Timor-Leste tem o mar mais biodiverso do mundo

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Timor-Leste tem o mar mais biodiverso do mundo

A Ilha de Ataúro, em Timor-Leste, é uma joia do ecoturismo ainda intocado do Sudeste Asiático. Ela é uma pequena ilha e um município timorense. Localiza-se a cerca de 25 km ao norte de Díli, a capital de Timor-Leste. O mar ao redor tem a maior biodiversidade do planeta, segundo pesquisa da Conservation International feita em 2016. A ilha funcionou como ilha-prisão durante o período colonial português (1702-1975) e, de forma mais intensa, a partir dos anos vinte do século passado. Durante o período colonial indonésio (1975-1999), os colonizadores a usaram para confinar famílias de membros da resistência em campos de concentração abertos, onde centenas de pessoas morreram devido à fome e má-nutrição. Hoje a população local é de 8 mil pessoas.

Uma ilha no Triângulo de Coral

De acordo com o site da NOAA o Triângulo de Coral é o ecossistema marinho mais diversificado e biologicamente complexo do planeta. Ele compreende partes da Indonésia, Malásia, Filipinas, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Timor-Leste. Cobrindo 5,7 milhões de quilômetros quadrados.

mapa do triângulo de coral onde fica a ilha Ataúro.
Mapa da NOAA com a seguinte legenda: Mapa mostrando a região do Triângulo de Coral – o ecossistema marinho mais diverso e biologicamente complexo do planeta. O Triângulo dos Corais cobre 5,7 milhões de quilômetros quadrados e corresponde à riqueza e diversidade de espécies da floresta amazônica. Embora grande parte da diversidade dentro do Triângulo de Coral seja conhecida, a maior parte ainda permanece desconhecida e não documentada.

Contudo, diz a NOAA, o porquê desta região ser o epicentro global da diversidade marinha ainda está em debate. Alguns cientistas acreditam que é onde as espécies de recifes de corais se originaram antes de se dispersar para outros locais na região do Indo-Pacífico. Outros acreditam que o Triângulo de Corais é tão diverso por causa de uma sobreposição ou acumulação de fauna dos oceanos índico e Pacífico.

465.000 ilhas no mundo

Além disso, como já comentamos,  existem 465.000 ilhas no mundo. Juntas, elas cobrem 5,3% da área do planeta. Contudo, as ilhas representam a maior concentração de biodiversidade e, ao mesmo tempo, extinções de espécies. Espécies insulares costumam ser evolutivamente distintas e altamente vulneráveis ​​a novos distúrbios, particularmente espécies invasoras.

Mergulho na ilha de Ataúro
Mergulho na ilha de Ataúro. Imagem, www.travelpixelz.com.

A localização isolada de Ataúro, sendo uma ilha dentro do Triângulo de Coral, explica sua rica biodiversidade marinha. Sua posição, afastada das rotas comuns, preservou-a de grandes alterações humanas. Ao mesmo tempo, as autoridades de Timor-Leste estão cientes dos problemas do turismo de massa. Desse modo, promovem um turismo de baixo impacto, conforme destaca o site da ilha.

253 espécies de peixes

De acordo com o Guardian, uma equipe da Conservação Internacional, com 50 anos de experiência combinada e milhares de recifes pesquisados globalmente, estudou 10 locais em Ataúro. Eles encontraram uma média de 253 espécies de peixes de recife por local. Esse número supera o recorde anterior de 216 espécies em um recife na Papua Ocidental.

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Ao todo, diz o Guardian, os pesquisadores contaram um total de 642 espécies e viram um máximo de 314 em um único local. Entre elas estavam várias espécies que eram suspeitas de serem inteiramente novas, bem como algumas que eram muito raras em outros lugares.

O mar da ilha de Ataúro
O mar da ilha de Ataúro. Imagem, www.benconmigo.com.

“Meu colega sênior Gerry Allen e eu fizemos bem mais de 10.000 mergulhos entre nós dois na região do Triângulo de Coral, então certamente estamos acostumados a locais de alta diversidade”, diz Mark Erdmann, da Conservation International. Mas Atauro provou ser excepcionalmente rico.

Erdmann diz que três dos 10 locais tinham mais de 300 espécies de peixes – uma cifra que mostra uma biodiversidade extraordinária.

“Nós usamos essa técnica de pesquisa para mais de mil locais nos oceanos índico e Pacífico e os únicos em que já ultrapassamos 300 espécies estão na região entre Sulawesi do Norte e Papua Ocidental, no norte da Indonésia – uma área que chamamos de epicentro da biodiversidade de peixes de recife”.

Ilha de Ataúro
Imagem, Atauro Dive Resort/Facebook.

Michel Kulbicki, especialista em biodiversidade de recifes de corais do Institut de Recherche pour le Développement, diz que os pesquisadores são especialistas mundiais em fazer essas análises.

“É muito provável que os recifes em Timor possam ter diversidades muito altas de peixes de recife e é provável que eles se classifiquem entre os mais ricos”, diz ele.

A pesca com bombas

A pesca com bombas, uma prática destrutiva, persiste em várias partes do mundo, incluindo a Baía de Todos os Santos, na Amazônia, partes da África, Filipinas e também em Timor-Leste. Segundo Mark Erdmann ao Guardian, em Ataúro, enquanto alguns locais exibem jardins de corais  e visões espetaculares de cardumes de peixes, outros mostram danos causados pela pesca com bombas.

E Timor-Leste não escapou desta sina. Mark Erdmann disse ao Guardian que “Alguns locais de Ataúro têm impressionantes jardins de corais firmes e vistas de tirar o fôlego, cheias de cardumes de peixes de recife, enquanto outros, infelizmente, mostram as cicatrizes da pesca com bombas.

Ataúro debaixo d'água
Imagem, Atauro Dive Resort/Facebook.

Além disso, grandes peixes predadores, incluindo tubarões e o icônico Napoleão, eram excepcionalmente raros – um sinal claro de sobrepesca. Erdmann diz que a proteção ativa dos recifes “poderia pagar dividendos significativos quase que imediatamente”.

“No geral, os recursos de recife em Ataúro ainda estão em boa forma – um esforço bem organizado de conservação e gestão da pesca poderia retornar rapidamente esses recifes a condições incríveis”.

Área Marinha Protegida

Desde 2015 a Conservação Internacional e o Coral Triangle Center trabalham para que toda a ilha e suas águas se tornem uma área protegida. Assim, em 2019, após um processo de seis anos, o plano de gestão proposto e o Decreto Ministerial para o Ataúro Island MPA (Marine Protected Area) foram submetidos ao Ministério da Agricultura e Pescas de Timor-Leste.

Finalmente, a aprovação de 12 áreas protegidas aconteceu em março de 2023.

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Falta de infraestrutura é a grande dificuldade

Apesar da rica biodiversidade de Ataúro, a ilha enfrenta grandes desafios de infraestrutura. Como reportado pelo www.dnoticias.pt, Ataúro, com alto potencial turístico em Timor-Leste, sofre com carências estruturais. Isso inclui falta de infraestruturas básicas, isolamento e dificuldades de acesso a serviços essenciais.

Hotel em Ataúro.
Felizmente os hotéis de Ataúro são simples como mostra a foto. Nada de resorts de concreto armado como no Brasil. Imagem, Mario’s Place/Facebook.

Timor-Leste é um país jovem e pobre. Conquistou sua independência de Portugal em 1975. No mesmo ano, a Indonésia invadiu e ocupou o país até 1999. Timor-Leste só se tornou um estado soberano em 2002. Sua história difícil impacta na falta de infraestrutura e em outros problemas.

Até 2020, a matéria aponta que não existia um píer em Díli para barcos de recreio, e a ilha tinha fornecimento elétrico limitado a 12-13 horas por dia. Havia períodos prolongados sem eletricidade, às vezes mais de dois meses, devido a problemas no gerador.

Além disso, a ilha não tem banco, obrigando os residentes a buscar dinheiro em Díli. A conexão de internet fraca dificulta transações com cartão.

Outro problema significativo é o manejo do lixo. As praias estão sujas com resíduos, principalmente plásticos, trazidos pelas correntes. A questão do lixo na ilha e o que fazer com ele, especialmente o que chega através das correntes, permanece sem solução.

Assista ao vídeo e saiba mais sobre a criação das áreas marinhas protegidas

Atauro’s Marine Protected Area Network | Conservation International

Fracassa acordo global sobre poluição de plástico

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