Barreira de corais da Austrália e branqueamento maciço

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Grande barreira de corais da Austrália sofre branqueamento maciço

Os corais de águas rasas lutam por sua sobrevivência antes mesmo da temperatura atingir o ponto crítico de +1,5ºC em relação ao período anterior ao da revolução industrial. Com o aquecimento, a Grande Barreira de Corais da Austrália definha ano após ano apesar de  sua estrutura, a maior do planeta com 2.400 km contínuos de corais, estar novante contaminada. A barreira pode ser vista do espaço! Este é o sexto evento de branqueamento em massa que  enfrenta. Os últimos aconteceram em 1998, 2002, 2016, 2017, 2020 e, agora, em 2022. Enquanto isso, os cientistas lutam para salvá-la. Foi assim que o professor Terry Hughes, um dos principais especialistas em branqueamento de corais da James Cook University, descobriu que mais de 98% de todos os recifes individuais branquearam pelo menos uma vez.

barreira de corais da Austrália vista do espaço
Única estrutura viva que pode ser vista do espaço.

O evento de 2022

Não há jornal no hemisfério Norte que não tenha destacado o assunto. Segundo o Guardian, a Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais (GBRMPA) confirmou que os voos de monitoramento são realizados “ao longo do comprimento e largura” dos 2.300 km de recifes deste patrimônio mundial da humanidade segundo a Unesco.

mapa da Barreira de corais da Austrália

O desenvolvimento deste branqueamento ocorre menos de uma semana antes do início de uma missão de monitoramento de 10 dias das Nações Unidas ao recife e antes de uma reunião crucial do comitê do patrimônio mundial em junho. Hughes disse ao Guardian que acredita que um sexto evento de branqueamento em massa está se desenrolando agora e que não foi leve ou local.

La Niña

O site newscientist.com destaca que os corais ficaram brancos em todas as quatro áreas principais do recife, apesar da influência de resfriamento do fenômeno climático La Niña, no sexto evento de branqueamento em massa desaa maravilha natural dos tempos modernos.

É o que preocupa. Mesmo com o fenômeno climático, o branqueamento consome a já debilitada barreira de corais. Este é primeiro branqueamento em massa sob as condições de resfriamento criadas pelo padrão do La Niña.

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Terry Hughes, da Universidade James Cook, na Austrália, twittou que o último branqueamento foi “um marco sombrio durante o que deveria ter sido um verão mais frio (La Niña)”.

O problema não começou agora, já tem algum tempo que os cientistas e autoridades sabem da questão. Não por outro motivo, desde 2018 a ONU alerta que a proteção a recifes de coral deve ser prioridade global.

Branquemanrto da barreira de corais da Austrália
Imagem, ARC Centre of Excellence for Coral Reef Studies.

Estresse térmico sobre o recife

A quantidade de estresse térmico sobre o recife tende a atingir o pico no início e meados de março de cada ano, mas os cientistas começaram a se preocupar em dezembro, depois que as temperaturas da água subiram para níveis recordes naquele mês.

Segundo Hughes, “Todos nós demos um suspiro de alívio porque os corais que estavam pálidos em dezembro recuperaram sua cor em janeiro e fevereiro. Mas nas últimas três semanas houve relatos de branqueamento moderado a forte ao longo do recife.”

Temperaturas da água entre 1°C e 2°C acima da média

Observações do Bureau of Meteorology mostram temperaturas da água entre 1°C e 2°C acima da média em amplas áreas do recife. Os corais podem se recuperar de um branqueamento leve, mas se o estresse térmico for muito severo, eles podem morrer.

Helicópteros e pequenos aviões para pesquisar 750 recifes da barreira de corais

O New York Times destacou que os cientistas do governo usaram helicópteros e pequenos aviões para pesquisar 750 recifes separados por centenas de quilômetros na semana passada  e encontraram branqueamento severo em 60% dos corais. Neal Cantin, biólogo de corais que liderou uma das equipes que observavam o estado do recife, declarou:

“Estamos vendo que os recifes de coral não conseguem lidar com a taxa atual de aquecimento e a frequência das mudanças climáticas. “Precisamos desacelerar essa taxa de aquecimento o mais rápido possível.”

Gráfico dos impactos da temperatura na barreira de corais
Ilustração, www.frontiersin.org.

Isso indica, diz o Times, que os corais estão sob intenso estresse das águas ao seu redor, que estão ficando cada vez mais quentes. Em 2021 os cientistas registraram o ano mais quente já registrado para os oceanos do mundo – pelo sexto ano consecutivo.

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Animais estão morrendo

Primeiro, o estresse aparece nos recifes de coral em cores brilhantes, quase neon, pois o coral, que é um animal, expele as algas que vivem dentro dele e fornecem alimento ao coral. Os corais ficam brancos como ossos, mas ainda podem se recuperar se as temperaturas esfriarem por um período suficientemente longo.

infográfico mostra branqueamento de corais
Ilustração, NOOA.

Ainda assim a batalha não está totalmente perdida. O New York Times informa que ‘ainda existem grandes e saudáveis ​​seções de corais, com tubarões, tartarugas, raias e peixes da cor de giz de cera’.

Mas os alertas estão aumentando. Segundo o NYT, os blocos de cemitérios subaquáticos, com campos cinzentos de coral morto e quebradiço cobertos de tufos de algas feias, vêm crescendo a cada branqueamento em massa desde o primeiro ocorrido em 1998.

Impedir que o recife seja colocado em uma lista de patrimônios mundiais ameaçados

Na Austrália, esse declínio tornou-se cada vez mais politizado, diz o NYT. O governo do primeiro-ministro Scott Morrison, que pouco fez para reduzir a dependência ou as exportações de combustíveis fósseis do país, pressionou repetidamente as Nações Unidas a desafiar seus próprios conselhos científicos e impedir que o recife seja colocado em uma lista de patrimônios mundiais ameaçados.’

A UNESCO, que concedeu o status de Patrimônio Mundial à grande barreira, em 2020 não colocou a maravilha natural em uma lista de locais em perigo por causa dos impactos das mudanças climáticas, em razão do lobby  australiano. Hughes e outros pesquisadores disseram que a decisão estava negando a evidência científica.

Scot Morrisnon
O primeiro ministro Scott Morrison segurando um pedaço de carvão no parlamento.

Austrália e os combustíveis fósseis

Segundo a BBC, ‘a Austrália é um dos países mais sujos por habitante e um grande fornecedor global de combustíveis fósseis. Excepcionalmente para uma nação rica, ela também ainda queima carvão para a maior parte de sua eletricidade. E, em vez de eliminar gradualmente o carvão – o pior combustível fóssil – o país está empenhado em produzi-lo ainda mais’.

A mineração ajudou a impulsionar a economia da Austrália por décadas, e o carvão continua a segunda maior exportação do país. Apenas a Indonésia vende mais carvão que a Austrália globalmente.

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Branqueamento na barreira de corais da Austrália
Imagem, Australian Marine Conservation Society/Climate Council/Grumpy Turtle.

As exportações de carvão totalizaram £ 29 bilhões; ou US$ 40 bilhões em 2020, mas a maior parte dessa riqueza foi mantida por empresas de mineração. Menos de um décimo das receitas foi diretamente para a Austrália – isso é cerca de 1% da receita nacional. Já a força de trabalho do carvão é de 40.000, cerca de metade do tamanho do McDonald’s na Austrália. Mas os empregos no carvão sustentam algumas comunidades rurais.

O destaque da BBC serve para amenizar nosso complexo por sermos um País pária em questões ambientais. Outros mandatários inconsequentes também fazem parte do desafinado coral de malucos em postos-chave mundo afora.

A atitude australiana para salvar a barreira de corais

Segundo o New York Times, ‘em vez de buscar agressivamente cortes de emissões, a Austrália investiu centenas de milhões de dólares em projetos de longo prazo que visam ajudar o recife limpando o escoamento agrícola, matando espécies invasoras ou encontrando e cultivando as espécies de coral mais resistentes ao calor’.

Estatística mostra branqueamento da barreira de corais
Ilustração, @ProfTerryHughes.

‘A imagem do recife (e a administração da Austrália sobre ele) pode ser severamente manchada se as Nações Unidas sugerirem que ele está se movendo lentamente em direção à extinção. Mas os danos aos recifes do mundo vão muito além das ameaças ao turismo ou à reputação de um país’, disse o New York Times.

Serviços ecossistêmicos dos recifes de corais

Embora os recifes de coral cubram uma pequena fração do fundo do oceano,  sustentam coletivamente cerca de US$ 2,7 trilhões por ano em bens e serviços em todo o mundo, de acordo com um relatório recente da International Coral Reef Initiative.

Seus peixes fornecem alimento para centenas de milhões de pessoas em todo o mundo – e na Austrália e em outros lugares, proteção contra as tempestades severas que também estão se tornando mais comuns com as mudanças climáticas.

Neal Cantin está alarmado. “Com a frequência de grandes verões estressantes assistimos ao branqueamento quase todos os anos”, disse. “Atravessamos tempos preocupantes.”

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Infelizmente, o senhor Scott Morrison não se toca que, se o carvão rende divisas e empregos, os corais valem muito mais especialmente em época de perda de biodiversidade galopante no mundo. Recifes de coral valem US$ 36 bilhões de dólares para o turismo global.

Assista ao vídeo do governo australiano sobre o novo evento

Reef Health update: 25 March 2022

Imagem e abertura: NOAA.

Fontes: https://www.nytimes.com/2022/03/25/world/australia/great-barrier-reef-bleaching.html; https://www.theguardian.com/environment/2022/mar/17/great-barrier-reef-hit-by-sixth-mass-bleaching-event-leading-coral-scientist-says; https://www.bbc.com/news/world-australia-57925798; https://www.newscientist.com/article/2313668-great-barrier-reef-suffers-first-mass-bleaching-under-cooling-la-nina/?utm_source=onesignal&utm_medium=push&utm_campaign=2022-03-28-Great-Barrier-R&fbclid=IwAR0qBTJ8GSsM_jOn58QKtF5z6NDy4ctEMsWTn3eANDQrk8t3hwqXdd5tOt0.

Tubarão-cobra, um fóssil vivo dos oceanos

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