Finalmente Marina Silva falou, mas esqueceu do bioma marinho
Faz meses que este site cobra a ministra de Meio Ambiente e Mudança do Clima para que venha a público falar de seus planos afinal, faz um ano e meio que ela assumiu. Reclamamos ainda porque, com o lastro de sua admirada história de vida, o sucesso na COP27 (11/2022), e a transformação em ícone ambiental internacional, Marina ‘abre as portas’ de qualquer veículo de comunicação para uma entrevista, por exemplo; mas, nada. Durante este período aconteceram coisas que ‘quase’ obrigavam a ministra vir a público, uma delas é a greve dos servidores do Ibama e ICMBio. Nada. Os sucessivos recordes de calor dos oceanos, nada. Sobre a PEC da privatização das praias, nada. Tudo que tivemos foram os dados mensais do desmatamento nos biomas terrestres. Finalmente, na noite passada Marina Silva falou, mas esqueceu do bioma marinho, como quase todos seus antecessores fizeram.
Por que os ministros de Meio Ambiente esquecem o bioma marinho?
Se eu bem me lembro, vi Marina na TV e na mídia em geral quatro vezes depois que assumiu o ministério. Porém, em três destas ocasiões o tema era a própria efeméride como na primeira vez, durante a tragédia do carnaval de 2023 em São Sebastião. A segunda aconteceu no exterior, na COP28, em Dubai (12/2023). A terceira aparição pública se deu agora, quando a tragédia se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Finalmente, na noite de ontem ouvi Marina pela quarta vez, e única em que ela se estendeu, falou de vários temas e alguns planos. Pode ser que eu esteja enganado, mas é tudo de que me recordo.
O ‘esquecimento’ não é apenas de ex-ministros
Mas o ‘esquecimento’ não é apenas de ex-ministros de Meio Ambiente, os ex-presidentes, excluindo Temer, também jamais olharam para o maior ecossistema da Terra, sem o qual não haveria vida.
Antes de analisar os quase seis minutos do pronunciamento em rede nacional, explico ao leitor que o pretexto desta cadeia, ‘foi’, como ela disse na abertura, ‘aproveitar o dia mundial do meio ambiente, 5 de junho, para refletir sobre o que estamos fazendo neste planeta’.
Ótimo, pensei, hoje a ministra vai falar no litoral, no mar territorial brasileiro, ambos assolados não só pelo aquecimento e eventos extremos, como por seus problemas específicos. Por exemplo, enquanto uma forte erosão se alastra pela costa brasileira, nosso mar sofre poluição constante dos rios que desaguam no mar, quase 100% deles colapsaram, estão na UTI; ou problemas ainda mais específicos como o excesso de cocaína na baía de Santos, ou as tilápias que escaparam de criações em terra para o mar!
No entanto, os problemas mais terríveis são dois: o despreparo quase generalizado dos prefeitos dos municípios costeiros para lidar com as consequências do aquecimento global e a força devastadora da especulação imobiliária que destrói o litoral. Esse litoral onde começa a cadeia de vida marinha para cerca de 90% das espécies.
Das chuvas no Rio Grande do Sul até planos para mitigar o aquecimento
Acredite, Marina se estendeu sobre vários aspectos. Começou lembrando que ‘as chuvas no Rio Grande do Sul ilustram bem entre o equilíbrio ambiental e as nossas vidas’. A ministra sublinhou ‘o sofrimento para milhares de famílias gaúchas, sobretudo as mais pobres’.
Disse ainda que ‘este ciclo não pode continuar. A situação atual exige não só consciência, mas ação imediata’. Louvou, em seguida, as ações do governo (federal), ‘que agiu rapidamente, em diferentes parcerias com o estado e município’.
Marina comentou os ‘gravíssimos eventos extremos, secas, desertificação,’ etc, ‘que trazem sofrimento’, e repetiu, ‘sobretudo aos mais pobres’.
Tapa com luvas de pelica na gestão anterior
Sem mencionar nomes, Marina foi dura com o negacionismo do governo anterior, ‘infelizmente ainda há quem duvida entre a ação do homem e a reação da natureza. Por alguns anos, este negacionismo atrasou a adoção de medidas urgentes, desrespeitou regras, instituições, e servidores ambientais, e nos impõem um tempo perdido’.
Mais adiante, deu um jeito para retribuir o convite presidencial: ‘Por orientação do presidente Lula, o tema das mudanças do clima vem sendo fortalecido e tratado por todos os setores e áreas do governo, de forma transversal, em diálogo com toda a sociedade (SIC)’.
Finalmente, alguém deste governo fala sobre um plano de médio prazo para combater o que o secretário-geral da ONU declarou ser a maior ameaça à humanidade. Como nenhum mandatário deu atenção, Guterres intensificou seus alertas, afirmando que “a humanidade caminha para o suicídio coletivo”. Entramos em 2023 sem novidades mundiais efetivas no combate ao aquecimento global, mas com sucessivos recordes de calor, tanto no hemisfério norte quanto no sul. Como, mais uma vez, ninguém deu importância, o último alerta de Guterres foi “estamos na era da ebulição”.
Demorou para falar com os brasileiros sobre o aquecimento
A segunda vez que ouvi Marina ou alguém do governo Lula falar sobre aquecimento global de forma ampla, além dos discursos de posse e das COPs no exterior, foi na noite de ontem. Demorou! Demorou muito para abordar essa questão com a Nação!
O aquecimento global é um flagelo sobre o qual nossos gestores públicos têm sido repetidamente alertados pelos cientistas desde a década de 1990. Apesar desses avisos, as ações para mitigar os problemas gerados por eventos extremos têm sido nulas. A omissão generalizada, incluindo a de Marina Silva em seu primeiro mandato no ministério (2003) e em seus variados mandatos como senadora, resultou na morte de milhares de pessoas, deixou milhões desabrigadas e custou bilhões de reais aos cofres públicos.
Finalmente, um plano nacional para enfrentar o aquecimento
Mas, desta vez, ainda na noite passada Marina se abriu: ‘estamos concluindo a atualização da estratégia nacional de mitigação e adaptação para as mudanças do clima. Lançaremos um plano nacional para o enfrentamento da emergência climática’.
Os biomas brasileiros: Amazônia, Pampa, Pantanal, Cerrado, e Caatinga…e o marinho?
A ministra se estendeu um pouco mais sobre os problemas do aquecimento, para concluir, ‘o presidente Lula estabeleceu o compromisso de desmatamento zero em todos os biomas brasileiros e já obtivemos resultados importantes com a redução de 50% do desmatamento na Amazônia’.
Em seguida lembrou de ‘reduções também no Pampa e Mata Atlântica, estamos trabalhando para obter resultados, também, no Cerrado, Pantanal, e Caatinga’.
E fez um chamamento público: ‘O momento aponta claramente para uma mudança de rumos, estamos sendo desafiados a pensar juntos, aliar a tecnologia sustentável, transitar para energias não poluentes com mais igualdade social, e investimentos sustentáveis para todos os setores de nossa economia’.
Para nosso alívio, mencionou, entre outras medidas, que “haverá novas unidades de conservação”; esperamos que as áreas marinhas também sejam contempladas. Falou ainda da recuperação de áreas degradadas, do incentivo à bioeconomia, e do apoio aos indígenas e às populações tradicionais.
Mas não disse palavra sobre os caiçaras, ou nativos da costa que, da mesma forma, também fazem parte das ‘populações tradicionais’ mas, para as quais, nunca houve políticas públicas.
“Oceano”
Marina prosseguiu enumerando suas intenções. Teremos aumento da qualidade ambiental nas cidades e no campo, cuidados com os recursos hídricos e o oceano, e busca de soluções para os resíduos sólidos.
Ela estava quase no fim de seu discurso quando comemorou: “No próximo ano, teremos a COP30 em Belém, nossa casa, o Brasil. Vamos fazer a diferença e mostrar que estamos unidos para construir um futuro ecologicamente sustentável.” Em seguida, falou por mais alguns segundos e se despediu.
A palavra “oceano” foi usada uma única vez
Sim, caro leitor, tudo o que Marina mencionou sobre a zona costeira e mares brasileiros foi a palavra “oceano”, uma única vez: “Teremos aumento da qualidade ambiental nas cidades e no campo, cuidados com os recursos hídricos e o oceano, e busca por soluções para os resíduos sólidos.”
Antes de encerrar, lembro que números do Censo 2022 mostram que 111,28 milhões de pessoas vivem próximo ao litoral brasileiro, será que eles também merecem desleixo?
Ou seja, não há palavras para descrever essa omissão, que, como dissemos no início, ocorreu com quase todos os seus antecessores.
Como toda regra tem exceção e não é correto generalizar, vamos às exceções. O único ministro do Meio Ambiente que deu atenção aos oceanos, após 1990, foi Zequinha Sarney, que ocupou o cargo duas vezes, nos governos FHC e Temer. Entre os presidentes, após 1990, o único que se preocupou com o mar foi Michel Temer.
Marina Silva ainda tem tempo. Se não houver interrupções, ela ficará alguns anos no cargo, até o fim do primeiro mandato de Lula. Resta saber se um dia ela ainda lembrará que sua gestão também é responsável pelo bioma marinho, ou não?
A propósito, os servidores do Ibama e os do ICMBio paralisam as atividades em todo o País neste dia mundial do meio ambiente. E não é coincidência. Pelo visto, sles também andam com problemas com a chefe…
Assista ao pronunciamento e confira
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Não sei exatamente qual a função da Marina no governo, mas ministra do meio ambiente que não é, é outra coisa.
Ministro não temos.
Mera hipocrisia e patetico brasil, não cuida nem do seu proprio ambiente e vem na tv falar sobre a homenagem e a crise do clima.