Caranguejos-ferradura: base de fármacos em risco

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Caranguejos-ferradura: base de fármacos em risco

Caranguejos-ferradura parecem criaturas de outro planeta: têm 10 olhos e, sob suas conchas em forma de ferradura, 10 pernas, 14 garras e uma longa cauda semelhante a uma espada. Além disso, pelo menos externamente esses fósseis vivos não mudaram  em quase 450 milhões de anos. Sobreviveram às cinco grandes extinções em massa Atualmente, enfrentam ameaças da indústria farmacêutica, pesca, perda de habitat, e mudanças climáticas na costa leste dos EUA. O Mar Sem Fim já destacou sua importância para os seres humanos. Seu sangue, contém um produto químico especial, lisado de amebócitos do Lumulus (LAL), que retém as bactérias por meio da coagulação. O produto é  crucial para esterilizar  qualquer tipo vacina, stent cardíaco, dispositivos médicos, próteses e itens como agulhas e soro fisiológico.

Caranguejos ferradura
Domínio público.

Saiba mais sobre este importante animal marinho

O número aproximado de caranguejos-ferradura coletados a cada ano para retirada de sangue alcança cerca de 500.000. Enquanto isso, o número estimado dos que morrem no processo chega até 50.000, ou seja, ao menos 10% não sobrevive.

O sangue do caranguejo-ferradura está entre os líquidos mais valiosos da indústria farmacêutica. Um litro pode custar cerca de 15 mil dólares. O sangue é azul porque contém uma substância que coagula ao detectar bactérias. Os cientistas coletam cerca de 30% do volume se sangue da cada indivíduo e, depois, devolvem o animal ao ambiente natural.

Em geral, eles podem colocar de uma só vez até 90 mil ovos. Contudo, apenas dez vão sobreviver. Por último, existem quatro espécies de caranguejos-ferradura encontradas, especialmente, nos oceanos da Ásia e das Américas.

O sangue azul

Durante décadas, a indústria biomédica confiou em um composto presente no sangue do caranguejo-ferradura para proteger equipamentos médicos da contaminação, salvando inúmeras vidas humanas

O aumento no uso de vacinas durante a pandemia de coronavírus, bem como a crescente popularidade da perda de peso injetável e medicamentos para diabetes, alimentou ainda mais a colheita de sangue deste caranguejo.

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Quase todas as empresas farmacêuticas  usam o sangue do animal para esterilizar  vacinas, medicamentos, dispositivos e instrumentos médicos, além de próteses e produtos básicos como agulhas e soro fisiológico.

Os fármacos marinhos são apenas um exemplo dos muitos serviços ecossistêmicos que os oceanos e a vida marinha nos oferecem.

Caranguejos ferradura entranhas.
As entranhas do caranguejo ferradura. Imagem, Domínio Público.

Em 2016, o animal entrou como ‘vulnerável’ na lista da União Internacional para a Conservação da Natureza.

Produto sintético pode amenizar

Segundo matéria do Washington Post, agora, finalmente, os caranguejos têm uma chance de terem um alívio. Um grupo-chave que estabelece padrões para as farmacêuticas dos EUA reconheceu oficialmente uma alternativa feita pelo homem como segura e eficaz, abrindo o caminho para as empresas farmacêuticas adotarem amplamente alternativas e se afastarem do sangue de caranguejo.

Mas apenas um punhado de fabricantes de medicamentos começou a adotá-lo. Larry Niles, biólogo da vida selvagem e co-fundador da Horseshoe Crab Recovery Coalition, disse que “estamos tentando incentivar as empresas farmacêuticas a mudar para o sintético”, disse Niles, “não apenas para ajudar os caranguejos-ferradura, mas também para o seu próprio bem”.

Grupos ambientalistas pediram ao governo dos Estados Unidos a proteção

Segundo a Reuters, em fevereiro de 2024, ‘grupos ambientalistas pediram ao governo dos Estados Unidos a proteção contra espécies ameaçadas de extinção como o caranguejo ferradura norte-americano’.

‘As populações de caranguejos ferradura caíram nas últimas décadas, com números de desova diminuindo dois terços em relação a 1990 no estuário da Baía de Delaware, que já foi seu maior reduto. A pesquisa também mostra que suas densidades de ovos caíram mais de 80% nas últimas quatro décadas’.

Will Harlan, cientista sênior do Centro de Diversidade Biológica, um dos 23 grupos que solicitaram à Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) a declaração de espécies ameaçadas de extinção, disse para a Reuters: “Estamos eliminando uma das criaturas mais antigas e mais resistentes do mundo.”

A Reuters revelou que a listagem proposta visaria tornar ilegal ferir ou matar caranguejos-ferradura sem autorização específica. A petição também solicita a designação de “habitat crítico” para proteção, especialmente na época de desova.

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Harlan aponta que estudos independentes indicam uma taxa de mortalidade de cerca de 30% entre os caranguejos coletados para extração de sangue. Ele menciona que, embora alternativas sintéticas sejam comuns na Europa, empresas americanas têm sido lentas em adotá-las.

A petição também relata mortes em massa nos últimos três anos. Em 2023 a NOAA classificou a vulnerabilidade do caranguejo-ferradura às mudanças climáticas como “muito alta”.

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