Arte rupestre na Amazônia: humanos e animais da Era do gelo

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Arte rupestre na Amazônia: humanos e animais da Era do gelo

A Amazônia é superlativa em tudo. O tamanho imenso faz dela a maior floresta úmida do planeta. Sua biodiversidade, sobretudo na parte brasileira, transformou o país no campeão mundial em espécies animais e vegetais. No Brasil, a Amazônia Legal ocupa 61% do território. São 75 mil quilômetros de rios só em sua porção brasileira. Num mundo em que a água se torna cada vez mais escassa, esse número já bastaria para mostrar sua importância. Além disso, a região abriga 12 milhões de hectares de várzeas, 11.248 quilômetros de fronteiras internacionais e mais de 180 milhões de hectares de florestas protegidas. Mas hoje o assunto não é a grandiosidade da floresta. O tema é a arte rupestre na Amazônia.

Imagem de pesquisadores estudando a arte rupestre da Amazônia
Imagem, http://lastjourney.exeter.ac.uk/.

Arte rupestre na Amazônia e figuras humanas ao lado de animais da Era do gelo

Muito dessa riqueza ainda permanece desconhecida. As pesquisas acontecem, mas em ritmo menor do que seria necessário. A Amazônia está no mundo em desenvolvimento, não no chamado mundo rico.

Isso ajuda a explicar a lacuna. Mas sempre que pesquisadores entram na mata fechada, pode apostar: algo especial aparece.

Foi o que ocorreu com a equipe de arqueólogos da Universidade de Exeter. No projeto ERC LASTJOURNEY, eles investigam quando os primeiros povos se estabeleceram na Amazônia e como a agricultura e a caça afetaram a biodiversidade.

De uma paisagem em mosaico de savanas, para a floresta úmida atual

As pinturas ficam em paredes de rocha na Serranía La Lindosa, no extremo norte da Amazônia colombiana. Elas reforçam o impacto das primeiras comunidades humanas sobre a biodiversidade e mostram como esses povos se adaptaram às mudanças climáticas.

Mapa da Colombia mostra local da descoberta da arte rupestre na Amazônia
O local da descoberta. Ilustração, http://lastjourney.exeter.ac.uk/.

Na época em que surgiram, as temperaturas estavam em alta. A região se transformava em um mosaico de savanas irregulares, matagais espinhosos, matas de galeria e floresta tropical. Um retrato da transição para a Amazônia de hoje.

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E o que essas pinturas revelam é de espantar. Algo já sabido, mas pouco estudado.

Figuras humanas ao lado de animais da Era do gelo

Pesquisadores ingleses datam as figuras entre 11.800 e 12.600 anos atrás. Os desenhos mostram humanos lado a lado com preguiças gigantes, mastodontes, camelídeos, cavalos e ungulados — mamíferos de casco.

Segundo o site da Universidade de Exeter, as milhares de imagens estão entre as mais antigas representações de pessoas interagindo com criaturas de grande porte, incluindo mastodontes.

imagem de Arte rupestre na Amazônia
Imagem, José Iriarte, professor de Arqueologia de Exeter.

Para a Universidade de Exeter, trata-se de uma das maiores coleções de arte rupestre da América do Sul. Os desenhos ficam em três abrigos de rocha, nas colinas da Amazônia colombiana.

As pinturas, identificadas durante levantamentos de paisagem, retratam formas geométricas, figuras humanas e impressões de mãos. Mostram também cenas de caça e pessoas interagindo com plantas, árvores e animais da savana.

Quanto tempo levou para criarem as pinturas?

A Universidade de Exeter explica: as imagens vermelhas foram feitas ao longo de centenas, talvez milhares de anos. Algumas aparecem em locais tão altos e inacessíveis que exigiriam escadas especiais, construídas com recursos da floresta e invisíveis para quem visitasse o abrigo de pedra.

Imagem de arte rupestre na Amazonia
Imagem, Jose Iriarte, professor de Arqueologia de Exeter.

“Há representações de veados, antas, crocodilos, morcegos, macacos, tartarugas, serpentes e porcos-espinhos, além do que parece ser uma megafauna da Idade do Gelo. Esses animais já extintos surgem na arte rupestre do Brasil Central, em traços que os especialistas consideram notavelmente realistas.”

Quer que eu prepare mais uma ou duas variações alternativas, para você escolher a que encaixa melhor no tom do seu texto?

A extinção durante a mudança climática

Mudanças climáticas sempre fizeram parte da história da Terra. O que preocupa hoje não é a mudança em si, mas a velocidade com que acontece. Nenhum ciclo natural conhecido provoca transformações tão rápidas. A causa é outra: o modelo insustentável de vida baseado em combustíveis fósseis, agravado pelo consumo desmedido da parcela mais rica da população.

Segundo a Universidade de Exeter, as pinturas rupestres mostram preguiças gigantes, mastodontes, camelídeos, cavalos e ungulados de três dedos com troncos. Todos esses animais nativos foram extintos, provavelmente por uma combinação de fatores: mudanças climáticas, destruição de habitats e a caça praticada pelos humanos.

Imagem de ferramente de pedra da era do gelo
Imagem, http://lastjourney.exeter.ac.uk/.

O que está por trás da arte rupestre na Amazônia

Segundo o professor Iriarte, essas pinturas são uma prova espetacular de como os primeiros habitantes da região moldaram a paisagem, caçaram, cultivaram e pescaram. A arte, ao que tudo indica, tinha um papel central na vida social, funcionando como elo cultural e forma de conexão entre as pessoas. As imagens revelam também um cotidiano partilhado com animais gigantes, hoje extintos, que faziam parte de sua caça e sobrevivência.

Ilustração de arte rupestre
Ilustração, http://lastjourney.exeter.ac.uk/.

As pinturas revelaram uma das primeiras datas seguras para a ocupação da Amazônia colombiana, além de pistas sobre a dieta das comunidades da época. Foram encontrados restos de pequenas ferramentas e ocre raspado, usado para extrair pigmentos e produzir as imagens.

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Esses grupos eram caçadores-coletores que pescavam no rio vizinho. Escavações mostram ossos e restos de plantas que revelam uma dieta variada: frutos de palmeiras e árvores, piranhas, crocodilos, cobras, sapos, roedores como paca e capivara, além de tatus.

Tudo isso aponta para o quanto ainda precisamos pesquisar para compreender melhor esse passado. E compreender é o primeiro passo para proteger.

Imagem de abertura: José Iriarte, professor de Arqueologia de Exeter.

Fonte: https://www.exeter.ac.uk/news/research/title_829032_en.html.

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Comentários

5 COMENTÁRIOS

  1. Nós, humanos, temos uma necessidade intelectual de projetar nossa persona corrupta sobre um ser que é infalível, incorruptível e do qual não pode ir nadade destrutivo. Sempre vai existir a figura mitológica do “índio” perfeito, superior a todos os demais humanos, sábio, perfeito; cheio de amor e incapaz de maldade nem violência.

  2. Os humanos são os predadores no topo da cadeia alimentar. Assim, nos tempos em que não havia supermercados, caçavam (há ainda os que o fazem e, o que é pior, por prazer e não para saciar a fome). Só que, os predadores existiam em número compatível com a quantidade de presas que caçam e assim era com os humanos primitivos. A reprodução das presas e a caça por seus predadores mantinha o equilíbrio: havia presas suficientes para os predadores e não havia excesso delas de modo a por em risco a flora. Assim, concordo com o texto acima. Acho improvável que os humanos primitivos tenham extinguido espécie a não ser em ilhas em que humanos desembarcaram em bandos e caçaram aves indefesas, como os moas da Nova Zelância e os dodos da Ilha Maurício. Agora o desequilíbrio ocorre porque a espécie humana expandiu-se exponencialmente por todo o mundo, devastando a natureza em rítimo que não permite a recuperação.

  3. Os arqueólogos são pessoas excepcionais, teorizam a partir de pinturas que os seres humanos daquela época participaram de alguma forma da extinção de algumas espécies animais. Interessante como teorias vem e vão na ciência. Talvez os “artistas rupestres” apenas quisessem mostrar o mundo que os circundava.

  4. Vamos extrapolar muitos dos dados com que comentamos diariamente os assuntos; muito provavelmente as populações de humanos nas Américas antes das invasões pelos brancos europeus não seriam muito mais que uns 20 ou 30 milhões dispersos por territórios que jamais conheceram nas suas totalidades e suas expectativas de vidas médias não ultrapassariam aos 30 anos (se chegassem a tanto) , portanto, seria difícil aceitar que caçadores tenham “ajudados nos extermínios” das espécies nos levando a acreditar que fenômenos naturais devem ter provocados os desaparecimentos afinal o anel de fogo já era atuante e um dos seus sinais mais evidentes seria a própria criação da Cordilheira dos Andes. Acredito que muitas das descobertas tenham surgidas anteriormente pelos “achismos”, mas talvez muitos dos conceitos tiveram versões e revisões que são limitadas pelas tecnologias disponíveis nas épocas, culturas e experimentos e para exemplificar imaginemos o que diriam humanos de apenas 80 anos atrás sobre desembarcar na Lua, Marte ou em asteroides. Histórias são histórias e depende de quem as escreve fixando as “verdades”, afinal de contas não se celebram as descoberta da América pelo viking Leif Ericson uns 500 anos antes de Cristóvão Colombo.

    • Dá uma olhada neste artigo que fala a respeito da influência das populações pré-colombianas na domesticação e difusão de plantas no território amazônico! Nesse caso foi realizado o mapeamento genético das plantas atuais e não de sítios arqueológicos, apesar das plantas domesticadas estarem associadas a terra preta de índio, que remete a assentamentos antigos,
      https://www.researchgate.net/publication/314198290
      DOI: 10.1126/science.aal0157

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