Canal do Valo Grande impõe severos riscos ao Lagamar Iguape-Cananéia-Paranaguá
Riscos ao Lagamar: o Lagamar é um gigantesco estuário cercado pelo maior trecho contínuo de Mata Atlântica do Brasil. Ligando os dois extremos, Paraná e São Paulo, há uma série de canais que serpenteiam por um belíssimo manguezal; eles começam em Iguape, sul de São Paulo, e seguem até Paranaguá, no norte do Paraná. Estes canais recebem a água do mar por várias “aberturas”, ou barras. Do norte para o sul, a primeira é barra de Icapara, em Iguape; depois Cananéia, mais ao sul; em seguida existe a barra do Ararapira; a de Superagui e, finalmente, a barra do porto de Paranaguá.
A água do mar, que penetra pelos canais, recebe água doce de centenas de rios que nascem na Serra do Mar circundando todo o conjunto, e formando a água salobra, ou “estuário”, propício à criação da vida marinha. Ainda por cima, toda a área é belíssima, com paisagens de tirar o fôlego, e uma biodiversidade espetacular.
APA federal marinha Cananéia-Iguape-Peruíbe
APA significa “Área de Proteção Ambiental”. Em termos das Unidades de Conservação, é a mais permissiva entre os 12 tipos existentes no Brasil. Na opinião deste site, que visitou todas as APAs federais marinhas, elas não protegem coisa nenhuma.
É apenas mais um equívoco da Lei do SNUC. A Unidade de Conservação foi criada em 1985, portanto, há 31 anos. E ainda convive com os mesmos problemas!
Além da ausência quase total de fiscalização, resultado da mixórdia que é o orçamento do ICMBio, há outro problema gravíssimo, para o qual os gestores da Unidade fingem não ver: o despejo de água doce em excesso, resultado da desastrada abertura do Canal do Valo Grande.
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Canal do Valo Grande: um desastre ambiental ignorado pelo ICMBio
O grande vilão do Lagamar é o Canal do Valo Grande, espécie de “atalho” feito pelo homem em 1852, no rio Ribeira de Iguape.
Naquele tempo o porto de Iguape era um dos mais importantes do Sul do Brasil, e ficava defronte à cidade. Por ele era escoada a produção agrícola da região, especialmente o arroz. O rio Ribeira serpenteava por trás da cidade até atingir sua barra, alguns quilômetros ao norte de Iguape.
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Para economizar tempo, decidiu-se abrir este canal ligando o Ribeira diretamente ao “Mar Pequeno”, onde ficava o porto. Veja no mapa:
O Valo Grande e o naufrágio de Iguape
Desde então a cidade de Iguape literalmente naufragou. O canal, que deveria ter no máximo 40 metros, sofreu os efeitos da erosão provocada pela vazão do rio. Hoje tem mais de 300 metros de largura.
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E a água doce, que continua a fluir livremente até hoje, está matando o manguezal da região e provocando o fechamento de bocas de rios com capim. Além disso, quando chove a água desce barrenta, escura, o que impede a entrada de peixes. A solução? Basta fechar o canal. Uma barreira foi construída, com o dinheiro público, mas continua aberta por omissão do órgão federal: o ICMBio.
Só o ICMBio não enxerga os estragos do Canal do Valo Grande. Assista ao vídeo e comprove.
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