Brasil: ‘plano de carbono neutro é uma piada’, diz o escritor Jorge Caldeira
Não se fala em outra coisa no mundo que não seja sobre o plano de carbono neutro de cada país. Salvo no Brasil, segundo o escritor e membro da Academia Brasileira de Letras, Jorge Caldeira, em entrevista no Canal Livre da BAND. Caldeira é autor de vários livros, um deles já comentado por aqui é Brasil: Paraíso Restaurável. Para ele “o País responde por algo entre 30% e 50% de toda a produção natural do planeta, mesmo ocupando uma área de apenas 8%.” Por isso, “regulamentar o mercado de carbono deveria ser a única discussão no Congresso.”
Olhando pelo retrovisor
Infelizmente a visão de Lula é pelo retrovisor, o passado. Rancoroso pela prisão, insiste na sua inocência quando todos sabem dos escândalos na Petrobras e outros. A corrupção do PT já trouxe de volta aos cofres públicos R$ 25 bilhões de reais.
Até o momento foram fechados 43 acordos de leniência com empresas, pelas contas do MPF. Infelizmente, os procuradores da Lava Jato atropelaram os ritos da Justiça. Só por isso Lula saiu da prisão. E, graças à sandice, e boçalidade de Bolsonaro, acabou eleito por margem mínima.
Um era deficiente mental, incapacitado de raciocínio e compreensão. O outro, cínico, sem escrúpulos e imoral. Gasta o tempo que a imprensa lhe dá, por ser presidente, para afirmar que a Venezuela ou Nicarágua são democracias. Mostra-se indiferente às conveniências morais e despreza a inteligência alheia.
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Foi mais ou menos o que falou Caldeira no Canal Livre. Ao demonstrar a importância do País regulamentar o mercado de carbono, ponderou: ‘só que ninguém deste, ou do governo passado, pensa nisso’.
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‘Não está no programa de nenhum dos dois últimos governos’. E completou: ‘o plano de carbono neutro do Brasil é uma piada.’
O Canal Livre tinha por objetivo comentar a história do Brasil desde a monarquia até hoje. Contudo, nos últimos cinco minutos o assunto foi a crise do clima e as chances do Brasil sair do buraco. Jorge Caldeira e Fernando Mitre lembraram que na época da détente, 1972, quando Nixon encontrou-se com Mao Tse Tung, a economia brasileira era maior que a chinesa.
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Naquele período, lembrou Caldeira, ‘o PIB per capita do China era baixíssimo, havia muita fome e não havia quase indústria no país; o Brasil produzia mais aço que a China.’ Contudo, prosseguiu, ‘depois daquele encontro a China deixou de ser uma economia insulada e se abriu. Ao mesmo tempo, o PND de Geisel decidiu fechar a economia brasileira. E até hoje, disse Caldeira, ‘continuam achando que não precisamos dos outros países.’
O resultado todos sabem: a economia da China é um colosso enquanto a do Brasil ameaça naufragar. Hoje são os brasileiros que passam fome!
Entretanto, ‘a economia de carbono neutro pode mudar esta situação, é a grande chance que temos’, afirma Caldeira.
Este, de maneira idêntica, é o tema de Brasil: Paraíso Restaurável, livro que julgamos obrigatório para congressistas e ambientalistas.
Caldeira encerrou o Canal Livre dizendo que ‘o assunto não é discutido sequer no Ministério do Planejamento. Nossa economia não está aberta nem queremos mudar. Ambos, o ex, e o presidente atual, acham que podem levar o Brasil (de volta) a 1970. Deste jeito, vamos chegar lá.’
Plantar árvores e receber por isso
Plantar árvores, milhões de árvores, geraria milhares de empregos e receberíamos por isso, é parte da tese do escritor. Jorge mostra que o Brasil, por seus ativos ambientais que incluem o litoral, é a grande potência mundial. Se soubermos explorar esta riqueza, podemos alcançar, e superar, os líderes mundiais da economia.
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Falta, contudo, a regulamentação do mercado de carbono. O Projeto de Lei 528/21 está pronto mas, por inação, não vai para votação. Enquanto isso o novo governo que entra no sexto mês e prometeu devolver a proeminência do País nas questões ambientais, ainda não se manifestou.
Jorge Caldeira no Roda Viva em 16/01/2023
Este programa é uma aula e deve ser assistido por todos que se interessam pelo futuro do País, agora que a economia verde é o centro do debate mundial.
(No passado a) ‘Natureza não era um valor econômico. A humanidade chegou num momento em que não pode mais desperdiçar. Agora está se fundando uma economia que tem um preço, o preço do carbono. Se você emite carbono, paga; se você recupera carbono, recebe.’
Ele lembra ‘que tem brasileiros na nascente desta ideia’, e cita o colega na Academia Paulista de Letras, Paulo Nogueira Neto, que chamamos sempre de titã do ambientalismo. Caldeira comenta, então, a importância deste gigante na criação desta economia.
‘O mundo hoje está investindo só em energia US$ 2 trilhões de dólares por ano para fazer a passagem da produção, daquela que emite carbono, para aquela que não emite. Isto é mais que o PIB do Brasil’.
‘O Brasil é certamente o País que mais vai se beneficiar por isso em razão de nossos ativos ambientais e matriz energética.’
‘É o caminho econômico para o futuro do Brasil.’ Jorge Caldeira mostra que o tão falado ESG ‘surgiu no setor privado e nada mais é que um conjunto de normas e cláusulas privadas que as pessoas aderem voluntariamente ao concordarem que seu dinheiro só será aplicado na lógica da preservação’.
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‘Hoje um terço dos melhores capitais do mundo, alguma coisa da ordem de US$ 40, 50 trilhões de dólares, só são aplicados nestas condições. Em outras palavras, ‘o próprio mercado começou a investir em carbono neutro antes dos governos’.
É este montante que está à disposição do Brasil se fizermos a lição de casa. Lição que começaria com a regulamentação do mercado de carbono. Porém, o projeto está nos escaninhos com muitos outros.
Oxalá nossas autoridades aprendam. Ainda há tempo.
E no ambiente marinho, como funciona?
No litoral e no bioma marinho funciona de maneira idêntica. Recentemente publicamos Proteger o oceano, sim, mas como pagar? Nosso objetivo foi subsidiar o poder público sobre onde buscar recursos para dotar nossas unidades de conservação do bioma marinho, a grande maioria uma ficção, existe apenas no papel em razão dos altos custos para dotá-las de equipes e equipamentos. Contudo, basta apresentar bons projetos para o dinheiro aparecer rapidinho.
São parte destes US$ 40 ou 50 trilhões de dólares de que falou Jorge Caldeira. Um dos fluxos de financiamento para a conservação marinha veio na forma de fundos fiduciários de conservação. Eles usam dinheiro de doações para fornecer capital de longo prazo para bons projetos.
Há, igualmente, ‘Títulos azuis’ e ‘trocas de dívida por natureza’. Mostramos alguns exemplos como o caso dos corais de Belize. Em razão do país estar fortemente endividado, a Nature Conservancy e o Credit Suisse negociaram a compra e venda de ‘blue bonds’, arrecadando US$ 364 milhões.
Com estes recursos estima-se que US$ 180 milhões foram liberados para apoiar o compromisso de Belize de proteger 30% do oceano, fortalecer a governança e melhorar os regulamentos para projetos costeiros de carbono azul.
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O exemplo Galápagos, Equador
Logo depois da publicação deste post, a mídia abriu espaço para nova transação nos mesmos moldes. O New York Times foi um dos que repercutiu Ecuador Strikes a Landmark Deal to Protect the Galápagos, and Save Cash (Equador fecha acordo histórico para proteger Galápagos e economizar dinheiro).
“O Equador anunciou um acordo recorde destinado a reduzir a dívida e liberar milhões de dólares para financiar a conservação marinha nas Ilhas Galápagos, arquipélago de biodiversidade única, famoso por inspirar a teoria da evolução de Darwin.”
“Nossa moeda é a biodiversidade”
“Gustavo Manrique Miranda, ministro das Relações Exteriores (que aprendeu a lição de Caldeira ao contrário de nossas elites), chamou-o de acordo histórico que leva em consideração o valor da natureza. Disse que o Equador era tão rico quanto qualquer um dos países mais ricos do mundo, mas nossa moeda é a biodiversidade”.“
Em resumo o que fez o Equador foi trocar títulos que estavam em queda livre devido aos problemas econômicos. “Seus títulos perderam tanto valor no mercado”, diz o New York Times, “que investidores, presumivelmente temendo perdas maiores, estavam dispostos a vender US$ 1,6 bilhão para o banco Credit Suisse a uma média de 40 centavos de dólar.”
“O banco os converteu em um título marítimo de Galápagos de US$ 656 milhões. Ele foi usado para financiar um empréstimo que ajudará o Equador a financiar a conservação. Isso torna o acordo a maior troca de dívida por natureza da história.”
“Como parte do acordo, o Equador se comprometeu a investir mais de US$ 323 milhões em cerca de 18 anos na conservação da região de Galápagos, principalmente para gerenciar e monitorar a Reserva Marinha Hermandad, uma nova área protegida anunciada pelo governo em 2021.”
Como se vê, há muitas formas de conseguir aportes financeiros em troca da conservação. E, neste sentido, o Brasil tem tudo para alcançar o objetivo sem necessariamente depender do Estado. Basta olhar para frente, trabalho, e vontade política.
Assista ao Roda Viva com Jorge Caldeira
Assista a este vídeo no YouTube
Mais de 5 mil novas espécies marinhas descobertas em local de mineração submarina
O acadêmico Caldeira, reveria usar seu precioso tempo para explicar melhor o que e quem estar realmente por trás do ganho desse tal carbono neutro. Se for os exploradores transacionais de nosso minério, e floresta, já era. “Pura” falácia pura. Precisamos saber muto mais sobre isto.
Ele já explicou detalhadamente, Rubervam. Tanto no livro citado, Brasil: Paraíso Restaurável, assim como no Roda Viva que vc pode assistir neste link:https://www.youtube.com/watch?v=-2-7JVZVwKY&t=1s. Antes de deitar falação sugiro que se informe. Não faça os outros perderem tempo com comentários sem pé nem cabeça. Este site não é o FaceBook onde cada um fala suas bobagens impunemente. Aqui, procuramos esclarecer, e oferecer fontes de informação como mais uma vez neste post.
Esse é o melhor texto de hoje no Estadão, ao lado do texto do Eugenio Bucci. Excelente. Algum palaciano poderia lê-lo ao presidente para, talvez, curá-lo da burrice que tomou conta dele nesse início de governo. Deveria ter uma chamada na cabeça da página (portal).