Conselho da Amazônia: temos que agradecer ao Fórum Econômico Mundial
Ninguém questiona que o tema preponderante nesta edição do Fórum Econômico Mundial foi meio ambiente. Motivo de encontros, e discursos das estrelas mais esperadas: Donald Trump (que aceitando o aquecimento, aceitou contribuir para plantar um trilhão de árvores na África), Chistine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu, Greta Thunberg e, por que não, até o ministro Paulo Guedes. Conselho da Amazônia é o comentário de hoje.
Brasil foi elogiado e questionado
O Brasil foi elogiado e questionado em vários assuntos. Saiu-se bem, pelo que relatam especialistas, nos avanços da economia. As reformas alcançadas foram bem-vindas, e as estratégias futuras, questionadas. Paulo Guedes não decepcionou em sua apresentação. Demonstrou os avanços, e assegurou o compromisso de seguir com reformas.
Ainda assim, investidores foram duros com a questão mais relegada pela atual administração, o meio ambiente. Fato confirmado pelo ministro Paulo Guedes que declarou ao Globo News, de Davos, ‘que as preocupações ambientais podem atingir, ainda que indiretamente, os investimentos no Brasil’.
Bravatas de Bolsonaro
Enquanto isso, as bravatas de Bolsonaro em discurso na ONU, não mencionando incêndios na Amazônia, mas reafirmando a soberania sobre a mais importante floresta úmida do planeta, foi cobrada. Assim como a resposta de Paulo Guedes. Aconteceu no painel do Fórum sobre o futuro da indústria. Nele, o ministro declarou que ‘o pior inimigo do meio ambiente é a pobreza’.
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Relatório Global de Riscos
Mas a polêmica pouco importa. Importante foi o Relatório Global de Riscos, produzido pelo Fórum Econômico Mundial, afirmando que, pela primeira vez todos os “principais riscos de longo prazo em relação à probabilidade são ambientais.”
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Ou o Brasil muda a política de meio ambiente, ou não haverá investimentos
Isso apenas reforçou a decisão dos maiores fundos de investimentos que deixaram claro: ou o Brasil muda a política de meio ambiente, ou não haverá investimentos no País.
Eles não esqueceram o aumento do desmatamento na Amazônia em quase 30% na relação 2019-2018, muito menos a posição do Brasil, capitaneada pelo ministro Ricardo Salles na COP 25, em Madri, quando quase põe fim, por pirraça e falta de argumentos, o fraco acordo final.
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Caiçaras do Lagamar emitem nota aos Governos de SP e PRCOP16, Quadro Global para a Biodiversidade: situação críticaLula agora determina quem tem biodiversidade marinha: GuarapariAntes, o diligente ministro bombardeou os bilhões de reais que Alemanha e Noruega investiram no Fundo Amazônia, por ele bloqueado unilateralmente, e teve a petulância de passar o chapéu, exigindo que países ricos pagassem a conta na mesma reunião de Madri.
Criação do Conselho da Amazônia
Os ventos dos bastidores de Davos incomodaram o Palácio do Planalto. Como resultado, em 21 de janeiro início do Fórum, Bolsonaro anunciou a criação do Conselho da Amazônia e de uma Força Nacional Ambiental, para ”atuarem na proteção do meio ambiente da Amazônia” e, num evidente desprestígio ao ministro do Meio Ambiente “casado” com o agronegócio como disse, fato registrado pelo Estado na matéria Bolsonaro à bancada ruralista: ‘Esse governo é de vocês’ (4/7/19), encarregou para comandá-lo o vice-presidente Hamilton Mourão.
Melhor para o meio ambiente. Ao contrário do ministro que só pôs os pés na Amazônia depois de ser ungido ao cargo, Mourão é profundo conhecedor da região e seus gargalos. De ascendência indígena, foi chefe de informação do Comando Militar da Amazônia.
Conselho da Amazônia: ‘o que falta ao governo é comando e controle’
Em recente entrevista à Central Globo News (22/01/2020), declinou de bate-pronto onde ficam os problemas, e assegurou que ‘o que falta ao governo é comando e controle’, predicados que o neófito ministro do MMA não logrou alcançar, ao contrário. Foi vítima de sua ignorância e arrogância, preferindo bater boca com ONGs em vez de mobilizar forças de imediato para combater o desmatamento ilegal.
Atuação displicente do ministro do Meio Ambiente
A mesma e displicente atuação verificou-se meses depois, quando do derrame de óleo no Nordeste. Na ocasião, o ministro demorou 38 dias para ir ao litoral verificar os estragos, e coordenar as ações de mitigação que, não fossem os cidadãos comuns, teriam demorado ainda mais para começar. E só entraram no bom caminho por outra ação do vice-presidente, ao designar o Exército para a limpeza das praias.
Criação do Conselho da Amazônia, mais uma ação improvisada
A criação do Conselho da Amazônia foi mais uma ação improvisada da atual administração. E confirmada na entrevista de Mourão que não soube informar como funcionará o tal conselho. A ausência de políticas públicas para a Amazônia é mais uma dívida do governo Bolsonaro que dispara ameaças a torto e a direito, ora sugerindo abrir terras indígenas à mineração, ora à criação de gado mas, passado um ano de governo, ainda não apresentou um plano econômico capaz de manter a floresta em pé, e tirar da miséria os cerca de 20 milhões de brasileiros que lá habitam.
Enquanto isso, acadêmicos e cientistas ensinam que a melhor estratégia é o investimento em biotecnologia aproveitando nosso maior ativo: a biodiversidade. Como disse Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, “o maior inimigo do meio ambiente é a condescendência do governo com os crimes ambientais”, com o que, por suas declarações, parece concordar o vice-presidente.
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O Conselho da Amazônia e em consequência, a maior maior floresta úmida do planeta, está em boas mãos. Devemos um favor a Davos.
Artigo de João Lara Mesquita, publicado na página dois de O Estado de S. Paulo, em 29/01/ 2020.
Imagem de abertura: Adnilton Farias / VPR
Fontes: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-51215404?fbclid=IwAR1WSEQ–ClJNNC_TlnmnGIkGDrGRYsJc3QZBFhfc_LRr5ZaTH-v-l2yDZE; https://politica.estadao.com.br/noticias/geral,bolsonaro-a-bancada-ruralista-esse-governo-e-de-voces,70002904662.