Vikings e portugueses o que os une nos mares?

Vikings e portugueses, embora separados por séculos e culturas muito diferentes, compartilham um papel fundamental na história da navegação e da conexão entre povos. Ambas as sociedades dominaram os mares em suas respectivas épocas, abrindo rotas que mudaram o curso do comércio e da cultura em escala global.
Contudo, para abrir estas rotas, primeiro eles tiveram que conhecer as correntes marítimas de ambos os oceanos Atlântico, os vikings ao Norte, os lusitanos ao Sul. E além das correntes, foram obrigados a decifrar o regime dos ventos em ambos os hemisférios. É por este motivo, que suas rotas perduraram iguais até o advento do motor a vapor. Portanto, trata-se de um feito notável para as respectivas épocas.

Navegadores intuitivos: o instinto como ferramenta
Vikings e portugueses desenvolveram suas habilidades náuticas muito antes da era da tecnologia. Usavam os astros, os ventos, as correntes e até a coloração e profundidade do mar para se orientar. Os vikings dominavam o Atlântico Norte sem bússola, guiando-se por tradição oral, observação de aves e, possivelmente, pedras solares. Séculos depois, os portugueses também confiavam na experiência acumulada, vencendo o temido Mar Tenebroso com tentativa e erro. Nada disso nasceu na lendária Escola de Sagres, mas sim da prática e da transmissão direta de saberes.
Expansão marítima de vikings e portugueses
Ambos os povos buscaram novos territórios, riquezas e rotas comerciais. Os vikings partiram da Escandinávia e alcançaram a Normandia, Dublin, a Islândia, a Groenlândia e até a América do Norte. Atacaram e também fundaram cidades. Já os portugueses, após ultrapassarem o Cabo Bojador em 1434, avançaram rapidamente: dobraram o Cabo da Boa Esperança, chegaram à Índia, instalaram-se em Goa e Cochim (1502), Malaca (1509) e fundaram Macau (1557).
Mais lidos
Ilhabela em último lugar no ranking de turismo 2025Garopaba destrói vegetação de restinga na cara duraCores do Lagamar, um espectro de esperançaContribuição para as cidades e o comércio europeu
As viagens de vikings e portugueses impulsionaram o crescimento urbano e o comércio. Os vikings estabeleceram entrepostos e rotas que estimularam a urbanização no norte e leste da Europa. Os portugueses criaram feitorias e colônias que deram origem a cidades portuárias e grandes mercados na África, Ásia e América.
Navegações dos vikings e suas rotas
Os vikings criaram rotas que conectavam o Atlântico Norte, o Mar Báltico, a Rússia, o Oriente Médio e o Império Bizantino. Por essas vias, transportavam peles, marfim, tecidos, metais, especiarias e escravos. A famosa “Rota dos Varangianos aos Gregos” ligava a Escandinávia a Constantinopla e aos califados árabes, gerando riqueza e trocas culturais.
PUBLICIDADE
Rumo ao Oriente: a ousadia dos portugueses
Os portugueses não apenas chegaram ao Oriente, como mantiveram presença. Navegaram até Timor Leste (1512), alcançaram a China (1517) e o Japão (1542). Descobriram ilhas como Ascensão, Santa Helena e Tristão da Cunha. Fundaram colônias duradouras e estabeleceram contatos regulares com civilizações asiáticas — feitos que consolidaram o primeiro império marítimo do mundo.
Vikings e portugueses na origem do comércio global
Esses dois povos não apenas abriram rotas — moldaram o início da globalização. Os vikings conectaram o norte da Europa ao Oriente Médio. Os portugueses, por sua vez, lançaram as primeiras rotas marítimas permanentes entre Europa, África, Ásia e Américas. Por meio dessas conexões, circularam produtos, pessoas, ideias e tecnologias.
Leia também
Disputa pelo tesouro de US$ 20 bi do galeão San JoséCem anos depois navio de Amundsen volta pra casaPovos paleolíticos remaram em canoas no Mar da China OrientalO legado de vikings e portugueses
As rotas estabelecidas pelos dois povos perduraram por séculos, até o advento do vapor. Criaram redes de contato que alteraram o mapa do mundo. O historiador inglês H. S. Plumb chamou o império português de “o maior enigma da História”, pelo seu imenso alcance e curta duração. Ele reconheceu que, por um preço alto, Portugal abriu as portas de um mundo que não podia dominar.
O céu como guia
Os navegadores vikings usavam o Sol, a posição das estrelas e a duração da luz do dia para calcular a direção e a latitude. Quando o céu estava limpo, bastava observar o Sol ao meio-dia e estimar a posição em relação ao horizonte. Em regiões de dias longos, essa percepção ajudava a ajustar o rumo.
Alguns pesquisadores defendem que eles usavam a chamada “pedra solar” — um cristal de calcita capaz de polarizar a luz solar, mesmo com céu nublado. Com ela, os vikings podiam localizar o Sol oculto pelas nuvens e manter o curso.
Os avanços na construção naval
Os vikings construíram os famosos navios longos, que eram rápidos e leves. O drakkar surgiu no século 9 com outra ousadia, a introdução da vela e o casco com tábuas sobrepostas. Tinha um comprimento médio de 28 m. Largura, 3m. Velocidade de até 12 nós (22 Km), excelente para a época e os tempestuosos mares do Norte em que navegava.

Portugueses ultrapassam o Cabo Bojador
Muitos séculos depois, os portugueses retomaram a saga marítima, iniciada em 1415, e avançaram com a histórica viagem de Gil Eanes, que em 1434 ultrapassou o temido Cabo Bojador a bordo de uma barca com vela quadrada — a mesma usada pelos vikings.
Ao perceber que precisavam de embarcações mais eficientes para seguir além do Bojador, os lusos adaptaram os cárabos latinos de pesca, de origem árabe. Com ajustes simples no aparelho vélico, transformaram essas embarcações nas caravelas de velas latinas (triangulares) capastes de navegar contra o vento.
PUBLICIDADE

Expansão territorial e comercial
Os vikings buscavam riqueza por meio de saques e, com o tempo, também por meio da colonização. Estabeleceram bases importantes na Europa, como Dublin e a Normandia, e se expandiram pelo Atlântico Norte, alcançando a Islândia, a Groenlândia e até a América do Norte. No Mar Báltico, fixaram-se na ilha de Wolin.
Atacaram a Península Ibérica pela primeira vez em 844 e retornaram em 1015 e 1086. Antes disso, em 890, devastaram regiões da costa mediterrânea. As rotas de ataque muitas vezes se transformavam em rotas comerciais e de ocupação, moldando o mapa da Europa medieval.
Habilidades de navegação
Vikings e portugueses dominavam a arte da navegação. Usavam os astros, os ventos, as correntes e até a composição do fundo do mar para se orientar. Esse saber não veio de uma suposta Escola de Sagres — que nunca existiu como centro formal de ensino. Os nautas lusitanos aprenderam na prática, trocando experiências especialmente com os muçulmanos, errando e tentando de novo, até vencerem o Mar Tenebroso.
De certa forma, tanto vikings quanto portugueses abriram caminho para os primeiros estágios da globalização. Anteciparam encontros culturais — às vezes pacíficos, outras vezes violentos — e deixaram marcas profundas nas regiões por onde passaram. Influenciaram as culturas locais, mas também assimilaram saberes, costumes e tecnologias dos povos com os quais mantiveram contato. Cada um a seu modo, moldou o mundo a partir do mar.

Contribuição para as cidades e o comércio europeu
Aqui está mais uma semelhança marcante entre vikings e portugueses. As atividades comerciais dos vikings impulsionaram o surgimento de diversas cidades europeias, muitas das quais nasceram como feiras, assentamentos ou entrepostos comerciais. Eles estimularam a urbanização e fortaleceram economias locais por onde passaram, deixando um legado que ajudou a moldar o mapa urbano e comercial da Europa medieval.
O mesmo vale para os portugueses. Após Gil Eanes ultrapassar o Bojador, menos de um século foi suficiente para que chegassem ao extremo sul da África, dobrando o Cabo das Tormentas que depois passou a ser chamado de Boa Esperança. Poucos anos depois, estabeleceram-se na Índia — em Goa, Calecute e Cochim, por volta de 1502 — e alcançaram Malaca por volta de 1509.
PUBLICIDADE

Localizada na atual Malásia, no estreito que liga o Oceano Índico ao Mar da China Meridional e em frente à ilha de Sumatra, Malaca desempenhava nos séculos XV e XVI o papel que hoje pertence ao porto de Singapura. Funcionava como um entreposto estratégico, conectando o comércio do Índico às rotas que levavam à China, Japão e Coreia.
O primeiro império marítimo do mundo
Coube aos portugueses a façanha de estabelecer o primeiro império marítimo do planeta, ainda no século XV, e o último a se desfazer.
Foi um império notável por sua extensão, mas também por sua curta duração como potência comercial global.
Navegações dos vikings
Os vikings construíram uma ampla rede de rotas comerciais que ligava o Atlântico Norte ao Mar Báltico e se estendia até a Rússia e o Oriente Médio. Navegavam por mares abertos e por rios interiores, conectando regiões distantes e promovendo intensas trocas comerciais e culturais ao longo de seus caminhos.

Por essas rotas, os vikings comerciavam peles, marfim, tecidos, especiarias, metais e escravos. O comércio não apenas gerava riqueza, mas também promovia o intercâmbio cultural e a transferência de tecnologias entre povos distantes.

Imagem de abertura: O Mar Tenebroso, Pinterest










Se atravessar um oceano com uma caravela, onde homens, bem ou mal, tinham um local para se abrigar de intempéries e dormir, deveria ser difícil, imagine em um drakkar, relativamente pequeno, cheio e tudo ao relento. Só por isto, acho que vikings foram mais ousados. E ainda navegavam no Mar do Norte, reconhecidamente perigoso até hoje para embarcações modernas. Os caras não era fracos não.
Lançamento de livros no Instituto Oceanográfico da USP
https://agencia.fapesp.br/lancamento-de-livros-no-instituto-oceanografico-da-usp/51025
Sempre fiquei intrigado com o fato de Portugal não ter conseguido estender seu poder sobre as suas colônias por mais tempo, principalmente o Brasil. É como se eles desconhecem noções básicas desse tipo de gestão, o que parece improvável. Enfim, nem a Inglaterra conseguiu, embora creio fez melhor uso dos recursos que adviram desta exploração.
Entendo que talvez o maior problema da exploração tipo colonial eram as distâncias a serem percorridas e o tempo gasto para isso com os recursos de que dispunham. Sendo assim, as ordens emanadas da metrópole demoravam tanto tempo para chegarem e serem implantdas nas colônias que grande parte delas perdia sua eficácia. Embora as leis gerais (Ordenações Afonsinas, as Ordenações Manuelinas e as Ordenações Filipinas) regessem todo o império colonial, os problemas do dia a dia dependiam tão somente as autoridades locais. Isso, certamente enfraquecia o sistema. Outro pornto importante é o fato de que, assim como a Espanha, Portugal nunca desenvolveu uma indústria forte (como por exemplo a Inglaterra) e nisso, gastou praticamente todo o seu ganho colonial para manter a metrópole, importanto ao invés de produzir. Diz-se que, o ouro de Minas foi todo para a Inglaterra e que chegou até a financiar a Revolução Industrial naquele país. Enfim, é a História.