Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo do Brasil

1
163
views

Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo do Brasil

O momento é agora. Nunca houve tantos fatos favoráveis ao Brasil no exterior. Foi o que perceberam 105 grandes empresas nacionais e estrangeiras e dez entidades setoriais. Elas assinaram uma carta defendendo que o governo seja ambicioso, e retome a posição de protagonista nas negociações que acontecerão na COP 26, em novembro, na Escócia. Há uma conjunção de fatores que conspiram para que o Brasil volte a liderar a questão ambiental em âmbito internacional. Mas há que considerar o maior obstáculo; ele é interno e atende pelo nome de Jair Bolsonaro. Post de opinião, Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo.

Imagem de queimada na Amazônia
Imagem de Gabriela Biló/Estadão.

Cúpula do clima: empresários cobram protagonismo

Alguns dos que assinaram a carta são presidentes de empresas como BRF, Bradesco, Alcoa, Cargill, Brasken, Klabin, Natura, Bayer, Nestlé, Amazon, Shell, Votorantim, etc, todos pesos pesados da economia.

Empresários pelo Clima, foi o nome que escolheram para identificar a iniciativa liderada pelo Conselho Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Entre as entidades que apoiam o movimento está mais uma vez a Associação Brasileira do Agronegócio, cujo presidente é um dos líderes do setor, Marcello Brito. Só isto mostra o fosso entre a parte moderna do agronegócio e a política ambiental suicida de Bolsonaro.

E o motivo é um só, como eles mesmos explicam: ‘O Brasil deve manter a sua centralidade nesse diálogo, sob pena do enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’.

A carta demonstra receio sobre a posição que o País apresentará na COP 26, até agora pouco discutida por aqui. O movimento também pode ser lido como uma reação à péssima repercussão do patético discurso de Bolsonaro na ONU.

PUBLICIDADE

Mais uma vez, o presidente mentiu sobre a situação da Amazônia, cuja devastação ilegal cresceu em agosto, ao contrário do que disse.

Não satisfeito, o delirante Bolsonaro pintou um quadro de um Brasil que não existe sem mencionar os 14,4 milhões de empregados,  a inflação em alta, o perigo de um apagão, e a fome que ronda nada menos que 19 milhões de brasileiros, segundo dados de 2020 da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Penssan).

Mas o que pega mesmo para os empresários, e com razão, é a possiblidade de, a continuar nesta toada, o ‘enorme prejuízo ao setor produtivo e à sociedade brasileira’.

Os fatores externos favoráveis ao Brasil

Os mais importantes, talvez, sejam os fracassos do Governo Biden que desde a campanha eleitoral percebeu o perigo em que nos encontramos, sem uma liderança global consistente na questão do clima, e prometeu protagonismo.

Promessa cumprida ao trazer de volta os Estados Unidos ao Acordo de Paris num de seus primeiros atos depois de assumir.

Logo em seguida, Biden marcou a primeira reunião preparatória para a COP 26, ainda em abril de 2020. Mas, no meio do caminho havia uma pedra.

Joe Biden perde força internacional

Biden perdeu força e prestígio com a desastrada saída do Afeganistão e, mais recentemente, a manutenção da posição de seu antecessor de repatriar estrangeiros que tentam entrar ilegalmente nos Estados Unidos.

Com ambos os atropelos, a liderança de Biden ficou arranhada, abrindo a brecha para o Brasil retomar a posição que sempre teve até o advento Bolsonaro.

PUBLICIDADE

Outro fator que explica a carta dos empresários é a troca de poder na Alemanha. A União Democrata-Cristã,  partido de Angela Merkel, perdeu as eleições no país por  pequena margem.

Ainda não se sabe como ficará o governo de coalização que deverá ser formado até o final do ano. Mas foi um baque para o Brasil, já que Merkel era nossa aliada na manutenção do acordo União Europeia e os países do Mercosul, que ainda precisa ser ratificado por todos os parlamentos nacionais.

Outros países da UE, como Áustria e Holanda, rejeitaram o pacto devido aos maus tratos ambientais no Brasil. Enquanto isso, França, Bélgica, Irlanda e Luxemburgo foram críticos. Até aquele momento a Alemanha era o grande promotor do acordo.

Era hora de uma reação.

Empresários pelo Clima

Segundo o jornal O Estado de S. Paulo, ‘A presidente do CBEDS, Marina Gross, que foi negociadora em conferências sobre o clima no fim dos anos 90, explica que o conselho tem alertado internamente ao governo sobre como seu posicionamento tira recursos das empresas. “Na carta, estamos dizendo ao governo: ‘por favor, avance, pois nós vamos dar a retaguarda’. Para fora do Brasil, estamos mostrando que o País tem grandes empresas e instituições, com um peso grande do PIB, fazendo a coisa certa.”

‘O Brasil emitiu, em 2019, 2,1 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (GtCO2e), sendo que 44% dessas emissões foram decorrentes do desmatamento.

Marina explica que 98% desse desmatamento no País é ilegal. “O desmatamento ilegal é o nosso elefante na sala, que acontece sobretudo no bioma da Amazônia, e isso tem de acabar. Isso não traz desenvolvimento”, afirma’.

PUBLICIDADE

A carta já foi entregue ao presidente da COP 26, Alok Sharma, quando ele esteve no Brasil recentemente. Agora os organizadores pretendem apresentar o documento ao governo brasileiro.

Economia de baixo carbono na cúpula do clima

Esta é a nova ordem mundial. E a carta dos empresários centra o foco na descarbonização. ‘As empresas do Brasil já vêm adotando medidas para a redução e compensação das emissões de gases causadores do efeito estufa, investimentos em tecnologias verdes e estabelecimento de metas corporativas ambiciosas de neutralidade até 2050’, diz um dos trechos.

‘O mundo precisa caminhar com urgência para uma economia de baixo carbono e o setor empresarial reconhece sua responsabilidade nessa transformação’.

‘O Brasil tem vantagens comparativas extraordinárias na corrida para alcançarmos uma economia de emissões líquidas de carbono neutras valendo-se de nossos recursos naturais’.

Segundo os signatários da carta, ‘o país precisa de um arcabouço político-regulatório que apoie essa trajetória dentro de um compromisso firme, com ações eficazes para o fim do desmatamento ilegal e a conservação do meio ambiente’, destaca outro trecho.

O jornal O Globo ouviu Marina Gross: ‘Temos ambição climática e nossas empresas contam cada vez mais com metas de neutralização baseadas na ciência, utilizando parâmetros criteriosos de governança corporativa, social e ambiental’.

A ver se os aloprados anticiência de Brasília continuarão preferindo comer pizza na esquina, isolados; ou se irão revisar suas posições e sentar na mesa como todo mundo civilizado.

Imagem de abertura: Gabriela Biló/Estadão

Fontes: https://umsoplaneta.globo.com/clima/noticia/2021/09/27/em-carta-empresarios-cobram-protagonismo-do-brasil-na-conferencia-do-clima.ghtml; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,em-carta-grandes-empresas-pedem-protagonismo-do-brasil-na-agenda-verde,70003851465; https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,angela-merkel-expressa-serias-duvidas-sobre-acordo-com-o-mercosul,70003408210.

Espécies aquáticas invasivas: prejuízos de bilhões de dólares

Comentários

1 COMENTÁRIO

  1. O conteúdo reclamado na matéria é urgente. Mas, eu não acredito que haverá alguma reação sequer até as eleições de 2022, em que poderemos mudar o governante inepto que ocupa o maior cargo do país. Até lá, possivelmente perderemos essa chance de assumir de novo lugar de destaque na liderança climática ou qualquer outro papel.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here