Governo Doria ameaça Fundação Florestal, confirmando descaso ambiental; e pandemia da demência
Apesar do descaso pelo meio ambiente demonstrado por Bolsonaro desde a época da campanha, em 2018; do aumento de 34% do desmatamento ilegal na Amazônia em 2019 comparado ao ano anterior; e dos problemas que a falta de visão provocou à imagem externa do Brasil; a lição não sensibilizou o governador de São Paulo. Governo Doria ameaça Fundação Florestal confirmando descaso ambiental, é nosso post de opinião.
Governo Doria ameaça Fundação Florestal confirmando descaso
João Doria quer extinguir em 2021 dez autarquias e fundações, entre elas a Fundação Florestal (FF), ligada à Secretaria da Infraestrutura e Meio Ambiente. A notícia provocou furor no meio ambiental paulista. E não vai demorar para se espalhar Brasil afora e, possivelmente, no exterior.
Mauro Ricardo, secretário de Projetos, Orçamento e Gestão do governo Doria anunciou a novidade em entrevista à rádio Bandeirantes em 7 de agosto de 2020. A ideia faz parte dos planos estaduais para responder ao desafio da queda de arrecadação prevista, de R$ 27 bilhões para o Estado, em razão da pandemia.
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Dizem os especialistas, que ‘o Brasil enfrenta três crises simultâneas’: a crise na saúde pública, na economia, e na política. O Mar Sem Fim discorda. Em nossa opinião, são quatro. As três citadas, e a pandemia da demência que contaminou gestores políticos e seguidores celerados.
Só isso para justificar um presidente que propõe, contra toda a humanidade, a ciência e o bom senso, ministrar cloroquina à população e às emas do palácio. O primeiro mandatário ainda não se deu conta da força da palavra do presidente da República, queiramos ou não, ela é sempre vista como um ‘Norte’ pela população.
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Ao agredir o bom senso, Bolsonaro que insiste ‘não ser coveiro’, dá o exemplo. E outros políticos pegam carona e disseminam ainda maiores sandices. É o caso do prefeito de Itajaí, sexto município mais populoso do Estado de Santa Catarina, Volnei Morastoni do MDB.
Depois de jogar no ralo mais de R$ 4 milhões de reais dos cofres do município na compra de 3 milhões de doses de ivermectina, fármaco usado no tratamento de vários tipos de infestações por parasitas entre piolhos e sarna, passou a propor a aplicação de ozônio no reto da população para combater a covid-19.
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Empresária se diz dona de 80% da Vila de JericoacoaraCaiçaras do Lagamar emitem nota aos Governos de SP e PRLula agora determina quem tem biodiversidade marinha: GuarapariAgora, o governo de São Paulo dá outro exemplo ao sugerir o fim da Fundação Florestal a partir de 2021.
Fundação Florestal, conheça
De acordo com o site do governo, a função da fundação é o ‘manejo e a ampliação das florestas de produção e das Unidades de Conservação estaduais, atuando conjuntamente com o Instituto Florestal’.
‘Atualmente, a Fundação Florestal é responsável pela gestão de 102 (cento e duas) Unidades de Conservação de Proteção Integral e de Uso Sustentável. A estas atribuições foram incorporadas atividades relacionadas às Reservas Particulares do Patrimônio Natural – RPPNs e aquelas relativas às Áreas de Relevante Interesse Ecológico – ARIES’.
Não nos esqueçamos que a cidade de São Paulo foi fundada em 1554 em meio à mais pujante floresta úmida do planeta, a mata atlântica, ainda mais biodiversa que a floresta Amazônica. Até àquela época, a mata atlântica era contínua como a floresta Amazônica. E cobria cerca de 15% do território nacional, sendo a segunda maior floresta tropical do Brasil.
Hoje, quase 500 anos depois, restam apenas 12,4%. É o bioma que mais perdeu floresta até hoje.
No momento em que a questão ambiental está no pódio da mídia mundial, graças aos desatinos de Bolsonaro, João Doria propõe dar fim à Fundação Florestal que tem cerca de 300 funcionários e deve representar zero, vírgula zero, vírgula uma fração do orçamento.
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Vivemos, ou não, uma pandemia da demência?
Fabio Feldmann confirma pandemia da demência: ‘É maluquice’
Fábio Feldmann, advogado, ambientalista e político (deputado federal por três mandatos consecutivos pelo PSDB), e secretário do Meio Ambiente de São Paulo (1995-1998) um dos fundadores da mais respeitada ONG do País, a SOS Mata Atlântica, postou em suas redes sociais o alerta:
A ideia (da extinção da FF) é rigorosamente maluca. A Fundação Florestal é muito importante porque ela cuida da biodiversidade, da vida, e da mata atlântica no Estado de São Paulo. Ela é responsável pela gestão dos parques estaduais, das estações ecológicas, enfim, da vida da biodiversidade da mata atlântica. É brincadeira esta ideia do secretário de Estado. É maluquice.
O País do futuro ou o dos tristes trópicos?
O governo Doria já havia mostrado sinais do pouco caso em relação ao meio ambiente. Uma das maiores campanhas públicas em favor do meio ambiente aconteceu em São Paulo, a partir de um programa da rádio Eldorado, batizado ‘Encontro dos Rios’, em 1990.
O programa gerou clamor popular. Um ano depois a SOS Mata Atlântica, que abraçara a ideia de despoluir o Tietê, criou o Núcleo União Pro-Tietê e chamou um biólogo até então pouco conhecido para comandá-lo, Mário Mantovani.
O governador de plantão, Luiz Antônio Fleury Filho do PMDB à época do programa, aproveitou o momento, e criou (no papel) o Projeto Tietê. Em seguida, passou a alardear que ‘em pouco tempo os paulistanos poderiam nadar’ naquele esgoto a céu aberto; promessa tão real quanto curar a covid-19 com aplicação de ozônio no reto da população feita pelo prefeito de Itajaí (SC), e prontamente desmentida pelo Núcleo União-Pro Tietê.
Mas, em 1995, um político íntegro (como eles fazem falta hoje!) assumiu o governo do Estado e levou a sério a reivindicação popular.
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Mário Covas revisou o projeto, e criou três fases. A primeira, para a construção e manutenção de estações de tratamento de esgoto. Na segunda, seriam feitos gigantescos interceptores para levar o esgoto até às estações; e coletores troncos para levar o esgoto dos bairros aos interceptores. Na terceira, interligariam as casas aos coletores troncos.
E investiu pesadamente.
Passados 25 anos, todos os que sucederam Mário Covas, exceção a João Doria, deram prosseguimento ao Projeto Tietê e investiram forte no saneamento básico, talvez segunda pior chaga nacional depois da distribuição de renda.
Os resultados da campanha do Tietê até 2016
De lá, para cá, mais de US 3,5 bilhões de dólares foram investidos na maior obra de saneamento já feita no país. A região metropolitana atingiu 90% de coleta de esgotos, melhorando a vida de 19 milhões de pessoas. E a mancha de poluição recuou 160 Km, apesar de ainda estar longe de terminarem os trabalhos.
Vou repetir: o projeto Tietê, sério, melhorou a vida de 19 milhões de pessoas, e a mancha recuou 160 km.
2018, João Doria assume o governo do Estado
Em 2016 a ONU destacava avanços na recuperação do Tietê; mas dizia que o rio continuava ‘altamente poluído e que sua recuperação requer investimentos de longo prazo.’ Então, em outubro de 2018 João Doria assumiu o governo do Estado.
E entre outras, talvez inspirado pelo tosco pescador a quem apoiou, e que prometeu acabar com a única unidade de conservação federal da baía de Angra dos Reis a ESEC dos Tamoios para ‘transformar a região numa Cancún’ dos (tristes) trópicos, Doria também prometeu despoluir o Rio Pinheiros até 2022 e criar ‘Puerto Madero’ paulistano na Usina da Traição.
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Foi outro sinal preocupante da pandemia da demência. Ou isso, ou é total descaso pela inteligência alheia. Nem Olavo de Carvalho em seus delírios prometeria despoluir um rio como o Pinheiros em quatro anos.
A despoluição do Tietê, do Pinheiros, e do rio Tâmisa
A despoluição de qualquer rio de grande porte é uma tarefa dificílima, mas possível, desde que haja vontade política e bom senso. O sempre lembrado caso do rio Tâmisa não se presta à comparação, apesar de ter custado décadas de trabalho (Eu disse décadas de trabalho), e milhares de libras esterlinas em investimentos.
Ambos, Tietê e Pinheiros, nascem no planalto e seguem curso para o interior, não contando com a imensa vantagem do rio inglês que nasce no interior e deságua no mar, sendo ‘lavado’ várias vezes por dia em função das marés.
Isso dificulta ainda mais a despoluição, exige mais investimento, e muito mais tempo, coisa que Doria não quer. Porque ele não pensa na população que permanecerá sem saneamento, mesmo que a ‘perfumaria’ que propôs para o Pinheiros traga algum resultado visual. O projeto de Doria é outro. Ele quer ser presidente e precisa de uma obra que todos possam ver.
Mas não passa disso: um placebo, como se uma pessoa imunda de sujeira passasse perfume. O aspecto visual pode melhorar, mas a imundície permanece. O mesmo pode acontecer aos moradores próximos ao rio Pinheiros onde o odor tende a diminuir se der certo. E o visual, melhorar um pouco.
Mas o projeto de Doria para o rio Pinheiros não prevê levar acesso ao saneamento básico para esta população, como seus antecessores fizeram no Tietê. E em nada ajuda a maltratada bacia do Tietê da qual o rio Pinheiros faz parte, mesmo que por acaso dê cem por cento certo.
Mas para ‘despoluir’ um rio deste porte só há um meio: saneamento básico.
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O PSDB de Doria, Bruno Covas e outros
Saudades de Franco Montoro, Mário Covas, e outros caciques do PSDB, com todas as críticas que podem receber, deste assunto não se omitiram. O primeiro tombou a Serra do Mar, e sua belíssima mata atlântica; o segundo, aprimorou e encarou o Projeto Tietê. Depois, a coisa se deteriorou.
Entrou Alckmim, espécie de zero à esquerda que trouxe à tona Ricardo Salles. Foi durante seu período na secretaria de Meio Ambiente de São Paulo que Salles foi condenado por improbidade administrativa por matéria relacionada à APA Várzea do Tietê.
Governo Doria ameaça Fundação Florestal e mais algumas provas do descaso em questões ambientais
Apesar dos alertas da ciência sobre o aquecimento global, e a reação das cidades civilizadas mundo afora, João Doria não tomou conhecimento. Você pode dizer que ‘é muito caro transformar uma cidade’. É verdade.
Mais caro que isso é pagar os prejuízos dos eventos extremos, e as centenas de mortes provocadas ano após ano (mortes a que João Doria não demonstra o mesmo sentimento pesaroso que às vítimas da covid).
Os exemplos estão aí, aos milhares. Londres introduziu impostos nos veículos que entravam na cidade central durante os fins de semana como um meio de desencorajar a superlotação dos carros, entre dezenas de outras medidas. Boston, nos Estados Unidos, se comprometeu a ser neutra em carbono até 2050. São Francisco proibiu a venda de garrafas plásticas pequenas. Há mais de 10.000 cidades comprometidas com a redução de emissões.
Ah, mas você compara São Paulo com as cidades mais ricas do mundo, não é justo, alguém pode dizer. Pois saiba que Ruanda, na África, proibiu a produção, venda, uso e importação de sacos plásticos desde 2008.
Bogotá, Colômbia
E Bogotá, na Colômbia, foi selecionada por impulsionar a eficiência de edifícios e cidades sustentáveis em todo o mundo (Projeto do programa BEA em 2016), enquanto Medelin passou por um processo de reurbanização considerado ‘exemplar’ pelo relatório Coalition for Urban Transitions.
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Enquanto isso, o Estado de São Paulo tem uma pontuação baixa nas emissões de gases do efeito estufa, à frente apenas de Nairóbi e Manila. O progressista município de São Paulo, comandado pelo neto de Mário Covas, conseguiu ser das últimas cidades brasileiras a banir…canudinhos de plástico!
Antes da dupla dinâmica assumir, em 2015, gestão Hadad do PT, São Paulo proibiu sacolas plásticas. Mas o Estado de São Paulo hesita, disfarça, ou espera. O quê, além do Puerto Madeira na marginal, só Doria sabe.
E anualmente São Paulo naufraga no período das chuvas, como em fevereiro de 2020.
Sobre a desatenção dos gestores políticos com questões relativas ao aquecimento global, Fernando Henrique Cardoso foi certeiro em entrevista a este site, e disse que “o conhecimento é retórico, não é verdadeiro.”
Governo Doria ameaça Fundação Florestal, nossas ilhas e Iguape, entre outros
João Doria tem sido omisso na questão ambiental desde que era prefeito. Não fosse assim, hoje nossas áreas de mananciais não estariam entregues ao crime organizado.
Antes os problemas fossem apenas acabar com a FF, ou ignorar os eventos extremos. Vejamos o caso da Ilha Anchieta, transformada em Parque Estadual marinho em 1997.
Para surpresa geral, antes disso, ainda em 1983, a Fundação Parque Zoológico, de São Paulo, introduziu mais de cem animais exóticos, de 15 espécies diferentes.
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Omissão na Ilha Anchieta
Até hoje não consegui descobrir o motivo da ação desastrada. As espécies invasivas são letais no mundo, e devastadoras em ilhas.
Mas jamais, desde que foi transformada em parque, qualquer governador se pronunciou ou tomou providências sobre a insensatez. Nenhum, incluso o atual. Mas as centenas de saguis introduzidos acabaram com a avifauna uma vez que se alimentam também de ovos de pássaros. E as capivaras, destroem desde então a flora formada por mata atlântica.
Omissão na ilha das Couves
A ilha das Couves, pequeno paraíso marinho também em Ubatuba (como ilha Anchieta), e igualmente parte de unidade de conservação estadual, a APA marinha do Litoral Norte, passou a ser destruída por hordas de turistas a partir de 2017.
Num local onde deveriam desembarcar poucos turistas por vez, dada a fragilidade e tamanho ínfimo da ilha, 58 hectares cobertos por mata atlântica, passou a receber até 5 mil turistas por final de semana a partir de 2017.
Apesar da insistência deste site, e de várias denúncias na imprensa, foi preciso esperar até 2019 para o governo do Estado começar a reagir. Já, a questão de Iguape, é bem mais antiga.
Omissão em Iguape
Em 1852 o rio Ribeira de Iguape teve seu curso alterado pela abertura do Canal do Valo Grande, um atalho para chegar mais fácil no porto, pensava-se dois séculos atrás. Mas foi um desastre.
O canal, que deveria ter 40 metros de largura, sofreu os problemas da erosão causada pela força da água do Ribeira de Iguape. E a cidade quase foi tragada. A água doce, que continua a fluir livremente até hoje, está matando o manguezal da região e provocando o fechamento de bocas de rios com capim, ameaçando a integridade do Lagamar, um dos mais importantes berçários de vida marinha do Atlântico Sul.
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O problema é de tal monta que o Ministério Público entrou na peleja e questionou o Governo de João Doria pela recusa em fechar o Valo Grande. A Justiça condenou o Estado.
Mas Doria, sem dar um pio para a sociedade, recorreu da decisão apesar de prometer em campanha um ‘megaprojeto de desenvolvimento para o Vale do Ribeira’. Há consternação em Iguape, município da região mais carente de São Paulo do ponto de vista da economia.
Sobre esta ação de João Doria, leio o post Barragem do Canal do Valo Grande, Iguape e região, de 25 de agosto de 2020.
Doria quer ser presidente…
É mais que hora de nos livrarmos da ignorância, demagogia, e asnices que povoam as mentes nubladas de parte de nossos governantes municipais, estaduais, e federais.
Graças a eles, o Brasil está se tornando um circo de horrores.
Imagem de abertura: Governo de São Paulo/Divulgação
Fontes: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/06/05/doria-promete-despoluir-rio-pinheiros-ate-2022-e-quer-criar-puerto-madero-paulistano-na-usina-da-traicao.ghtml; https://www.infraestruturameioambiente.sp.gov.br/fundacaoflorestal/institucional/missao/; http://www.diretodaciencia.com/2020/08/07/governo-doria-pretende-extinguir-a-fundacao-florestal-de-sp/; https://www.facebook.com/fabiofeldmann/videos/3471861002865877/; https://www.saopaulo.sp.gov.br/spnoticias/governo-de-sp-anuncia-investimentos-para-o-vale-do-ribeira/.
Travessia para micos-leões-dourados, boa nova que vem do Rio de Janeiro