Mortandade de milhões de salmões põe em xeque aquicultura
Em 2024 a morte de milhões de salmões, criados em cativeiro nas ilhas Hébridas pela empresa Mowi Scotland, a maior fornecedora do Reino Unido, gerou forte impacto na Europa. O jornal The Guardian informou que a Mowi fornece salmão para varejistas como Sainsbury’s, Tesco, Asda e Ocado. Muitas de suas fazendas, incluindo as das Hébridas, exibem o selo RSPCA Assured, que garante padrões mais elevados de bem-estar animal. Enquanto ativistas atribuíam as mortes aos ‘maus tratos’ animais, e busca pelo lucro a qualquer custo, a empresa alegava que o culpado era ‘o aumento sem precedentes na temperatura do mar’. Agora, nova mortandade em outras fazendas mais uma vez colocam luz sobre os salmões de cativeiro. A Mowi Canada East Inc anunciou a perda de 400 mil peixes de três fazendas na costa de Newfoundland, Canadá.

Criação do salmão do atlântico: US$ 20 bilhões por ano
O problema não está na produção da Mowi Scotland. O que está em jogo é a criação desse peixe, cultivado principalmente na Noruega e no Chile, os maiores produtores mundiais, bem como no Reino Unido (especialmente a Escócia), Canadá e Ilhas Faroé.
O salmão sucumbe a doenças do pâncreas, brânquias ou coração, ou a lesões sofridas durante a remoção de parasitas de piolhos marinhos. “A morte de animais é um desperdício de vida e recursos”, disse Edgar Brun, diretor de Saúde e Bem-Estar Animal do Instituto Veterinário Norueguês.
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Segundo a Phys. Org quase 63 milhões de salmões – um recorde – morreram prematuramente em 2023 nos grandes currais dos fiordes. Neste mesmo ano as exportações de salmão da Noruega ultrapassaram US$ 11 bilhões enquanto os 63 milhões mortos prematuramente representam quase US$ 2 bilhões em renda perdida para a indústria.

Atualmente 70% do consumo mundial é oriundo das criações, uma vez que algumas populações estão altamente ameaçadas e à beira da extinção. A população do Golfo do Maine, nos EUA, está listada como ameaçada e a população global como quase ameaçada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
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Outro dado importante: o salmão, junto com atum, tilápia e bacalhau, está entre as espécies mais consumidas do mundo. Em 2024, o mercado global de salmão movimentou cerca de US$ 19,1 bilhões. A projeção aponta para US$ 44,4 bilhões até 2034. O crescimento não vem de um aumento específico de volume. Ele resulta da demanda cada vez maior pelos benefícios nutricionais do peixe, especialmente seu teor de ômega-3.

Um milhão de salmões morreram em fazendas da Tasmânia
Para piorar a imagem da criação já polêmica pela poluição, fuga de animais que podem se misturar aos selvagens provocando doenças, e a alimentação à base de farinha e óleo de peixe, houve outra mortandade gigantesca com um milhão de salmões mortos nas fazendas da Tasmânia operadas pela Huon Aquaculture.
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Segundo o Guardian, em fevereiro de 2025 pelo menos 1 milhão de salmões morreram em fazendas da Tasmânia. Eles foram despejados em aterros sanitários. As autoridades e a indústria descreveram como uma morte em massa “sem precedentes” desencadeada por um surto de bactéria. Contudo, a matéria ressalva que ‘os números não incluem a quantidade que morreu nos meses anteriores’.

865 milhões de salmões de criação morrem entre 2012-2022
Para lançar alguma luz sobre essas mortes, os pesquisadores analisaram dados de países que produzem 92% do salmão de viveiro na última década.
Desse modo, de acordo com o estudo, publicado em 2024, 865 milhões de salmões de criação morreram em mortandades em massa na última década. Os cientistas atribuem as mortes a vários fatores, desde o aquecimento dos oceanos causado pelas mudanças climáticas até o uso excessivo de antibióticos e pesticidas pela indústria da aquicultura e suas tentativas agressivas de aumentar a produção. Além do número impressionante de peixes mortos, as descobertas levantam questões sobre o futuro da criação de salmão em gaiolas no oceano — e da aquicultura em geral.
Segundo a BBC, os ativistas contra a criação de salmão dizem que este novo estudo é “alarmante”. As decisões humanas, bem como o aquecimento dos oceanos, estão contribuindo para o desconforto sofrido pelos peixes.
O bem-estar animal em jogo
“A mortalidade é apenas uma das muitas preocupações graves em relação ao bem-estar do salmão de criação”, afirmou Kirsty Jenkins, responsável política da organização ativista OneKind.
“Eles são atormentados por piolhos do mar e doenças, sofrem com o manuseio e tratamentos estressantes e levam uma vida monótona em gaiolas estéreis e superlotadas.”
“A indústria tem se mostrado incapaz ou relutante em se reformar. Contudo, é preciso questionar se a criação de salmão tem lugar em um sistema alimentar compassivo e sustentável.”
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Antes de encerrar, a disputa não se resume ao hemisfério Norte. No Sul a disputa acontece entre o Chile, o segundo maior produtor mundial, e a Argentina, que teme a contaminação das águas dos Canais da Patagônia.
Depois do sucesso do documentário Seaspiracy, que mostra o sofrimentos dos peixes, em especial os criados em fazendas marinhas, os ativistas do hemisfério norte passaram a dar mais atenção aos direitos dos animais tendo como base a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.
A ver quais serão os próximo passos.
Assista ao vídeo e veja como ativistas apontam para os direitos dos animais
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