A importância do som para a vida marinha
A maioria de nós já conhece o problema da poluição nos oceanos e como ela afeta a vida marinha. São vários tipos, desde a pandemia de plástico, a produtos químicos, passando por Poluentes Orgânicos Persistentes, derrames de petróleo, e esgoto não tratado, entre outros. Entretanto há outro tipo de poluição que é menos conhecida, e tida por alguns como ‘sem importância’, mas que provoca tanto ou mais danos como as demais: a poluição sonora. Ao contrário do que se pensa, não são apenas os cetáceos que cantam para se comunicarem debaixo d’água.
Os pesquisadores sabem que nos oceanos, grande parte da vida marinha se comunica, ou age, em função do som. Eles atribuem o aprimoramento da audição, a uma resposta da evolução natural, já que a visão é quase sempre comprometida. A luz atinge apenas algumas centenas de metros abaixo da superfície da água, mas o som pode viajar muito mais longe e mais rápido na água do que no ar. Hoje vamos comentar a importância do som para a vida marinha.
Os vários papéis do som
Os cientistas marinhos agora têm a tecnologia para registrar e estudar a complexa interação dos inúmeros sons no mar. Segundo o Discovery of sound in the sea, os animais marinhos dependem do som para sentir acusticamente seus arredores, comunicar-se, localizar alimentos e se proteger debaixo d’água. Os mamíferos marinhos, como as baleias, usam o som para identificar objetos como alimentos, obstáculos e outras baleias.
E além disso, uma recente pesquisa que comentamos mostra que os golfinhos estariam gritando uns com os outros para se fazerem ouvir.
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De acordo com a NOAA, ‘como a água é mais densa que o ar, o som viaja mais rápido e mais longe no oceano. Sua velocidade e distância dependem da densidade da água (determinada por sua temperatura, salinidade e profundidade) e da frequência do som, medida em hertz (Hz). Alguns sons, particularmente os de baixa frequência, podem cobrir grandes distâncias, mesmo através de bacias oceânicas‘.
Recente matéria do Financial Times apresentou uma resenha do livro da escritora de ciência Amorina Kingdon, Sing Like Fish, que traz enorme gama de informações incomuns.
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“Os ouvidos humanos detectam uma gama relativamente pequena de sons no ar, assim, não captamos a maioria das vocalizações marinhas”. “Com a ajuda da tecnologia, descobrimos que alguns animais confraternizam em frequências para além da nossa percepção”.
“Os sons subaquáticos variam entre o engraçado, o deslumbrante e, honestamente, o aborrecido para os humanos”, escreve Kingdon. “No entanto, para o meu ouvido, o som mais bonito é o trinado da foca barbuda. Os assobios puros destas focas flutuam para cima e para baixo, cruzando-se uns com os outros no espectrograma.”
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Segundo o Wildlife Conservation Society Canada, das cerca de 250.000 espécies marinhas conhecidas, todos os 126 mamíferos emitem ruído. O mesmo acontece com pelo menos 100 invertebrados e 1.000 das 34.000 espécies de peixes conhecidas do mundo. E isso pode ser apenas a ponta do iceberg do som subaquático, com base na nossa data de escuta. O mar está longe de ser silencioso.
A mesma fonte responde uma pergunta que todos fazem, ou seja, a distância percorrida pelo som debaixo d’água. ‘Nossa pesquisa mostrou que as baleias podem ouvir navios a até 100 quilômetros de distância e estudos mostraram que elas se afastam quando um navio está a até 50 quilômetros de distância’.
Uma biblioteca de sons marinhos
O som é tão importante para a vida marinha, embora ainda haja muito a conhecer, que os cientistas querem criar uma biblioteca de referência de ruído aquático para monitorar a saúde dos ecossistemas marinhos.
“Os habitats mais extensos do mundo são aquáticos e são ricos em sons produzidos por uma diversidade de animais”, diz Miles Parsons, do Instituto Australiano de Ciências Marinhas. “Com a biodiversidade em declínio em todo o mundo e os seres humanos alterando implacavelmente as paisagens sonoras subaquáticas, há uma necessidade de documentar, quantificar e entender as fontes de sons de animais subaquáticos antes que eles potencialmente desapareçam”.
O Guardian abordou o tema e revelou que sites já existentes, como FishSounds e FrogID, já hospedam um inventário de ruídos aquáticos. Nos últimos anos, as novas tecnologias – especialmente a inteligência artificial – permitiram que os pesquisadores começassem a ouvir as músicas do oceano de uma maneira que nunca antes fora possível. De acordo com as propostas, o público seria capaz de contribuir com suas próprias gravações subaquáticas.
Segundo a BBC, em 8 de junho de 2023, cientistas de todo o mundo participaram num estudo global do som aquático no âmbito do Dia Mundial da Monitorização Acústica Passiva dos Oceanos (neste link você pode ouvir muitas destas gravações) Os investigadores compararam o áudio de mais de 250 locais, criando uma imagem instantânea da paisagem sonora global dos oceanos num determinado momento.
Com este novo conhecimento se desenvolvendo, os cientistas já estudam formas de mitigar, pelo menos alguns dos sons antropogênicos e, assim, evitar maiores prejuízos à já ameaçada vida marinha. Neste link você pode ficar sabendo mais sobre a poluição sonora.
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