Aventura Sem Fim – A série Viagem à Antártica registra a expedição de João Lara Mesquita e sua tripulação ao continente gelado.

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FLAVIA GUERRA – O Estado de S.Paulo

Temperaturas que podem ser negativas no verão e chegam a bater inacreditáveis -89ºC no inverno, superfície de 14 milhões de quilômetros quadrados (uma vez e meia a do Brasil) e o meio ambiente mais seco e árido do planeta. Mas também um dos mais fascinantes ecossistemas da Terra, com direito a noites ensolaradas, o privilégio de ver focas brincando com seus filhotes, paisagens de tirar o fôlego e um dos pontos ainda mais preservados da Terra. Poderosa e desafiante. Assim é a Antártica. Ainda hoje, explorar de perto essa maravilha é tarefa para navegadores corajosos, dispostos a fazer do medo do mau tempo, das geleiras, do mar revolto, entre outras dificuldades, seu combustível. “Corajoso era Fernão de Magalhães. A gente tem tecnologia para prever o tempo, GPS…”, comenta João Lara Mesquita quando questionado sobre os desafios encarados ao realizar sua expedição à Antártica a bordo do barco Mar Sem Fim, que partiu do Porto de Rio Grande (RS) em 25 de outubro de 2009 em direção ao continente gelado.

Magalhães foi o primeiro a realizar a viagem de circum-navegação do globo, primeiro a alcançar a Terra do Fogo, a atravessar o estreito que hoje leva seu nome e a cruzar o Oceano Pacífico, que batizou. Foram suas aventuras que encantaram e encantam navegadores de todo o mundo e também inspiraram João Lara e sua equipe de seis tripulantes a encarar esse périplo marítimo.

Do Sul do Brasil até o ponto mais ao sul do planeta, Ushuaia, João Lara e sua trupe riscaram os litorais do Uruguai e da Argentina, percorreram os canais da Patagônia, o lendário Estreito de Magalhães. Em seguida, cruzaram o estreito de Drake, sendo o terceiro barco brasileiro – e a menor embarcação a motor do mundo – a percorrer essa rota para chegar à Antártica. No caminho, depararam-se com os problemas da ocupação dos litorais, efeitos do aquecimento global. Foram quatro meses de desafios, mas também de encantamento e descobertas. “A viagem é difícil. As águas da Antártica são mais revoltas, é lá que começam as frente frias, mas, como já disse, o risco é calculado. Foi uma viagem maravilhosa. Tanto que deixei meu barco em Ushuaia e já voltei à Antártica várias outras vezes, com grupos que querem conhecer esse continente tão incrível”, conta João Lara, apaixonado pelo mar desde sempre, ex-diretor da Rádio Eldorado (de 1982 a 2003), velejador, capitão amador, jornalista, fotógrafo e, claro, explorador nato.

A viagem à Antártica foi registrada e virou série de cinco programas de documentários exibida pela TV Bandeirantes em 2010. Cada um com uma hora de duração, os programas revelavam o desafio de João e sua equipe. Ao mesmo tempo em que alertam para os efeitos que o aquecimento global tem sobre os oceanos, os documentários revelam as belezas naturais, a flora e a fauna dos locais percorridos, com direito a entrevistas com pesquisadores e especialistas, além de contar um pouco da história, da geografia e da vida atual.

Destaque para a apresentação descontraída de João Lara, que, como um companheiro de viagem, chama o espectador para ser o sétimo tripulante do Mar Sem Fim. “Tentei unir sempre as duas pontas. O lado do jornalista que informa seu público, que apura as informações, que entrevista e apresenta, mas também aprende muito no percurso, que se encanta com as maravilhas descobertas e como cidadão e pesquisador que quer alertar sobre a importância dos oceanos para o equilíbrio do clima na Terra”, conta João Lara, que estreou na TV Cultura com o Costa Brasileira, série de programas que documentavam a viagem realizada entre 2005 e 2007 por toda a extensão do litoral nacional.

Agora. Mar Sem Fim – Viagem à Antártica é lançada em DVD, contendo três discos que documentam a aventura: o primeiro registra a viagem do Rio Grande até Punta Arenas, no Chile. Destaques para a ocupação dos litorais do Uruguai, e Argentina, em especial para a entrada no Estreito de Magalhães. O segundo mostra a viagem do Mar Sem Fim pelo Estreito, e canais secundários, até Ushuaia. O terceiro exibe a jornada para cruzar o Estreito de Drake até aportar nas Shetlands do Sul. Em seguida, inicia-se o trajeto que costeia a Península Antártica, com destaque especial para as descobertas das bases estrangeiras, a rica e fascinante fauna local, a geologia e beleza natural. Imperdíveis a visita às Ilhas Deception e Shetlands do Sul, à exemplar estação científica brasileira, Comandante Ferraz, na ilha Rei George. A saga termina com a passagem pelo Estreito de Magalhães e pelo mítico Cabo Horn.

O espectador que embarca no Mar Sem Fim, além de aprender, nunca mais vai olhar o mar da mesma forma. “A Antártica é a prova da existência de Deus.”

Não por acaso João Lara diz ter encontrado o nirvana. “Trabalhava a semana toda para poder ir ao mar no fim de semana. Hoje, consigo unir minha paixão pelo mar ao meu trabalho de jornalista, ao meu papel de alertar e informar sobre o que ocorre com os oceanos, o mais importante ecossistema do mundo, que é quase sempre lembrado ‘só para lazer’. A saída para melhorar a ocupação dos nossos mares é a informação.”

As aventuras do Mar Sem Fim recomeçam em abril de 2012, quando João Lara vai refazer a expedição Costa Brasileira. “Além da primeira ter tido os maiores índices de audiência da TV Cultura, uma nova viagem se justifica também pelo interesse científico. Quero documentar o que melhorou e o que piorou desde então.” O novo projeto deve durar um ano e meio e também vai virar série. O primeiro programa estreia em maio na TV Cultura.

Ao todo, 45 horas de documentário, cerca de 4 mil fotos, dezenas de entrevistas com professores universitários, ambientalistas, técnicos, moradores, diário de bordo e muita informação. Assim é www.marsemfim.com.br, um dos mais completos sites privados em conteúdo sobre o mar e a zona costeira do Brasil.

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