Mudanças climáticas colocam em risco a existência de várias espécies de animais
“A carga evolutiva imposta por respostas adaptativas incompletas às mudanças climáticas já pode estar ameaçando a persistência das espécies.” É o que dizem pesquisadores do Leibniz Institute for Zoo and Wildlife Research (IZW), Berlim, Alemanha. Para apontarem essa e outras conclusões, eles revisaram mais de 10.000 publicações. Elas abrangem 4.835 estudos científicos. Eles trazem informações sobre os impactos do aumento da temperatura em mais de 1.400 espécies de animais não aquáticos de 23 países.
Mudanças climáticas afetam comportamento e características
“Com este banco de dados podemos dizer como a temperatura afetou as características. Por exemplo, mostramos que, ao longo de muitos táxons (um táxon é um grupo de organismos aparentados, atribuindo ao grupo um nome em latim, uma descrição, se for uma espécie, e um tipo), o ritmo dos diversos eventos biológicos foi antecipado à medida que as temperaturas subiram nas últimas décadas”. Foi o que disse, ao El País, Viktoriia Radchuk, do Leibniz Institute e principal autora do estudo.
Antecipação da hibernação, das migrações e da reprodução
A pesquisa mostra a relação entre a elevação da temperatura e mudanças no comportamento. E em algumas características de certas espécies estudadas. Elas tiveram seus ciclos de vida alterados. Ou seja, os pesquisadores não encontraram mudanças morfológicas. Mas sim fenológicas. Muitos animais estão antecipando o fim da hibernação. Também as migrações e o período de reprodução. “Mas este conjunto de dados não poderia nos dizer nada sobre se essas respostas das espécies são adaptativas. Isto é, se elas se traduzem em alguma vantagem de adaptação, como um maior número de descendentes”, observou a pesquisadora.
Pesquisas nessa área são escassas
No conjunto não, especialmente, porque é preciso analisar por muito tempo como os animais reagem ao aquecimento global para averiguar se há adaptação ou não. São poucas as pesquisas longevas na área dos estudos analisados pelo Leibniz Institute, apenas 71 ofereceram todas as informações para as conclusões. Essas pesquisas são relativas a 17 espécies, a maioria aves, em 13 países.
Mais lidos
Declínio do berçário da baleia-franca e alerta aos atuais locais de avistagemPirataria moderna, conheça alguns fatos e estatísticasMunicípio de São Sebastião e o crescimento desordenadoFrota de pesca de atum gera escândalo e derruba economia de MoçambiqueNa região de Granada, aves antecipam a postura
Entre eles, está o estudo realizado pela Estação Experimental de Zonas Áridas (EEZA-CSIC), da Espanha. Seus pesquisadores têm acompanhado o desenvolvimento de três espécies de aves: o rolieiro (Coracias garrulus), o autillo (Otus scops) e a pega-rabuda (Pica pica) da região de Guadix-Baza, Granada, sul da Espanha. “Observamos que os rolieiros e os autillos anteciparam sua data de postura. A cada ano põem ovos antes. Mas isso não acontece com as pegas-rabudas, que não modificaram sua fenologia nos últimos anos”, afirmou Jesús Miguel Avilés, da EEZA. Ele observou que a mudança na data de postura prejudica, particularmente, a existência dos autillos, “porque (eles) não têm mais descendentes quando se reproduzem mais cedo”.
Mudanças climáticas: espécies raras ou ameaçadas de extinção correm mais riscos
“Vemos que algumas populações mudam bem devagar. Por isso enfrentam o risco de extinção em um espaço de tempo relativamente curto”. A declaração é do biólogo da IZW e coautor do estudo, Alexandre Courtiol. Segundo os pesquisadores, os estudos mais completos e disponíveis tratam de espécies comuns, abundantes e mais adaptáveis. Eles alertam sobre a necessidade de se investigar o impacto das mudanças climáticas em animais raros ou ameaçados de extinção. E temem que os resultados sejam ainda piores.
PUBLICIDADE
Espécies aquáticas migram para áreas mais frias
O estudo do Leibniz Institute, publicado na Nature Communications, se junta a muitos outros que têm comprovado os impactos nos seres vivos do aumento nas temperaturas associado ao aquecimento global. Uma pesquisa de longa duração, publicada em 2018, revela que muitas espécies marinhas se deslocam em busca de águas mais frias. Esse trabalho, iniciado na década de 1960, baseia-se em dados coletados por 136.000 pequenas redes de arrasto durante o período.
Aquecimento já castiga espécies do Atlântico e do Pacífico
A ideia, quando a pesquisa foi iniciada, era investigar as riquezas marinhas da plataforma continental e águas próximas dos Estados Unidos, México e Canadá. Quase 700 espécies de peixes. Mas também crustáceos, cefalópodes moluscos e outros invertebrados naturais do Pacífico e Atlântico foram analisadas. O ecologista James Morley, do Instituto de Ciências Marinhas da Universidade da Carolina do Norte (EUA), principal autor do estudo, afirmou que esses dados históricos mostram que muitas espécies tentam compensar a alta da temperatura nos seus habitats buscando águas mais profundas. Ou mudando para altitudes e latitudes mais adequadas à sua sobrevivência.
Leia também
Acidificação do oceano está à beira da transgressãoConheça o novo navio de carga híbridoBrasil pega fogo, espanta o mundo, e Lula confessa: ‘não estamos preparados’Mudanças climáticas: impactos econômicos da migração nos oceanos ainda não foram analisados
“Em particular, as espécies de regiões como o Nordeste dos EUA, onde a temperatura aumentou muito rapidamente, estão se deslocando para o Norte. Em outras zonas, como o golfo do México, se deslocaram para águas mais profundas”, disse Morley. Esse estudo também projeta que muitas espécies podem se deslocar por cerca 1.500 quilômetros até o final desse século para fugir do aquecimento. Os impactos econômicos dessa migração ainda não estão delineados.
Cação e bacalhau estão na lista das espécies que podem migrar
Das espécies estudadas, eles acreditam que ao menos 446 vão se deslocar muito mais que outras. Entre estas, algumas são vitais para a indústria da pesca. O cação, a cavala, o caranguejo-real e o bacalhau atlântico, deverão rumar mais para o Norte. Isso num cenário mais extremo, com aumento de 4º C. Se a alta se limitar a 2º C, haverá movimentação menos intensa. E para distâncias menores. “Num futuro de altas emissões de CO2 podemos antever que muitas das espécies com relevância econômica se transferirão para outras regiões e reduzirão sua presença em suas zonas históricas”.
Agência Europeia do Ambiente alerta para migrações de espécies marinhas
No final do ano passado, a Agência Europeia do Ambiente já alertava que a temperatura da superfície do mar, um dos principais reguladores da vida marinha, aumentava mais rapidamente ao largo da costa da Europa do que a dos oceanos globais. O aquecimento, informa a instituição, provoca “grandes alterações na água mais profunda, incluindo mudanças significativas na distribuição das espécies, de acordo com o relatório da AEA (Climate change, impacts and vulnerability in Europe 2016)”. “Por exemplo, o bacalhau, a sarda e o arenque no Mar do Norte migram das suas zonas históricas para o Norte. Para águas mais frias, seguindo a sua fonte de alimentação — os copépodes. Estas alterações, incluindo a migração de peixes com interesse comercial, podem ter um impacto evidente nos setores econômicos e nas comunidades que dependem da pesca”.
Imagem de abertura: NOAA
Fontes: https://brasil.elpais.com/brasil/2019/07/26/ciencia/1564126974_885928.html; https://www.nature.com/articles/s41467-019-10924-4; http://www.izw-berlin.de/welcome.html; https://brasil.elpais.com/brasil/2018/05/29/ciencia/1527575114_758309.html; https://www.eea.europa.eu/pt/sinais-da-aea/sinais-2018/artigos/alteracoes-climaticas-e-agua-2014-1.
Desde que o mundo existe espécies são extintas e outras surgem. Não entendo a histeria.
As andorinhas este ano chegaram no inverno—–Realmente temos mudanças—A reduçao de especies e’ devido ao crescimento populacional que invade novas areas interferindo no ciclo alimentar—-Fala-se em tudo ,,menos a necessidade de estancar o crescimento da populaçao
Antigamente você pegava um ônibus urbano ou ia em locais de aglomeração humana e saia com brindes nas formas de pulgas. Hoje em dia nada de pulgas que certamente eram alimentos na cadeia alimentar. Entretanto, não conseguimos erradicar doenças banais como sarampo, cachumbas e hanseníases etc. Albert Eisntein preconizou que ao acabarmos com as abelhas em poucos anos acabariam a espécie humana; acho que o pálido ponto no espaço merece um tempinho para se recuperar.