Viagem da Kika, do Golfo de Biscaia até os fiordes noruegueses

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Viagem da Kika, do Golfo de Biscaia até os fiordes noruegueses, relato Nº 18

DO GOLFO DA BISCAIA ATÉ OS FIORDES NORUEGUESES

Aportamos na Galícia depois da travessia do Atlântico, falamos pelo rádio com o porto de Coruña e eles nos encaminharam para a pequena baía abrigada de Ares. Testemunhamos o primeiro dia de flexibilização da quarentena na Espanha, sábado 2 de maio de 2020.

Foi comovente ver as pessoas se reencontrando depois de dois meses de reclusão, os horários e as atividades permitidas eram escalonados. Foi nosso primeiro desembarque em terra firme e contato com os procedimentos para evitar a transmissão do coronavírus, no mar não corremos o risco de contágio.

A travessia do Golfo da Biscaia

Partimos com condições meteorológicas favoráveis para começar a atravessar o Golfo da Biscaia, uma parte do Atlântico compreendida entre a costa norte da Espanha e a Bretanha.

Os fortes ventos de noroeste desta região tem como origem as baixas pressões do mar do Norte combinados com os anticiclones dos Açores.  As ondas formadas a milhares de quilômetros de distância podem adquirir grandes proporções, principalmente na parte sul do golfo.

Sables d’Olonne

Chegamos em Sables d’Olonne na véspera da flexibilização da França, a cidade estava vazia e foi uma longa sequencia de autorizações até nos permitirem abrigar de um mal tempo.

imagem de veleiro no seco

A tripulação desembarcou e tiramos o Antarctic da água para pintura e manutenção, um trabalho braçal intenso no entanto com todo tipo de material disponível. Sables d’Olonne é um porto pesqueiro e de lazer, sede da célebre regata ao redor do mundo em solitário Vandée Globe, seu entorno está repleto de estaleiros onde são construídos os veleiros de alumínio Ovni e os catamarãs Lagoon para citar alguns.

Charters na temporada de verão

Nosso plano original era fazer charters na temporada de verão nos canais da Escócia e em Lofoten, um arquipélago na Noruega acima do Círculo Polar Ártico. Com fronteiras ainda fechadas e futuro incerto partimos rumo norte.

imagem de canais da Escócia
Os canais da Escócia.

Île d’Yeu

Fizemos escala na Île d’Yeu para nos encontrar com Anne-Flore e Lenno a bordo do Tres Hombres, um veleiro de velas quadradas que faz transporte carbono zero de produtos sustentáveis do Caribe para a Europa. Seguimos navegando rumo a Lorient, na Bretanha.

imagem do bergantim Tres Hombres
Bergantim Tres Hombres.

A navegação nesta região exige perícia pois há uma grande quantidade de ilhas e a correnteza pode ser muito forte.

imagem da Île d’Yeu
Île d’Yeu.

Vimos vários veleiros com foils, um princípio hidrodinâmico desenvolvido pelo espirito pioneiro do bretão Éric Tabarly. Inovador em matéria de construção de barcos competitivos e multicascos, Tabarly quebrou recordes de velocidade e conquistou grandes vitórias em regatas de longo percurso.

imagem de cite de la voile
na parede a homenagem a Éric Tabarly.

Desapareceu no mar em 1998.

A Bretanha

A Bretanha é um mundo `a parte, inclusive da França. De origem celta e longa tradição náutica, os bretões se orgulham do seu próprio idioma e seus costumes.

Em Lorient encontramos velhos amigos do Georges e fizemos uma agradável vida social. Embarcaram conosco dois tripulantes: Felipe Quiroga, amigo da Samanta (minha filha) e dw Igor Beli e experiente tripulante nos mares do sul; e Guillaume, capitão de bateau mouche em Paris.

Ilhas Glenan

Ancoramos nas ilhas Glenan para dormir e prosseguimos até Pont l’Abbe para visitar o Arctic, terceiro veleiro de alumínio construído pelo Georges. Desde que foi vendido cinco anos atrás está sendo reformado e acabou perdendo suas características, foi um pouco triste de ver.

O temível gargalo de Raz de Sein

No extremo noroeste da Bretanha cruzamos o temível gargalo de Raz de Sein onde a correnteza pode chegar a oito nós dependendo da maré. Em seguida atravessamos o Chenal du Four, bem sinalizado entre faróis.

Canal da Mancha

Desembocamos no Canal da Mancha, uma verdadeira avenida de navios, como numa autopista o traçado para embarcações é bem definido, sendo que os navios de carga perigosa tem percursos separados.

Com auxílio do AIS que fornece todo tipo de informações sobre os barcos (velocidade, rumo, distância, tamanho, risco de colisão, etc) atravessamos as “avenidas” para chegar na Cornuália, no extremo sudoeste da Inglaterra.

Navegando no mar da Irlanda

Seguimos navegando através do mar da Irlanda e passamos ao largo da Ilha de Man, toda esta região de origem celta teve grande influência viking. Na Escócia navegamos pelo Sound of Jura onde a maré pode provocar fortes turbilhões de correntezas contrárias, nas cartas náuticas há indicação de zona de treinamento de submarinos.

Não pudemos atravessar os lochs que levam até Inverness pois as fronteiras do Reino Unido continuavam fechadas. Em Oban tentamos ir para terra de bote mas os moradores locais não nos deixaram desembarcar.

image de Oban, Escócia
Oban, Escócia.

Ao longo dos canais escoceses vimos ruinas de castelos, pastagens verdes com ovelhas entre montanhas, igrejas e outras construções de pedra. Contornamos a Escócia por cima, uma paisagem de majestosos penhascos, com faróis marcando os cabos e colônias de alcatrazes, à distância vislumbramos o relevo das ilhas Hébridas mais ao norte.

imagem de colônia de alcatrazes, Escócia.
Colônia de alcatrazes, Escócia.

Mar do Norte

Nos lançamos no Mar do Norte para uma travessia de 350 milhas até a Noruega. Pelo percurso avistamos as ilhas Orcadas e Shetlands, que pertencem à Escócia. Ao entrar em águas norueguesas atravessamos uma área com muitas plataformas de petróleo e movimento constante de navios.

Alguns pontos de extração nem plataforma tem, os navios coletam petróleo diretamente através de enormes mangueiras. Contemplamos os altos picos nevados noruegueses despontando no horizonte no final do dia e na manhã seguinte chegamos em Ålesund.

Assim terminou a etapa do Golfo de Biscaia até os fiordes noruegueses.

Imagem de abertura: Navegando entre a Escócia e as Hebridas

Viagem da Kika, travessia do Atlântico, relato Nº 17

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