Ilha Nula, no Atlântico Sul, você conhece?
A ilha Nula é uma curiosa mistura de geografia real e imaginária, de certeza matemática e pura fantasia. Ou é apenas o local de uma boia de observação meteorológica? A questão foi levantada por matéria do site blogs.loc.gov. O atlasobscura.com respondeu desta forma: Quase parece um “não-lugar”, mas pode surpreendê-lo saber que este sitio está longe de ser anônimo. Este local é um ramo de atividade no mundo dos sistemas de informação geográfica (GIS)… No que diz respeito aos dados geoespaciais digitais, pode ser um dos lugares mais visitados da Terra! Já o site www.bigthink.com, escreveu: a Ilha Nula, também conquistou a imaginação – e adquiriu um mapa e várias bandeiras. Ilha Nula, no Atlântico Sul, você conhece?
A ‘axila’ da África
Não pense que se trata de outro ponto notável dos oceanos, como o ponto Nemo. Vamos ajudar: Pense no Golfo da Guiné, parte do Oceano Atlântico Sul, como a axila da África.
O Golfo está bem no meio do seu mapa-múndi padrão, e isso não é coincidência. É o ponto de encontro das duas linhas de base da medição geodésica, o meridiano principal e o equador. Ou, expresso em longitude e latitude: 0°N, 0°E.
Ilha Nula não é uma ilha
Você adivinhou: esta é a ilha Nula – a ancoragem perfeita para dados não geolocalizados. Mas não vá alugar um barco na costa de Gana ou na ilha de São Tomé, dois dos pedaços de terra firme mais próximos. Depois de atravessar cerca de 650 km de mar aberto, você encontrará mais do mesmo na chegada. Porque, fiel à sua denominação, a ilha Nula não é uma ilha.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemEngenharia dos oceanos pode minimizar o aquecimento global?Emissões de metano têm aumento recordeMatança de peixes-boi prossegue na AmazôniaBem, chega de mistério, vamos à explicação: a ilha Nula é apenas o nome coloquial para a interseção desses dois ortódromos principais. Em matemática, e por extensão também em geodésia, um ortódromo (ou grande círculo) é a linha mais longa possível desenhada em torno de uma esfera, dividindo-a em duas metades perfeitamente iguais, ou hemisférios.
O Equador, equidistante dos polos, dá-nos os hemisférios norte e sul. O meridiano de Greenwich, que divide o mundo em hemisférios oriental e ocidental, ou leste e oeste, é uma linha arbitrária.
PUBLICIDADE
Seu status como o primeiro meridiano do mundo foi estabelecido apenas em 1884, na Conferência Internacional do Meridiano em Washington DC.
Do inexistente ao imaginário
Por causa de seu afastamento, o local permaneceu culturalmente insignificante até 2011, quando apareceu no conjunto de dados do mapa de domínio público da Natural Earth como “Ilha Nula”.
Leia também
Ilha da Queimada Grande, ou Ilha das Cobras, e a ameaçada Jararaca-ilhoaO contestado prefeito de Ilhabela, indiciado por incitação ao crimeIlhas Cook na vanguarda da mineração submarinaEssa nomeação deu início a um processo notável: transformou algo inexistente em algo imaginário, o que não é exatamente o mesmo. De repente, mapas da Ilha Nula foram desenhados, bandeiras também. Na verdade, o território insular tornou-se uma espécie de piada para geógrafos, popularizado a partir de 2011, depois da referência no Natural Earth.
Aperte bem os olhos faça um esforço, e você quase pode ver a ilha… Um pequeno purgatório tropical, longe de qualquer lugar importante, que abriga incontáveis pontos de coleta de dados. O clima é sempre úmido e nunca há um navio no horizonte.
O começo da explicação
Em 1997, EUA, França e Brasil instalaram um conjunto de 17 boias de observação meteorológica e marítima no Atlântico Sul, denominado sistema PIRATA.
Uma delas está ancorada no fundo do mar (5 km de profundidade) exatamente a 0°N, e 0°E. Esta é a estação 13010 – também conhecida como “Soul Buoy” – medindo a temperatura do ar e da água, velocidade e direção do vento e outras variáveis. Este ponto, expresso em longitude e latitude, é igual a 0°N, 0°E.
As 17 boias, cada uma com o nome de um gênero musical diferente, são inspecionadas anualmente já que atraem peixes, e também barcos de pesca, cujas visitas podem causar danos ao equipamento ou à própria boia.
O sistema PIRATA, é uma rede internacional de observação para melhorar o conhecimento e compreensão do sistema oceano-atmosfera na cintura tropical. Nada mais.
Por que dissemos que ela é visitada? Bem, quando o GPS de seu carro, ou barco, falha, ou fica confuso por perda de sinal, os aparelhos têm um sistema interno para serem ressetados que os levam automaticamente para as coordenadas zero ou, a Ilha Nula. Em seguida, o processo de procura recomeça mais uma vez.
Mas não pense que se trata de piada de mau gosto deste site. Há milhares de páginas sobre a Ilha Nula no Google.
Em qualquer língua que você pesquise, vai encontrar dezenas de matérias a respeito. Nós apenas queríamos dividir esta curiosidade, de nosso improvável mundo moderno, com nossos leitores.
PUBLICIDADE
Assista à animação e saiba mais
Assista a este vídeo no YouTube
Imagem de abertura: bigthink.com.
Fontes: https://www.atlasobscura.com/articles/null-island-is-one-of-the-most-visited-places-on-earth-too-bad-it-doesnt-exist; https://bigthink.com/strange-maps/null-island/; https://www.dn.pt/vida-e-futuro/null-island-o-minusculo-pais-atlantico-que-sem-o-sabermos-ja-visitamos-12467153.html; https://blogs.loc.gov/maps/2016/04/the-geographical-oddity-of-null-island/.
Deve haver outras ilha nula no outro lado do Globo, talvez no Pacífico. Há?
Deliciosa matéria, neste mundo tão cheio de obrigações e deveres. Ganhei o meu dia. Parabéns, Mar Sem Fim.
Luiz Andrade SP/SP
Explicação e conceitos essenciais, mas fico imaginando o nó que deve dar na cabeça de quem pensa que a terra não é redonda…