Incêndios na Califórnia, no Brasil, e no mundo: aquecimento global fora de controle
A dramaticidade dos incêndios neste 2020 é mais uma prova de que o aquecimento global fugiu ao controle embora a imprensa brasileira não mencione. Por esta falha, percebe-se que quando o assunto é aquecimento global as pessoas reagem de forma diferente ao das queimadas por exemplo; ou mesmo sobre outras questões ambientais como excesso de lixo nas praias num feriadão. Quando o tema é aquecimento global a impressão é que as pessoas pensam que ‘este assunto não é comigo’. Como não? Incêndios na Califórnia, no Brasil, e no mundo.
Incêndios na Califórnia, no Brasil, e no mundo
Em fevereiro de 2015 publicamos o post 2014 foi o ano mais quente, ONU confirma, apesar do alerta não houve um comentário de leitores. No mesmo ano, em abril, mais uma vez abordamos a catástrofe que se avizinha em Aquecimento global não está sendo levado a sério, afirma Banco Mundial. O processo se repetiu: sem comentários.
Em janeiro de 2017 novo alerta: Aquecimento global 2016, terceiro recorde. De novo, zero de comentários. E assim por diante. Fizemos inúmeros posts sobre as partes do mundo mais sensíveis ao desaparecimento em razão do fenômeno climático, em geral ilhas ou países insulares do Pacífico. E muitas outras. O resultado é sempre o mesmo: ninguém se manifesta. Por isso dizemos que as pessoas pensam que ‘este assunto não é comigo’.
Explosão de incêndios
Então, em 2020 o Pantanal explode em chamas, a Amazônia vira fumaça desde 2019 e mais ainda em 2020, o Estado de São Paulo está em chamas, também o Paraná, e até a Síria, e agora os incêndios devastam a Califórnia e outros estados da costa Oeste. Mas muita gente não sabe porquê.
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Uns dizem que ‘são incêndios criminosos’, outros culpam o agronegócio, e há quem diga que a culpa é de ONGs. Sem falar na negação dos incêndios brasileiros pelas cavalgaduras de Brasília, ou suas desastradas ações incentivando os criminosos ao demonizar as multas do Ibama, e as inúmeras cabeçadas entre seus ministros.
O mundo ferve
Enquanto isso o mundo ferve. O ponto em comum entre estes incêndios, independente do começo de cada um, é o aquecimento global.
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E o fato do mundo ‘ferver’, e em consequência devastar suas florestas, é ainda pior. Isso cria um ciclo vicioso em que os resultados do aquecimento produzem ainda mais aquecimento. Um macabro moto perpétuo ao contrário. Mas não percebemos destaque a este aspecto na imprensa, seja em jornais, revistas, TVs, ou redes sociais.
O aquecimento global e os incêndios
New York Times, 10 de setembro de 2020: “SAN FRANCISCO – Múltiplos mega focos queimando mais de três milhões de acres. Milhões de residentes sufocados pelo ar tóxico. Apagões contínuos e ondas de calor de três dígitos. A mudança climática, nas palavras de um cientista, está atingindo a Califórnia na cara.”
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Por que poucos esperavam ver tão cedo, se especialistas em clima há muito se preocupam, estudam e alertam? Os avisos da academia chovem desde pelo menos 2010. “É apocalíptico.” Esta expressão foi usada por Roy Wright, que dirigiu programas de resiliência para a Federal Emergency Management Agency até 2018.“Você está derrubando o dominó de maneira que os americanos nunca imaginaram.”
“O mesmo poderia ser dito para toda a Costa Oeste nesta semana, para Washington e Oregon, onde cidades foram dizimadas por infernos enquanto os bombeiros foram levados até seus limites.”
“As crises simultâneas da Califórnia ilustram como o efeito cascata funciona. Um verão escaldante levou a condições de seca nunca antes experimentadas. Essa aridez ajudou a tornar os incêndios florestais da temporada os maiores já registrados. Seis dos 20 maiores incêndios florestais da história moderna da Califórnia ocorreram este ano.”
Enquanto incêndios devastam a costa Oeste, cinco furacões se formam ao mesmo tempo no sul dos Estados Unidos
Os devastadores incêndios da costa Oeste são acompanhados por cinco furacões que se formam simultaneamente, algo inédito na história climática dos Estados Unidos, mesmo estando no período dos furacões. Este, o problema da costa Sul do país. É a segunda vez na história que tal fato ocorre. Coincidência?
De jeito nenhum, mais um efeito antecipado ‘em prosa e verso’ pela ciência. Mas são poucos os que levam a sério o aquecimento. Alabama, Louisiana e Flórida estão em estado de atenção e podem ser muitos afetados. As tempestades atingem estes estados na noite de 16 de setembro. Mais de 18 mil moradores já sofrem cortes de energia.
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Incêndios na Califórnia em São Paulo e no Paraná
“Queimadas crescem 53% em São Paulo e prejudicam agricultores do estado”, este o título de matéria do Globo Rural em setembro. Corpo do texto: “As queimadas nestes meses de seca sempre existiram, mas neste ano a situação está pior: de janeiro a agosto, o estado de São Paulo registrou 2.744 focos de incêndio, 53% a mais do que em igual período de 2019.”
Segundo o G1, o tempo seco (de novo a falta de umidade gerada pela Amazônia) favoreceu o aumento de queimadas no Paraná. “De acordo com o Corpo de Bombeiros, do início do ano até agosto foram 6.417 ocorrências de incêndio ambiental no Estado.”
Incêndios na Califórnia, em São Paulo, e na Síria do outro lado do mundo
O site www.arabnews.com abriu com esta manchete em 9 de setembro: “Síria luta contra incêndios florestais pelo sétimo dia consecutivo.” Texto: “Os incêndios de verão, às vezes provocados por acidente e geralmente não relacionados à guerra, são comuns na Síria, mas os residentes disseram que os deste ano estão piores do que o normal.”
Alguma diferença com as notícias do Pantanal, Amazônia, São Paulo, Paraná, ou da costa Oeste dos Estados Unidos?
Mudança climática, de uma noção abstrata para a nossa realidade
NYT: “Se você nega as mudanças climáticas, venha para a Califórnia”, disse o governador Gavin Newsom no mês passado.”
“Cientistas do clima dizem que o mecanismo que está causando a crise do incêndio é direto: o comportamento humano, principalmente a queima de combustíveis fósseis como carvão e petróleo, liberou gases de efeito estufa que aumentam as temperaturas, desidratando florestas e preparando-as para queimar.”
E os avisos sistemáticos não foram apenas de cientistas norte-americanos. Os brasileiros engrossam o coro faz tempo. O glaciologista Jefferson Simões confirmou em podcast recente deste site.
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E já faz algum tempo que Carlos Nobre, representante brasileiro do IPCC (Painel Intergovernamental para a Mudança de Clima) fez a seguinte declaração:
Nunca, em toda a história da vida na Terra, uma espécie alterou tanto o planeta, e em uma escala tão rápida, quanto a humanidade. Mudamos os cursos de rios, alteramos a composição química da atmosfera e dos oceanos, domesticamos plantas e animais a ponto de sermos considerados uma “força tectônica” no planeta. Esse impacto é tão forte que alguns cientistas estão propondo mudar a época geológica – deixaríamos o holoceno, que começou com o fim da era do gelo, e passaríamos ao antropoceno, a época dominada pelo homem.
É apocalíptico
É apocalíptico o que estamos vivendo. Hora de parar, pensar, e modificar hábitos insustentáveis. A causa do aquecimento é uma só: nós, ou os 7,4 bilhões de terráqueos! De tanto interferir na capa vegetal do planeta um vírus tão ínfimo que só é visível em microscópios nos passou uma zoonose que colocou a humanidade de joelhos, provocando bilhões de dólares em prejuízos, e mais de 930 mil mortes até o momento.
Faça sua parte. Use menos o automóvel particular, dê e peça carona; e pense muito seriamente antes de consumir. Se todos o fizessem como os norte-americanos, os mais ricos do mundo, seria preciso dois planetas e meio para dar conta do recado.
Consumismo insuportável
A questão do consumo fica mais explícita na explicação que nos deu o cientista Ricardo Galvão em recente podcast. Galvão explicou que o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano, medida comparativa para classificar os países pelo seu grau de desenvolvimento humano, mostra que um norte-americano consome em média por dia 13.000 watts de energia, contra 1.500 watts em média de cada brasileiro; 3.600 watts dos espanhóis, e 250 watts, equivalente ao consumo de apenas duas lâmpadas, dos africanos.
Economize
Economize água e energia tanto quanto possível. O planeta Terra manda sinais diários de que não aguenta os maltratos. E esqueça os celerados de Brasília que insistem em negar o óbvio.
Atenção às eleições
Em breve teremos novas eleições. Avalie cuidadosamente a pauta ambiental de cada candidato de sua preferência, em geral os gestores políticos brasileiros se lixam para a catástrofe maior: o aquecimento global (as obras são caras, as medidas impopulares, e os resultados não aparecem durante a gestão de cada um).
Pense sobre isso. Temos obrigação ética e moral com as futuras gerações.
Imagem de abertura: Pinterest.
Muito triste essa cegueira coletiva em relação aos incêndios. Com essa transformação do ecossistema local no Pantanal, na Síria, na California, em tantos locais, eu não estranharia se uma nova zoonoses ou até mesmo uma nova pandemia surgir…
Nos é muito caro e o será mais ainda,pois não atentamos lá atrás e agora é praticamente uma situação irremediável, infelizmente. Mas se podemos amenizar vamos sim fazê-lo ,a começar com a prefeitura de São Sebastião,onde o córrego que corta o bairro de topolandia despeja todos os dias lixo descartável e esgoto no mar,e sem as autoridades falarem ou fazerem nada. São Sebastião tem vultosas verbas de petróleo e não vemos nada ser feito. É o ” horror,o horror”, como disse um certo coronel enlouquecido num mundo igualmente louco. “Senta a pua” João Lara mesquita!!!
Bora lá, reclamar nossos direitos.
João Lara Mesquita , muito obrigada pelo artigo. Confesso que fiquei muito triste mas você trouxe um choque de realidade . Será que ainda dá tempo? Tenho a sensação que já cruzamos a linha …
Andrea: todos dizem que sim, ainda da tempo para não piorar. Melhorar não vai. Mas não piora. É o que dizem os cientistas.
Esse ano aqui no Paraná a tragédia estava anunciada desde o começo do ano, com essa seca. Aqui na região oeste estamos embaixo de fumaça há dias, semanas talvez, a noite mal se vê estrelas. Quando vi tantas árvores Ipê-Roxo florindo antes da época, como não via há anos, inclusive árvores que tinham dificuldade em florir, floriram esse ano, vi que a seca estava diferente.
Acho que o primeiro fator é não politizar, isso atrapalha o debate, aqui mesmo nos comentários é possível ver pessoas atacando o atual presidente, que está há 2 anos no poder. Isso é um problema suprapartidário, que nos afeta há muito anos por governos incompetentes, estamos colhendo décadas de descaso.
Acho que nossas escolas tem culpa também, porque o debate hoje é tomada por questões ideológicas, ensina isso ou não ensina, fala disso ou não fala, cartilha disso pode ou não pode, essa ideologia pode, essa não pode, estamos vivendo um momento de guerra cultural, enquanto a ciência está cada vez menos presente na sala de aula. O pensamento cientifico precisa de mais espaço nas escolas.
Caro Antônio: muito o brigado por seu depoimento aí do Paraná. Mostra que vc é um observador atento aos sinais naturais. Antes todos fossem. Quanto à politizar a conversa, eu mesmo o fiz e explico porquê. Escrevi, ao final, “E esqueça os celerados de Brasília que insistem em negar o óbvio.”
Fiz, tenho feito, e pretendo continuar para chamar a atenção mesmo. Não é possível ser indiferente ao circo de Brasília. Concordo que outros presidentes tb não fizeram sua parte quanto ao aquecimento, e alguns até quanto ao fogo na Amazônia durante suas gestões. Mas o post não acusou Bolsonaro por qualquer motivo relacionado ao aquecimento que ele, o ministro do Meio Ambiente, e nosso chanceler, não acreditam. Eles se esquecem que são autoridades máximas e por isso mesmo suas falas têm reverberação nacional. Não é possível aceitar que a pessoa que representa o Brasil no exterior diga que aquecimento é ‘complô comunista’, desavisados podem acreditar. Lembre-se, por causa de autoridades deste ínfimo tamanho tem quem jure que a terra é plana como uma folha de papel.
Quanto às escolas, acredito que nos dias em que vivemos uma nova matéria deveria ser ensinada, a importância do meio ambiente íntegro para a vida na Terra. Ou algo no gênero. Mas, por mais que não queiramos politizar, essa é uma questão do governo federal, dos anteriores, e do atual, trata-se de política pública o que se ensina nas escolas ou, em outras palavras, suas disciplinas.
A educação é o problema número 1 do Brasil, e do mundo. Mas o que esperar de um governo que escolhe dois analfabetos para o ministério da Educação? Quanto isso vai nos custar em atrasos? Infelizmente, Antônio, é impossível não politizar. Bem que eu gostaria. abraços
E, enquanto todo esse circo continua, ninguém olha para o(s) grande(s) gerador(es) de emissões de gases de efeito estufa no mundo.
Como grande defensor, pessoal e profissionalmente, do tema, me frusta ver o quanto a ação da população continua sendo manipulada.
“Vivemos numa sociedade dependente da ciência e da tecnologia, mas que não sabe quase nada disso”, Carl Sagan
Fonte para conulta: https://www.c2es.org/content/international-emissions/#:~:text=Globally%2C%20the%20primary%20sources%20of,72%20percent%20of%20all%20emissions
Os ecologistas deviam lembrar a função ecológica do “incêndio ” florestal, que sempre ocorreu. Na própria Califórnia, nas regiões onde os “desastres” ambientais como incêndios foram mais evitados pelos homens, outro desastre está ocorrendo. Infecção por um fungo está dizimando as árvores. https://www.sciencemag.org/news/2004/08/fighting-oak-death-fire
E, se, o aquecimento global está assim tão crítico, por que ninguém fala do nível dos oceanos subindo?
Willes: todo mundo que não se chapou com cloroquina sabe dos efeitos da subida do nível do mar. Acontece que tem pessoas que não se informam, e sobre isso nada podemos fazer. Este site deve ter pelo menos 20 matérias comentando os alertas da academia sobre a inexorável subida do nível do mar. O último foi o podcast da semana passada com o glaciologista brazuca Jefferson Cardia Simões. Não precisa nem ler, basta ouvir (https://marsemfim.com.br/aquecimento-global-com-jefferson-cardia-simoes/).Ainda assim, mesmo aqui aparecem pessoas que não acreditam. Infelizmente não há antídotos contra os efeitos da cloroquina. Se tivesse, recomendaria com prazer.Arrisco sugerir ‘leitura’ de fontes científicas, e deixar de lado gurus esotéricos. Quem sabe?
O autor traduz a falta de comentários dos leitores como descaso, no meu caso é medo…de perceber que ainda pesa sobre cada indivíduo a responsabilidade que deve ser da indústria. Eu reciclo meu lixo há mais de 20 anos, já me desfiz do meu carro, procuro usar bicicleta. Mas minha colaboração é ínfima. É preciso um movimento social, não só individual. A análise da culpa não pode recair sobre o indivíduo.
Isabel, obrigado pela mensagem.Não disse em nenhum momento ‘descaso’, disse que ‘parece que não é comigo’. Mas é. O planeta foi sempre o mesmo desde ‘Adão e Eva’. Mas agora tem 7,4 bilhões de inquilinos. E até o fim do século seremos 10 bilhões de pessoas. “Se todos consumirem como os norte-americanos seria preciso dois planetas e meio para dar conta do recado’. E consumir faz parte dos nossos hábitos. Apenas tentei chamar a atenção sobre esta realidade. Não haverá um ‘Messias’ salvador. Ou cada um de nós faz sua parte, ou cada um de nós faz sua parte. Só isso.
As políticas públicas são ineficazes. Eexistem somente no papel…e pelo andar da carruagem, não sobrará nem isso.
O artigo está muito bem escrito. Seu ilustre autor demonstra sem rebuços que esse grave problema não atinge somente o Brasil. Tudo o que está acontecendo é lamentável. Mas não há como negar que o aquecimento global é uma das causas das queimadas.
Vivo num país onde nos massacram 30 horas/dia com imagens dos incompetentes do desgoverno Jair Bolsonaro e uma das obras primas foi o imbecil Ricardo Salles que sem caráter algum sugeriu para o mercador de almas JB que aproveitasse o momento da Covid-19 para desmatar/incendiar a amazônia e passar a boiada.
Serei egoísta pois estou no outono de minha vida e com toda sorte viverei mais uns 15 ou 20 anos, mas sempre cuidei dos meus lixos inclusive quando ia as praias, facilito a vida dos catadores de recicláveis como plásticos, latas e vidros descartando-os lavados e secos e inclusive meus lixos orgânicos são reduzidíssimos e me preocupo para não gerar chorume.
Estão eu ficarei aqui em casa assistindo o aproximar do fim do mundo, seja religioso ou científico e só gostaria que o rigor do holocausto/Armagedom ocorresse enquanto eu estiver vivo para ser “testemunha do fato para a história” (????) e poder rir de todos que se enriqueceram ilicitamente.
Então João Lara Mesquita, porque não fazem uma campanha mundial contra os combustíveis fóceis, gasolina e óleo diesel, contra o consumo de plástico? Difícil neh? Porque não fazem uma campanha contra o consumo desenfreado de carne? Mas ao contrario ficam enchendo o saco do Brasil por suas queimadas como sendo sendo o único causador do fim do oxigênio no mundo.