Ilha das Rosas, paraíso artificial pra chamar de seu

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Ilha das Rosas, paraíso artificial pra chamar de seu

Antes de mais nada, tinha que ser obra de um anarquista italiano. Recuamos no tempo. Agora, nos efervescentes anos 60 do século passado. Giorgio Rosa, engenheiro inquieto, andava pra lá de aborrecido. Na verdade,  ‘cheio’ do governo, de leis e obrigações. Para além da Itália, a Guerra Fria rolava solta e, a revolução cultural, fazia que jovens se rebelassem em todo o mundo. Giorgio não se conteve. Construiu a ilha das Rosas. Para tanto, encravou uma estrutura de concreto no mar Adriático, defronte a Rimini, mas, em águas internacionais.

Protestos mundo afora

Protestos pelo fim da Guerra do Vietnã explodiam pela Europa e Estados Unidos, enquanto, a Primavera de Praga chamava a atenção mundial, sacudida, mais uma vez, em 1968, especialmente, pelo assassinato de Martin Luther King. Confusão dos diabos.

À primeira vista, ninguém sabia como iria acabar. Mas, enquanto isso, governos cobravam impostos. Assim, Giorgio resolveu seu problema. Parêntesis, já contamos a história de pessoas que preferiram morar isoladas numa ilha. Mas, construir uma para si próprio, ainda não.

De antemão, Giorgio construiu a ilha das Rosas, uma estrutura de concreto encravada no Adriático. Simples assim.

Em seguida, como bom anarquista declarou-se presidente. Antes de mais nada, no pequeno espaço quem daria as ordens seria ele. Não queria governos com normas ou leis restritivas.

Imagem da Ilhas das Rosas
A ilha de Giorgio. Imagem, https://www.wantedinrome.com/.

Ilha das Rosas

Por último, Rosa era engenheiro recém-formado. além disso, tinha grande interesse pela construção e independência, combinado, contudo, com pouco respeito à leis. A ideia, de criar um lugar para ser livre, nascia.

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Desse modo, decidiu construir sua própria ilha, para isso, encontrando um ponto fora do território italiano no meio do mar na costa de Rimini. Uma ‘micro-nação que pretendia ser símbolo de liberdade’, como diz a BBC.

Utopia libertária da história

Enquanto, as obras que começaram em 1958 foram, entretanto, concluídas em 1967. A ‘ilha’  de Giorgio tinha restaurante, bar, loja de souvenirs e, até mesmo, correio. Contudo, não foi tão fácil.

Durante o período, não faltaram problemas ou atritos. BBC, ‘Rosa se autoproclamou presidente e a declarou estado independente – a República da Ilha Rosa’..

Por exemplo, em 1962, autoridades ordenaram que removessem todos os obstáculos à navegação. Mas, Giorgio era teimoso, e como!

Imagem da Ilha das Rosas
O paraíso utópico de Giorgio. Imagem,https://www.wantedinrome.com/.

Apesar disso, não desanimou, após entrar em contato com as Autoridades Portuárias de Rimini, Ravenna e Pesaro, comprou espaço no cais, obteve abastecimento de óleo diesel, além disso, permissão para construir a estrutura do Cantieri Navali.

Imagem de selos da Ilha das Rosas
Os selos criados por Giorgio para sua ‘micro-nação’. Imagem, BBC.

Enquanto isso, publicou aviso aos navegantes sinalizando presença da estrutura.

Então, conseguiu reiniciar a construção em 1964. Mesmo contra as histórias que rolavam à época, entre elas, algumas consideravam que ‘aquilo’ seria obra de ‘comunistas’ (parece atual?).

Submarinos nucleares soviéticos

Seria Rosa um espião, especialmente, à serviço da União Soviética?

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BBC. ‘Além de alegar que a ilha era usada para bebida e jogos de azar, alguns políticos, até mesmo, sugeriram que representava ameaça à segurança nacional, pasme, poderia fornecer cobertura para submarinos nucleares soviéticos, em um esforço para prejudicar sua reputação’.

Filme A Incrível História da Ilha das Rosas

A Incrível História da Ilha das Rosas, faz sucesso na Netflix, é filme fiel à realidade que começa nas telas, com o final, em Estrasburgo, novembro de 1968, quando Giorgio Rosa vai ao Tribunal Europeu que regula as disputas entre estados, apresentar o caso, em consequência, reivindicar posse.

Lá, explica o que aconteceu e, por um triz, quase consegue ‘seu país’ oficializado. Já imaginou?

Dois anos depois, novos problemas

O libertário, por fim, insistiu. Em 1966, a Capitania dos Portos de Rimini ordenou, novamente, o fim da construção sem autorização devido, sobretudo, à concessão da área à Eni (empresa italiana de energia). Mas, a construção da ilha continuou, entre outras, uma plataforma de concreto armado de 400 metros quadrados e paredes foram colocadas no mar.

Além disso, foi criado um ponto de pouso o Porto Verde, equipado com cais e escada de acesso. O plano inicial era criar cinco andares, entretanto, no final apenas um foi concluído. Nos meses seguintes, uma técnica de perfuração refinada levou ,até mesmo, abastecimento de água doce.

O ‘país’  de Giorgio aberto em 1967

A ilha foi aberta ao público em 20 de agosto de 1967. Imediatamente, tornou-se atração turística para milhares de pessoas. Enquanto isso, no ano seguinte foi declarada estado independente com Giorgio à frente.

Imagem dos atores do filme A Ilha das Rosas
Os atores do filme. Imagem da Netflix. Imagem, https://www.wantedinrome.com/.

BBC, “é o tipo de história em Rimini que os avós contam aos filhos e netos.” Assim disse o produtor, Matteo Rovere.

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“É uma história muito famosa. Mas, apenas em Rimini. Achamos que era incrível. E muito estranho que não soubéssemos dela.”

“Antes de sua morte em 2017, aos 92 anos, Rosa se reuniu com os cineastas. Em contrapartida, após um pouco de persuasão da parte deles, deu-lhes a bênção para adaptar a história. Como resultado, o filme retrata a construção e, especialmente, a recusa de Rosa em ceder às exigências do governo para que fosse desmontada.”

Paraíso da utopia é destruído

BBC. ‘Apenas 55 dias após a declaração de independência, em 24 de junho de 1968, os italianos enviaram forças militares para assumir o controle. Assim, destruíram a Ilha em fevereiro de 1969 usando dinamite’.

E prossegue, ‘Dias depois, uma tempestade submergiu totalmente a estrutura. Hoje, seus restos mortais repousam no fundo do Adriático’.

Uma história sobre a liberdade

Segundo a BBC, a história desta maluquice em cartaz pela Netflix, ‘A Ilha Rose é, fundamentalmente, sobre liberdade e a resistência de Rosa contra o governo’, diz Rovere. ‘Ele não queria se render contra a lei. Porque a lei dos anos 60 dizia que se você estivesse a mais de seis milhas da costa não é terra de ninguém. Com isso, você pode fazer o que quiser como se estivesse na Lua’.

Vale assistir. Uma ótima diversão, sobretudo, fiel à realidade. História quase perfeita, não tivesse sido posta a pique.

Imagem de abertura: https://www.wantedinrome.com/.

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