Estudantes contribuem para erradicar o coral-sol
Espécies invasoras estão entre os maiores inimigos da biodiversidade mundial. Elas destroem habitats, competem com espécies nativas e espalham doenças. O resultado é a perda de biodiversidade e, em muitos casos, extinções. Um estudo da Universidade de Princeton, citado pelo Earth Island, já apontava em 1998 as espécies invasoras como a segunda maior ameaça à diversidade biológica global. O custo também assusta. Segundo a The Nature Conservancy, o mundo gasta cerca de US$ 1,4 trilhão por ano com espécies invasoras, o equivalente a 5% da economia global. No Brasil, uma das ameaças à vida marinha é o coral-sol que aqui chegou no fim dos anos 1980. Os primeiros registros surgiram em plataformas de petróleo da Bacia de Campos. Hoje quase todas as ilhas do Sul e Sudeste, além de alguns locais no Nordeste, estão infestados. Agora, estudantes de São Sebastião criaram uma substância química que ajuda a erradicar o coral-sol.

O coral invasor se prolifera no Sul, Sudeste e Nordeste
O coral-sol não é nosso único invasor marinho, longe disso. Além dele já nos atingiram em cheio o mexilhão dourado, o peixe leão, e o mexilhão verde entre outras. No caso dos corais a situação pode ser pior porque eles são o mais eficiente berçário marinho, e já estão sofrendo com o branqueamento que está arrasando os corais de águas rasas.

Além disso, a luta para erradicar os corais invasores já nasce perdida. Quando os pesquisadores detectam um costão tomado, começam uma sequência exaustiva de mergulhos. Eles arrancam os corais das pedras com martelos e formões. Cada fragmento precisa sair do mar. Se um pedaço de tecido maior que 0,5 cm 2 cair no fundo, ou mesmo restar preso ao costão, ele se regenera rápido. Em pouco tempo, volta a disputar espaço com os corais nativos.
Por essas dificuldades, o trabalho dos estudantes da ETEC de São Sebastião chama atenção. A escola integra o Centro Paula Souza e pertence à rede pública. As alunas criaram uma pasta química aderente. Quando aplicada ao coral invasor, a substância mata o animal. Já passou da hora de aposentar martelos e formões. Mesmo assim, o desafio ainda segue longo.
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O Mar Sem Fim conversou com o professor da ETEC de São Sebastião Fernando Freitas, um neto de caiçaras de Ilhabela que aprendeu a gostar do mar navegando em canoas com o avô. Hoje, formado em Ciências Biológicas, e dando aulas em uma faculdade particular, Fernando contou que o Projeto Mar de Alcatrazes foi criado em 2022 pouco depois do arquipélago ser transformado e mais uma unidade de conservação federal do bioma marinho, REVIS de Alcatrazes num das primeiras ações do Governo Temer.
O projeto recebeu um aporte de R$ 3 milhões da Petrobras. Ele termina no início de 2026, o que gera preocupação porque até agora a empresa não se manifestou sobre uma renovação. A iniciativa buscou ampliar o conhecimento sobre a biodiversidade marinha local. O projeto também reuniu dados para apoiar medidas de redução dos impactos humanos. Essas ações miram a proteção dos ecossistemas deste conjunto de ilhas.
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Vale um parênteses para explicar que coral-sol chegou ao Brasil incrustado numa plataforma de petróleo da Petrobras, o animal é oriundo do Indo-Pacífico. A empresa sabe que a extração de petróleo é muitas vezes danosa ao meio ambiente, além de provocar abruptas mudanças socais onde atua. Para mitigar esta pegada, a Petrobras patrocinada ou apoia os mais importantes trabalhos de preservação e/ou, pesquisa, na costa brasileira. Entre eles está o Tamar, o Projeto Golfinho-rotador, o Projeto Albatroz, o Projeto Mar de Alcatrazes, e muitos outros.
‘A frente do Projeto Mar de Alcatrazes dedicada ao controle de espécies exóticas ficou com pesquisadores do Cebimar. Foram eles que nos incentivaram a iniciar o projeto do biocida’, revela Fernando.
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O processo desenvolvidos pelos estudantes
Segundo Fernando, três alunos do último ano da escola técnica conduziram a primeira etapa. Eles testaram fórmulas à base de hidróxido de sódio. A ideia partiu de Fernando. Ele conhecia um estudo de controle de uma alga coralínea com uso de soda cáustica.
Os alunos avançaram até a fase de testes em ambientes controlados. Eles usaram aquários. O material matou o coral invasor. Mesmo assim, surgiu um problema. A pasta não aderiu como esperavam.
Depois disso, os rapazes se formaram na primeira Escola Azul de São Sebastião (hoje todas escolas do município são Escolas Azuis, ou seja, escolas técnicas que formam os alunos também em matérias ambientais relacionadas ao mar) e, em seguida, as três estudantes levaram o projeto adiante testando misturas até conseguirem sucesso. A pasta desenvolvida mostrou que tem aderência suficiente não só nos pólipos do coral, mas no costão onde muitas vezes não conseguem retirar todos os tecidos.
As alunas apresentaram o resultado na 16ª Feira Tecnológica do Centro Paula Souza, em São Paulo. O evento figura entre os maiores do dedicados à inovação, criatividade e empreendedorismo jovem. O professor Fernando Freitas ficou feliz. Ele contou que a pasta mata os corais, destrói seus tecidos, e adere ao costão, já é quase uma vitória. Mas ainda faltam outras fazes.
As próximas e decisivas fases do experimento
A próxima etapa é decisiva e eles já conseguiram a licença do Ibama para aplicar o produto nos costões de Alcatrazes diretamente sobre as colônias do coral-sol. Então, pretendem verificar in loco o funcionamento, e analisar se a fauna nativa não é afetada. Se o teste for bem sucedido, então, a ideia é registrar a patente e seguir para uma produção em maior escala.









