Baixo São Francisco ameaçado pela criação de camarões

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Baixo São Francisco ameaçado pela criação de camarões

O rio São Francisco é um dos mais importantes do País. Ele nasce em Minas Gerais e, em seus 2.814 quilômetros de extensão, atravessa cinco Estados e 521 municípios até desaguar no mar, servindo como divisa entre Alagoas e Sergipe. Mas, simultaneamente, é um dos mais maltratados. Há uma coleção de problemas difíceis de se encontrar em outros rios de mesmo porte. Agora, o mais novo acontece sobretudo no Baixo São Francisco, a porção que começa em Paulo Afonso até a foz no Atlântico. A criação de camarões que está decepando o manguezal da região.

Pontal do Peba, região do Baixo São Francisco
Pontal do Peba, região do Baixo São Francisco. Acervo MSF.

Alguns problemas do rio São Francisco

Talvez o maior problema do São Francisco seja a alteração humana provocada pela instalação  de cinco hidrelétricas. A tão decantada ‘matriz energética limpa’ do País não é tão limpa assim se considerarmos os estragos ambientais provocados na vazão dos rios alterados, seja na Amazônia, seja nas outras regiões.

Há muito a vazão do São Francisco deixou de ser o que era, em função das cinco barragens das hidrelétricas. E, além disso, o corte da mata ciliar que perdeu o lugar para diversos tipo de culturas ao longo de seu curso. Isto alterou sobretudo o Baixo São Francisco.

A erosão tomou conta da foz do rio, uma das regiões mais lindas da costa brasileira. A foz, que permitia a entrada de navios, está semifechada. Apenas barcos pequenos conseguem atravessá-la. Além disso, algumas cidades foram literalmente tragadas pelo mar, caso da Vila do Cabeço, por exemplo.

Contudo, não é só. A infestação de espécies invasivas aumenta dia a dia. De tucunarés, ao bagre-africano, passando pela carpa e, recentemente, o mexilhão dourado.

A salinização de águas do Baixo São Francisco

Com a perda de potência da vazão, em razão de cinco barragens, a água do mar passou a penetrar para o interior destruindo a vida aquática. Do mesmo modo, abateu a economia ao impossibilitar culturas de suas margens, caso dos arrozais. Finalmente, alterou a vegetação das margens acirrando ainda mais a erosão.

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Agora, não há mais pesca. As espécies nativas não suportaram a salinidade. Também não há mais a cultura do arroz, impedida pela água salobra. Assim, restou aos habitantes a famigerada carcinicultura.

Como se sabe, no Nordeste a carcinicultura destrói manguezais, um dos mais importantes berçários de vida marinha. Os mangues ainda atuam protegendo a região da erosão.  Agora, são eles as vítimas da economia debilitada do Baixo São Francisco.

Sergipe é o terceiro maior produtor de camarão, além de nono maior produtor de ostras, vieiras e mexilhões, segundo a última edição da Pesquisa da Pecuária Municipal, 2018, IBGE.

A criação de camarões no Baixo São Francisco

Além de extirpar manguezais, áreas de preservação permanente, a criação é atividade altamente poluente em razão dos produtos químicos necessários para evitar pragas, entre outros. Simultaneamente, provoca conflitos sociais, já que as pessoas que vivem do mangue, como catadores de caranguejos, marisqueiros, e outros, perdem seu sustento.

Aparentemente é o que acontece no Baixo São Francisco. Matéria do site f5news dá conta que ‘A Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema) detectou a instalação de cinco viveiros de camarões no manguezal às margens do rio, nos municípios sergipanos de Brejo Grande e Pacatuba’.

E, demonstrando como a atividade está tomando a região, diz o f5news:  ‘Em resposta ao problema, o Ministério Público Federal em Sergipe (MPF), através da Procuradoria da República em Propriá, ingressou com sete ações civis públicas contra proprietários de viveiros na região do Baixo São Francisco’.

Quilombolas reagem à carcinicultura

Recentemente, em maio de 2022, a derrubada de mangue gerou conflitos entre os quilombolas do Brejo dos Negros. Segundo o InfoSãoFrancisco ‘A região da foz do São Francisco vem sendo impactada há vários anos pela crescente ocupação dos manguezais dos municípios de Brejo Grande e Pacatuba especialmente pela carcinicultura’.

mapa de conflictos sociais no Baixo São Francisco
Ilustração, infoSãoFrancisco.

Assim, tendo que assistir à destruição do mangue de onde tiram sustento não há como evitar conflitos sociais, mais um dos aspectos da carcinicultura. O InfoSãoFrancisco insistiu na denúncia até que a ADEMA constatou a prática ambiental irregular.

O portal tratamentodeágua.com.br na matéria Foz do Rio São Francisco está em estado crítico de 2017, alertava, ‘o manguezal e a mata atlântica que protegem as margens são devastados. O leito do rio chega a ser usado como viveiro de criação de camarões’.

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50 viveiros irregulares na foz do São Francisco

Por último, o Jornal Nacional de 8 de agosto denunciou a descoberta de 50 novos viveiros irregulares. Ou seja, em áreas de mangue no Baixo São Francisco  por uma força tarefa do Ibama.

Viveiro ilegal de camarões no Baixo São Francisco.
Imagem, g1.

Contudo, a carcinicultura não é a única ameaça recente. Ao mesmo tempo em que ela ataca as entranhas do baixo São Francisco, ao largo da foz do rio a Exxon Mobil se prepara para começar a extrair petróleo no que é conhecido como Projeto Seal. O projeto visa até mesmo 11 poços de petróleo.

Em suma, prosseguimos em nossa obra de matar de vez o Velho Chico.

Para saber mais, assista ao vídeo

Comunidade quilombola reage à carcinicultura em manguezal

Naufrágio mais profundo do mundo é encontrado

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