Derretimento da Antártica Ocidental: inevitável

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Derretimento da Antártica Ocidental: inevitável

Não foi por falta de avisos de renomados cientistas, bem como de autoridades com visibilidade mundial, como o secretário-geral da ONU, António Guterres. Ele disse: “A humanidade caminha para o suicídio coletivo” em uma primeira tentativa. “Estamos na era da ebulição”, falou meses atrás. Como não houve reação, Guterres elevou o tom: “Abrimos as portas do inferno”. Ele e os cientistas estavam certos. A Nature Climate Change acaba de publicar o artigo “Unavoidable future increase in West Antarctic ice-shelf melting over the twenty-first century” (Aumento futuro inevitável do derretimento da plataforma de gelo da Antártica Ocidental ao longo do século XXI), em outras palavras, abrimos as portas do inferno e vamos pagar as consequências. Não há veículo de prestígio da mídia internacional que não tenha comentado.

Derretimento da Antártica Ocidental
Acervo MSF.

O título acima foi a manchete do New York Times, de 23 de outubro. A CNN escolheu, O rápido derretimento na Antártica Ocidental é “inevitável”, com consequências potencialmente desastrosas para o aumento do nível do mar, conclui estudo. Para encerrar, o Guardian estampou, O rápido derretimento do gelo no oeste da Antártica agora é inevitável, mostram pesquisas.

“O derretimento das plataformas de gelo flutuantes no Mar de Amundsen, impulsionado pelo oceano, é atualmente o principal processo que controla a contribuição da Antártida para a subida do nível do mar. Utilizando um modelo oceânico regional, apresentamos um conjunto abrangente de projeções futuras do derretimento da plataforma de gelo no Mar de Amundsen. Descobrimos que o rápido aquecimento dos oceanos, aproximadamente ao triplo da taxa histórica, será provavelmente alcançado ao longo do século XXI, com aumentos generalizados no derretimento das plataformas de gelo, incluindo regiões cruciais para a estabilidade das camadas de gelo”, assim os autores ingleses abriram seu artigo na Nature Climate Change.

Iceberg na antártica
Acervo MSF.

E concluíram o primeiro parágrafo com:  “Estes resultados sugerem que a mitigação dos gases com efeito de estufa tem agora um poder limitado para evitar o aquecimento dos oceanos, o que poderia levar ao colapso da camada de gelo da Antártida Ocidental.”

Qual a causa do derretimento da Antártica Ocidental?

O New York Times explicou que ‘A grande massa dessas plataformas impede que o gelo terrestre flua mais rapidamente para o mar aberto. Assim, à medida que as plataformas derretem e se tornam mais finas, mais gelo terrestre se move em direção ao oceano, eventualmente contribuindo para o aumento do nível do mar. A redução das emissões de combustíveis fósseis pode ajudar a retardar esse derretimento, mas os cientistas não têm certeza de quanto’.

E encerrou o jornal: ‘Mesmo que as nações limitassem o aquecimento global a 1,5 graus Celsius, não fariam muito para deter o aquecimento global.’

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Dois Icebergs.
Acervo MSF.

Kaitlin A. Naughten, cientista do British Antartic Survey, declarou em entrevista coletiva:

Parece que podemos ter perdido o controle do derretimento da plataforma de gelo da Antártida Ocidental ao longo do século 21. Isso significa que não podemos evitar um certo aumento do nível do mar

O que acontece se a Antártica descongelar?

O Guardian ressaltou que as implicações para a subida do nível do mar são “terríveis”, segundo os cientistas, e isso significa que haverá abandono de algumas cidades costeiras.

A camada de gelo do oeste da Antártica, prosseguiu o Guardian, empurraria os oceanos para cima em 5 metros quando for totalmente perdida.

Derretimento da Antártica Ocidental- inevitável.
A ilustração é do www.scitechdaily.com, que assim a legendou: Contribuições para a elevação do nível do mar pelo derretimento dos mantos de gelo da Antártica e da Groenlândia, e mapas da elevação projetada da superfície do manto de gelo da Antártica para 2150, seguindo diferentes cenários de emissão de gases de efeito estufa. Crédito: Instituto de Ciências Básicas Jun-Young Park.
Paisagem na Antártica
Acervo MSF.

Como tudo que é ruim pode piorar, o jornal inglês mostra que a perda das plataformas de gelo flutuantes demonstra que as camadas de gelo glaciais em terra ficam livres para deslizar mais rapidamente para o oceano.

O jornal reproduziu outro comentário de Kaitlin A. Naughten:

O nosso estudo não é uma boa notícia – podemos ter perdido o controle do derretimento da plataforma de gelo da Antártida Ocidental ao longo do século 21. É um impacto das alterações climáticas ao qual provavelmente teremos de nos adaptar, e muito provavelmente isso significa que algumas comunidades costeiras terão de construir [defesas] ou serão abandonadas.

Línguas de gelo que se projetam para o oceano

A CNN explicou melhor sobre a proteção das plataformas de gelo: são línguas de gelo que se projetam para o oceano no final das geleiras. Atuam como contrafortes. Elas ajudam a reter o gelo na terra, retardando o seu fluxo para o mar ao mesmo tempo em que proporcionam uma defesa importante contra a subida do nível do mar. À medida que  derretem, elas ficam mais finas e perdem sua capacidade de sustentação.

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gelo vermelho
Acervo MSF.

E confirma a elevação média do nível do mar em 5 metros: A Antártica Ocidental já é o maior contribuinte do continente para a subida global do nível do mar e tem gelo suficiente para elevar o nível do mar numa média de 5,3 metros.

O que pode provocar o derretimento das geleiras da Antártica?

Para encerrar, a CNN confirma que Os pesquisadores analisaram o “derretimento basal”, quando as correntes oceânicas quentes derretem o gelo por baixo.

Então, eles analisaram a taxa de aquecimento dos oceanos e o derretimento das plataformas de gelo em diferentes cenários de mudanças climáticas. Estes cenários vão desde o mais ambicioso, onde o mundo consegue limitar o aquecimento global a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais, até ao pior caso, onde os humanos queimam grandes quantidades de combustíveis fósseis que aquecem o planeta.

gelo derretendo na Antártica
Acervo MSF.

Por fim, diz a CNN : os cientistas descobriram que se o mundo limitar o aumento da temperatura a 1,5 graus Celsius, o que não está certo se conseguirá, as alterações climáticas ainda poderão fazer com que o oceano aqueça a uma taxa três vezes superior à histórica.

paisagem no gelo copiar.
Acervo MSF.

Qual a posição do Brasil em relação ao aquecimento global?

Antes, uma pergunta: caro leitor, quando foi a última vez que você ouviu as autoridades brasileiras falarem sobre o aquecimento global? Qual foi o último presidente ou ministro do Meio Ambiente a fazê-lo?

Alguém se lembra? Pois nós não nos recordamos. E olha que temos insistido desde 2013, por exemplo, no post “Litoral do Ceará e erosão: o mar está carregando”.

Mais recentemente, escalamos, como fez António Guterres, o Litoral do Brasil engolido por eventos extremos, em 2020.

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Finalmente, este ano, depois de quase 11 meses do novo governo, cobramos de Marina Silva que saísse de seu messianismo eterno e encarasse a realidade, no  post Manguezais e restingas: uma omissão do MMA.

Entretanto, tudo o que conseguimos foi sermos chamados de “catastrofistas” por alguns desavisados. Assim como a tragédia do carnaval em São Sebastião, esta tragédia também é mais do que anunciada.

Antes de encerrar, mais um alerta: Litoral norte (SP), novos deslizamentos à vista.

Assista ao vídeo da NASA, de 4 anos atrás, que já alertava para a possibilidade agora confirmada

Snow over Antarctica buffered sea level rise during last century

Corrupção abjeta em Ubatuba prossegue

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