Afinal, peixes sentem dor? Acompanhe a discussão

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Afinal, peixes sentem dor? Acompanhe a discussão

Esta é a discussão do momento. Ela chegou à tona depois do sucesso do documentário Seaspiracy, da Netflix, que estreou recentemente. O documentário está no centro da discussão. Ele escancara o que este site vem dizendo há anos sobre os maus tratos impostos aos oceanos pela indústria da pesca mundial, ou as fazendas de criação de peixes, a poluição por plástico, a pesca incidental, etc. Pela primeira vez em muitos anos a opinião pública ficou sensibilizada pelos oceanos, o que é muito bom. O documentário levanta esta questão: afinal, peixes sentem dor?

Imagem de cardume de peixes
Foto da matéria do Guardian com a legenda: Salmão de viveiro em gaiolas. Muitas das espécies que cultivamos muitas vezes não são biologicamente adequadas para a vida em cativeiro, diz o relatório. Imagem, Louise Murray / Alamy.

Seaspiracy mostra a realidade dos oceanos

Quando comentamos sobre o documentário Seaspiracy dissemos: finalmente os oceanos ganham as grandes plateias e, aos poucos, saem do gueto em que a mídia  internacional os colocou.

Duas semanas depois as questões levantadas pelo diretor  tomaram conta das redes sociais. Há dezenas de análises nas mais variadas línguas ‘navegando’ pela internet.

A maioria se mostra escandalizada com as práticas que o documentário registrou. Mas há uma minoria que o critica por supostos exageros. Em geral, estas críticas vêm de setores ligados à pesca. Nada mais normal.

Afinal, peixes sentem dor?

Seaspiracy mostra barbaridades como a morte maciça de tubarões que têm suas barbatanas decepadas e depois são jogados de volta ao mar para morrerem, e ainda registra cenas de mortes de baleias no litoral das Ilhas Faroe a poder de machadadas. O diretor, então,  levanta a questão dos grupos que defendem os direitos dos animais.

O documentário não aborda a questão dos direitos dos animais diretamente, mas deixa implícito. Para quem não sabe, eles são ‘protegidos’ até em fóruns internacionais como a ONU. Em 1978 foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos dos Animais pela Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

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Em seu artigo três está escrito: ‘Nenhum animal será submetido a maus tratos e a atos cruéis’, e ‘Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia’.

No Brasil são comuns as polêmicas levantadas por grupos de defesa de animais. O ápice aconteceu em 2013, quando ativistas invadiram o laboratório Royal, em São Roque, para soltar cachorros da raça Beagle, supostamente sofrendo maus tratos (mas deixaram os ratos intatos em suas gaiolas…).

É oportuno lembrar que as atividades essenciais com animais em laboratórios  é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Também são comuns nas redes sociais os questionamentos sobre a morte de animais em abatedouros, ou discussões sobre a ‘justiça’ de se matar pintinhos machos em granjas.

Seaspiracy levanta a questão, peixes sentem dor?

Mas, e os peixes? Seaspiracy levanta a questão depois que o diretor diz, em off, que sempre pensou apenas na sustentabilidade da pesca, mas depois dos horrores que testemunhou ele se pergunta o quanto os peixes podem sentir?

Imagem de peixes amarrados em bacia
Foto da matéria do Guardian, com a legenda: peixe amarrado em um mercado em Taipei, Taiwan. As evidências mostram que os peixes podem sentir dor, e os ativistas chamaram a amarração de “uma forma de tortura”. Imagem, Jo-Anne McArthur.

Em seguida, surge na tela a figura carismática de Sylvia Earle, uma das maiores referências na ciência marinha mundial.

“Peixes sentem dor? Acho espantosa a pergunta. Como cientista é senso comum. Peixes têm um sistema nervoso e têm os elementos básicos que todos vertebrados têm.”

Sylvia prossegue dizendo que fingir não saber disso nada mais é que ‘uma justificativa para fazer coisas covardes com criaturas inocentes’. E finaliza, ‘é a única explicação que encontro para tratarem os peixes com uma atitude tão cruel’.

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Em seguida o trabalho mostra que a eFsa – European Food Safety Authority, em painel científico, demonstrou que peixes sentem dor e medo e, assim como mamíferos marinhos,  também têm uma vida social.

As fazendas de peixes

Como dissemos, as polêmicas levantadas pelo documentário acontecem não só Brasil. Em 2 de abril o jornal The Guardian publicou a matéria Farmed fish suffer pain and stress, says report that criticises welfare failings, em tradução livre, Peixes criados em fazendas sofrem dor e estresse, diz relatório que critica falhas no bem-estar.

A matéria comenta o relatório Animal welfare risks of global aquaculture (Riscos para o bem-estar animal da aquicultura global), publicado na revista Science Advances. O Mar Sem Fim já abordou inúmeras vezes a criação de peixes em cativeiro.

E sempre comentamos a insensatez da atividade com peixes do mar. Até hoje os maiores problemas não foram resolvidos, como a alimentação das criações à base de peixes selvagens.

No caso do salmão criado no Chile, por exemplo, para produzir um quilo da espécie são necessários cerca de cinco quilos de peixes selvagens para alimentação. Qualquer um que saiba fazer contas percebe que ela não fecha. Sem falar nos aditivos químicos, poluição, e uma série de outros problemas.

Agora, o relatório que o Guardian comenta acrescenta outro problema: os peixes das fazendas sofrem dor e estresse.

Confesso que nunca pensei sobre isso. Em dúvida, entrevistei o oceanógrafo da USP Alexander Turra, que confirmou: ‘Sim, peixes sentem dor, mas não têm expressão facial, por isso parece que não. Todos organismos com neurônios sentem “dor”, pois isso tem a ver diretamente com a forma como eles se relacionam com o ambiente’.

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A coautora do relatório comentado pelo Guardian, Becca Franks, pesquisadora da Universidade de Nova York, disse sobre o sofrimento dos peixes criados em fazendas: A “enorme” falta de informação “vai se traduzir em extremo sofrimento para os animais individualmente.”

Os problemas nas fazendas de criação de peixes

O relatório, publicado na revista Science Advances, descobriu que a falha em fornecer o ambiente certo e no manejo correto dos animais aquáticos pode levar a defeitos congênitos, mobilidade restrita, comportamento agressivo e dor extrema durante o abate.

E recomenda que a indústria da aquicultura se concentre no cultivo de espécies mais simples, com menos bem-estar e riscos ambientais – algas marinhas e bivalves como ostras, mexilhões e amêijoas.

Segundo o Guardian, ‘a indústria de aquicultura global, avaliada em US$ 250 bilhões, cresceu muito nas últimas décadas. Embora tenha sido enquadrada como uma resposta à exploração das populações de peixes selvagens, a aquicultura tem sido criticada por impactos negativos, incluindo poluição, dependência de peixes selvagens para alimentação e uso excessivo de antibióticos’.

‘O estudo diz que o bem-estar também deve ser considerado. Os peixes têm memória de longo prazo, podem resolver problemas, cooperar entre espécies e – ao contrário do que se acreditava anteriormente – sentir dor.’

E conclui, ‘embora existam padrões de bem-estar legalmente consagrados para animais de criação terrestre, o relatório diz que os padrões são frequentemente fracos ou ausentes para animais aquáticos. Muitas das espécies cultivadas geralmente não são biologicamente adequadas para a vida em cativeiro, diz o relatório’.

Lynne Sneddon, bióloga da Universidade de Gotemburgo ouvida pelo Guardian, declarou:

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Esses animais são seres sencientes, eles são capazes de sentir dor, medo, estresse e, ainda assim, nós os criamos em condições que não seriam aceitáveis ​​para mamíferos ou pássaros

Com estas informações, a matança anual de milhares tubarões amputados de suas barbatanas, e devolvidos ao mar para morrerem, é não só antiética mas cruel. Por falar nisto, a falta de ética está na raiz da indústria mundial da pesca.

Imagem de abertura: Louise Murray / Alamy

Fonte: https://www.theguardian.com/environment/2021/apr/02/farmed-fish-suffer-pain-and-stress-says-report-that-criticises-welfare-failings#:~:text=Farmed%20fish%20suffer%20pain%20and%20stress%2C%20says%20report%20that%20criticises%20welfare%20failings,-Instead%20of%20Atlantic&text=The%20%E2%80%9Cenormous%E2%80%9D%20lack%20of%20information,scientist%20at%20New%20York%20University.

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Comentários

2 COMENTÁRIOS

  1. deixei de comer peixes carne vermelha derivados em geral me doeu na alma pensar e crer que sim eles sentem dor nao aceito nao me vejo mais comer qulquer tipo de animal sou grata a Deus por nao mais sentir desejo
    minha saude agradece obrigada por postarem essa materia

    • Parabéns pra você. Sou vegetariana há 40 anos e vegana há 6. Só lucro e a felicidade de saber que não preciso de pedaços de cadáveres à minha mesa. A Mãe Natureza é pródiga. ‘”Na Terra, em nela se plantando, tudo dá”, inclusive a paz na consciência e o amor no coração por todos os seres vivos. Todos.

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