Como destruímos o Guarujá, a ex-pérola do Atlântico

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Guarujá: de Pérola do Atlântico, para uma cidade onde impera o mau gosto e a violência

Se fizermos um grande exercício de imaginação, é possível perceber como era espetacular a ilha de Santo Amaro onde fica o Guarujá. E perceber como conseguimos deformá-la. Até o nome da cidade em tupi Guarujá (GU-AR-Y-YA) significa ”passagem estreita”; entretanto há  outras definições. Uma  é GUARU-YA, que em português viraria ”viveiro de rã ou sapos”. Outra, segundo (Francisco Martins dos Santos 1996, apud Novo Milênio), a palavra  significa “abertura de um lado a outro” aludindo ao antigo aglomerado de rochas que separa a Praia de Pitangueiras da Praia de Guarujá, atual Praia das Astúrias.

Antes da ocupação

Antes de sua ocupação, talvez, Santo Amaro fosse uma das ilhas mais bonitas do nosso litoral. Morros cobertos de mata atlântica, praias espetaculares de todos os tipos: grandes, como Pitangueiras; charmosas, como Pernambuco; pequenas, como as praias Preta e Branca. Algumas surpreendem com  cachoeiras que descem até a areia, caso de Iporanga.

E, se um dos lados da ilha foi desfigurado pelo maior porto do Brasil, o de Santos, as favelas de Vicente de Carvalho, e o polo industrial de Cubatão, ainda há o canal de Bertioga cercado por manguezal, ralo, mas ainda de pé, o que é quase um milagre.

 imagem de uma muralha de prédios numa praia do Guarujá
A especulação degrada qualquer cenário. Impossível não se revoltar. Que, ao menos, sirva de exemplo para outros não fazerem o mesmo.
 imagem do polo de cubarão
Polo de Cubatão, vizinho incômodo.

O lado histórico, pouco valorizado, da ilha de Santo Amaro, onde fica o Guarujá

A ilha de Santo Amaro é parte importante de nossa história, a primeira vila erguida no Brasil foi em São Vicente, ao lado do Guarujá. Ainda no aspecto histórico, a ilha de Santo Amaro guarda relíquias quinhentistas, como a fortaleza da Barra Grande, surpreendentemente, em bom estado de conservação.

No lado norte, na barra de Bertioga, outro forte importantíssimo, e igualmente em bom estado, o forte São João da Bertioga, onde foi assinada a “paz de Iperoig” quando, a duras penas, os padres Manoel da Nóbrega, e José de Anchieta, conseguiram acalmar o cacique Cunhabebe, assinando o primeiro tratado entre colonizadores e índios.

imagem de mangue no Canal da Bertioga
O mangue no Canal da Bertioga

A primeira vila teria sido erguida na praia da Enseada

Observação: como explica o internauta Cassio Ramos Ribeiro, em mensagem ao término desta matéria, São Vicente não teria sido a primeira vila, “a primeira vila do Brasil não foi São Vicente, mas sim uma vila, encontrada em ruínas, por Martim Afonso de Sousa e descrita por Frei Vicente do Salvador, o historiador do século XVI, que nos contou sobre a fundação de São Vicente. Esta era a vila de Santo Amaro que ficava na praia da Enseada. Beauchamp, também historiador, escreve no século XIX, que a vila foi fundada em 1515, mas que sua ocupação era bem anterior a essa data”.

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Mas quem se importa com nossa história?

 imagem da Fortaleza de Barra Grande, Santos
Fortaleza de Barra Grande

Guarujá e o glamour do passado

Quando os paulistas se deram conta de tanta beleza próxima da capital, transformaram Guarujá no balneário das elites. Casas de madeira, pré-fabricadas, foram importadas dos Estados Unidos.

Eram chalés, que abrigavam os ricos de São Paulo durante as férias. Este primeiro núcleo, na praia de Pitangueiras, ainda tinha o famoso Grande Hotel e seu cassino.

 imagem de um cartão postal com Guarujá antigo
Guarujá em Cartão Postal, do acervo de Waldir Rueda
 imagem de Guarujá nos anos 40
Guarujá nos anos 40 (acervo de Francisco Carballa)
 imagem de Guarujá nos anos 50
Nos anos 50 começa tímida a destruição da paisagem

Casarão do avô de Vicente de Carvalho

Outra relíquia dos tempos antigos é o casarão do avô do poeta Vicente de Carvalho, cuja foto e história foram publicados no Face Book por Candida Botelho que explicou: “Uma relíquia que vai morrendo pouco a pouco.Este casarão que pertenceu ao avô do poeta Vicente de Carvalho, Coronel Botelho, situado no sopé do Morro do Botelho, é provavelmente a edificação mais antiga da cidade depois das fortalezas.”

Casarão no Guarujá
A caso do avô de Vicente de Carvalho.

Segundo os registros encontrados pela arquiteta Patrícia Lima, já em 1790, este imóvel aparece citado em documentações dos tempos coloniais. A escritura mais antiga deste imóvel data de 1864, já no período do império. Patrícia Lima foi a responsável pela preparação da documentação enviada ao Condephaat para o tombamento do imóvel em 2005.”

E finalizou: “Vergonha total dos prefeitos, dos governadores e dos seus secretários de cultura que fingem que esse imóvel não existe.”

1942, o primeiro prédio. Salte no tempo… População atual, 311 mil habitantes, 40 mil em favelas.

Nesse ano foi erguido o primeiro prédio, o edifício Pitangueiras, com oito andares. A muralha de concreto começava a ser erguida. Guarujá foi ocupada sem nenhum planejamento, como sempre acontece no litoral do Brasil.

No lado rico, que dá para o mar, a beleza de suas praias foi-se embora. Trocada por uma fila interminável de prédios, formando uma barreira disforme de concreto. Do lado pobre, no interior, ou na parte da ilha que dá para o porto de Santos, a favelização explodiu. Guarujá tem 311 mil habitantes, 40 mil, acredita-se, vivem em favelas.

 imagem de costão ocupado no Guarujá
Como a especulação destrói um importante ecossistema, os costões. Eles, “não podem ser ocupados” , a não ser no Brasil, onde “há leis que não pegam”.

Consequências do processo de degradação: quem pode se fecha em guetos protegidos. Os outros…

Junto com a destruição de sua linda paisagem veio a degradação moral. Os serviços públicos pioraram. Saneamento, e policiamento, são insuficientes,  assim como a limpeza das praias.

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Isso fez com que os ricos que ainda frequentam a ilha se fechassem em condomínios, privatizando suas praias favoritas, como Iporanga, ou São Pedro, com a complacência do poder público.

Ali, pelo menos, os condôminos fazem as regras. Escolhem quem pode, ou não, entrar para o grupo; pagam sua própria guarda particular e garis para limparem “suas praias”, criando mais um gueto no litoral. Nestes poucos, e proibidos espaços privatizados, reina a paz. Mas fora deles…

imagem de predios-no-costão-
Vale arrebentar a paisagem, que é de todos, para alguns ‘terem vista para o mar’. A especulação não tem limites.

Guarujá bate recordes de roubos e assassinatos. Em um fim de semana houve 22 sequestros

No site The Eagle View, descobri o artigo O Triste Fim do Guarujá, que mostra uma série de estatísticas publicadas pela imprensa. É de arrepiar. Em 2013 o Guarujá já atingia a maior taxa de roubos por cem mil habitantes.

Em 2014, acontecia um roubo por hora. Em 2016 o crime continua a ganhar a guerra. Em um fim de semana houve 22 sequestros de pessoas que, “feitas reféns, foram torturadas”.

O autor do artigo explicou o que levou Guarujá a este cenário de guerrilha urbana. Para Antonio Fernando Pinheiro Pedro,

Os três vértices desse triângulo de sumidouros têm identidade:

1- a corrupção histórica inoculada na prefeitura (seja qual for a gestão), que transformou o controle do uso do solo da cidade num leilão de interesses e compadrios;

2- a perseguição sistemática patrocinada pelo Ministério Público contra QUALQUER iniciativa urbanística ou imobiliária de revitalização da cidade, mistura de aparelhamento ideológico e xiitismo ambiental abominável que judicializou empreendimentos, desmoralizou a segurança jurídica e desestimulou qualquer investimento;

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3- a política “criminosa” de segurança pública do estado na região.

imagem da praia de Pitangueiras, Guarujá
O  Atobá  parece não se  ‘encaixar’ na “paisagem que construímos”.

Por trás da especulação estão empresários, milionários, políticos e grandes empresas, atolados na corrupção

Mesmo acompanhando de longe, concordo cem por cento com o veredicto do autor. É o que acontece em 99% das prefeituras dos municípios da zona costeira: a corrupção, pela venda de mudanças na legislação sobre ocupação e uso do solo.

Vejo casos iguais a cada dois ou três novos municípios visitados. Não canso de repetir: na zona costeira, quem manda na ocupação e uso do solo é a especulação imobiliária. A força que existe por trás dela é fenomenal, envolve grandes empresas, milionários, e políticos. Estão destruindo nosso litoral, banalizando praia por praia.

Junto vem a degradação, e com ela, aumento da criminalidade.

A especulação banaliza a paisagem, ocupa áreas protegidas, destrói o patrimônio público

Com a especulação acontece a imediata destruição da paisagem. Permite-se que áreas protegidas sejam ocupadas. Em seguida, a prefeitura, ao invés de embargar a construção, leva ao  local as melhorias como luz, água, e outras.

Com as benfeitorias, o preço do imóvel irregular vai às alturas, remunerando toda a cadeia marginal.

Guarujá não é exceção

Infelizmente, a ex-pérola do Atlântico não é exceção. Em todas as regiões do litoral brasileiro há casos semelhantes. No sul, por exemplo, temos a aberração do Balneário de Camboriú. No Nordeste, entre muitas outras, Pipa, no Rio Grande do Norte. E na região Norte, o exemplo que também não é único, é Salinópolis.

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Falta-nos ética, estamos aqui de passagem

Aproveitar cada momento de nossa viagem pela Terra não implica deixar as duras pegadas, irreversíveis, que produzimos em série. As futuras gerações têm o direito de conhecer a zona costeira como nós a conhecemos. Ainda com sua beleza preservada.

A paisagem é um bem de todos. Não é possível que transformemos nosso litoral num imenso Guarujá.

Fonte: http://www.ambientelegal.com.br;The Eagle View.

Mas é o que está acontecendo.

Comentários

120 COMENTÁRIOS

  1. Tudo dentro da normalidade, não confundam comodismo com conformismo, pois é assim e sempre será.
    Em muitos casos, como esse, o pessimista, como sou em relação ao Brasil, é um otimista bem informado.
    O Brasil só vai deixar de ser uma República Bananeira, quando acabarem com a profissão politico, o fim das reeleições, no Executivo e Legislativo.

  2. Bom dia. Há trinta anos atrás, nadava com cavalos marinhos e brincava com marias-farinha na praia das Pitangueiras. Hoje moro em Ubatuba e vejo que, apesar dos exemplos como Guarujá e o apelo por conservação atual, a destruição continua. Ubatuba cresce assustadoramente sem nenhuma infra-estrutura ou planejamento. Vemos prédios subindo todos os dias, sistema de esgoto que não existe e degradação do ambiente costeiro assustadora por um turismo totalmente descontrolado. Quiosques com fossa negra no meio de vegetação em extinção, atraindo cada vez mais pessoas e trazendo cada vez mais lixo e urbanização para praias que ainda resistiram a tudo isso. Exemplo o caso do Prumirim que constroem quiosques enormes em cima de costões rochosos e lançam efluentes em lagoa com ecossistema super delicado e frágil. Centenas de cadeiras na praia onde, na temporada, mal se pode caminhar. E apesar de nenhuma licença, continuam atuando e o mais assustador: continuam crescendo sem parar. Agora estão aumentando um estacionamento no meio do Jundú (silenciosamente) onde cada dia conseguem acomodar mais carros. Um rio maravilhoso que encontra o mar no canto da praia com agua de uma cachoeira espetacular, hoje com verdadeiras frotas de embarcações que fazem passeio para a ilha do Prumirim impossibilitam o banho no local. Redes boiadas fechando esse e todos os outros rios daqui são comuns. Ainda existe uma ou outra maria-farinha na praia do Prumirim, mas estão acabando. Por favor ajude a divulgar. A prefeitura é extremamente corrupta e permite que a destruição continue na base de propina.

  3. Minha infância durante o verão foi no Guarujá. No alto dos meus 14/15 anos tínhamos uma turma boa. De dia era praia e surf, a tarde rolava um futebol na areia. Depois passávamos na Brunella e à noite, ao velho e bom Postinho. Tudo a pé, sem problema nenhum. Do meio dos anos 80 pra frente, começaram os problemas de segurança. Mesmo assim deu pra frequentar até os anos 90. Depois ficou difícil. Saudades!

  4. O mote é bom, mas poucas vezes me lembro de ver um texto tão mal escrito. Irritei-me a pouco mais da metade. Uma matéria publicada no Estadão, deviam dar uma aula ao menos sobre “vírgula” ao autor. No mais, ainda continua o Guarujá e adjacências um sonho de consumo fe muitos.

  5. Boa noite;tenho apartamento há 45 anos nas Astúrias e nunca fui assaltado;ando descalço,não carrego nada de valor e ainda aproveito maravilhosamente as praias e banhos de mar,seja na praia do Tombo que é a única bandeira azul do Brasil,Guaiúba,Astúrias,etc….Quem anda de celular e correntinhas de ouro valendo fortunas é assaltado em qualquer lugar.A violência não é privilégio do Guarujá,é endêmica no Brasil todo.E,para finalizar,tenho inveja dos velhinhos que jogam bocha todo final de tarde na ponta das Astúrias que,pela sua reportagem devem estar sofrendo muito em morar neste paraíso.Abs

  6. O populismo de que a praia é para todos, a falta de planejamento urbano e pior ainda a invasão de favelas. Não só Vicente de Carvalho mas há várias outras aéreas do Guarujá ocupadas aonde só se chega de barco principalmente do outro lado do canal de Santos.

  7. Eu sou morador de Guarujá fico triste vendo a falta zelo pelo o município . Entra prefeito saia prefeito sempre a mesma história, não deixa nenhuma marca para is seus eleitores.

  8. No fim da decada de 50 e inicio da decada de 60 o Guaruja’ era lindo, havia classe e civilidade. Eram poucos os prédios e automóveis. A praia era um paraíso e as pessoas respeitavam o espaço do outro. Os rapazes e as garotas as vezes se encontravam a noite na sorveteria Monte Carlo para uma paquera saudável e sem malicia na saída do Cine Guaruja’. As garotas usavam vestidos e saias e andavam descalças, sempre sorrindo.

    O ponto de virada ocorreu no inicio da decada de 70 com a construção da Piacaguera, pois o único acesso era via balsa. Os operários que trabalhavam na estada que moravam em Itapema e Vicente de Carvalho começaram a invadir a praia com seus hábitos e comportamento de favelados sem instrucao. Foi o inicio do caos. O resto todos ja’ sabem.

    Guaruja’ hoje e’ comparável a Serra Leoa, sujeira por todo lado, corrupção politica, foco de doenças como a Dengue, crimes de todos os tipos, falta de estrutura municipal e de saude.

    Pena, o sonho da “Perola do Atlantico” acabou.

  9. Mudaram o zoneamento da enseada na calada da noite, permitindo predios de 20 andares numa praia que tinha apenas prédios baixos, me provem que não foi corrupção com vereadores e construtoras

  10. Matéria pessimista que divide a população e não agrega nada. Se você gostou dessa matéria recomendo assistir esse video no Youtube: Pessimista-por Mário Sérgio Cortella.

  11. Bom dia. Boa matéria.
    Cheguei a ler uma reportagem falando ter sido em Cananéia o 1o. povoado no Brasil, e não S.Vicente.
    Vc tem alguma informação sobre isso?
    Obrigado.

    • Oi, George, Cananéia tb é bem antiga e foi fundada na mesmo época e pela mesma pessoa: Martim Afonso de Souza, em 1503, na quarta viagem oficial ao Brasil. Acontece que ele veio descendo a costa brasileira desde o Nordeste. Primeiro fundeou na região de Santos, onde fundou S. Vicente, depois desceu mais e esteve em Cananéia, em seguida continuou descendo até a entrada do rio da Prata. Portanto, mesmo que a diferença tenha sido pequena, S. Vicente veio primeiro.
      abraços

      • Oi, George e JLM,
        Oficialmente São Vicente foi fundada antes, utilizando-se dos ritos legais e a mando da coroa portuguesa, que expediu Carta de Foral para isso. Mas núcleos de portugueses já existiam, tanto em S. Vicente como em Cananéia, onde vivia Cosme Fernandes, o provável e enigmático Bacharel de Cananeia, que veio ao Brasil com Américo Vespúcio (que aportou em 1502 em Cananéia) ou, como afirmam algumas fontes, até antes do Descobrimento.
        O Bacharel de Cananeia juntou-se depois a espanhois e não reconheceu a autoridade portuguesa sobre o litoral sul. Fizeram uma trincheira em Iguape (no local que até hoje é chamado Outeiro do Bacharel) e atacaram São Vicente. O episódio é conhecido como a Guerra do Iguape, ocorrida logo depois da fundação de São Vicente.
        Então, como pequeno núcleo povoado, pode ser que Cananeia seja anterior a São Vicente.
        Mas a primeira vila oficial e as primeiras eleições na América (em 22/8/1532) ocorreram sem dúvida no litoral da recém-fundada São Vicente.

  12. João acompanho o seu trabalho há muitos anos. A cidade de Itanhaém está sendo destruída pela ganância da especulação imobiliária. Estão promovendo um paredão de edifícios na sua orla que até poucos anos estava proibida. Um verdadeiro desrespeito com as belezas naturais.Obrigado

    • Pois é, Antônio, eu sei que Guarujá não é exceção. Nossa capacidade destrutiva não tem limites. Infelizmente, onde ser humano coloca seus pesinhos, da merd…
      Vou procurar fazer matérias tb sobre Itanhaém. Abraços e volte sempre!

      • Frequentei muito Itanhaém na década de 60, onde andávamos de “tamancos” e à noite com lanternas logo que o gerador desligava o fornecimento de energia. Uma linda aldeia de pescadores. Recentemente depois de décadas, passei por lá a caminho de Curitiba pelo litoral e resolvi entrar para dar uma olhada na antiga casa de minha família. Fui à Praianha, Praia dos Sonhos e Cibratel. Chorei. Destruíram tudo. Belo artigo sobre o Guarujá, ou o que sobrou dele. Parabéns.

    • Gente como você, que generaliza toda a população da região, é aquela que merece ser furtada mesmo. Não e possível que não tenha nenhum senso de política e consciência social. Favelado e porco e teu interior!

    • Claro, a culpa pelo Guarujá estar desse jeito é dos “porcos favelados”, não dos ricos gananciosos e inescrupulosos que corrempem tudo a troco de dinheiro, destruindo nosso patrimônio ambiental e cultural.

    • Todas essas críticas têm um objetivo, do qual não sabemos nem um pouco.
      A mídia, de uma maneira geral é manipulada por grandes organizações, cujos controladores têm interesse em valorizar, neste caso, a praia para onde foram quando deixaram o Guarujá. Sabemos que se mudaram para praias sem nenhum encanto extra, se comparadas com qualquer uma do Guarujá, sem o glamour de estar na Pérola do Atlântico. Quem tem mais a perder é quem foi embora. E, ” foi embora ” (entre aspas), porque sempre param suas lanchas aqui em nossas praias, ou vêem para os nossos restaurantes em seus carrões. Uma pseudo partida, pois para onde foram, não podem ostentar como aqui, o que possuem de bens materiais. Asta la vista, babies. See you all here in Guarujá.

  13. Frenquentei a Enseada no início dos anos setenta. Lembro que meu avô sempre verificava a tábua das marés publicada no Estadao para saber quando conseguiríamos chegar até a casinha, de frente para o mar. Que saudades!

  14. Olá! Bela matéria. De repente me dei conta de que passei boa parte da minha infância e da minha adolescência, nas décadas de 50 e 60, entre a prancheta do meu pai e outros construtores e incontáveis canteiros de obras à beira-mar no litoral paulista, em Santos e no Guarujá, principalmente. Para mim não existia nada mais incrível e fascinante do que ver e acompanhar um rabisco a lápis numa folha de papel vegetal se transformar num moderno e maravilhoso prédio gigantesco, cheio de vida de frente para o mar. Presenciei infindáveis bate-bocas a respeito de arquitetura e urbanismo, que invariavelmente terminavam em porres homéricos e discussões sobre cinema-novo e cinema francês.
    Santos sempre foi a essência do cinza. O céu era cinzento, o mar era cinzento, a areia era cinzenta e a cidade fedida, úmida e abafada. Todo fim-de-semana chovia, invariavelmente. Já o Guarujá não. A luminosidade das praias de Pitangueiras e Enseada era alucinante, a areia era branca, o céu azul brilhante, o mar verde esmeralda. E a brisa que soprava do mar, ou melhor do oceano, era puríssima, refrescante, perfumada. Para mim, o edifício Sobre as Ondas era sinônimo de obra de arte e eu me tornei adulto quando passei, junto com uma molecada, de Pitangueiras para Astúrias pelo mar, na maré baixa, é claro, mas foi uma bela proeza pra todo mundo…
    Outro dia comentei com um amigo que havia passado uma manhã inteira visitando o prédio da FAU na USP. A reação dele foi: ‘A FAU está necrosando e as cidades brasileiras parecem furúnculos”. Eu respondi: “acho que estamos ficando velhos”.
    Naveguei no canal da Bertioga pela barca da Santense e passei o meu verão Endless Summer de 1969 na praia de Yporanga. Foram aventuras realmente extraordinárias. E por aí a fora. Mas há dois anos não desço a Serra. Da última vez o mar do Canal 2 estava tão emporcalhado que eu quase jurei que não voltaria.
    E na verdade, não sei se volto. Tá difícil superar.

    • Sou engenheiro também tive essa mesma sensação no década de 70 e 80 , era incrível a sensação de prazer ver aquela coisa que você imaginou e rabiscou naquela enorme prancheta verde se transformar em realidade bons tempos

    • Muito bom todo o artigo do João e também, em especial, esse trecho do comentário acima que contrasta as 2 cidades litorâneas, tão próximas e tão diferentes:

      “Santos sempre foi a essência do cinza. O céu era cinzento, o mar era cinzento, a areia era cinzenta e a cidade fedida, úmida e abafada. Todo fim-de-semana chovia, invariavelmente. Já o Guarujá não. A luminosidade das praias de Pitangueiras e Enseada era alucinante, a areia era branca, o céu azul brilhante, o mar verde esmeralda. E a brisa que soprava do mar, ou melhor do oceano, era puríssima, refrescante, perfumada. ”

      Todo o litoral sul possui areia fina e barrenta e no Guarujá temos o 1o surgimento, rumo norte, de uma geologia diferente mais favorável a praias mais claras..Em dias bem claros algumas praias ( ex: Eden) parecem ter sido tiradas da baía de Paraty ou Angra, mais ao norte, tão verdes que reluzem…Fica mesmo difícil acreditar que estamos a cerca de apenas 75 km da capital em linha reta..Mas pena, e que triste, que a ilha de Santo Amaro, um lugar que era pra ser riquíssimo, preservado e bastante pacífico esteja hoje entregue às mais variadas degradações físicas e sociais..

  15. Caro João Lara Mesquita! Na verdade a primeira vila do Brasil não foi São Vicente, mas sim uma vila, encontrada em ruínas, por Martim Afonso de Sousa e descrita por Frei Vicente do Salvador, o historiador do século XVI, que nos contou sobre a fundação de São Vicente. Esta era a vila de Santo Amaro que ficava na praia da Enseada. Beauchamp, também historiador, escreve no século XIX, que a vila foi fundada em 1515, mas que sua ocupação era bem anterior a essa data. Frei Gaspar Madre de Deus, cronista do século XVIII, nos fala de como sua ermida, dedicada a Santa Amaro, foi restaurada por José Adorno. Afrânio Peixoto, nos fornece um mapa da sua localização e Varnhagen, considerado o maior historiador brasileiro, nos descreve sua localização com a mais absoluta precisão.
    O conhecimento desse fato poderia trazer, ao Guaruja, um turismo de qualidade, na medida que, a fundação da Vila de Santo Amaro faz parte de uma das mais emocionantes aventuras da saga humana sobre esse planeta. Ocorre que esse personagem , “Santo Amaro” não existe entre os santos católicos. Por séculos acreditamos que essa era uma maneira viciada de nos referirmos a São Mauro, um santo inexpressivo do séc.VII, contudo foi descoberto um texto , no Mosteiro de Alcobaça, em Portugal, do século XIII, assinado por São Bernardo, fundador da ordem dos Cavaleiros Templários. que hoje faz parte do acervo da Biblioteca Nacional de Lisboa, que nos conta a viagem de um personagem chamado Santo Amaro em busca do paraíso na terra. Esse texto, enigmático como todos os textos templários, parece revelar o destino do “Santo Gral”, já que o “Santo Amargo” (tradução de Amaro , do Francês para o Português), foi o suplício de Cristo. Sintetizando tudo: Santo Amaro , em sua viagem, descobre o Jardim do Éden, depois constrói uma ermida e nela é enterrado. A região, onde hoje fica São Paulo, foi colonizada por uma ordem de cavaleiros portugueses, chamada “Ordem de Cristo” criada para absorver os últimos cavaleiros templários. Martim Afonso , nos trouxe 400 membros dessa ordem e por onde eles acreditaram que Santo Amaro passou, eles deram o seu nome: Vila de Santo Amaro, ilha, capitania ..
    Curso pós graduação em arqueologia e se desejar posso lhe mandar toda essa documentação e lhe contar mais sobre essa história.

    • Fascinante, Cassio, eu não sabia.Mais um motivo para sentirmos o que aconteceu com o Guarujá. Vc tem razão. Se ensinassem nas escolas talvez teríamos um pouco mais de compaixão pela ilha de Santo Amaro e suas lindas praias que destruímos sem dó. Ignorantes que somos. Muito obrigado por seus esclarecimentos. Vai tornar este post ainda mais interessante. Grande abraço e volte sempre!

  16. Olá João ,excelente e triste matéria.Tenho 58 anos e frequento o Guarujá desde nasci.Primeiramente a praia do Tombo, depois Pitangueiras,depois Astúrias e finalmente Pernambuco até Dezembro de 2016 quando vendi meu imóvel por valor bem abaixo do ditado pelo mercado imobiliário. Sinto muita tristeza a transformação que houve no Guarujá,principalmente a falta de segurança . Guarujá,o litoral mais próximo da capital teria tudo para ser o melhor refugio do stress da vida corrida da capital.Caminhar pela orla de qualquer praia do Guarujá significa correr risco de vida se voce não estiver precavida com dinheiro,relógio e celular à entregar .O medo tomou conta !! Triste fim!
    Abraços de sua colega de ” Ofélia Fonseca ” e vizinha de Rua Angatuba,
    TANIA VERONESI

    • Pois é Tânia, eu também frequentei o Guarujá desde os anos 60. Era uma beleza. Hoje é um horror. Impressionante nossa capacidade destrutiva. E assim está sendo em todo litoral do Brasil. Nossos netos vão encontrar um osso roído. É lamentável. Obrigado por sua mensagem. Volte sempre!

      • Todas essas críticas têm um objetivo, do qual não sabemos nem um pouco.
        A mídia, de uma maneira geral é manipulada por grandes organizações, cujos controladores têm interesse em valorizar, neste caso, a praia para onde foram quando deixaram o Guarujá. Sabemos que se mudaram para praias sem nenhum encanto extra, se comparadas com qualquer uma do Guarujá, sem o glamour de estar na Pérola do Atlântico. Quem tem mais a perder é quem foi embora. E, ” foi embora ” (entre aspas), porque sempre param suas lanchas aqui em nossas praias, ou vêem para os nossos restaurantes em seus carrões. Uma pseudo partida, pois para onde foram, não podem ostentar como aqui, o que possuem de bens materiais. Asta la vista, babies. See you all here in Guarujá.

  17. Parabéns !
    E diante do texto publicado…
    Mais não digo….
    Falou tudo e mais um pouco…
    A familia Mesquita sempre marcando presença quanto o assunto refere-se a comunidade !

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