Maceió e o avanço do mar, começam obras em Jatiúca

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Maceió e o avanço do mar, começam obras em Jatiúca

Sylvia Earle, uma das maiores autoridades científicas quando o assunto são os oceanos, alertou há tempos: “O Brasil é um dos países mais vulneráveis ao aumento do nível dos oceanos, pois tem uma linha costeira imensa e com várias cidades com alta densidade demográfica, como o Rio de Janeiro e a cidade de Santos.” Em 2021, um estudo do Climate Central, ONG que analisa e informa sobre a ciência do clima, apontou que o Brasil está no 17º lugar entre os países mais vulneráveis à subida do nível do mar. O Mar Sem Fim repercutiu o estudo no post interativo Cidades brasileiras mais ameaçadas pelo avanço do mar. De acordo com o Climate Central, Porto Alegre, Santos, Salvador, Recife, Fortaleza e São Luís são as cidades mais ameaçadas. Mesmo sem ser uma das apontadas,  Maceió, assim como quase todos os municípios costeiros, sofre o mesmo fenômeno.

Orla de Maceió
Orla de Maceió. Imagem, IMA.

Obras começaram na praia de Jatiúca

Sylvia Earle não foi a primeira a alertar sobre os problemas. Desde 2010, pelo menos, já havia informação disponível sobre os problemas de Alagoas, e Made in Brazil. É desta data, a matéria do site  www.geologiamarinha.blogspot.com, que dizia: “Erosão costeira é uma preocupação muito atual nos programas de Gerenciamento Costeiro, tendo em vista as importantes implicações deste fenômeno para a ocupação da franja litorânea. Nesta postagem convidei o doutorando Adeylan Nascimento Santos, aluno do curso de Pós-Graduação em Geologia da UFBA, para falar uma pouco de seu trabalho que, dentre outros aspectos, inclui o estudo da erosão costeira no Estado de Alagoas.”

Gráfico erosão em Alagoas
A autoria do gráfico é de Adeylan Nascimento Santos, em 2010. Portanto, não faltaram avisos. O que faltou, como sempre, foi ação preventiva do poder público.

E seguem-se muitas informações que podem ser lidas neste link.

Outra informação, desta vez do site www.alagoas24horas.com.br, de 2017, dava conta que, ‘Há três anos, o Instituto do Meio Ambiente do Estado de Alagoas (IMA/AL) solicita à gestão municipal de Maceió providências urgentes para trechos afetados com processos erosivos e obras de contenções colapsadas.

No entanto, só em 2022 a prefeitura da cidade noticiou que ‘onze pontos da capital alagoana devem passar por intervenções para conter erosão costeira. O avanço do mar provocou estragos no calçadão dificultando a passagem de pedestres e ciclistas. Os trabalhos são emergenciais e devem se estender pelos próximos quatros meses’.

Sandbag, conheça

Marco Lyra, graduado em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Alagoas, especialista em obras de defesa costeira com MBA em gestão ambiental de desenvolvimento sustentável, é quem explica:

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As vantagens

“O uso de obras costeiras do tipo Sandbag são utilizadas em litorais arenosos em diversos países, com o objetivo de conter a erosão costeira, geralmente recomendados em litorais de baixa a moderada energia, que requerem custos mais baixos para defesa temporária do patrimônio edificado.”

E as desvantagens

“A obra fornece a curto prazo fixação da linha de costa. A vida útil média desse tipo de obra é de 2 anos.”

Se o especialista estiver correto em sua previsão, a cada 2 anos, pouco mais ou menos dependendo da incidência das ondas em determinada praia, esta será uma despesa praticamente obrigatória em grande parte da costa brasileira. Seria oportuno que os gestores municipais considerassem mais esta despesa em seus próximos orçamentos.

Maceió e as obras na orla

Segundo o www.gazetaweb.com, as obras de contenção do avanço do mar começaram na Praia de Jatiúca,  desde que danificados na altura do Hotel Atlantic Suítes, antigo Meliá; e em frente ao condomínio JTR, onde a obra começou depois  que o  o passeio público foi tragado.

Tratores em praia de Maceió
Atualmente o que mais se vê nas praias brasileiras. Imagem, Edilson Omena.

Também haverá obras na orla de Ponta Verde,  próximo às barracas Pedra Virada e Pirata, onde, segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura, há um ponto de solapamento do calçadão.

Para Fabrício Galvão, secretário municipal, “A tecnologia foi escolhida por ser ambientalmente adequada, economicamente viável e já funcionou em outros locais do litoral alagoano, como em Ipioca, Marceneiro e Patacho. Ela promove uma espécie de engorda natural dos trechos degradados na orla, permitindo que a Prefeitura refaça todo o calçadão.”

Ponta Verde, Maceió
Ponta Verde, Maceió. Imagem, https://www.ima.al.gov.br.

Já o ambientalista Alder Flores, ouvido pelo www.tribunahoje.com, explicou: “Isso acontece devido à ocupação indevida da faixa de praia. A velocidade que a maré avança para costa é basicamente relacionada à própria questão do degelo. Aumenta o nível da maré.  Entretanto, é preciso que os governos adotem uma solução conjunta, planejada, com especialistas que façam estudos e implantem as obras, porque retirar construções que estão lá é muito mais difícil. Além disso, não permitir invasões da faixa de praia e adotar  planejamento estratégico através de obras  compatíveis com cada caso.”

Falta de planejamento

O ambientalista acertou na mosca. Este é um dos grandes problemas brasileiros: a falta de planejamento, apesar dos  últimos relatórios do IPCC, terem apontado fatos preocupantes sobre as causas e consequências do aquecimento global.

Gabriel Le Campion, professor de Oceanografia, Biologia Marinha e Ecologia, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), falou ao www.cadaminuto.com.br, e fez coro: ‘os principais fatores para esse avanço são as construções na região litorânea e o desmatamento, que alteram os regimes pluviométricos, aumentam a energia na atmosfera e na superfície do oceano, gerando marés mais fortes’.

Pontal da Barra, Maceió
Pontal da Barra, Maceió. Imagem, Edilson Omena.

E concluiu:  “O efeito é mais agravado pela remoção da vegetação de praia e pelo avanço das construções na faixa de domínio marinho, faixa essa que, normalmente, o mar trabalha. Ora o mar avança, ora o mar recua. Mas devido às interferências antrópicas nessa região o mar pode avançar mais do que recuar”.

Apesar das explicações não serem novas, o perigo aumenta dia a dia, especialmente depois que a Câmara dos Deputados aprovou uma proposta de emenda à Constituição que aprovou o repasse a Estados e municípios dos terrenos de marinha hoje em poder da União.

Jatiúca, Maceió
Jatiúca, Maceió. Imagem publicada pelo www.alagoas24horas.com.br.

Se nem assim existe fiscalização com novas construções à beira-mar, imagine ao passar estes terrenos para uma decisão ‘monocrática’ dos prefeitos, a maioria totalmente despreparada em questões ambientais, e mais interessada em rechear os cofres públicos, e em alguns casos, os cofres pessoais?

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Resta esperar que  os adoradores de ‘casas pé na areia’, as imobiliárias, a indústria da construção civil, e os alcaides inconsequentes que por vezes comandam os processos de especulação imobiliária, se convençam com o que acontece em dezenas de municípios costeiros.

E que aprendam com o ‘sábio’ Raul Seixas que, ao ver seu carro sendo avariado por uma onda na orla do Rio, nos longevos anos 70 do século passado, disse de bate-pronto: “Sou a favor, a onda tá certa. O que tá errado é esse negócio de colocar edifícios aí.”

Assista ao vídeo de 2015, portanto com sete anos, mostrando a erosão em Alagoas

Contenção do avanço do mar Orla de Maceió

Imagem de abertura: Edilson Omena.

Fontes: https://www.gazetaweb.com/noticias/maceio/prefeitura-executa-obras-para-contencao-o-avanco-do-mar-em-maceio/; https://tribunahoje.com/noticias/cidades/2022/04/07/101171-obras-de-contencao-sao-iniciadas-na-orla-de-jatiuca; http://pernambucoemfoco.com.br/dissipador-de-energia-sandbag-nova-tecnologia-para-protecao-costeira-e-recuperacao-de-praias-em-alagoas-
brasil/#:~:text=Como%20funciona%20a%20estrutura%20do,praia%20no%20local%20da%20interven%C3%A7%C3%A3o; https://www.alagoas24horas.com.br/1348431/ima-solicita-acoes-para-conter-erosao-marinha-nas-praias-de-maceio/

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Comentários

2 COMENTÁRIOS

  1. Na primeira foto fica muito claro, que as construções foram feitas na areia. Ou seja, quando um imbecil invade os domínios do oceano e enche de casas tipo “pé na areia”, achando belíssimo ir dormir ouvindo o som das ondas, o mar cobra seu preço, sempre alto – em pouco tempo as ressacas destroem o que têm pela frente. Nossos engenheiros tupiniquins, que mataram muitas aulas durante o curso de engenharia, desequilibraram o litoral de Pindorama. Portanto, não é o mar que avança para a terra – é o contrário. Nós é que invadimos os domínios do mar – e, aí, meu chapa, pagamos o preço. O mar é inocente nesse crime.

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