O Canal do Panamá como você nunca viu

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Canal do Panamá como você nunca viu, hoje sofre com falta de água

Mais do que uma passagem entre oceanos, o Canal do Panamá é símbolo de inovação, poder e desafiantes histórias humanas. Essa imponente ligação entre o Atlântico e o Pacífico se ergue como um  “elevador oceânico” — levando navios a 26 m acima do nível do mar por meio de suas três séries de eclusas: Gatún (Atlântico), Pedro Miguel e Miraflores (Pacífico).

Eclusas do Canal do Panamá

Obras começam em 1881

O projeto do Canal do Panamá teve início em 22 de janeiro de 1881, sob o comando do francês Ferdinand de Lesseps, o mesmo responsável pela abertura do Canal de Suez.

As escavações começaram na região de Culebra e mobilizaram cerca de 40 mil operários, dos quais 90% eram afro-caribenhos. Apesar de atrair engenheiros qualificados, muitos desistiam por causa das doenças tropicais. Entre 1881 e 1889, mais de 22 mil trabalhadores morreram — cerca de 5 mil eram franceses.

imagem de obras no canal do panamá
Obras no Canal do Panamá (Foto: wikipedia)

1885 – o projeto entra em colapso

Em 1885, ficou evidente que o plano original de um canal ao nível do mar era inviável. Um canal elevado, com eclusas, seria mais seguro e eficiente. Mesmo assim, De Lesseps resistiu. Só em 1887 o projeto com eclusas foi oficialmente adotado.

Mas já era tarde demais. As taxas de mortalidade continuavam altas. Os recursos financeiros se esgotavam. As obras enfrentavam constantes inundações e deslizamentos. A situação saiu do controle.

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Em 15 de maio de 1889, a empresa francesa que tocava o projeto faliu. As obras foram suspensas. Após oito anos de trabalho, apenas dois quintos do canal estavam prontos — ao custo de US$ 234,8 milhões.

Na cola dos franceses, vieram os norte-americanos

Em 1899, o Congresso dos EUA criou a Comissão do Canal do Istmo para analisar as opções de rota pela América Central. Dois anos depois, a comissão recomendou a construção de um canal pela Nicarágua — a não ser que os franceses aceitassem vender seus ativos no Panamá por US$ 40 milhões.

A proposta virou lei. A Nova Companhia do Canal do Panamá não teve escolha e vendeu o controle pelo valor estipulado.

Para Theodore Roosevelt, garantir o canal sob domínio dos EUA era uma prioridade estratégica.

imagem da construção do canal do Panamá

Panamá ainda era parte da Colômbia

No início de 1903, os EUA tentaram negociar com a Colômbia para obter os direitos sobre o canal. O Tratado Hay-Herrán foi assinado, mas o Senado colombiano recusou-se a ratificá-lo.

Diante disso, Roosevelt agiu nos bastidores. Deixou claro aos panamenhos que, se se revoltassem, a Marinha dos EUA apoiaria sua luta por independência.

O Panamá declarou independência em 3 de novembro de 1903. Poucos meses depois, em 23 de fevereiro de 1904, cedeu aos EUA o controle da Zona do Canal. O preço: US$ 10 milhões, segundo o Tratado Hay-Bunau-Varilla, firmado em 18 de novembro de 1903.

1913 – o Canal quase pronto

Em 10 de outubro de 1913, o presidente Woodrow Wilson acionou, por telégrafo direto de Washington, a carga explosiva que demoliu o dique de Gamboa.

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Com a explosão, o corte de Culebra se uniu ao lago Gatun. O Canal do Panamá estava praticamente concluído.

imagem antiga de navio atravessando o canal do Panamá

1914 – a primeira travessia

Em 7 de janeiro de 1914, o navio Alexandre La Valley fez história. Esse antigo barco-guindaste francês foi o primeiro a cruzar todo o Canal do Panamá com propulsão própria, ainda durante os estágios finais da construção.

Hoje: tráfego intenso e desafios modernos

As eclusas impressionam. Cada uma tem portas de aço maciço com 140 metros de altura e 745 toneladas.

Todos os anos, cerca de 15 mil navios cruzam o Canal do Panamá. Mas o tráfego cresce e os navios também. O canal, que já foi uma façanha da engenharia, agora começa a parecer estreito demais para os supercargueiros do século XXI.

Rotas marítimas que usam o Canal do Panamá.
Rotas marítimas que usam o Canal do Panamá. Ilustração, www.pancanal.com.

Aquecimento global ameaça a navegação no Canal do Panamá

O Canal do Panamá enfrenta sérias dificuldades para manter os  níveis de água necessários à navegação. Segundo o site pt.euronews.com, a chuva este ano ficou 27% abaixo da média. Para piorar, a temperatura do Lago Gatun — principal fonte de abastecimento do canal — subiu cerca de 1,5 °C, o que aumentou a evaporação.

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A administração da hidrovia reconhece: as mudanças climáticas já afetam toda a extensão do canal. O maior desafio será garantir água suficiente para operar pelos próximos 50 anos.

Canal do Panamá completou 100 anos em 2014

Em 2014, o Canal do Panamá completou 100 anos. Para marcar a data, passou por uma reforma gigantesca, com a construção de uma nova via destinada a supercargueiros.

A modernização, proposta em 2006 pelo então presidente Martín Torrijos, transformou a travessia entre o Atlântico e o Pacífico. Além de impulsionar o comércio global, a obra ajudou a reduzir o consumo de combustíveis fósseis e os impactos ambientais.

Vídeo mostra como os navios atravessam esta obra monumental

As pessoas acreditam na existência física da Escola de Sagres — com prédio antigo, e outras instalações. Contudo, isto é um mito, conheça a realidade.

Comentários

16 COMENTÁRIOS

  1. Uma ressalva nessa história: apesar do Panama na boa competência, ter aumentado por ano a passagem de contêiner de 200 nas maos dos EUA em 1990 para 13 milhões hoje com a super expansão do canal na reforma que fez (muito ampliado e passa ate transatlântico e com lucro anual de dezenas de bilhões de U$) tudo pra corrupção e pagar financiamentos, investiu nele dezenas de bilhões mas nao foi capaz de investir na população, nem em educação ou saude, isso desde 2000 quado recebeu o canal e o IDH nada subiu e a população nada melhorou. Absurda distorção: um canal que nem o Suez igual, de 1o mundo mas o pais de 3o mundo, isso o Panama hoje com a maior renda per-capita da AL, governo rico e povo miserável. (fonte BBC-50988193)

  2. Recomendo o livro “Febre do Panamá: A História de Uma das Maiores Realizações do Homem” de Matthew Parker.
    Excelente, aborda aspectos de engenharia, política e gestão relacionados à construção do Canal.

  3. Meu avô, italiano, trabalhou na construção deste canal, ficou doente e se não fosse uma enfermeira francesa teria morrido pois para a companhia francesa era mais barato repor um trabalhador morto do que gastar para curar os doentes. Essa história ou estória foi contada pelo meu avô, se verdade ou não, fica o registro.

  4. Estive visitando o canal do Panamá em 2014, aproveitando uma conexão longa para Bogotá. Durante o trajeto de van do aeroporto até a eclusa de Miraflores o motorista também era nosso guia e explicava os fatos históricos da obra gigantesca:
    Com a desistência dos franceses em terminar a obra, logo vieram os americanos com uma oferta tentadora ao governo Panamenho. Eles terminariam a construção sem custos ao Panamá mediante concessão e ainda os libertariam do domínio Colômbiano.
    A Colômbia, sabendo que perderia o Panamá de qualquer jeito, terminou fazendo um acordo com os USA, vendendo o Panamá por uma fração do que valia, para evitar uma guerra onde os americanos defenderiam o Panamá, para construir o canal e ter controle dele durante 100 anos.
    A concessão já venceu a alguns anos, mas ainda hoje a presença americana no Panamá é muito forte. Para se ter uma ideia, quando um navio da marinha americana entra no canal, ele entra sozinho mesmo cabendo 2 por vez, além disso, enquanto o navio está nas eclusas, todo o espaço aéreo é interditado. Resumindo, os americanos ainda mandam e desmandam por lá. Para eles o canal é um local altamente estratégico !!!!

  5. Esta reportagem é maravilhosa, com muitas informações, precisas e claras esta reportagem eleva a qualidade sempre encontrada neste espaço, parabéns, grande abraço.

  6. Mesmo nem sabendo nadar direito, fico encantado com esses posts, verdadeiras lições de história. Você e seu irmão Fernão fazem muito bem pela cultura e história deste país. Obrigado>

  7. Moro no Panama por uns anos e nunca tive o interesse de conhece-lo. O canal não deve ser mais que meia hora da minha casa. Ironicamente, eu não conheço esse canal, mas conheço bem o Suez Canal no Egito.

  8. O primeiro a atravessa o istmo do Panamá.
    Vasco Nuñes de Balboa, então com 26 anos, alistou-se na expedição de Rodrigo de Bastidas para a América cruzando a costa da Colombia moderna. Em 2501, empreendeu sua primeira viagem , que explorou o litoral caribenho do Cabo de la Vela na Península Guajira até o Golfo de Darien, através das ilhas do Caribe que pertencem à atual Colômbia (Santa Marta, Cartagena e golfo de Urabá ou “Darién”). Em seu retorno em 1502, passou pela Jamaica e se estabeleceu em na ilha de Hispaniola (onde, hoje, se localizam a República Dominicana e o Haiti), na aldeia de Salvatierra, onde viveu vários anos sem qualquer sucesso financeiro, se vendo finalmente obrigado a abandoná-la Em Darién, Núñez de Balboa fundou, em 1510 o primeiro estabelecimento europeu permanente em terras continentais americanas, denominado Santa Maria la Antiga del Darién. Em 1511, Núñez de Balboa obteve o cargo de governador. Movido pelo propósito de descobrir o mar de que falavam os indígenas, se internou continente adentro em 25 de setembro de 1513 num périplo de mais de 30 dias que culminou em uma das maiores façanhas da conquista espanhola da América: o descobrimento do Mar del Sur, nome que deram ao atual Oceano pacífico como veio a ser chamado posteriormente por Magalhães. Subido em um monte no ponto mais alto do istmo indicado pelos índios apenas na companhia do seu cão Leoncito, tornou-se no primeiro europeu a avistar o maior Oceano da Terra. Assim ele regressou para relatar ao seu soberano que havia encontrado um novo oceano e trazia consigo considerável quantidade de ouro. A notícia do ouro causou mais entusiasmo do que a existência de um segundo oceano. Era o caminho do novo mundo que acabava de ser descoberto. Quando Balboa cruzou o istmo numa nova empreitada, comprou por conta própria vários navios do outro lado do Pacífico com os quais, não fosse uma tempestade repentina, teria atingido a costa da terra aurífera do Perú. Durante sua ausência, um pequeno potentado estabeleceu-se em Hispaniola, (onde, hoje, se localizam a República Dominicana e o Haiti). Sob circunstancias tais, não foi difícil a homens inescrupulosos arvorar-se em ditador local. Seu nome era Pedro Arias de ÁSvila que odiava e temia Balboa, pois o descobridor do Pacífico sabia demais. Mandou um recado para Balboa convidando-o a voltar para o quartel general do Governador de Darien (antigo nome de todo istmo) e Balboa na esperança de receber uma recompensa pelos seus esforços, aceitou o convite. Logo foi preso e acusado de alta traição sendo levado diante de um tribunal especial, que agindo sob ordens do governador, condenou-o a morrer decapitado.

    • Nao ha diferenca. As eclusas de Gatun e Miraflores ligam os oceanos pacifico e atlantico a um lago no interior do pais. Esse lago sim é mais alto que os oceanos. A maior parte da travessia é feita pelo lago.
      Vale notar que o novo canal recicla a agua usada pelas eclusas e assim é muito menos agressivo ao meio ambiente e depende muito menos da chuva.

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