Ilhas gregas ameaçadas pelo turismo, um alerta para nosso litoral

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Ilhas gregas ameaçadas pelo turismo, um alerta para o litoral do Brasil

O turismo na Grécia multiplica a população e expõe falhas críticas nos cuidados de saúde, levando a acidentes e tragédias, além de problemas ambientais. O crescimento populacional exponencial durante as férias também afeta a costa brasileira, especialmente em São Paulo, onde cidades como Ubatuba, Ilhabela, São Sebastião e Bertioga enfrentam ameaças pelo turismo descontrolado. Essa situação causou a decadência de locais como o Guarujá.  É crucial que as autoridades tomem medidas urgentes para evitar a destruição desses locais. O turismo, se mal feito, passa de solução a problema. Vamos recordar que somos 8 bilhões de pessoas no planeta. E, segundo o ecobnb.com, mais de 1,4 bilhões de pessoas deslocam-se por todo o mundo todos os anos e crescem a um ritmo exponencial. A Organização Mundial do Turismo prevê que até 2030 o fluxo internacional de turistas ultrapassará os 2 bilhões.

Turismo de massa nas ilhas gregas.
Imagem, www.greekreporter.com.

Os problemas da Grécia podem nos ajudar a prevenir e evitar a decadência do litoral do Brasil

Em junho, três idosos morreram na Grécia devido à falta de transporte médico, conforme reportado pelo Le Monde. Na ilha de Kos, uma mulher de 63 anos faleceu antes de chegar ao hospital, transportada em uma carreta por moradores, já que não havia ambulância disponível. A única ambulância da ilha estava ocupada com outro acidente. Dias depois, um homem de 76 anos morreu em Evia, devido a circunstâncias similares. Na ilha de Lesbos, uma mulher de 78 anos perdeu a consciência enquanto nadava e os paramédicos demoraram mais de duas horas para chegar, apenas para constatar que ela já estava sem sinais vitais.

superlotação de turistas em ilhas Gregas.
Imagine o que devem sentir os moradores da ilha ante a turba de turistas. Imagem, www.greekreporter.com.

Saiba que, se tomarmos o ano de 2019 como padrão, um ano antes da pandemia, a Grécia estava em nono lugar no ranking de países que mais recebem turistas, com 31.3 milhões de visitantes, segundo o www.statista.com. No mesmo ano, 4,847 milhões de turistas estrangeiros desembarcaram no País, de acordo com o site do governo federal.

Brasil sequer aparece entre os dez países que mais receberam turistas, apesar da beleza e biodiversidade

Por isso, é inadmissível que o litoral do Brasil sofra os mesmos problemas que assolam a Grécia. Isso apenas demonstra o quanto atrasados nós estamos em termos de políticas públicas que preservem e garantam a integridade de uma das porções mais belas e biodiversas do País, a zona costeira.

A falta de planejamento e o excesso de pessoas em áreas costeiras frágeis sem infraestrutura adequada são problemas recorrentes. Desse modo, quando uma praia se torna popular uma horda de turistas e donos de segundas residências superlota a região. Isso leva ao colapso da infraestrutura já insuficiente, resultando em lixo por todo lado, rios poluídos, trânsito caótico, poluição do ar e do mar, etc. Alertamos repetidamente que o turismo de massa destrói as belezas naturais, torna as cidades intransitáveis, danifica ecossistemas cruciais como mangues, restingas e dunas, e leva a qualidade de vida dos moradores a níveis insuportáveis. Entretanto, para a mídia nacional parece que o problema não existe. O assunto quase nunca ganha as manchetes.

Ao contrário da mídia tupiniquim, a Al Jazeera também repercutiu o caos nas ilhas gregas. George Sarelakos, fundador e presidente da Aegean Rebreath, organização que trabalha para proteger o ambiente marinho, disse que o alto número de visitantes apresenta um risco ambiental crescente para Santorini, particularmente dada a falta de água potável da ilha.

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“Você pode imaginar todos esses milhares de turistas estando nas ilhas, comprando uma ou duas garrafas de água por dia. Estamos falando de uma quantidade inimaginável de plástico que acaba no fundo do mar”, disse ele.

A irritação da população da ilha de Paros

A Al Jazeera também comentou a irritação da população da ilha de Paros. Neste verão, os moradores protestaram contra os enxames de espreguiçadeiras e guarda-sóis de propriedade privada, ocupando grandes trechos de areia e cobrando cerca de 100 euros (US$ 107) por um conjunto, não deixando espaço para outros usarem a praia.

Sobre os navios de cruzeiro, tão queridos por prefeitos despreparados de municípios do litoral brasileiro, diz a  Al Jazeera: Georgios Hatzimanolis, chefe de comunicações globais da Kpler, disse que neste verão Mykonos tinha uma média de dois navios de cruzeiro por dia com picos de seis.

superlotação do turismo nas ilhas Gregas.
A superlotação do turismo nas ilhas Gregas: totalmente insustentável. Imagem, www.greekreporter.com.

“Isso significa que potencialmente 14 mil passageiros podem inundar a pequena ilha em apenas um dia”, disse ele, alertando que a infraestrutura “já tensa” da ilha pode ceder sob a pressão.

Veneza, hotspot do turismo, proibiu navios de cruzeiro

Foram por estes problemas que em 2021 Veneza proibiu que navios de cruzeiro entrassem nos canais da cidade. Em outras palavras, há maneiras de ordenar o turismo de modo que ele não seja uma ameaça ao meio ambiente e à qualidade de vida dos moradores. Porém, é preciso visão e determinação para impor regras e assim torná-lo sustentável.

A Al Jazeera finaliza a matéria realçando que ‘autoridades disseram que combater o excesso de turismo é uma “prioridade máxima”. O problema do turismo de massa está em discussão em toda a Grécia, não só nas ilhas.

É importante definir a capacidade de cada local

O Irish Times, reporta que Atenas atingiu seu limite de turismo, especialmente devido ao aumento de 500% nas ofertas do Airbnb nos últimos sete anos. Um estudo destacou a superação da “capacidade de transporte de turistas” em Atenas, que mede o limite de visitantes sem prejuízos ao ambiente e à sociedade. Em muitos lugares, esse limite já foi ultrapassado.

A matéria continua explicando que, apesar do turismo representar mais de 25% do PIB grego, ele ameaça a estrutura social e cultural do país. Levanta-se a questão: Como garantir a qualidade de vida dos residentes permanentes da Grécia frente à crescente onda de turistas?

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Para o Cíclades Open, “Os recursos ambientais estão sob pressão. Os moradores não podem mais tolerar a forma como o mercado imobiliário ameaça estragar a paisagem e a beleza dos destinos turísticos…Parece que o turismo além de um certo limiar de crescimento não melhora a qualidade de vida dos habitantes, mas piora, transformando o destino de um paraíso em um inferno.

Outra fonte que fez coro é o greekreporter.com: Entre os principais impactos do excesso de turismo em Santorini estão a superexploração, o empobrecimento ambiental e o volume de lixo gerado.

Antes de mais nada, todas estas críticas serviriam como uma luva para as estâncias balneárias de São Paulo, além de destinos mais procurados como Trancoso e Arraial da Ajuda, na Bahia; Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, e um sem-número de outros destinos.

O exemplo do litoral da Espanha

O que está acontecendo com muitos destinos da costa brasileira, ou grega, foi o mesmo processo descontrolado que destruiu o litoral da Espanha. Em 2009, o Guardian publicou a matéria The destruction of Spain’s coastline (A destruição do litoral da Espanha), quase sem texto, apenas com uma série de imagens que fazem tremer até um paralelepípedo. Vale a pena conferir no que se transformou o litoral espanhol por falta de ação.

Este processo segue acelerado no litoral do Brasil e agora ameaça a Grécia. Contudo, há maneiras de controlar o turismo e torná-lo menos destrutivo e, possivelmente, sustentável.

Algumas medidas para evitar o caos

Selecionamos algumas medidas já tomadas por países que se viram invadidos pelo turismo predatório. Entretanto, o mais importante é discutir o assunto, colocá-lo nas mídias, promover a discussão. Ignorar o problema como acontece no Brasil decididamente não é a solução.

Segundo o www.travelinglifestyle.net, a França está considerando uma campanha para “desencorajar” os viajantes de irem para alguns lugares já lotados, de acordo com Olivia Grégoire, Ministra do Comércio, Artesanato e Turismo. Ela afirma que apenas 20% da área total do país é visitada por 80% de todos os visitantes.

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A mesma fonte informa que Veneza, Amsterdã e Edimburgo foram recentemente adicionados à lista de lugares que cobram uma taxa. Enquanto alguns visitantes se opõem à nova taxa, outros entendem a lógica por trás do programa, que se destina a ajudar as economias locais e combater o excesso de turismo.

Outra maneira óbvia é limitar as entradas, desse modo os destinos podem controlar diretamente a quantidade de turistas que entram em uma região ou cidade de cada vez.

Segundo o pinatravels.org, muitos países ao redor do mundo, como o Butão e a Espanha, implementaram impostos turísticos como solução. Os impostos são frequentemente adicionados às contas do hotel ou são pagos como uma taxa de saída no aeroporto. Eles geram orçamentos que podem ser destinados à proteção dos recursos naturais e à manutenção de instalações turísticas.

Outra tática é restringir a quantidade de tempo que um turista pode ficar em um local para que haja menos superlotação. Isso já é feito em sítios famosos como Machu Picchu e Taj Mahal.

E, então, vamos aprender com os outros e discutir o nosso problema no litoral?

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Comentários

8 COMENTÁRIOS

  1. É inegável que o turismo pode gerar impactos significativos nas cidades que recebem um grande número de visitantes. No entanto, é importante reconhecer que o problema de infraestrutura não é exclusivamente causado pelo turismo em si, mas sim pela falta de planejamento urbano e investimento em infraestrutura adequada por parte das autoridades locais.

    O turismo traz consigo uma série de benefícios econômicos, sociais e culturais para as comunidades receptoras, incluindo a geração de empregos, o estímulo ao comércio local e a promoção da cultura e do patrimônio. No entanto, quando não acompanhado por um planejamento urbano adequado, o aumento repentino da população pode sobrecarregar os serviços públicos, como saúde e transporte, e causar danos ao meio ambiente.

    Portanto, responsabilizar exclusivamente o turismo pelos problemas de infraestrutura é simplificar uma questão complexa. Em vez disso, é necessário um esforço conjunto entre o setor público, o setor privado e a comunidade local para desenvolver políticas e práticas sustentáveis que garantam o crescimento do turismo de forma responsável e equilibrada.

    Isso inclui investimentos em infraestrutura básica, como transporte público, saneamento básico e serviços de saúde, bem como a implementação de medidas de gestão ambiental para proteger os recursos naturais e minimizar o impacto negativo sobre o meio ambiente.

    Portanto, em vez de culpar o turismo, devemos concentrar nossos esforços em promover um turismo responsável e sustentável, que beneficie tanto os visitantes quanto as comunidades locais, garantindo que os destinos turísticos possam ser desfrutados por gerações futuras.

  2. Morei 12 meses em Ubatuba, na Praia Grande. No início, a montagem de guarda-sóis e cadeiras para aluguel, montadas na praia, desde cedo, deixava menos de 2m de areia para o trânsito de banhistas. Ao final daquele período, o aluguel de barracas montadas na praia invadiram a areia e eu, sem ter como colocar meu humilde guarda-sol, abandonei a praia, a Praia Grande e Ubatuba. Nunca mais voltei lá.

  3. Controle é sempre o maior aliado quando falamos.em turismo. Moro em Barra do Una São Sebastião e em 25 anos nossa praia foi invadida por turistas e a maioria sem consciência e nem respeito. Nossa praia se transformou em terra de ninguém e o que era bucólico e limpo se transformou em lixo e mais lixo. O turismo predatório deve acabar. Mas, isso depende EXCLUSIVAMENTE dos governantes. Pensar em prosperar faz parte mas, permitir a degradação é no mínimo insano.

  4. o problema do litoral norte de sao paulo,e’diverso,o turismo de massa de um dia ,em que o visitante nada consome na cidade,usufrui e deixa o lixo,o caos e’a destruicao sem beneficios que precisa de regulacao

  5. Fernando de Noronha é talvez um exemplo de ponto turístico que se preocupa com a quantidade de pessoas que podem estar na ilha simultaneamente. Além de cobrarem taxas.

  6. Reportagem muito esclarecedora. Importante levar este debate para outras frentes. Sou de SC. Tenho muitas lembranças boas das férias em cidades como bombinhas e Itapema. Mas agora é impossível ir pra lá. Trânsito caótico e preços absurdos de tudo. A ganância imobiliária não tem fim. Triste.

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