós é corresponde a 185,2 Km/h. Para os que não sabem, um nó corresponde a 1.852 km. Abraços

      • João, boas.
        Novamente há um equívoco, Nó é uma medida de velocidade e não de distância e muito menos à 1.852 km e sim 1,852Km/h.
        Abraço.

        • A troca do ponto pela virgula é comum para quem está acostumado a usar medidas internacionais, onde o ponto é usado como separador da casa decimal (ao contrario da lingua Portuguesa, que usa a virgula como separador decimal)… Eu mesmo faço isso o tempo todo, ja que trabalho com informatica.

          .

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