Parques Nacionais Norte-Americanos: ode à democracia

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Parques Nacionais Norte-Americanos são visitados por milhões de pessoas, e geram empregos e renda

Os Parques Nacionais norte-americanos são conhecidos pela expressão ‘the best thing America did’. Com razão. Foram os precursores das áreas protegidas. E exemplo de funcionamento em todo o mundo. Não por outro motivo, em 2016 nada menos que 331 milhões de pessoas os visitaram (no mesmo ano, a população dos Estados Unidos era de 323 milhões…). Mas, o mais importante: a criação destes parques nacionais têm tudo a ver com democracia.

imagem do grand canyon, um dos parques nacionais norte-americanos
Grand Canyon National Park, que gera mais de US$ 460 milhões em renda por ano.

Yosemite, 1864

Os colonizadores do velho oeste ficaram embasbacados quando encerraram a expansão do território norte-americano atingindo a Califórnia. Ao verem a beleza da região de Serra Nevada, seus incríveis penhascos de granito, rios, quedas d’água, florestas de sequoias; foram rápidos, aquela beleza não podia ser privatizada.

Começou o que hoje se chama de ativismo ambiental. Não demorou para sensibilizarem o presidente. Abraham Lincoln, em 1864, criou o Yosemite Grant Act,  um parque estadual. A Lei de Yosemite estabeleceu um precedente para a criação dos parques nacionais. Foi a primeira vez que o governo norte-americano reservou terras para preservação e uso público.

Yellowstone, 1872: primeiro parque nacional da América e do mundo

O Congresso dos Estados Unidos estabeleceu o Ato de Proteção ao Parque Nacional de Yellowstone em 1872. Os criadores do projeto vislumbraram um “espaço de prazer” para o desfrute de todos os americanos (exceto os nativos que seriam efetivamente excluídos do parque. Por ser de proteção integral, a área protegida não poderia ser habitada).

Em primeiro de março daquele ano o presidente Ulysses S. Grant assinou o projeto de lei tornando Yellowstone o primeiro parque nacional da  América – e do mundo.

Frederick Law Olmsted e os Parques Nacionais Norte-Americanos 

Foi o criador do Central Park, em Nova York. E dezenas de outros parques urbanos nos Estados Unidos e Canadá. Teve papel fundamental no conceito, e criação dos parques nacionais americanos. Era jornalista e botânico.

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No verão de 1865,  Olmsted liderou uma comissão criada pelo estado da Califórnia para determinar o que fazer com as paisagens espetaculares na Sierra Nevada. “Yosemite e o grande bosque de árvores de Mariposa: um relatório preliminar”, relatório que Olmsted submeteu à legislatura da Califórnia, é um dos documentos fundadores do movimento de conservação dos EUA e do que mais tarde seria conhecido como a ideia de parque nacional.

O coração do conceito de Olmsted

O coração do conceito era que os melhores lugares deveriam estar abertos ao público mais amplo:

É a vontade da Nação como incorporada no ato do Congresso que este cenário nunca será propriedade privada. O estabelecimento pelo governo de grandes motivos públicos para o livre desfrute do povo sob certas circunstâncias, é justificado e aplicado como um dever político.

Declaração da Independência

Ele localizou a fonte desse novo princípio num texto inesperado: a Declaração da Independência. Como Olmsted argumentou, era “o principal dever do governo … fornecer meios de proteção para todos os cidadãos na busca da felicidade contra os obstáculos … que o egoísmo de indivíduos é passível de interpor nessa busca”.

Olmsted acreditava que o acesso público à natureza era um “direito inalienável“.

imagem do parque nacional do Grand Canyon.
Grand Canyon, bilhões de anos de erosão do rio Colorado resultaram nesta paisagem espetacular.

‘Desigualdades da emergente Era Dourada’

Olmsted repetidamente enfatizou as desigualdades da emergente Era Dourada da década (de 1870 a cerca de 1900). “Há nas ilhas da Grã-Bretanha e da Irlanda mais de mil parques privados e terrenos notáveis ​​dedicados ao luxo e à recreação”, escreveu. “O desfrute das cenas naturais mais escolhidas no país e os meios de recreação relacionados com eles é, assim, um monopólio, de uma maneira muito peculiar, de pouquíssimas pessoas ricas. A grande massa da sociedade, incluindo aqueles a quem seria de grande benefício, é excluída dela.”

Assim nasceram os Parques nacionais norte-americanos. 

Frederick Law Olmsted não é o único que devemos louvar

Ele encontrou eco em seus pares, dezenas deles, que também deram extraordinária contribuição. Um, entretanto, deve ser citado. É o jornalista, espécie de hippie, John Muir (1838-1914). Escocês de nascimento, Muir se fez nos Estados Unidos como naturalista e jornalista. É considerado um dos fundadores do movimento conservacionista moderno. Desde 1876, Muir exortou o governo a adotar políticas de conservação. Ele se tornou figura central no debate sobre o uso da terra, advogando em nome da preservação.

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Foi o primeiro conservacionista, aqueles que defendem que parques e florestas nacionais deviam ser preservados em sua totalidade (seus recursos deveriam ser proibidos para outros interesses). Em 1892 fundou uma das primeiras ONGs, a Sierra Club, e foi seu presidente até sua morte.

John Muir e o Parque Nacional de Yosemite

Ele esteve em Yosemite pela primeira vez em 1868. Ficou tão impressionado com a beleza que se mudou para lá, onde cuidava de um rebanho de ovelhas enquanto estudava flora e fauna. Em 1889, Muir levou Robert Underwood Johnson, editor da Century Magazine, a Tuolumne Meadows, local onde estava. Mostrou como as ovelhas danificavam a terra.

Muir convenceu Johnson de que a área só poderia ser salva se fosse incorporada a um parque nacional. A publicação de Johnson das exposições de Muir provocou um projeto de lei no Congresso que propôs a criação de um novo parque administrado pelo governo federal em torno da antiga concessão. O Parque Nacional de Yosemite tornou-se realidade em 1890.

bosque de sequoias num dos Parques Nacionais norte-americanos
As sequoias de Yosemite.

Assista ao vídeo (2019) do Yosemite National Park

Yosemite National Park, USA, 2019

A administração dos primeiros parques nacionais norte-americanos

No final de 1800 e início de 1900, cada parque nacional e monumento foi administrado de forma independente, com diferentes graus de sucesso. Isso não é bom, perceberam.

O ativismo de John Muir resultou em eficiência

Nos anos depois da criação do parque nacional da Yellowstone John Muir, e ambientalistas  que ele sensibilizou,  pressionaram pela preservação de outros ambientes com a criação de mais parques e monumentos nacionais.

Em 1906, o Presidente Theodore Roosevelt assinou a Antiquities Act , lei que dava aos presidentes a autoridade de criar monumentos nacionais para preservar áreas de interesse natural ou histórico.

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Por fim, o presidente Woodrow Wilson estabeleceu o National Park Service (agência federal dentro do Departamento do Interior) em 1916 para consolidar a gestão dos parques federais dos Estados Unidos.

O que o National Park Service administra hoje

O governo federal tem cerca de 640 milhões de acres de terra nos Estados Unidos. Isso representa cerca de 28% da área total de terra do país (2,27 bilhões de acres). O National Park Service hoje administra 419 áreas protegidas (112 parques cobram taxa de entrada), ou 84 milhões de acres em todos os estados e territórios dos EUA. E serve de modelo para países em todo o mundo.

Por que os Parques Nacionais Norte-Americanos geram renda, enquanto outros mundo afora não o fazem?

Em primeiro, colocando a estrutura via concessões; depois, divulgando e cobrando.

Site da NPS: “Contratos de concessão oferecem serviços ao visitante. Temos edifícios para construir, estradas para pavimentar, estações de tratamento de água para operar e telhados para reparar.” Mas tem mais, “alimentos, hospedagem, guias para passeios, rafting, escalada, e outros; venda de lembranças, licenciamento de marcas, e dezenas de atividades em mais de 100 áreas são fornecidas por empresas privadas. Os serviços, de cerca de 480 concessionárias, faturam mais de US $ 1 bilhão por ano. E geram empregos para mais de 25 mil pessoas durante a alta temporada.

Áreas protegidas nos USA, rendimentos em 2018: US$ 20,2 bilhões, e 329 mil empregos

National Park Service:  Sob o título, “Contribuições econômicas para a economia nacional’, o site explica. Em 2018, 318 milhões de visitantes gastaram cerca de US$ 20,2 bilhões enquanto estavam nas terras do Serviço Nacional de Parques.

ilustração de geração de renda nos parques nacionais norte-americanos

Essas despesas suportaram um total de 329 mil empregos, US$ 13,6 bilhões em renda do trabalho, US$ 23,4 bilhões em valor agregado. E US$ 40,1 bilhões em produção econômica na economia nacional.”

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imagem do parque nacional do Grand canyon
Grand Canyon National Park.

A estrutura do NPS

A partir de 2018, o NPS, ‘o ICMBio‘ deles,  emprega aproximadamente 27.000 funcionários que supervisionam 419 unidades, das quais 61 são designadas como parques nacionais (para efeito de comparação, e de acordo com o site do órgão, “O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade tem 3.603 servidores voltados diariamente às necessidades das Unidades de Conservação…”).

imagem de queda d'água no parque nacional de Yosemite
As quedas d’água do Yosemite.

O orçamento do NPS

Apesar dos recursos gerados, as áreas protegidas dos EUA não se sustentam sozinhas. “No ano fiscal de 2019, Donald Trump propôs um orçamento de US$ 2,7 bilhões para o Serviço Nacional de Parques (NPS), que inclui legislação para estabelecer um Fundo de Infra-Estrutura de Terras Públicas que ajudaria a solucionar a carteira de manutenção de US$ 11,6 bilhões do NPS.”

Parques Nacionais Norte-Americanos: conclusão

Preservar, para as atuais e futuras gerações, custa. Por isso é importante aprender como fazer renda e gerar empregos com a conservação. Administrar de forma empresarial, fazendo parcerias com a iniciativa privada e indo além, cirando fundos, é o único caminho.

O resto, como dizem os gringos, é ‘bullshit’ de neófitos de plantão!

Assista ao vídeo, feito em 2019,  do Parque Nacional do Grand Canyon

Grand Canyon National Park

Fontes: https://www.history.com/topics/us-government/national-park-service; https://www.nps.gov/yose/index.htm; https://placesjournal.org/article/yosemite-and-the-future-of-the-national-park/?gclid=EAIaIQobChMI3arjsKvT4wIViwaRCh0X7wNiEAAYASAAEgKevfD_BwE&cn-reloaded=1; https://www.nationalparkstraveler.org/2015/03/national-park-service-sitting-half-billion-dollars-concessions-obligations26283; https://www.nps.gov/subjects/socialscience/vse.htm; http://www.icmbio.gov.br/portal/ondeestamos.

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Comentários

9 COMENTÁRIOS

  1. Sem dúvidas uma das maiores contribuições dos EUA para a humanidade foi a criação dos parques nacionais.
    O Yellowstone é sensacional mas muito cheio no verão.
    Gostei demais do Arches um parque no deserto entre Utah e Arizona.

  2. Caro autor, interessante o seur artigo. Mas a Ode é a do territorio, excluindo exatamente seus habitantes mais legimos , ou indios como falamos no Brasil. Algo bem britancio. Seria como pedirmos licensa para os indios da Amazonia se retirarem. Em parte ja estamos fazendo isso. No Canada ha alguns anos as populacoes expropriadas dessas areas, eventualmente, gahama acesso os parques, uma forma de reparacao. Contudo é sempre interessante discutir sobre politica territorial, de oucpacao ou exclusao .

  3. Como brasileiro, tenho vergonha de dizer que conheço 23 dos 51 parques nacionais americanos e apenas 7 dos mais de 70 parques brasileiros. Infelizmente o ICMBio não ajuda a conhecermos nossas belezas. É mais fácil proibir!

  4. Exatamente isso… É uma pena que muitas pessoas só consigam ver coisas ruins nos Estados Unidos. O movimento conservacionista e a luta pelos direitos civis são dois excelentes exemplos que o mundo poderia copiar.

  5. Como citado o unicao caminho para preservacao é voce conceder a area pra iniciativa privada “explorar” de maneira adequada. Se fossem fazer isso no Brasil diriam que estamos vendendo nossas terras, por isso nao avancamos.

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