Litoral centro, e sul de São Paulo:, Laje de Santos, Queimada Grande, Iguape e Peruíbe
Litoral centro, e sul de São Paulo, domingo, 15- 10- 2006.
Nesta madrugada o veleiro deixou Santos. O Mar Sem Fim já estava se habituando com sua casa, o Píer 26, quando precisamos partir novamente. Por mais que estejamos gravando na frente, as semanas se sucedem, com ou sem tempo bom, e os programas em estoque acabam. Hora de navegar de novo.
Litoral centro, e sul de São Paulo
Fico até com pena de colocar tanto material interessante em míseros 24 minutos, mas esta é a regra. E a série também precisa terminar por mais que eu goste dela. Acertamos cobrir a costa brasileira em 90 episódios. Assim será.
Desta vez estavam a bordo Alonso, Paulina, e o cinegrafista, Cardozo. Eu havia marcado uma visita a um possível patrocinador nestes dias, não poderíamos atrasar a saída do barco sob pena de ultrapassar o limite de nosso estoque de inéditos.
A tripulação sai na frente
O jeito foi a tripulação sair na frente e gravar as ilhas Laje de Santos e Queimada Grande nos primeiros dias, até que eu me reúna com eles em Iguape.
A partir desta etapa nossa equipe conta com duas novidades. Estreamos um novo patrocinador, além da Semp Toshiba: a Sagatiba. Daqui até o final da série, temos este reforço. Também passamos a contar com a ajuda de uma meteorologista. Estamos numa latitude que começa a ser perigosa, e fica pior à medida que descemos. As frentes por aqui entram bem fortes e, muitas vezes, não há nenhum abrigo no mar, num raio de mais de cem milhas.
Pedi à minha grande amiga, Josélia Pegorim da Climatempo, empresa que descobrimos, e contratamos, para fazer as previsões da Rádio Eldorado desde a década de 80.
Antonio Carlos Diegues
Liguei para um amigo, o prof Antonio Carlos Diegues, que mora por lá. Informei o dia e hora da chegada e pedi que conseguisse um prático para ajudar Alonso.
Em poucos minutos tudo foi arranjado. Diegues deu o telefone do “Mingo”, personagem notável de Iguape, com quem falei. Amanhã ele vai até a barra, em Icapara, descobrir um pescador para guiar o Mar Sem Fim.
Segunda- feira, 16- 10- 2006.
Antes das 8h da manhã Mingo já tinha ligado. Ele falou com Amarildo, que mora na ponta de Icapara e será nosso prático.
Terça- feira, 17- 10- 2006.
Assim que acabou a apresentação do projeto peguei a estrada. Cheguei a bordo esta tarde, por volta das 4 horas. Estava distraído com a beleza do centro histórico da cidade, me dirigindo para o rio à procura do cais quando ouvi um assobio dos mais fortes logo após ter passado. Eu conhecia aquele som. Parei e olhei pra trás. Era Cardozo saindo de um barracão.
Mingo
Fora do carro ele apresentou Mingo. Era justamente o dono daquela oficina. Cardozo e Paulina estavam lá atrás de um cabo da manete (espécie de câmbio) de engate do motor do Mar Sem Fim. Foi divertido e inesperado encontrar logo de cara com os três de uma vez. Chovia e fazia frio.
Paulina e Cardozo estavam a mil por hora pela emoção da entrada na barra. Falaram várias vezes sobre o tamanho das ondas. Elas estouravam dos dois lados do costado, enquanto o Mar Sem Fim surfava ao descê-las.
A entrada pela barra de Icapara
Contaram que, durante a entrada Alonso no leme, narrava a manobra para a câmera visivelmente “acelerado” com a emoção. E dizia que “aquela tinha sido a pior barra desde o início da viagem”. Fiquei gelado, mas eles garantiram que o prático era realmente do ramo, conhecia a entrada.
Assim que subi a bordo pedi para ver o filme, Barrabás! Que barbaridade. Foi pura emoção. A adrenalina a bordo subiu a níveis explosivos. Seus rostos, na gravação, denunciavam o que estavam sentindo enquanto o barco “voava” deslizando pelas ondas.
Assoreamento da barra de Iguape
Muitos dos problemas de assoreamento da barra e erosão, em Iguape, foram causados pela mão do homem que, em 1852, abriu o famoso canal artificial do Valo Grande. A idéia era facilitar o transporte de carga, especialmente o ouro, e a produção do vale do Ribeira até o Mar Pequeno e,daí, para o porto de Iguape.
Inicialmente tinha pouco mais de 4 metros de largura mas, depois de aberto, a força das águas do Ribeira erodiu e “empurrou” suas margens mais para adiante.
Passados 150 anos…
Passados 150 anos, a largura chega quase aos 300 metros. Parte da cidade veio abaixo. O antigo cemitério, ruas, casas, tudo foi tragado pela água. E pior: os sedimentos trazidos assorearam o porto. Mas não foi apenas este o principal problema. Com o excesso de água doce canalizada para o sistema estuarino, diminuíu drasticamente a quantidade e os tipos de peixes, moluscos, e frutos do mar em geral. E o mangue de Iguape estes sendo detonado. A riqueza da cidade foi embora com a abertura do Valo Grande.
100 anos pedindo o fechamento do canal
Depois deste desastre, os moradores passaram cerca de 100 anos pedindo o fechamento do canal que só aconteceu, via a construção de uma barragem, em 1978 (governo Paulo Egydio). Mas a felicidade não durou muito. Em 1983 as cheias do Ribeira de Iguape, a maior e mais importante bacia hidrográfica dos quase 400 quilômetros da costa paulista, destruíram as obras de fechamento do Valo Grande e o rio voltou a desaguar no Mar Pequeno.
Ribeira de Iguape
As águas do Ribeira de Iguape trazem enorme quantidade de agrotóxicos usados na agricultura, e resíduos liberados pela grande quantidade de lavras de extração de minério, chumbo, manganês e zinco, do vale onde corre seu leito. A água doce diminui a salinização de todo o Lagamar, com cerca de 90 milhas de extensão, que começa em Iguape e vai até Paranaguá. Camarões e ostras são os crustáceos mais afetados neste caso, mas não os únicos. O Lagamar Iguape- Cananéia- Paranaguá é considerado o maior criadouro de peixes da costa sul e sudeste brasileira.
Este caso poderia servir de exemplo e, talvez, evitado outras alterações provocadas por obras na costa brasileira. Infelizmente o tempo está fechado. Vamos gravar assim mesmo.
O trabalho rendeu
Ontem e hoje, Paulina contou, com o tempo menos ruim o trabalho rendeu. Várias entrevistas foram feitas, e a maior parte do lindo casario colonial da cidade já está registrado. Ainda assim amanhã temos muito pra fazer.
Dauro Marcos do Prado, caiçara
Quarta- feira, 18- 10- 2006.
Hoje tínhamos um encontro com Dauro Marcos do Prado, caiçara oriundo da praia da Juréia. Desde 1987 a área é uma Estação Ecológica, uma unidade de proteção integral.
O modelo de Parques, e unidades afins, no Brasil, não permite que haja moradores nestes lugares, ou restringe sua ação. Esta é uma questão polêmica.
Caso emblemático
O caso de Dauro é emblemático. Sua versão, e as questões que levanta precisam ser respondidas.
A origem da família
Perguntado sobre a origem da família ele falou de seu bisavô que nasceu, teve filhos e morreu naquele lugar. Sempre viveu do extrativismo, pesca, e agricultura de subsistência. De tempos em tempos entrava no mato e derrubava alguma árvore que transformava em canoa. Ele dependia dela pra sobreviver.
Em terra firme capinava uma pequena área para fazer uma roça. Mas a base do sustento era a pesca e, de vez em quando, a caça. E assim fizeram seu avô e seu pai. Até que chegou a sua vez.
Tornando-se parque
Depois de uma disputa entre os militares que queriam construir uma Usina Atômica, a especulação imobiliária, e os ambientalistas, venceram estes últimos. A Juréia foi transformada em Unidade de Conservação. A área tem 80 mil hectares de mata atlântica e abrange parte dos municípios de Iguape, Peruíbe, Itariri e Miracatu. Foi uma vitória. Mas trouxe conseqüências. De acordo com a nova ordem, 90% da área deveria ser preservada. E 10% poderia ser explorada para fins científicos.
De um momento para o outro, Dauro, e outras cerca de 350 famílias, foram impedidos de manter suas tradições usos e costumes. E, como num passe de mágica, quem era vítima passou a vilão. Este é, mais ou menos, o caso de nosso amigo.
“Tudo passou a ser proibido”
Ele conta que, na época, não houve conversa com os moradores das 22 comunidades do entorno. “Apenas foi dito que com o decreto acabaria com a especulação imobiliária”. E arremata: “Em seguida tudo passou a ser proibido: a roça, a pesca, o extrativismo. Tudo acabou de uma vez”.
Como era de esperar, houve protestos. Em todas as comunidades pessoas reclamavam e procuravam organizar as outras. Eram os cabeças do movimento. Pois, nas palavras de Dauro, estas mesmas pessoas foram contratadas como guarda-parques. De detratores passaram a defensores; e, muito pior, fiscais da estação.
Segundo Dauro, eles foram investidos desta autoridade ao ganharem uniforme, coturno e revólver. E passaram a vigiar, especialmente, os membros da própria comunidade ou família. O caos se instalou em seguida.
Flagrante no próprio parente
Dauro contou dos problemas que teve com um primo que se tornou guarda, ou o próprio pai, que seguiu o mesmo caminho. E relatou casos em que os fiscais, sabendo que haveria caça para o jantar, aplicavam um flagrante no próprio parente.
Além das proibições impostas, houve esta medida descabida de transformar alguns deles em fiscais, semeando a discórdia em quase todos os núcleos populacionais. É inacreditável! Imagine um irmão fiscalizando outro, e os problemas que isso pode trazer.
O resultado não poderia ser outro. Aproximadamente 60 famílias abandonaram a área e se mudaram para bairros periféricos de Iguape, e outras cidades. Pouco depois, “alguns morreram em confrontos coma polícia, ou foram presos porque entraram nas drogas”.
É óbvio. Não podendo sobreviver do modo tradicional, os caiçaras caíram no conto da “vida fácil”, se arruinaram no tráfico ou na prostituição.
Muitos não suportaram a situação e, em 1989, fundaram a União dos Moradores da Juréia. Passaram a lutar pelo que consideravam seus direitos, entre eles, ter áreas onde poderiam desenvolver seu modo de vida.
Projeto deverá ser votado
Em 1992, depois de ser proibido de construir na região da Juréia, Dauro veio para Iguape e se integrou ao movimento. Mais recentemente, conseguiram apoio de dois deputados que entraram com um projeto de lei para transformar duas áreas, uma no interior, Despraiado, e outra no costa, Barra do Una, em RDS- Reserva de Desenvolvimento Sustentável. Nelas, estariam livres para seguir sua vida e ainda explorar o ecoturismo. Segundo Dauro, até o final deste ano o projeto deverá ser votado.
Impedidos de trabalhar
Lembro que desde que começamos esta reportagem temos visto dezenas de artesãos tradicionais, especialmente carpinteiros navais, com notório saber, impedidos de trabalhar e exercer sua profissão. Enquanto isto, como diz Dauro, “o governo exige mas não fiscaliza”, e os verdadeiros criminosos, aqueles que causam estragos imensos e quase sempre definitivos, continuam impunes.
O desmatamento na Amazônia segue forte. Os mangues são entregues a carcinicultores, de graça, para serem destruídos. O contrabando de animais silvestres continua. E os palmiteiros prosseguem derrubando as Juçaras, inclusive aqui na Juréia, sem quase nunca serem molestados. Para todos estes casos a política oficial do governo é ineficiente. Por que será que só para os pobres caiçaras, ou populações tradicionais, a fiscalização é sempre implacável? É de se pensar…
Juréia quase acabou nas mãos dos militares
Antes de encerrar o assunto, torno a lembrar que a Juréia quase acabou nas mãos dos militares para ser base de uma usina nuclear. Depois escapou da sanha dos condomínios, quando conseguiram que a Gomes de Almeida Fernandes, que queria construir um gigante deste ramo, desistisse. Finalmente virou área protegida. Mas pagou alto custo social.
Almoçamos na cidade. Em seguida fotografei o centro histórico de Iguape, fruto da riqueza da exploração do ouro e, depois, da cultura do arroz.
Últimas salgas de Iguape
Antes de retornar ao Mar Sem Fim visitamos uma das últimas salgas de Iguape para gravar como é esta antiga e tradicional técnica de beneficiar peixe.
Ela fica no bairro do Rocio, e pertence ao senhor Nishidate, um japonês. No galpão, atrás das instalações, havia uma espécie de cemitério de canoas de pau que faziam parte de sua velha frota, agora renovada em fibra de vidro.
Fui avisado pelo professor Diegues sobre a salga que trocava sua frota. Não perdi tempo. Comprei uma linda canoa, desta vez em tamanho natural, que vou mandar de caminhão para São Paulo.
E por hoje foi tudo.
O Fandango no sul de São Paulo
Quinta- feira,19- 10- 2006.
Esta manhã assistimos uma apresentação especial do Fandango, tão vivo por aqui e no litoral do Paraná. Fomos até a vila de Barra do Ribeira, já na divisa com Juréia, onde o grupo se apresenta. Estivemos na oficina onde um dos participantes constrói a famosa rabeca principal, solista, entre os instrumentos de cordas usados.
Perguntamos sobre a origem do fandango, que seus protagonistas não sabiam responder. Esqueceram a origem lusa, com influências hispânicas, especialmente forte na região devido à presença próxima de açorianos que se fixaram sobretudo no litoral sul do Brasil. Em todo o caso, dançaram e tocaram.
Canoa caiçara Vanda
Para chegar até a vila tivemos que atravessar de balsa o Ribeira de Iguape. Ali encontrei uma das maiores e mais bonitas canoas caiçaras: Vanda. Ela estava no seco, o que me permitiu tirar muitas fotos e oberservar atentamente seu desenho.
Apesar de já conhecer esta região, não lembrava da forma das canoas. Ao contrário de quase todas as outras que vimos pela costa brasileira, as daqui tem a proa bem afilada, lançada, e a popa reta. Parecidas com estas, só mesmo as canoas do São Francisco. E são lindas. Gravamos e fotografamos.
Em razão da riqueza do material, decidi fazer dois programas ao invés de um. Ainda nem chegamos na Estação da Juréia mas já temos tantas imagens de assuntos tão diversos, que a edição seria quase impossível em um único episódio.
Quantidade assombrosa de pínus
Além da beleza das canoas e seu “shape” único, a outra coisa que impressionou em toda a região, mas especialmente na Ilha Comprida (74 km de extensão, por 4 de largura), que é mais uma Área de Proteção Ambiental, é a quantidade assombrosa de pínus. É impressionante. Em certas áreas, como na restinga da ilha, ela rivaliza com as nativas.
Desde o Ceará temos visto, e denunciado, o absurdo de se plantar pinus na orla quando temos tantas e tão lindas árvores nativas. Mas, se no nordeste há poucas, aqui são muitas.
Animais introduzidos
Este é um caso parecido com os animais introduzidos em ilhas. Por que não matá-los antes que acabem com a diversidade do local onde foram inseridos?
Veja-se o caso da ilha Anchieta no litoral norte de São Paulo. Ali, há 20 anos, a Fundação Zoológico introduziu capivaras, cotias e saguis. Hoje são uma praga. Se proliferaram às centenas, e os responsáveis pelo Parque ( ilha Anchieta é Parque Estadual) dizem que “agora vão se reunir e estudar o que fazer”. Esperaram 20 anos para “estudar” o caso. É possível?
Abrolhos
Se não tivesse visto e ouvido não acreditaria. Em Abrolhos a mesma coisa acontece com os bodes que os portugas deixaram e que destruíram com o que restou da vegetação. Mesmo assim, permanecem devastando. Quando perguntei ao guarda-parques, o rapaz nem se incomodou. Simplesmente o assunto não era com ele.
Quando vejo os pinus sem graça crescendo livremente pela costa, e os malditos bodes comendo sem parar, lembro do ambientalista famoso que ataca navios baleeiros. Nestas ocasiões sempre digo aos meus companheiros que na próxima viagem levarei a bordo moto-serras e espingardas…
Último canoeiro à vela
Depois do almoço tivemos outro bom programa. Fomos gavar e fotografar o último canoeiro que ainda usa a vela como propulsão em Iguape. A dica preciosa me foi passada, mais uma vez, pelo professor Diegues.
Seu Apparício, assim mesmo, com dois pês, foi mito simpático e não se incomodou com o trabalho de colocar o mastro em sua canoa, a Pantera, pintada em vermelho e, esta sim, com proa e popa levemente arredondadas como a maioria das canoas do litoral brasileiro.
Seu Apparício velejou pelo canal do Valo Grande, para cima e para baixo, enquanto gravávamos.
A vela trapezoidal
É incrível como é fácil manejá-las. O mastro é leve e a vela trapezoidal simples, que ele mesmo desenhou e sua mulher costurou. Para controlar a vela ele usa apenas uma escota, atada à ponta da retranca. Com uma das mãos segura este cabo e, com a outra o remo que é também leme. Tudo muito simples, sem aquele sem-número de cabos e estais (cabos de aço que seguram o mastro) dos veleiros mais modernos.
Retornamos para bordo do Mar Sem Fim
Retornamos para bordo do Mar Sem Fim, fundeado poucos metros antes da ponte que vai de Iguape para Ilha Comprida. Mais um dia estava encerrado. Antes de dormir, ainda tivemos pequenos contratempos. Os pescadores de Iguape passam boa parte do dia soltando enormes redes no canal atrás de manjubas. Como a correnteza é muito forte, volta e meia uma delas se enrosca na corrente da âncora do Mar Sem Fim e acaba envolvendo todo o barco. Ontem foi assim, hoje, de novo aconteceu. Mas nada que dê muito trabalho para a gente soltar.
No momento Paulina decupa as fitas que gravamos, enquanto eu, aqui na mesa de navegação, sigo escrevendo. Alonso já foi dormir faz tempo e o Cardozo curte a noite lá fora.
Amanhã tem mais.
Ninhal de Guarás
Sexta- feira, 20- 10- 2006.
Hoje fomos ver o ninhal de Guarás, e outras aves, na restinga da Ilha Comprida. No trajeto mais uma vez me impressionou a quantidade de pinus . Ele já está se infiltrando nas margens e começa a substituir o manguezal.
Ilha Comprida já está bastante tomada por construções. Aqui a especulação imobiliária começou em fins da década de 70 e se acentuou depois da construção da ponte que liga Iguape até a ilha. São condomínios e casas de veraneio erguidos em áreas de restinga ou nas pequenas dunas. Nas férias, a população triplica e o saneamento básico, como sempre, é precário. Estas são outras fontes constantes de pressão que atuam em conjunto no pior local possível.
Função da ilha Comprida
A função da ilha Comprida no ecossistema é de vital importância. É ela justamente quem separa o mar da área lagunar, permitindo a formação do manguezal. A queda das folhas do mangue no lodo forma uma massa orgânica que é a base da cadeia alimentar para peixes e crustáceos. Como são substituídos por árvores “invasoras”, ou aterrados, o estuário fica prejudicado em sua função maior de criadouro natural de vida marinha. O turismo hoje é a maior fonte de renda de Ilha Comprida.
Chovia a cântaros
Chovia quando chegamos. Tivemos que gravar e fotografar debaixo de guarda-chuvas. Foi difícil. Já imaginou segurar um guarda-chuva com uma mão e, com a outra, uma pesada máquina fotográfica com uma enorme teleobjetiva?
Os guarás daqui são os mesmos que habitam os mangues de Santos e Cubatão. E a quantidade, ao menos em Iguape, é bastante razoável. Fiquei feliz por vê-los de novo. No passado havia muitos. Agora estão de volta. É mais uma prova da força da regeneração da natureza. É só a gente dar uma pequena ajuda que o resto ela faz sozinha.
Projeto Tamar
O mesmo fenômeno tem acontecido com as tartarugas depois de alguns anos de trabalho sério do Tamar. Hoje é possível encontrá-las em quase todo o litoral brasileiro. Tudo isto me anima, são provas de que, se mudarmos nossos hábitos, se consumirmos com mais precaução e, se sujarmos um pouco menos o planeta ainda há tempo para salvar grande parte dos ecossistemas.
Juréia
Encerrada a gravação retornamos para Iguape para almoçar. Depois seguimos de carro para a Juréia. Lá não há baías abrigadas para deixarmos o Mar Sem Fim. Nosso veleiro fica aqui, aos cuidados do Alonso, nós seguimos de carro para Peruíbe.
Fiquei muito mal impressionado quando chegamos. A orla de Peruíbe está toda tomada por prédios enormes, e os pinus estão em todas as ruas e avenidas. Plantados pelo poder público.
Alguns ambientalistas com quem encontramos em Iguape, disseram a mesma coisa. Lá, nos anos 80, foi a própria prefeitura que distribuía as mudas a quem quisesse. Muito provavelmente, são reflexos da política de reflorestamento do antigo IBDF, assunto que comentei no diário de bordo anterior. Uma pena.
Já era tarde quando chegamos. Tivemos tempo apenas de ir até a sede da estação Ecológica Juréia-Itatins para marcarmos nosso passeio para amanhã. Anoitecia quando saímos.
Fomos para um hotel torcendo para a previsão de Josélia estar certa. Ela prevê sol para amanhã. Tomara. A beleza da Estação Ecológica merece tempo bom para ser gravada.
A estação ecológica
Sábado, 21- 10- 2006.
Cedinho estávamos de novo na sede da estação ecológica. Lá nos esperava o chefe da fiscalização. Saímos numa perua 4 x 4 e percorremos parte da área protegida.
Estivemos na praia do Una onde poucos caiçaras ainda mantêm suas tradições. A maioria das casas é de veraneio. São pessoas que compraram as posses e construíram discretamente, mais para trás. Apesar da imensa quantidade de gente que visita anualmente a estação, na casa dos 50 mil, a paisagem ainda se mostra exuberante e muito pouco alterada.
A praia do Una é enorme, com areia dura, e larga também. A arrebentação ocorre em toda a sua extensão, com águas bem escuras o que provoca um belo contraste com o tom claro da areia. De lá seguimos para conhecer outras duas, Caramborê e Praia Deserta. No trajeto paramos para fotografar tucanos, a mata exuberante com o rio Una serpeteando entre ela, vimos também o belíssimo Tiê-Sangue, entre outros inúmeros pássaros.
Região belíssima
Toda a região é belíssima. O colorido da mata em seus diferentes tons, com o sol batendo e provocando alterações nos matizes é de arrepiar. Como o sol nos fez companhia quase o dia todo gravamos um belíssimo programa.
No fim do dia seguimos para São Paulo.
Na próxima etapa saímos de São Paulo, através de Cananéia, e chegaremos ao décimo quarto Estado, o antepenúltimo de nossa expedição: vamos conhecer o litoral do Paraná. Até lá.