Consequências da transição do El Niño para La Niña, no Brasil e no mundo
Como é sabido, o El Niño é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico equatorial. O fenômeno fez com que os oceanos batessem recordes de calor, mês após mês, dia após dia. Como consequência, a meteorologia mudou nos dois hemisférios. Não poderia ser diferente. Os oceanos são o fator-chave no armazenamento e transferência de energia térmica. E são as suas correntes que, em interação com a atmosfera, liberam ou retêm o calor. Assim, o calor gerou incêndios no hemisfério norte, com destaque para Sibéria, Groenlândia e Alasca, além de secas anormais, e tempestades jamais vistas. O ‘menino’ também é responsável por perdas econômicas bilionárias mundo afora. Agora, nos preparamos para a transição do El Niño para La Niña (entre julho e setembro). Quais serão as consequências?
Conheça algumas características da transição
Se o El Niño esquenta as águas do Pacífico, sua irmã La Niña faz o contrário, esfria aquela imensa massa d’água. Esse esquentamento ou esfriamento da enorme área do Pacífico causa mudanças nas correntes atmosféricas, e muda o padrão de vento em termos mundiais, o que afeta o clima global.
O fenômeno ocorre irregularmente em intervalos de 2 a 7 anos, e se caracteriza pela diminuição da potência dos ventos alísios (provocados pela rotação da Terra). Este fenômeno produz massas de ar quentes e úmidas que geram chuvas na região do entorno, com a diminuição de chuvas em outros locais como a Amazônia, o Nordeste brasileiro, além do Centro-Oeste, Sudeste e Sul, e em outras partes do mundo. Foi, por exemplo, o que aconteceu no Rio Grande do Sul.
No caso do El Niño há mais chuvas em regiões tropicais e latitudes médias. Já no La Niña os impactos tendem a ser opostos. No Brasil o La Niña intensifica as chuvas na Amazônia, Nordeste e partes do Sudeste. Já na América do Norte e na Europa há quedas de temperatura, entre outros fatores.
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Marcelo Seluchi, coordenador-geral de Operações e Modelagem do Cemaden, explicou que no Brasil, historicamente, períodos sob a influência do La Niña são associados com chuvas acima da média em áreas das regiões Norte e Nordeste, e chuvas abaixo da média nas regiões Centro-Oeste e Sul do Brasil. Além disso, normalmente, são anos mais frios. Contudo, segundo a nota técnica do Cemaden, cada edição do fenômeno é única.
Baseado nas estatísticas do que ocorreu em anos anteriores, Seluchi projeta que os impactos do La Niña podem se manifestar na primavera de 2024 com redução das chuvas no Sul.
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Outra situação com possibilidade de ocorrer na primavera é a de episódios de frio mais intenso, o que pode causar impactos na saúde, afetando pessoas sem abrigo adequado com hipotermia, e na agricultura, afetando culturas que estiverem na etapa de crescimento. “As geadas tardias são ameaça para a agricultura”, diz.
Seca no Pantanal, chuvas na Amazônia
Segundo Seluchi, para as regiões Norte e Nordeste, espera-se uma estação chuvosa “abundante” a partir de outubro e novembro de 2024. Na grande região central do Brasil, englobando Sudeste e Centro-Oeste, os fenômenos El Niño e La Niña não têm muita influência sobre as chuvas.
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Brasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Como anda a discussão sobre geoengenharia na mídia do exterior?O que aconteceria com o clima se parássemos todas as emissões?O La Niña costuma ter impacto negativo especialmente nas chuvas na parte Sul do Pantanal. Em março, a região encerrou a estação chuvosa em situação de seca. “Nossa maior preocupação em relação ao La Niña está no Pantanal porque agora em março, no final da estação chuvosa já temos uma situação de seca estabelecida”, disse Seluchi.
Consequências para o hemisfério norte
Segundo a NOAA, o El Niño e o La Niña têm a sua maior influência no clima sazonal dos EUA no inverno. A montante dos Estados Unidos, a corrente de jato do Pacífico reforça-se e transporta mais tempestades para o Sul dos Estados Unidos, favorecendo invernos mais frios e úmidos. Da costa oeste até os Grandes Lagos, os estados do norte costumam ter invernos mais quentes do que a média.
Já o National Weather Service dos EUA avaliou que durante um evento de La Niña, as mudanças nas temperaturas do Oceano Pacífico afetam os padrões de chuvas tropicais da Indonésia para a costa oeste da América do Sul. Essas mudanças nos padrões de chuvas tropicais afetam os padrões climáticos em todo o mundo.
Esses efeitos são geralmente mais fortes durante os meses de inverno, quando a corrente de jato é mais forte sobre os Estados Unidos. Historicamente, para esta parte do Centro-Oeste, o outono tende a ser mais quente e seco do que o normal, enquanto os invernos tendem a ser mais úmidos do que o normal. No entanto, há também muitos outros fatores complicados na atmosfera e nos oceanos que também podem afetar nossos padrões climáticos.
‘La Niña aumenta as chances de uma perigosa temporada de furacões no Atlântico’
O The Conversation abordou o tema dos furacões durante o La Niña, e recomendou cuidado e atenção para quem navega, e para as cidades à beira-mar.
Se você vive ao longo da costa atlântica dos EUA, ou do Golfo do México, La Niña pode contribuir para a pior combinação possível de condições climáticas para o abastecimento de furacões.
O La Niña produz menos cisalhamento do vento, removendo um freio sobre furacões. Isso não é uma boa notícia para as pessoas que vivem em regiões propensas a furacões como a Flórida. Em 2020, durante o último La Niña, o Atlântico registrou um recorde de 30 tempestades tropicais e 14 furacões, e 2021 teve 21 tempestades tropicais e sete furacões.
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O cisalhamento do vento é uma diferença nas velocidades do vento em diferentes alturas ou direção. Os furacões têm mais dificuldade em manter sua estrutura de coluna durante o forte cisalhamento do vento, porque ventos mais fortes para cima empurram a coluna para longe.
E completou: Assim, os meteorologistas já estão alertando que a temporada de tempestades atlânticas deste ano pode rivalizar com 2021, devido em grande parte ao La Nina. O Atlântico tropical também tem sido excepcionalmente quente, com recordes de temperatura da superfície do mar por mais de um ano. Esse calor afeta a atmosfera, causando mais movimento atmosférico sobre o Atlântico, alimentando furacões.
Imagem de abertura: www.ysi.com
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