Crime ambiental na praia de Jacarecica, Maceió

0
1
views

Crime ambiental na praia de Jacarecica, Maceió

A Associação de Moradores dos Conjuntos Residenciais Jacarecica I e II (Amorjac), o Observatório Ambiental Alagoas e o Instituto Salsa-de-Praia, entre outras entidades, denunciaram em dezembro ao Ministério Público Federal em Alagoas (MPF/AL) um possível crime ambiental. Segundo a denúncia, houve alteração no curso do Rio Jacarecica, que atravessa o bairro de mesmo nome e desaguava na praia de Jacarecica, em Maceió.

rio Jacarecica mudança de curso
Imagem, Divulgação.

Esta praia é um dos principais berçários da tartaruga-de-pente, espécie criticamente ameaçada de extinção. O desvio mudou a foz do rio. O novo traçado deslocou a desembocadura em cerca de 1.400 metros e passou a conduzir o rio paralelamente à praia. Essa mudança pode intensificar a erosão costeira, um problema que já afeta grande parte do litoral brasileiro.

A restinga de Jacarecica

Não é preciso reforçar a importância das restingas, dos manguezais e dos campos de dunas. A lei reconhece esses ambientes como Áreas de Proteção Permanente (APPs). Eles prestam serviços ecossistêmicos essenciais.

Esses ecossistemas protegem a linha da costa contra a erosão. Eles amortecem o impacto das ondas e das marés mais fortes. Também reduzem os danos causados por eventos extremos.

As restingas e os campos de dunas cumprem outra função vital. Eles garantem a reposição natural da areia perdida. Sem esse estoque natural, começa um deficit de areia nas praias que faz a erosão avançar ainda mais.

alteração de curso de rio na praia de jacarecica
Post protesto do canal Mídia Caetê, no Instagram.

Foi por esses motivos que, em 11 de novembro de 2025, a Segunda Turma do STJ decidiu por unanimidade sobre as restingas.

PUBLICIDADE

O tribunal reconheceu as restingas como Áreas de Preservação Permanente (APPs) quando elas fixam dunas ou estabilizam manguezais. A decisão também vale para áreas localizadas na faixa mínima de 300 metros, medida a partir da linha de preamar máxima.

Compare os mapas de 2017 e 2025

A praia de Jacarecica em 2017
A praia de Jacarecica em 2017.

Mas apesar disso, o Google Earth mostra claramente que a restinga da praia de Jacarecica perde espaço constantemente para empreendimentos imobiliários. Veja a imagem de 2017 (acima), e compare com a de 2025 (abaixo).

A praia de Jacarecica em 2025
A mesma praia de Jacarecica em 2025.

Como se vê pelo mapa, há tempos a área de restinga é invadida por construções irregulares. No mapa de 2017 ainda se vê alguns trechos verdes, ou, restingas, ao norte, com uma ocupação mais acentuada mais ao sul.

Segundo o site Cada Minuto, a Associação de Moradores dos Conjuntos Residenciais Jacarecica I e II (AMORJAC) aponta que obras e aterros ligados ao empreendimento Beachgarden Jacarecica provocaram o desvio artificial do curso do rio.

Por outro lado, as imagens do Google Earth confirmam alguns pontos importantes. Elas reforçam o que dizemos há tempos. Prefeitos autorizam obras onde a lei não permite. Se isso não ocorresse, a restinga estaria íntegra e acompanharia toda a extensão da praia de Jacarecica.

O roteiro quase sempre se repete. Muitos prefeitos recebem apoio financeiro do setor da construção civil e do turismo. Depois de eleitos, mudam os Planos Diretores. Essas alterações liberam obras em desacordo com a lei.

O padrão aparece em quase toda a costa brasileira. Quando as construções ficam prontas, o poder público raramente manda demolir. O dano ambiental, então, se torna permanente.

Essa ocupação irregular está matando o litoral do País. Quando a erosão se instala de vez, muitos prefeitos repetem o erro visto no litoral de Santa Catarina, onde a especulação imobiliária tem aval do Estado. Eles apostam em engordas artificiais de praias. São obras caras e enganosas. Não resolvem o problema. Não adianta jogar areia de qualquer jeito, como vem acontecendo.

Violação ao Código Florestal e à Política Nacional do Meio Ambiente

Não bastasse o caso envolver corte de restingas, algo ilegal segundo a legislação ambiental, houve o desvio do curso de um rio que viola, também, o Código Florestal.

PUBLICIDADE

Segundo o Tribuna Hoje, na avaliação dos pesquisadores ambientais a modificação do fluxo d’água tem provocado erosão severa na praia de Jacarecica, o avanço do Rio Jacarecica sobre a encosta da restinga, o desmatamento irregular e a contaminação hídrica.

Já o Maceió Notícias revelou que os pesquisadores que acompanham o caso alertam que os impactos ultrapassam a escala local e afetam diretamente a dinâmica ambiental da zona costeira de Jacarecica. E reforçam que a alteração no regime do rio e a degradação da restinga podem comprometer o equilíbrio necessário à reprodução da tartaruga-de-pente, criticamente ameaçada.

Resta saber se o Ministério Público também salvará a praia de Jacarecica. Ultimamente, o MP virou o único braço do Estado a contrariar interesses escusos. Prefeituras e governos estaduais já não cumprem esse papel. Eles se aliaram aos especuladores.

Degelo do permafrost contamina os rios do Ártico

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Please enter your comment!
Please enter your name here