Chegada do verão, praias e…mais lixo?

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Chegada do verão, praias e…mais lixo?

O verão lota as praias brasileiras, consequentemente, aumenta o problema do lixo no litoral. Em 2023, a situação parece que será igual, faltam campanhas de conscientização e mais normas públicas que proíbam ou restrinjam cigarros em praias. A Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais – em 2020, durante a segunda fase do projeto Lixo Fora D’água, mostrou que a cada 8 km nas praias, encontram-se mais de 200 mil bitucas de cigarro, 15 mil lacres e tampas, 150 mil fragmentos de plástico, 7 mil palitos de sorvete e churrasco, e 19 mil hastes plásticas. Surpreendente, não é? Mas esse problema não é só do Brasil. Em 2019, a Ocean Conservancy apontou que as bitucas de cigarro são o lixo mais comum nas limpezas de praias mundiais.

Bitucas de cigarros
Imagem, /www.bigblueoceancleanup.org.

Bitucas de cigarro em praias, primazia perdida em 2019

Até 2019, as praias do mundo tinham mais bitucas de cigarro do que qualquer outro lixo. Mas um estudo recente mostrou uma mudança: pela primeira vez, invólucros de alimentos ultrapassaram as bitucas como o principal tipo de lixo em praias e vias navegáveis ao redor do mundo.

Ainda assim, a Limpeza Costeira Internacional da Ocean Conservancy, em 2021, coletou mais de 78.000 bitucas de cigarro só na Flórida, e mais de 1,2 milhão globalmente. A Ocean Conservancy alerta sobre um equívoco comum: muitos pensam que as bitucas se decompõem sem causar danos. Engano. Os filtros de cigarro são feitos de plástico e absorvem produtos químicos tóxicos do tabaco. Quando abandonados no ambiente, sol, chuva e vento os transformam em microplásticos, liberando substâncias tóxicas nas praias e cursos d’água.

A ONG destaca que os químicos tóxicos das bitucas, incluindo nicotina, metais pesados e agentes cancerígenos, contaminam solo, plantas e água. Além disso, os microplásticos resultantes são consumidos pela vida selvagem, bloqueando sistemas digestivos e causando desnutrição ou fome.

Neste cenário, o Brasil e os Estados Unidos compartilham desafios similares de falta de educação e egoísmo em relação ao descarte de lixo. A solução exige ação global, mas medidas locais podem ajudar.

Em 2022, o governador da Flórida, Ron DeSantis, sancionou uma lei permitindo que governos locais proíbam fumar em praias públicas e parques. Em Miami Beach, o vice-prefeito Alex Fernandez propôs uma proibição semelhante nas praias e parques da cidade. Essas iniciativas representam passos importantes para mitigar o problema do lixo em áreas costeiras.

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Meta: retirar um milhão de bitucas só das praias cariocas

O movimento ambiental Revolução das Bitucas no Rio de Janeiro planeja retirar um milhão de bitucas das praias cariocas em 2024. O Globo relata que o advogado Bernardo Egas idealizou o projeto, que já coletou 25 mil bitucas em um mês nas praias do Rio. Para alcançar a meta no próximo ano, precisarão coletar mais de três vezes essa quantidade.

Mais de 4 trilhões de guimbas descartadas indevidamente no mundo

Se um milhão de bitucas parece muito, considere isto: um estudo da Canadian  Science Publishing revelou que bitucas de cigarro, feitas de acetato de celulose, contribuem significativamente para os resíduos antropogênicos. Anualmente, mais de 4 trilhões de bitucas são descartadas indevidamente em ambientes naturais e urbanos, contaminando muitos ecossistemas.

O consumo de cigarros segue alto. Segundo a National Geographic,  os fumantes de todo o mundo compram cerca de 6,5 trilhões de cigarros por ano. São 18 bilhões todos os dias.

O The Revelator mostrou que além de campanhas de conscientização, a campanha da Surfrider também ajudou as cidades a instalar centenas de novos recipientes em áreas de grande volume, como bares exteriores ou perto de passeios na praia, para facilitar a eliminação segura das bitucas.

Algumas cidades da Califórnia tentaram uma tática diferente: proibir o fumo em praias e parques. Assembly Bill 1718, apresentado na Assembleia da Califórnia e agora no Senado do estado, tornaria isso uma lei estadual.

Entretanto, nada disso é suficiente diante das absurdas quantidades. Por isso, alguns estados norte-americanos, entre os quais a Califórnia, tentam agora incluir as empresas de tabaco na responsabilidade: Agora os legisladores estão tentando uma abordagem – a responsabilidade do produtor. A nova legislação em vários estados, incluindo um projeto de lei na Califórnia para proibir produtos com filtros descartáveis, poderá forçar os fabricantes de cigarros a assumirem a responsabilidade pelos impactos ambientais dos seus produtos.

O Diário do Rio conta outra estratégia, da ONG “Surfers Against Sewage” (Surfistas contra o Esgoto). Ela lançou a campanha “Return to Offender” (Devolva ao Ofensor). Assim, coletaram bitucas de cigarro nas praias e as enviaram de volta às empresas de tabaco responsáveis. Criando grande repercussão sobre o problema, conseguiram pressionar a indústria a considerar alternativas mais ecológicas para seus produtos.

França cobra das empresas de tabaco

A iniciativa da França em cobrar das empresas de tabaco uma taxa para contribuir com a limpeza do meio ambiente é uma abordagem inovadora e eficaz na gestão de resíduos. Ao impor uma taxa de 80 milhões de euros por ano aos fabricantes de tabaco, o país demonstra seu compromisso em lidar com os 23 bilhões de bitucas de cigarro descartadas anualmente, um problema ambiental significativo.

A ideia de rotular cigarros como resíduos perigosos, conforme sugerido pelo Big Blue Ocean Cleanup, é outra estratégia promissora. Essa classificação colocaria a responsabilidade da eliminação desses resíduos nas mãos dos produtores, uma abordagem já adotada para outros materiais perigosos como pilhas, produtos eletrônicos e tintas.

Essas medidas não só ajudam a mitigar o impacto ambiental das bitucas de cigarro, mas também incentivam as empresas a adotarem práticas mais sustentáveis. A proposta de direcionar os fundos arrecadados para ONGs ambientais, como a Revolução das Bitucas, poderia ampliar ainda mais os esforços de limpeza e conscientização ambiental.

O exemplo da França e as sugestões do Big Blue Ocean Cleanup oferecem modelos valiosos que poderiam ser considerados pelo Brasil, especialmente considerando a necessidade frequente de limpezas costeiras. Adotar uma destas estratégias não apenas ajudaria na limpeza ambiental, mas também serviria como um incentivo financeiro para que as empresas de tabaco busquem alternativas mais sustentáveis.

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