Proantar está ‘gravemente ameaçado’ dizem pesquisadores brasileiros
A pesquisa brasileira nunca foi levada a sério. Sempre lutou contra ameaças por falta de investimentos. Agora a situação piorou. Pesquisadores dizem que o programa brasileiro na Antártica, o Proantar, está gravemente ameaçado em razão da crise financeira nacional.
A matéria é de Herton Escobar. Foi publicada pelo Estadão. Uma carta assinada por 17 lideranças científicas do programa, enviada na ocasião ao ministro da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e ao comandante da Marinha do Brasil, Bacelar Ferreira, diz que
Infelizmente não há recursos financeiros para compra de equipamentos científicos da estação e, mais grave, para o financiamento de projetos científicos e bolsas de estudos
E isso pode acontecer justamente no ano em que o Brasil pretende inaugurar sua nova base na Antártica. A reconstrução custou US$ 100 milhões de dólares.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemReflexões sobre o desastre no Rio Grande do SulNavio de cruzeiro aporta em NY arrastando baleia na proaA saga do navio oceanográfico Prof. W. Besnard terá final felizIncêndio na Base Ferraz em 2012 ameaçou o Proantar
Esse foi um ano trágico para o Brasil na Antártica. Três graves acidentes aconteceram. O incêndio que destruiu a antiga base. Depois teve o afundamento de uma balsa da MB que levava óleo dos navios polares até a praia. E, por fim, o naufrágio do Mar Sem Fim. De lá para cá o Proantar sofreu as consequências de não ter uma base fixa.
Nos verões, as poucas pesquisas eram feitas a bordo dos navios polares brasileiros, Comandante Maximiliano, e Ary Rongel. Enquanto isso, a nova base era construída. Agora, quando está prestes a ser inaugurada, a falta de verbas ameaça a presença brasileira no Continente Branco.
PUBLICIDADE
Tratado Antártico
O país aderiu ao tratado em 1975. Em 1982 foi criado o PROANTAR, o Programa Antártico Brasileiro, já que o tratado exige que cada país membro do ICAR – Comitê Científico para Pesquisas Antárticas– realize “substancial atividade de pesquisa científica”. Só assim um país pode manter seu direito ao voto. Segundo o glaciologista Jefferson Cardia Simões, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e vice-presidente do Comitê Científico para Pesquisas Antárticas,
Não basta a presença militar, tem de haver ciência
Último edital do PROANTAR
Herton Escobar explica que “o último edital federal dedicado à pesquisa antártica foi lançado em 2013. Tinha um valor de R$ 14 milhões, para financiar 19 projetos por três anos – dinheiro liberado com três anos de atraso e já esgotado, segundo os cientistas. Um dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) dedicados à Antártida encerrou suas atividades neste mês. E o outro, chamado INCT da Criosfera, foi renovado até 2022, mas só tem recursos para mais uma operação antártica”
Apelo dos cientistas
Rogamos a vossas excelências que sejam estudadas ações emergenciais para darmos continuidade às pesquisas científicas na Antártida e não tenhamos a situação insólita de uma casa antártica sem cientistas
Assim termina a carta, obtida com exclusividade pelo Estado.
‘A ciência na pode pagar a conta’
Herton escreveu: “Casa vazia não faz ciência”, resume Simões. O resultado, diz, pode ser uma estação científica com alma do Mané Garrincha, em Brasília: um estádio de futebol sem futebol, bonito por fora e vazio por dentro. Segundo ele, “a ciência não pode pagar a conta” de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas.”
O desabafo do cientista do Proantar
As palavras de Cardia, “a ciência não pode pagar a conta de uma estação com finalidades mais geopolíticas do que científicas”, demonstram que a falta de verbas não é novidade. Mas, pará-las totalmente seria uma decisão mesquinha e mixa do governo brasileiro. Não podemos permitir que aconteça. Não só a presença brasileira é fundamental, como suas pesquisas sempre foram das mais respeitadas entre os países ditos ‘em desenvolvimento’.
Saiba quando, e como nasceu a Oceanografia, a mais recente disciplina científica