Carlos Nobre e a terceira via, Amazônia 4.0, conheça

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Carlos Nobre e a terceira via, Amazônia 4.0, conheça a proposta

Para Carlos Nobre a Constituição de 1988 aumentou muito o direito à proteção ambiental e isso se expandiu para todo o País. Os partidos que surgiram na época, como PT ou PSDB, tinham pauta forte de defesa do meio ambiente e dos povos indígenas e quilombolas. O ‘agronegócio conservador, que não representa o agronegócio moderno’,  sempre se opôs a estas medidas. A partir de 2005, com o novo marco legal contra o desmatamento começou a ação efetiva do governo para debelar o crime ilegal ambiental que teve muito sucesso até 2012, se estabilizou até 2014, depois começou a subir de novo.

imagem de Carlos Nobre
Carlos Nobre. Imagem, Beto Garavello/Lume.

Carlos Nobre diz que no mesmo período o ‘agro conservador’ decidiu-se a financiar deputados e senadores que defendessem sua pauta. E tiveram sucesso. A bancada ruralista se tornou muito poderosa e conseguiu flexibilizar a aprovação do Código Florestal a partir de 2012 que regularizou propriedades ilegais. E assim vem sendo feito sistematicamente.

Modelo extrativista intensivo

Ele comenta o modelo extrativista intensivo, iniciado pelos militares na década de 70, ainda em voga na Amazônia e Cerrado mais de cinco séculos depois do descobrimento. O resultado? Segundo o cientista, “a Amazônia já perdeu 20% de sua área, 800 mil km2, via o desmatamento e consequente geração de áreas para a pecuária.”

Para Carlos Nobre, destes 800 mil km2 desmatados na Amazônia de 1970 até hoje, ‘cerca de 63% tornaram-se áreas para a pecuária de baixa produtividade, 9% para a agricultura (principalmente soja), e 23% da área foi abandonada, a floresta está se regenerando’. O  modelo dos anos 70 também é  da exploração mineral intensiva e geração de energia com grandes hidrelétricas. E perdura até hoje. Não é um modelo que ajude manter a floresta em pé.

Pecuária

“Pecuária é ferramenta da contínua expansão do desmatamento. O principal vetor da pecuária, ao contrário da agricultura, não é a produtividade mas a posse da terra. E isso é um fenômeno mundial. 65% do desmatamento mundial em florestas tropicais é para o boi. E no Brasil a produtividade é baixa, 1,35 cabeças por hectare, no Pará ainda pior, 0,9 cabeças por hectare.”

Biodiversidade

“Numa floresta como a Amazônia que tem milhares de espécies por hectare, você derruba tudo e substitui por uma gramínea, não faz sentido. “

Terceira via, Amazônia 4.0

“Nunca conseguimos ver valor na biodiversidade. Não há nenhuma justificativa. Há cerca de mil produtos com potencial na floresta. Mas é preciso trazer as tecnologias modernas, daí Amazônia 4.0.”

“O potencial econômico de pouquíssimos produtos como o açaí, o cacau, e a castanha,  têm uma rentabilidade que varia entre quatro e 10 vezes por hectare maior que a pecuária. Isso é uma realidade. O açaí já passou a madeira e traz um bilhão de dólares para a Amazônia por ano. É o potencial desta economia que queremos ver na região. Ela gera riqueza e mantém a floresta em pé.”

Para Carlos Nobre o que falta é a industrialização dos produtos naturais. Este é o caminho da Amazônia 4.0.

O cientista comenta também o poder do consumidor ainda não levado a sério no Brasil, e a possibilidade de novas pandemias em razão do desmatamento. “A Amazônia tem milhares de coronavírus.” Carlos Nobre também fala sobre os subsídios ao agronegócio e a mesma possibilidade para o ecoturismo ou a pesca esportiva na Amazônia.

Carlos Nobre, e a terceira via Amazônia 4.0: saiba quem é

Carlos Afonso Nobre é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e considerado um dos maiores especialistas no país na área de mudanças ambientais globais. Foi coordenador-geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE).

Engenheiro eletrônico formado pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica e Doutor em Meteorologia pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology ), o pesquisador é conhecido internacionalmente por seus estudos que relacionam a ação antrópica na Amazônia às alterações climáticas globais.

É presidente do International Geosphere-Biosphere Programme – IGBP (Programa Internacional da Geosfera-Biosfera) e membro do IPCC – Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática. Também é membro da Academia de Ciências do Mundo em Desenvolvimento (TWAS), na categoria Ciências da Terra, e da Academia Brasileira de Ciências.

Imagem de abertura: Grabriela Biló, Estadão.

Ouça o podcast Casa Pé na Areia, equívoco dos tristes trópicos, com geógrafo especialista em erosão costeira, Dieter Muehe

Comentários

3 COMENTÁRIOS

  1. Deveríamos como consumidores priorizarmos os produtos da Amazônia, açai, castanhas… Tenho observado aqui no sul, por exemplo, um processo de valorização do pinhão. Muitas pessoas geram renda com a venda das sementes do pinheiro, percebem que a Araucária em pé é muito mais valiosa que deitada.

  2. Desculpe se vc tem dificuldades com o português. Eu entendi que a Amazônia já perdeu 20% de sua área, 800 mil km2, via o desmatamento e consequente geração de áreas para a pecuária.Que o modelo dos anos 70 também é da exploração mineral intensiva e geração de energia com grandes hidrelétricas. E perdura até hoje. E ainda explicou o programa da terceira via. Mas se vc não entendeu…sinto muito.

  3. Bom dia. Coisas assim deveriam ser o tema principal nas mesas dos cafés e almoços nas casas dos brasileiros. Está tão interligado a tantos outros temas, como o turismo – o turismo em queda nessa crise, tomaria propulsão épica.

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