Ameaças ao litoral da região metropolitana do Recife

15
6223
views

Ameaças ao litoral da região metropolitana do Recife

A região metropolitana do Recife tem uma população de 3,69 milhões de pessoas (IBGE, CENSO 2010)  que inclui quatorze municípios. Porém, devido à sua peculiar geografia com baixa topografia, aliada ao crescimento desordenado e alta demografia, é uma das cidades costeiras mais ameaçadas pela subida do nível do mar. Em primeiro lugar, o IPCC de agosto de 2021 considera que a Veneza Brasileira ocupa o 16º lugar entre as cidades mais ameaçadas do mundo. Já um estudo do Climate Central mostra que  Recife está entre os seis locais brasileiros mais ameaçados pelo fenômeno. Por todos estes motivos, em especial a má ocupação do solo próximo ao mar, mostramos recentemente que a orla de Recife aos poucos se dissolve. Apesar disto, o que sobra de mata nativa próxima à costa é desmatada sem dó.

Maria Farinha, Paulista, região metropolitana do Recife
Maria Farinha, Paulista, PE. Imagem, You Tube.

Absurdos patrocinados pela prefeitura em Maria Farinha, Paulista, PE

Maria Farinha é um dos bairros do município de Paulista que faz parte da região metropolitana do Recife. Recentemente, mostramos os disparates que acontecem no local há muitos anos mas, agora, são patrocinados sobretudo pelo prefeito, Yves Ribeiro (MDB).

O post Muro na praia Maria Farinha, PE, vai parar na Justiça provocou sensação. Afinal, mostramos alguns dos absurdos fomentados pelo prefeito entre eles, por exemplo, a construção de um muro em cima da praia para tentar conter a erosão, assim como o fechamento da entrada da praia de Paulista por um hotel… de propriedade do vice-prefeito.

Além disso, explodem  os licenciamentos de obras claramente especulativas. Definitivamente, elas não trazem nenhum benefício aos habitantes mas, unicamente, aos seus donos. Agora, o que restou de mata nativa em Maria Farinha está na mira da prefeitura.

Mata da Poty, em Maria Farinha

Como é sabido em toda a parte, uma das poucas coisas que segura a erosão é, principalmente, a mata nativa próxima à orla. E em Maria Farinha há um resto dela conhecido como Mata da Poty, que pertence ao Grupo Votorantim.

Mata da Poty, em Paulista, PE

PUBLICIDADE

O Nome ‘Poty’ pega carona no nome da fábrica de cimento da empresa.

Importante remanescente de mata atlântica

Acima de tudo, a mata da Votorantim ocupa uma área com mais de 2 mil hectares. Da mesma forma, ‘é um importante remanescente de mata atlântica, cuja posição geográfica entre o leito do Rio Timbó, e o oceano atlântico, oferece diferentes cenários geológicos de suma importância para manutenção dos biomas locais’, assim a descreveu o ambientalista Fernando Macedo.

Coqueiros centenários da orla começaram a ser derrubados

Macedo, que edita o Salve Maria Farinha, diz que a área corre grande risco. Coqueiros centenários da orla começaram a ser derrubados em 2012 de forma bem discreta. “Eles chegavam, derrubavam os coqueiros, e já faziam a limpa na área. Não deixavam absolutamente nada.”

Grupo Votorantim e novo empreendimento em Paulista, PE

Agora sabe-se o motivo destes cortes, antes discretos. Segundo o Diário de Pernambuco de abril de 2022,  o Grupo Votorantim anunciou um grande empreendimento em Paulista. Trata-se de um novo complexo que vai reunir ambiente comercial, residencial, cultural e gastronômico em mais de 400 mil m² de construção.

Como resultado deste empreendimento, a mata nativa leia-se a ‘protegida’ mata atlântica, vai para o saco. É incrível a desfaçatez do prefeito que justifica: “A Prefeitura de Paulista não tem medido esforços para fazer com que Maria Farinha se torne um canteiro de obras. Vamos impulsionar a região e valorizar o Litoral Norte.”

O mesmo jornal publicou recentemente que, pelo mesmo motivo, construções açodadas próximas à orla, ‘dos 220 quilômetros quadrados de território do Recife, 5,34 são de área de mangue. Isto é, apenas 2,4% da superfície do centro urbano.’

Do mesmo modo, o que sobrou de mata nativa em Paulista deve em breve tornar-se um novo…

Bairro residencial de classe A e B para mais de 100 mil pessoas

É o que diz Fernando Macedo. Entre os 2 mil hectares de mata nativa há uma variedade de ecossistemas como manguezais que segundo Fernando ‘já sofrem ameaças de destruição por parte de grandes empreendimentos instalados nas proximidades.’

Mata da Poty, Paulista, PE
Mata da Poty cederá lugar a um novo bairro. Imagem, Fernando Macedo.

Além dos mangues há salgados, onde habitam crustáceos como o guaiamum, e o ‘chama maré (Uca sp); floresta ombrófila aberta (vegetação de transição entre a Floresta Amazônica e as áreas extra-amazônicas); campos abertos; e alagados em geral.

PUBLICIDADE

Ou seja, como demonstra a variedade de ambientes, trata-se de uma área de grande biodiversidade vegetal e animal, sem falar na proteção das águas do rio Timbó, uma das grandes virtudes da Mata Atlântica.

Mas, infelizmente, para os ignorantes de plantão que nos desgovernam, a biodiversidade, nosso maior ativo, não é importante. O que de fato importa ‘é fazer com que Maria Farinha se torne um canteiro de obras’.

Sob o mesmo ponto de vista, atrasado e ignorante, os problemas que este novo adensamento para cidades que já não contam com a infraestrutura necessária como saneamento básico, coleta e tratamento de lixo, qualidade da água, por exemplo, podem esperar.

Por último, o problema da falta absoluta de infraestrutura fica, definitivamente, adiada para o futuro. Assim têm sido tratados os ativos ambientais do Brasil.

Em outras palavras, os próximos gestores que cuidem deles enquanto seguimos céleres para transformar nosso litoral numa Cancún qualquer.

Situação da Pesca e Aquicultura Mundial, relatório da FAO

Comentários

15 COMENTÁRIOS

  1. A comunidade do local e a sociedade em geral têm de reagir a mais essa ação predatória com a mesma intensidade adotada pela turma de políticos e “empreendedores” que encabeçam a obra. Os prejuízos à região serão definitivos e devastadores.

  2. Contra a ação predatória e inescrupulosa de políticos e empreendedores, só a reação na mesma medida por parte da sociedade.

  3. Pernambucanos, não se limitem a lamentar a situação. Deem ampla divulgação à notícia, tanto na região, espalhando banners gigantes na cidade, promovendo reuniões, saindo às ruas, quanto pela web. É preciso reagir com a mesma intensidade adotada pelos ditos “empreendedores”. Os danos para a região são infinitamente mais danosos que os pretensos benefícios quiçá apregoados.

  4. Um grande vício do país é ter políticos voltado para os seus projetos próprios, não observando a vontade coletiva. Sem nenhum projeto para a população, todos aqueles que são gestores não tem compromisso, com a preservação, somente com seus ganhos, uma maneira de frear essas ações é a população entrar na justiça e cobrar dos envolvidos.

  5. Passei parte da minha infância, nessa área. Dos mangues às praias da região, tudo era festa. Era uma diversão explorar a área, com alguns adultos, com limitação de lazer. Muitos filhos, muitos irmãos, a festa era garantida. Boas lembranças!

  6. É vergonhoso ver o que se faz em relação ao meio ambiente na cidade de Paulista/PE. Em Maria Farinha por exemplo, o coqueiral é tombado pela lei orgânica municipal…. parece que a ordem agora é tombar todos no sentido contrário de preserva-los . Até a década de 90 Maria Farinha tinha o título de “chaming place” dado pelo Mastercard devido a beleza plástica e conservacionosta do lugar…

  7. Meu comentário não tem a ver com o litoral norte de Recife. Mas com o sul. do Porto de Suape. Porto de Galinhas até Alagoas (Maragogi). Estive lá no mes passado e fiquei impressionado de ver como as praias estão fechadas. Em nenhum lugar voce consegue simplesmente estacionar o carro e caminhar até a praia. É preciso pagar para alguém. Um restaurante, uma barraca, uma pousada, ou um dos bugueiros que entram em todas, deixam seus passageiros e enquanto os aguardam interditam os raros acessos.

  8. Enquanto as populações deveriam ser afastadas de áreas e matas costeiras, cada vez mais acontece ao contrário na costa brasileira. O extermínio destas faixas de defesa do litoral e dos rios que permeiam estas áreas é absolutamente trágico. Até do ponto de vista econômico. Já que se perde um capital turístico imenso com a destruição da beleza natural, da qualidade da água, etc. Áreas de inestimável importância ecológica estão sendo destruídas numa velocidade incrível com a total cumpli$$idade do poder público.

    Sou do Sul e a destruição que se observa no, antes lindo, litoral catarinense, por exemplo, é colossal. E a Mata Atlântica na região também técnicamente “já acabou”. Como pode se observar na Serra do Mar paranaense.

  9. Acredito que esse é um fato que está ocorrendo em todo munícipio, eu não sei que plano diretor é esse que não respeita áreas verdes em espaço urbano. Cadê o plantio e replantio de árvores para arborização da cidade? O Janga quando eu vi morar há mais de 22 anos tinha um clima mais ameno por exemplo. Não sou contra o progresso, sou contra a irresponsabilidade e a inconsequência. O governo municípal poderia promover ecoparques e assim garanti renda e preservação. Além disso, cadê os parques, jardins, praças e ciclofaixas?

  10. Yves, pelo jeito esta jogando no lixo todo seu passado de líder histórico associado a luta dos pescadores contra a poluição e degradação ambiental
    É chocante ler esse texto, lembro do início de sua carreira política em Itapissuma suas lutas ligadas ao meio ambiente , seus feitos divulgados e reconhecidos internacionalmente.

  11. Paulista está entregue ao vício político contínuo. Além destruir as últimas reservas de mata atlântica, temos o saneamento básico ( esgoto a céu aberto diuturnamente sendo despejado nas praias) sendo negligenciado por este atual prefeito. Diga-se de passagem que esse Ives sempre foi um zero a esquerda neste município.

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here