Corais na foz do Amazonas: a nova riqueza do mar territorial brasileiro, até agora, protegida pelo Ibama
Eles distam cerca de cem quilômetros da foz do Amazonas, e ficam entre 70 e 220 metros de profundidade. Se alguém apostasse que haveria corais na foz do Amazonas, provavelmente seria desencorajado. O local é considerado ‘improvável’ para abrigá-los. Mas eles estão lá: recifes com esponjas, corais e rodolitos (algas calcárias). E, ao redor deles, peixes herbívoros comprovam a presença de algas mesmo onde chega pouca luz do sol. O conjunto é enorme, uma faixa com 1.000 km de extensão por 40 km de largura. E os corais se estendem por uma área de 50 mil km2, equivalente ao Estado do Rio Grande do Norte.
‘Cientistas garantem: recifes da Amazônia existem, e estão vivos’
O título acima é de matéria de Herton Escobar, para o Jornal da USP, edição de setembro de 2019. “Chegaram a dizer que eles estavam mortos. Ou nem mesmo existiam; como um “fake news” da ciência.” O jornalista explica: “A descoberta causou surpresa mundial em 2016. Muitos não acreditavam ser possível haver um ecossistema desse tipo debaixo da pluma de água doce e barrenta do Amazonas. Isso acabou gerando uma situação de conflito entre cientistas, ambientalistas, políticos e empresas privadas, interessadas em explorar petróleo e gás na região.”
A questão da luz nos corais da foz do Amazonas
Jornal da USP: “Descobertos há apenas cinco anos, eles formam o que os cientistas hoje chamam de Grande Sistema de Recifes do Amazonas (GARS, em inglês), com 56 mil quilômetros quadrados de extensão — do tamanho do Estado da Paraíba. Assim como no caso da Grande Barreira de Corais da Austrália, não se trata de um único gigantesco recife, mas de uma rede de ambientes recitais que se conectam ecologicamente, formando o que os pesquisadores acreditam ser um corredor de biodiversidade entre o Mar do Caribe e o Atlântico Sul.” E a questão da luz? Bem, segundo Herton Escobar, “A questão da disponibilidade de luz já foi resolvida por um estudo publicado no ano passado, na revista Continental Shelf Research, mostrando que, mesmo nas regiões mais densas da pluma, há uma incidência mínima de luminosidade sobre o leito marinho, que é suficiente para manter um ecossistema recifal funcionando.”
“Mesmo debaixo da pluma, os recifes estão vivos”
Jornal da USP: “Mesmo debaixo da pluma, os recifes estão vivos”, destaca Michel Mahiques, professor do IO-USP e especialista em sedimentologia marinha, que liderou o estudo. “Datamos diretamente o calcário dos recifes, e não há dúvida de que eles estão crescendo.” Ele ressalta que as datações foram realizadas no laboratório Beta Analytics, nos Estados Unidos, “considerado o maior laboratório comercial para cronologia de radiocarbono no mundo”, e que a coleta das amostras foi realizada a bordo do Navio Hidroceanográfico Cruzeiro do Sul, da Marinha do Brasil, “seguindo os mais estritos padrões de amostragem oceanográfica”.
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O primeiro mergulho na região foi feito com ajuda do Greenpeace. Assista ao vídeo:
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Um dos primeiros cientistas a ver os corais na Amazônia foi o biólogo santista Ronaldo Bastos Francini Filho, a bordo do submarino Deep Worker. O mergulho deixou o pesquisador encantado:
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Conheça os recifes do Amazonas
Herton Escobar, em matéria para o Jornal da USP explica: “Muitos recifes, especialmente os que crescem em ambientes mais fundos e menos luminosos (mesofóticos), como é o caso de muitos recifes brasileiros, são construídos por algas calcárias e outros organismos, que também depositam carbonato de cálcio. Mas não precisam de tanta luz para sobreviver. Eles podem até ter corais crescendo sobre eles, mas isso não significa que os corais sejam seus principais construtores. Esse é o caso dos recifes do Amazonas, que são estruturas construídas principalmente por algas calcárias, em ambientes mesofóticos e rarifóticos (entre 70 e 220 metros de profundidade, na sua maioria), com baixa ocorrência de corais. Mas que, mesmo assim, sustentam uma grande diversidade de vida marinha.”
Corais, ou recifes?
Herton Escobar: “Por isso, mesmo concordando com a necessidade de proteção, muitos pesquisadores discordam do slogan “corais da Amazônia”, usado pelo Greenpeace — já que os corais, de fato, não são os organismos predominantes nesse ecossistema. “Isso dá brecha para os negacionistas dizerem que os recifes não existem”, reclama Mahiques. “Funciona bem para o Greenpeace, mas não ajuda quem faz ciência. O mais importante, nesse caso, não são os corais, mas toda a biodiversidade marinha que esses recifes possibilitam existir ali.”
O início da descoberta dos corais na foz do Amazonas
A coisa toda é interessante. Tem um toque de romance de espionagem.Tudo começou com uma pesquisa, em 2011, com Ronaldo Bastos Francini Filho e 38 pesquisadores, técnicos e alunos de pós-graduação de 12 instituições diferentes do Brasil e do exterior. Por cinco anos o local foi estudado até que, em 2016, anunciaram a descoberta. Foi um susto na comunidade científica. Corais precisam de luz para florescerem, e a foz do maior rio do mundo tem muita turbidez em razão dos sedimentos trazidos. Além disso, a profundidade de 220 metros também dificulta a penetração da luz. Mais um mistério, e uma dádiva, do “Inferno Verde” como cunhou Euclydes da Cunha.
A descoberta repercutiu fortemente no exterior. The Guardian publicou matéria onde diz que,
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A descoberta do recife, que se estende da Guiana Francesa para o estado do Maranhão do Brasil, foi uma completa surpresa para os cientistas
Mas, alerta o jornal inglês:
Blocos de exploração de petróleo foram concedidos para a área e as companhias de petróleo Total, BP e Petrobras poderiam começar a perfuração
Anotem aí: o vilão rondando sua presa desde que veio à luz, como atesta The Guardian, ao mostrar que no mesmo ano da descoberta, três petroleiras disputavam a área. O mesmo não aconteceu na área leiloada pela ANP que inclui os corais de Abrolhos em outubro de 2019. Escaldadas, nenhuma empresa fez lances.
Quem faz parte da pesquisa
Ronaldo Bastos, que trabalha na Universidade Federal da Paraíba, esteve acompanhado por cientistas brasileiros de cinco instituições, e profissionais de 10 países que compartilham informações.
Thiago Almeida, da campanha de Energia do Greenpeace, explicou:
A nossa ideia é justamente mostrar para o mundo inteiro esse tesouro nacional até agora desconhecido e mostrar que ele já está ameaçado, uma vez que empresas petrolíferas querem explorar essa área
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Antes mesmo de serem estudados os corais na Amazônia já sofrem sérias ameaças
A empresa francesa Total tem planos para explorar petróleo na foz do Amazonas justamente onde estão os corais, o mais importante ecossistema marinho. O Ministério do Meio Ambiente é contrário. O órgão sugeriu intervenção do Itamaraty. Diplomatas pedem aos governos da Guiana Francesa, Suriname, Guiana e Venezuela, e arquipélagos do Caribe, que proíbam a empresa Total já que estudos de licenciamento ambiental foram rejeitados pelo Ibama. Apesar disso a Total insiste. Matéria do Valor Econômico diz que “foram listadas dez pendências não respondidas pela Total, na terceira tentativa da empresa de aprovar o licenciamento ambiental. A presidente do Ibama, Suely Araújo, deu um ultimato à petroleira:”
Caso o empreendedor não atenda aos pontos demandados pela equipe técnica mais uma vez, o processo de licenciamento será arquivado.
Importante ressaltar que, em 2019, o governo brasileiro promete leiloar novos blocos de exploração na área.
A importância dos corais de águas profundas
Para Ronaldo Francini Filho, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB):
O que temos hoje como paradigma científico é que corais mesofíticos [profundos] em geral não sofrem com as mudanças climáticas. Portanto, em longo prazo, os corais de zonas rasas seriam repovoados através dos estoques profundos que não seriam afetados pelas mudanças climáticas.
Ibama nega concessão à francesa Total
Em 7 de dezembro de 2018 o Ibama negou a licença para a petrolífera Total. A empresa não poderá explorar petróleo no litoral do Amapá, próximo aos Corais da Amazônia. Suely Araújo, honrou a presidência do órgão, e apontou a existência de profundas incertezas relacionadas ao Plano de Emergência Individual (PEI) do empreendimento, agravadas pela possibilidade de um vazamento de óleo. Thiago Almeida, coordenador da campanha Defenda os Corais da Amazônia, do Greenpeace Brasil, declarou:
Essa é uma ótima notícia para os Corais da Amazônia, um ecossistema único e do qual ainda se sabe pouco. E uma ótima notícia para as comunidades locais e o ativismo ambiental porque prova o poder da mobilização popular. Essa vitória mostra que o ativismo, assim como o trabalho técnico realizado pelo Ibama, devem ser valorizados no país
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Parabéns ao Ibama
Vitória bonita, deve ser exemplo em casos parecidos. O Mar Sem Fim esclarece que não somos contrários à exploração de petróleo Off Shore. Infelizmente, o País não pode dispor destes recursos que, em breve, não terão mais valor. Mas, daí a explorar uma área que abriga um banco de rodolitos, como a área da Total, vai uma tremenda distância. Nossos sinceros parabéns a todos do Ibama, em especial à presidente do órgão, Suely Araújo que cumpriu exemplarmente seu papel.
A luta pelos Corais na foz do Amazonas não terminou
Como sugerimos acima, ainda não podemos nos dispersar. Vem aí uma nova gestão, não muito amiga da proteção ao meio ambiente. Eles podem reverter a decisão. E além disso, lembramos que a petroleira britânica BP também obteve um bloco na bacia da Foz do Amazonas e seu processo de licenciamento ambiental segue em andamento.
Foto de abertura: Raul Aguiar.
Fontes: http://www.atribuna.com.br/noticias/detalhe/noticia/biologo-de-santos-e-o-primeiro-cientista-a-observar-os-ineditos-corais-da-amazonia/?cHash=748be9ffda1b6d5a76ca663a1f587d11; http://www.greenpeace.org/brasil/pt/Blog/as-primeiras-imagens-de-um-novo-mundo/blog/58609/; http://www.anp.gov.br/wwwanp/exploracao-e-producao-de-oleo-e-gas/estudos-geologicos-e-geofisicos/plano-plurianual-de-estudos-de-geologia-e-geofisica/ppa-2007-2014/resultados-por-bacia; http://www.valor.com.br/brasil/5100240/ibama-ve-risco-diplomatico-em-exploracao-no-norte?utm_source=Facebook&utm_medium=Social&utm_campaign=Compartilhar; https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-biologicas/cientistas-garantem-recifes-da-amazonia-existem-e-estao-vivos/?fbclid=IwAR3GOxBFGh3CyP1xxe-lVu2AYv-HqT9VnyuyxOmbGuj51KqA8ozKjVMQ05o; https://www.uol/noticias/especiais/corais-da-amazonia.htm#tematico-3.
Conheça a reação dos norte- americanos quanto à exploração de petróleo no mar
És dono de empresa de petróleo pra está tão preocupado se já existem ou este bioma antes das petroleira chegarem lá????
Pq a pesquisa não é dele, ele é participante. Tente procurar pelo organizador do projeto e os outros dezenas de pesquisadores. Não sei se vc sabe mas não se fala sobre oq se pesquisa antes do resultado, principalmente uma pesquisa desse nível. Se só agora conseguiram chegar até lá e viram como iriam divulgar antes?
Como eles vivem a 220 metros de profundidade? se os corais precisam de luz solar para fazer a fotossintese? provavelmente a luz solar não deve chegar a essa profundidade.
Pessoal de fora fica dando palpites sobre o que devemos ou não fazer, mas não querem investir nada … Temos a maior riqueza natural mundial que precisa ser preservada … mas isso requer grana, e temos que fazer pressão pra que essa turma invista nisso … dar palpite é fácil
Parabéns pela matéria. Uma dúvida: esses seres vivos recém descobertos seriam exatamente: corais? Sou professor de geografia e esse questionamento surgiu em aula. Obrigado.
São em sua maioria rodolitos, que são algas com características estruturais semelhantes a corais. Mais com certeza é composto por cnidários tambem…
O que tem que fazer eh mapear a area dos corais e impedir ap erfuracao sobre e alredor dos mesmo. Para isto estas companhias teem tecnologias suficientes para perfurar a quilometros de distancia lateral do objetivo e alcac,ar-los atravez de poc,os desviados. Eh mais caro mas se nao querem perfurar que devolvam as areas e o governo que devolva o que pagaram.
É necessário e urgente, que os governos globais mudem imediatamente o uso do plástico como embalagem. Temos tecnologia suficiente para substituí-lo por elementos biodegradáveis e muito mais economicamente viáveis para embalagem dos produtos industrializados. Porque não utilizarmos o vidro que é 100% reciclável? As empresas, fabricantes de produtos plásticos, deveriam tomar a iniciativa e surpreender-nos.