Litoral do Rio: paraíso para micos-leões. Mesmo ainda sob ameaça de extinção, espécie se multiplica
Há 30 anos, os micos-leões só eram encontrados na mata de Silva Jardim, município da baixada litorânea, a 110 quilômetros da capital, Rio de Janeiro. E ainda assim, eram apenas 200 soltos na natureza. Com a intensa mobilização para salvar a espécie, o cenário atual é outro: hoje são 3.200 micos-leões, em oito municípios. Os dados são do levantamento mais recente da Associação Mico-Leão-Dourado (AMDL), que se dedica há 22 anos à preservação. O litoral do Rio se tornou paraíso para estes animais.
Maior desafio hoje é aumentar a área verde
O maior desafio hoje é aumentar a área verde para os novos habitantes. Confinados em “ilhas” de mata, isoladas por pastos, os micos correm riscos como a escassez de alimento, briga por território e consanguinidade.
200 micos identificados na década de 80
Os 200 micos identificados na década de 80 viviam em 3 mil hectares de mata. A meta da AMDL era chegar a 2 mil animais, vivendo em 25 mil hectares até 2025. O número de micos foi além, mas eles estão espalhados em apenas 12,5 mil hectares. E ainda disputam espaço com saguis, espécie trazida da Bahia, espalhada na região.
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De acordo com o geógrafo Luís Paulo Ferraz, secretário executivo da AMLD -“Nosso maior problema é a falta de floresta para os micos-leões-dourados. O ambiente é extremamente degradado e os remanescentes florestais estão muito fragmentados. Precisamos plantar floresta. O número de animais é indicador positivo. Mas para garantir a sobrevivência, a longo prazo, o ambiente tem de estar recuperado e ter condições de ele sobreviver, independentemente da associação e de todos os parceiros”.
Mobilizando zoológicos de outros países
Para aumentar o número de micos-leões para 3.200, foi necessário mobilizar zoológicos de outros países. Cento e cinquenta animais que viviam em cativeiro foram enviados para a mata Silva Jardim e reintroduzidos ao longo das décadas. Os primeiros animais foram soltos na Reserva Biológica de Poço das Antas. “A mata em volta da Rebio estava sendo convertida em pastos, com caminhões levando as árvores para servir de lenha nas cerâmicas do Rio. Os micos eram capturados para o mercado ilegal de ‘pets’”, lembra o geógrafo.
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Reintrodução: processo caro, longo e difícil
A educadora americana Lou Ann Dietz, uma das fundadoras da AMLD, ao lado do marido, o biólogo James Dietzconta, afirma que a reintrodução foi um processo “caro, longo e difícil”. “Os micos de zoológicos nem sabiam pular entre os galhos das árvores; acabaram descendo para o chão, onde ficavam vulneráveis. Eles se perderam na mata e os monitores tiveram de mostrar o caminho utilizando bananas como isca. Eles não reconheceram as frutas nativas ou predadores como cobras.”
Atualmente, os micos sabem que não podem ficar no chão porque são presas fáceis para predadores.
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Além do isolamento pelos pastos, os micos estão em risco por causa da duplicação da BR-101, que terá 25 metros de pista. Cerca de 450 ficarão isolados na Rebio de Poço das Antas. A AMLD luta agora para que a concessionária Autopista construa um viaduto com cobertura vegetal, para que os micos possam se locomover.
Micos-leões-dourados continuam em risco de extinção
Mesmo com esse cenário, o professor Carlos Ruiz, do Departamento de Biociências da Universidade Estadual do Norte Fluminense, afirma que os micos-leões-dourados continuam em risco de extinção. Segundo o especialista, a região tem matas suficientes, mas em propriedade particular e não estão conectadas e daqui a uns anos teremos problemas com falta de território e escassez de alimento.
Litoral do Rio e criação de viveiros
Para “ligar” as ilhas de matas, a AMDL estimulou a criação de viveiros por agricultores da região. Já são sete, com capacidade de produzir até 50 mil mudas ao ano, cada um. A instituição também tem parceria de proprietários rurais – Silva Jardim tem 22 Reservas Particulares do Patrimônio Natural, modalidade de unidade de conservação. Muitos também permitem o plantio de árvores, para a formação de corredores florestais.
Fonte: Estadão.
Mata Atlântica: U$200 mi é o valor para restaura-la em propriedades agrícolas.