Os estuários, berçários marinhos, estão desaparecendo
Segundo a NOAA, os estuários são alguns dos ecossistemas mais produtivos do mundo. Muitas espécies animais dependem de estuários para alimentação e como locais para nidificar e procriar. As comunidades humanas também dependem de estuários para alimentação, recreação e empregos. Das 32 maiores cidades do mundo, 22 estão localizadas em estuários. Não é surpreendente que as atividades humanas tenham levado a um declínio na saúde dos estuários, tornando-os um dos ecossistemas mais ameaçados da Terra. Agora, um novo estudo revela que os seres humanos alteraram quase metade dos estuários do mundo, e 20% dessa perda ocorreu nos últimos 35 anos.
![Boto cinza no Lagamar](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2024/04/lagamar-boto-cinza.jpg)
O estudo publicado na Earth’s Future
Segundo o estudo publicado na Earth’s Future, quantificamos as mudanças na área de 2.396 estuários em resposta aos recentes impactos humanos (por exemplo, recuperação de terras, construção de barragens) e ao desenvolvimento econômico entre 1984 e 2019, e descobrimos que a área estuarina diminuiu 5.372 km2.
![](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/inserts-on-content/colab1.webp)
Mais uma vez, o Brasil não foge à regra. Grandes cidades como o Rio de Janeiro e Santos ficam dentro de enormes estuários. Um dos nossos mais importantes estuários é o Lagamar, um gigantesco estuário cercado pelo maior trecho contínuo de mata-atlântica do Brasil.
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Ligando os dois extremos, Paraná e São Paulo, há uma série de canais que começam em Iguape, sul de São Paulo, e seguem até Paranaguá, no norte do Paraná, recebendo a água do mar por várias “aberturas”, ou barras. Contudo, apesar de ser o mais importante berçário do Atlântico Sul, ele segue sendo destruído pela abertura do Canal do Valo Grande, em Iguape.
Dados de satélites no estudo
O Guardian informou que, usando dados de satélite, os pesquisadores mediram as mudanças que ocorreram em 2.396 estuários entre 1984 e 2019. Os resultados, publicados na revista Earth’s Future, descobriram que, nos últimos 35 anos, mais de 100.000 hectares de estuário foram convertidos em terras urbanas ou agrícolas, com a maior parte da perda (90%) ocorrendo em países asiáticos em rápido desenvolvimento.
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![Canal do Varadouro](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2024/04/Canal-do-Varadouro.jpg)
Por outro lado, muito pouca perda de estuário ocorreu em países de alta renda nos últimos 35 anos – principalmente porque a extensa alteração aconteceu muitas décadas antes, durante a própria fase de desenvolvimento rápido desses países.
É a velha história, os países ricos já queimaram seu estoque de ecossistemas e/ou florestas para crescerem. Hoje fazem replantio, entre outras. Já os países pobres, ou em desenvolvimento, estes terão que encontrar um modo de crescer sem contudo perder os seus ecossistemas e suas florestas.
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Enquanto isso, a vida marinha segue em grande ameaça. No mesmo momento que ficamos sabendo da perda de estuários, os corais do mundo enfrentam o quarto, e mais perigoso, fenômeno de branqueamento que pode matar grande parte deles.
Estuários importantes no Brasil
Além dos já citados na baía de Santos, Baía de Guanabara, e o Lagamar, no sul de São Paulo, há outros, e quase todos ameaçados pelo crescimento urbano. Este é o caso do estuário da baía da Babitonga, que conta com dois portos, e ainda querem construir mais um num hotspot da costa brasileira.
![mangue da baía da Guanabara](https://marsemfim.com.br/wp-content/uploads/2024/04/O-que-sobrou-do-mangue-da-Baia-de-Guanabara-sao-os-13-mi-hectares-da-ApaEsec-Guapimirim.jpg)
Outro estuário do Brasil que agoniza fica na baía de Sepetiba, Rio de Janeiro, com cerca de 440 quilômetros quadrados. Suas fronteiras são a Serra do Mar, a Baixada Fluminense, e a Restinga da Marambaia. O motivo da morte de mais este estuário é a brutal poluição.
Como se vê, não é nada fácil conciliar o progresso econômico com a conservação. Possível é, mas antes há que se discutir cada caso com os vários atores envolvidos. Num momento de pressa que vivemos, em razão do aquecimento do planeta, e a queda drástica de biodiversidade, isso fica ainda mais difícil.