Tilápia como espécie invasora enfurece criadores
O Brasil tem no agronegócio e no petróleo as bases de sua economia. Em 2024, o agro representou 23,2% do PIB, e o petróleo liderou as exportações, com 44,8 bilhões de dólares em vendas. Enquanto o setor do petróleo trabalha em silêncio, o do agronegócio insiste em negar impactos ambientais. No entanto, a criação de tilápia causa sérios danos. Por isso, a CONABIO — Comissão Nacional de Biodiversidade — acertou ao classificá-la como espécie invasora.

Criação da tilápia no Brasil
Para Pedro Lupion, empresário e Deputado Federal (Republicanos) pelo Paraná, ‘essa proposta da CONABIO, ligada ao Ministério do Meio Ambiente, ameaça não só a piscicultura, mas também a agricultura, a silvicultura e a geração de empregos em todo o país’.


Ele desabafou em seu canal do Instagram que imediatamente transformou-se num ringue de boxe entre a ‘turma do agro’ e os ‘verdes ou amigo dos verdes’. ‘Espécie invasora é a Marina Silva’, outra veio em seguida: ‘O foco disso é aumentar a Fome… para manipular mais ainda o povo’.
A tilápia, espécie exótica e invasora da África, espalha-se como praga pelo Brasil, infesta rios e já alcançou o mar, do Maranhão a Santa Catarina.
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Esse fato incomum — uma espécie de água doce capaz de viver em água salgada — revela a resistência da tilápia, um predador que vem se alimentando da fauna marinha e de água doce do País.
O que significa classificar a tilápia como espécie invasora?
Entre os principais efeitos estão a competição por recursos com espécies nativas, a predação, alteração de habitat, capacidade de proliferação, transmissão de doenças e parasitas, e hibridização.
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Entretanto, a grita dos porta-vozes do agro foi tão potente que o Ibama publicou uma nota explicativa. Basicamente, Ibama e o Ministério do Meio Ambiente afirmam que a produção legal em cativeiro continua autorizada e que a classificação não tem como objetivo proibir a atividade comercial. A classificação como espécie invasora tem um caráter técnico e preventivo, visando orientar políticas de controle e preservação para proteger os ecossistemas naturais do país.
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Invasão da tilápia no mar brasileiro, do Maranhão até Santa CatarinaCamarão azul gigante, mais um perigoso invasor na AmazôniaExterminar eucaliptos e pínus do litoral é dever de todosEis o motivo da grita dos porta-vozes do agro: diante dos impactos causados, o Ibama pretende criar regras para evitar fugas de tilápias, proibir criadouros às margens de rios como o São Francisco e exigir mais controle e segurança dos produtores. Motivos suficientes para enfurecer as lideranças do setor.
Como uma criação pode prejudicar espécies nativas?
Você pode perguntar como a criação de uma espécie prejudica as outras, e a resposta é simples. Basta um par de peixes ‘exóticos’ escapar dos tanques de criação para começar a ‘invasão’. E, depois que começa, não para mais.
Os exemplos são muitos, sendo um deles o peixe-leão, do Índico, que o aquarismo levou para os Estados Unidos, e um colecionador decidiu devolvê-lo ao mar no Caribe. Hoje o peixe é uma praga no Caribe, produzindo estragos monumentais, e começa a fazer o mesmo em águas brasileiras.

Quer mais exemplos? Então, que seja outra espécie, desta vez nativa da Bacia do Amazonas, o pirarucu, ou ‘o maior peixe de escamas de água doce do mundo’ e, além do mais, carnívoro. Há muitas criações no Sudeste e alguns indivíduos escaparam de seus tanques ou gaiolas.
Desde 2015, o pirarucu aparece no Rio Grande, perto de Cardoso, na divisa entre São Paulo e Minas Gerais. Sua presença cresce, sobretudo, no rio Turvo, também em Cardoso. Em janeiro de 2022, o jornal Estado de Minas noticiou que um jovem pescou um exemplar de 117 quilos no interior paulista. A espécie se espalhou pelo rio e vem prejudicando os peixes nativos do noroeste do Estado.

Por este mesmo motivo criticamos o governo Lula 1 em 2008, quando o presidente decidiu que chegara a hora de promover uma reforma aquária (sic) no País criando tilápias ou Saint Peter (Tilápia vermelha do origem israelense) no Lago de Itaipu.
O mercado de criação do peixe no Brasil
A tilápia chegou ao Brasil na década de 1950 para impulsionar a piscicultura no Nordeste e ampliar o acesso à proteína, como já contamos. A partir daí, espalhou-se pelo país inteiro. “Perdeu-se o controle, não há mais como erradicá-la”, avaliou o cientista Petrelli Júnior, um dos 100 mil pesquisadores mais influentes do mundo.
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Em grandes números, eis agora alguns dados das criações no País. A tilápia é o carro-chefe da piscicultura nacional, sendo responsável por quase a totalidade das exportações do setor.
Em 2024, as exportações de tilápia e outros peixes de cultivo alcançaram valores recordes. No primeiro trimestre de 2024, as exportações da piscicultura foram de US 8,7 milhões, um aumento de 138% em relação ao ano anterior.Para encerrar, a tilápia representa cerca de 70% da produção total de peixes de cultivo no Brasil, que ultrapassou 968 mil toneladas em 2024, o que demonstra sua importância interna no mercado de alimentos.
A nosso ver, antes de criticar a norma que já veio tarde, seria oportuno os criadores tomarem mais cuidado, ainda que isso aumente os custos, afinal, somos o campeão mundial da biodiversidade, nenhum setor da economia tem o direito de pôr este ativo em risco.
Assista ao vídeo de um cardume de tilápias no mar de Búzios, RJ











