Operação global contra tráfico de fauna e flora apreende 20 mil animais
Durante a Operação Thunder 2024 (realizada de 11/11 a 6/12/2024), autoridades de 138 países e regiões apreenderam quase 20.000 animais vivos de espécies ameaçadas ou protegidas. A INTERPOL e a Organização Mundial das Alfândegas (OMA) coordenaram a ação, que contou com a participação de forças policiais, alfandegárias, de controle de fronteiras, além de agentes florestais e de vida selvagem. Essa edição registrou o maior número de participantes desde o início da operação em 2017. Segundo a INTERPOL, as autoridades prenderam 365 suspeitos e identificaram seis redes criminosas transnacionais envolvidas no tráfico de animais e plantas protegidos pela CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas de Fauna e Flora Silvestres). Este é um grave problema para a ameaçada biodiversidade mundial. E, por envolver quatro continentes e mais de 150 países, é extremamente difícil acabar com o tráfico.
Avaliação do tráfico: US$ 20 bilhões ao ano
Segundo o World Economic Forum, ‘a economia subterrânea para crimes contra a vida selvagem vale até US$ 20 bilhões por ano, impulsionada por grupos criminosos grandes e organizados, muitas vezes “invisíveis”.
O relatório World Wildlife Crime Report 2024, das Nações Unidas, reflete o gigantesco problema. ‘O tráfico de animais selvagens persiste em todo o mundo, apesar de duas décadas de ação conjunta a nível internacional e nacional’.
Os dados de apreensão documentam o comércio ilegal em 162 países e territórios durante 2015-2021, que afetou cerca de 4.000 espécies de plantas e animais. Destas, 3.250 estão listadas nos Apêndices da CITES. Cerca de 13 milhões de plantas/animais foram apreendidos de 2015 a 2021.
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No topo da lista, barbatanas de tubarão
No topo da lista está o comércio ilegal de barbatanas de tubarão, cada vez mais impulsionado pela “convergência do crime”. Isso significa que o tráfico de animais selvagens se sobrepõe a outras atividades criminosas, entre elas o contrabando de drogas e o tráfico de seres humanos, exigindo a colaboração internacional de aplicação da lei para combater.
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Tailândia e Bangladesh
O tráfico de animais silvestres tem um alcance global, evidenciado pela apreensão na Tailândia de 48 lêmures e mais de 1.200 tartarugas de Madagascar, espécies em estado crítico de extinção, que seguiam para mercados ilegais de animais de estimação na Ásia. Além disso, o consumo de partes de tigre pelas elites de Bangladesh demonstra como esses países atuam tanto como mercados consumidores quanto como centros de transbordo do comércio ilegal.
Corrupção na Indonésia
Uma investigação da Mongabay na Indonésia revelou que grupos organizados dentro do Parque Nacional Ujung Kulon, facilitados por informações privilegiadas de autoridades corruptas, mataram 26 rinocerontes-de-java (Rhinoceros sondaicus). Em outras palavras, quase um terço da população total da espécie entre 2019 e 2023. Porém, há preocupações de que as perdas possam ser maiores do que oficialmente relatadas.
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Macacos, capazes de espalhar vírus, parasitas e bactérias ao longo das rotas de tráfico, também são severamente afetados por deficiências sistêmicas. No Togo, a apreensão de 38 macacos, incluindo espécies traficadas da República Democrática do Congo (RDC) para a Tailândia, revelou inspeções fronteiriças inadequadas no Congo.
Governo venezuelano fecha os olhos
As crises políticas e econômicas da Venezuela tornaram-na um hotspot do tráfico com espécies ameaçadas como macacos, preguiças, papagaios e periquitos vendidos abertamente. O governo não só fecha os olhos, mas também proíbe ONGs de vigilância ambiental, permitindo que as redes criminosas transnacionais operem sem controle.
Araras do Brasil para a União Europeia
Mesmo em regiões altamente regulamentadas, como a União Europeia, as políticas de comércio de vida selvagem têm lacunas que permitem que o tráfico persista. A introdução das araras Spix (Cyanopsitta spixii), extintas na natureza, do Brasil para a UE – apesar da proibição do comércio – mostra como os criadores não regulamentados exploram as lacunas da CITES, a convenção internacional de comércio de animais selvagens.
Lavagem de dinheiro
Os sindicatos também exploram as lacunas das instituições financeiras para lavar dinheiro. Como? Subornando funcionários e falsificando documentos para atender às exigências da CITES para licenças de exportação. Isso permite que as espécies ameaçadas do Brasil, de peixes ornamentais a macacos, sejam traficadas principalmente para mercados na Europa, na China e nos Estados Unidos.
As redes sociais e o tráfico de animais silvestres
Já mostramos por aqui o papel fundamental desempenhado pelas redes sociais, em especial o Facebook, no tráfico de vida silvestre. Pois o relatório informa que não houve mudanças.
‘A mídia social continua sendo uma importante plataforma para o comércio ilegal de animais selvagens, com os traficantes continuando a explorar esses locais em 2024, apesar dos compromissos de empresas como o Facebook para conter as transações de vida selvagem’.
Maldades inimagináveis: animais trucidados
Já contamos aqui que todos os anos cerca de 100 milhões de tubarões são trucidados por estas bestas humanas. Assim que o tubarão chega ao convés, os criminosos decepam suas barbatanas, e devolvem o animal para o mar. O corpo inerte vai ao fundo, com o animal ainda vivo, sangrando até morrer.
O processo de tortura dos rinocerontes acontece de forma semelhante. Segundo um relato publicado no site do governo norte-americano, Immigration and Customs Enforcement – ICE – ‘dentro dos círculos de caça furtiva muitos dizem que um quilo de chifre de rinoceronte vale mais do que ouro. Isso torna esses animais alvos principais dos caçadores. No passado, a medicina oriental tradicional utilizava o chifre, mas seu uso como símbolo de status para demonstrar sucesso e riqueza tem se tornado cada vez mais comum’.
Acrescentamos ainda, que as barbatanas de tubarão que se tornam sopa em muitos países asiáticos, em especial a China, têm o mesmo propósito, demonstrar status aos convidados de casamentos e outras comemorações. Barbatanas são cartilagens, têm gosto de papel (se é que uma folha de papel tem sabor).
A dolorosa morte dos rinocerontes
‘Os caçadores frequentemente aplicam uma arma tranquilizante para derrubar o rinoceronte antes de cortar seu chifre. Enquanto o animal permanece inconsciente, os caçadores decepam o chifre e o abandonam para acordar e morrer lentamente devido à perda de sangue. A dor extrema acompanha esse processo cruel. Aqueles que sobrevivem ao ataque costumam carregar ferimentos graves causados por balas, machados ou facões. Os caçadores furtivos agora estão sendo fornecidos por gangues criminosas internacionais com equipamentos sofisticados para rastrear e matar rinocerontes.
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Algumas avaliações do tráfico ilegal
A mesma fonte, ou seja, a ICE, revela alguns números destes mercados. ‘Existem muitas estimativas diferentes do valor do tráfico ilícito de animais selvagens em todo o mundo. De acordo com a Wildlife Conservation Society, o comércio de pesca não relatado e não regulamentado sozinho é estimado entre US$ 4,2 bilhões e US$ 9,5 bilhões por ano. O tráfico ilícito de animais selvagens é estimado entre US$ 7,8 bilhões e US$ 10 bilhões por ano, e o comércio ilegal de madeira é estimado em até US$ 7 bilhões por ano’.
‘Combinando esses números, todo o tráfico ilícito de animais selvagens, incluindo pesca e madeira, compreendem o quarto maior comércio ilegal global após o tráfico de drogas, tráfico de seres humanos e produtos falsificados’.
35 milhões de animais silvestres traficados do Brasil para o mundo
É assustador este número, 35 milhões de animais traficados do Brasil todos os anos! E só 10% deles sobrevive, a grande maioria acaba morrendo no trajeto. Estes são dados da única ONG dedicada exclusivamente ao tráfico de animais, a Renctas – Rede Nacional Contra o Tráfico de Animais Silvestres. O Mar Sem Fim publicou um podcast com Dener Giovanini, o fundador da ONG.
E, se 35 milhões parecerem um exagero, vale considerar outro número ainda maior, revelado pela WWF: ‘Todos os anos, caçadores retiram cerca de 38 milhões de animais selvagens dos habitats naturais brasileiros. Do total, apenas 4 milhões chegam ao comércio, principalmente no sudeste, onde a demanda por animais traficados ilegalmente é maior. Os demais passam o resto da vida em gaiolas, são soltos sem preparo ou morrem devido aos maus-tratos nas mãos dos comerciantes’.
Bem, agora você já sabe das dificuldades imensas deste tráfico global. Se não houver estreita colaboração de todos os países membros da ONU, não há como acabar com a prática. E, infelizmente, os membros do clube da ONU já deram provas suficientes de que não se entendem, vide o aquecimento global descontrolado em que vivemos.
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