Indústria naval mundial ‘opta’ pela poluição marinha
Em julho de 2022 o Guardian publicou Shipping’s dirty secret: how ‘scrubbers’ clean the air – while contaminating the sea, em outras palavras, O segredo sujo do transporte marítimo: como os ‘depuradores’ limpam o ar – enquanto contaminam o mar. Logo no início a explicação: “Depois que a Organização Marítima Internacional (IMO) decidiu reduzir as emissões de enxofre na atmosfera – prejudicial à saúde – a indústria naval se viu em um dilema. Mudar para um combustível mais limpo, mas igualmente mais caro, ou instalar um sistema para limpar os gases de escape – os “depuradores” – que despejam produtos químicos removidos do escapamento diretamente no mar.”
Os depuradores e o combustível dos navios
Antes de mais nada, depuradores são sistemas de limpeza de gases do escapamento. No caso dos navios, as enormes chaminés soltando fumaça preta tão comuns quando topamos com algum deles no mar.
Acontece que o combustível até recentemente era um tipo de óleo pesado com alto teor de enxofre. Um subproduto semelhante ao alcatrão do processo de destilação do petróleo bruto. A revista Forbes, em matéria já citada neste site, explica melhor: ‘O óleo que é queimado nos navios é o material com o qual a indústria do petróleo não sabe o que fazer. É o lodo do final do processo de refino’.
‘É tão espesso que à temperatura ambiente o óleo tem consistência pastosa. Só quando aquecido a 60°C e além disso misturado a um coquetel tóxico de produtos químicos e diesel que ele finalmente flui para motores de navios como combustível líquido’.
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E além disso, como é sabido, parte significativa dos os cargueiros e até mesmo navios de passageiros jogam lixo no mar.
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A IMO – Organização Marítima Internacional e a redução de gases de efeito estufa
A IMO é a agência de navegação da ONU, enquanto seu braço ambiental, o Comitê de Proteção ao Meio Ambiente Marinho. Segundo a Forbes, é um dos comitês mais poderosos da agência global de navegação da ONU, que regula toda a indústria de transporte de US$ 3 trilhões.
Pressionada pelo aquecimento global em 2020 a IMO decidiu reduzir as emissões de enxofre. E, diz o Guardian, em seguida escolher entre um combustível mais limpo, consequentemente mais caro, ou instalar um sistema de depuração para limpar os gases de escape, aceitou este último.
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Conheça o novo navio de carga híbridoConheça o navio de guerra mais antigo do mundo ainda em serviçoMarinha do Brasil quer porta-aviões nuclear até 2040Assim decidiu-se pelo sistema mais barato, os depuradores. O Guardian informa que em 2020 mais de 4.300 navios os instalaram. Um número bem superior aos 732 navios que adotaram o processo em 2018. E conclui: É uma troca: limpar os céus, mas contaminar as águas.
O WWF diz que além de maximizar os lucros, os depuradores causam acidificação e poluição marinha. Eles usam um fluxo contínuo de água do mar que é descarregado no oceano contaminado e ácido.
A acidificação dos oceanos
A acidificação dos oceanos é mais um dos graves problemas do aquecimento. Alterou a água do mar, tradicionalmente alcalina, ao diminuir a concentração de íons carbonatos. Estes, por sua vez, são usados por organismos marinhos para formar conchas e os esqueletos que os revestem.
O problema afeta diretamente os corais, animais que vivem em colônias cuja estrutura é formada por carbonato de cálcio. Existem diversos ecossistemas marinhos mas, o mais rico em biodiversidade são os recifes de corais. Logo, a perda de biodiversidade é a consequência.
Desse modo o ecossistema está ameaçado pelo branqueamento em todo o mundo. Temos que agradecer a indústria naval mundial por mais esta ‘contribuição’.
Segundo o WWF, Acredita-se que os oceanos estejam se acidificando mais rápido do que em qualquer outro ponto nos últimos 300 milhões de anos. Isto acontece porque absorvem muito dióxido de carbono da atmosfera. A água do mar de superfície hoje é cerca de 30% mais ácida do que nos tempos pré-industriais, diz o WWF. E pode aumentar em mais 120% até o final do século.
A ONG vai além: Um relatório encomendado pelo WWF-Canadá descobriu que apenas 30 navios equipados com depuradores foram responsáveis por despejar 35 milhões de toneladas nos oceanos. Em outras palavras, o equivalente a 14.000 piscinas olímpicas de água de lavagem apenas na costa da Colúmbia Britânica em 2017.
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A surpreendente incoerência da ONU
No momento em que a ONU lança a Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, e o Secretário-Geral António Guterres usa expressões como ‘a humanidade enfrenta um suicídio coletivo devido à crise climática’, é surpreendente que outro braço da organização, a IMO, aceite e induza a maracutaia de uma ‘indústria de US$ 3 trilhões de dólares’.
Shame on you!
Assista ao vídeo da International Council on Clean Transportation e veja que as áreas marinhas mais sensíveis, a plataforma continental, são as mais afetadas
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