Travessia do Estreito de Bering em bote com motor de popa, você acredita?
O Estreito de Bering é um local nada fácil para a navegação. Segundo o Business Post ‘existem três razões principais para isso; profundidade rasa, clima volátil e temperaturas do mar e do ar extremamente frias. A profundidade média é de cerca de 60 metros, o que significa que as ondas são curtas e têm mais potência do que as ondas do mar profundo. Além disso, as fortes correntes dificultam a navegação. Recomenda-se a travessia em embarcação em boas condições de navegar e capaz de suportar tempestades intensas’. Contudo, o que você diria de uma travessia em outubro de 2022 (verão no hemisfério norte) num minúsculo barco com cerca de 5,5 metros e motor de popa? Pois saiba que foi o que dois russos siberianos fizeram para fugir da convocação para a guerra na Ucrânia.
Travessias do Estreito a pé?
Sergei e Maksim fugindo da Guerra na Ucrânia
A história de Sergei e Maksim é versátil, adequada tanto para a seção de política de um jornal tradicional quanto para publicações focadas em proezas marítimas. Descobrimos essa história lendo o jornal inglês The Guardian.
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Sergei e Maksim, amigos desde a adolescência em Egvekinot, compartilhavam uma desconfiança mútua em relação ao estado russo. Unidos pela crença de que a guerra na Ucrânia era tanto inútil quanto injusta, recusaram-se a lutar por um governo que desprezavam. Sergei, então, propôs uma fuga ousada: atravessar o Mar de Bering para alcançar o Alasca.
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Os dois mantiveram seus planos em segredo, não informando nem mesmo suas famílias. Maksim, pertencente à etnia indígena Chukchi, não compartilhou seus planos com seus pais e irmãos, que estavam de férias. Sergei, aos 51 anos, deixou para trás amigos e um negócio de transporte, além de sua mãe e duas filhas na Rússia, conforme relatado pelo New York Times.
Como esperado, a façanha de Sergei e Maksim ganhou grande atenção e foi amplamente divulgada.
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A Economist descreveu a embarcação usada como um “minúsculo barco de pesca de Maksim, com 16 pés (aproximadamente 5,5 metros) que era movido apenas por um motor de popa”. Apesar da menor distância entre a Rússia e o Alasca ser de apenas 2,4 milhas (menos de 4 km), a jornada dos navegadores russos estendeu-se por cinco dias e abrangeu 300 milhas. Uma odisseia’, qualificou a Economist.
Costeando a fortificada (pelos russos) península de Chukotka
Na busca desesperada pela liberdade, os dois enfrentaram tempestades e problemas constantes no único motor do barco!
Dias antes, conforme a Economist relata, Sergei ouviu uma batida forte na porta. Ele já sabia quem era sem precisar abrir. Todos em Egvekinot, uma cidade portuária no extremo leste da Rússia, próxima ao Círculo Ártico, reconheceram aquela batida. O governo estava convocando homens para lutar na guerra contra a Ucrânia.
Maksim começou a preparar o pequeno barco para a arriscada viagem. Ele o abasteceu com provisões: pão, salsichas, ovos, chá, café, biscoitos, cigarros, e combustível. Ambos resolveram seus assuntos, repartindo suas posses com amigos e, sem conseguir converter rublos em dólares, transferiram suas economias para parentes.
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3 de outubro, desembarque em Gambell
Depois de cinco dias, uma escala em Enmelen, onde passaram uma noite, e muitos apuros, em 3 de outubro conseguiram finalmente desembarcar em uma praia perto de Gambell, na Ilha de Lawrence, uma comunidade isolada de cerca de 600 pessoas.
Silook, que trabalha para a cidade, lembra-se das roupas molhadas dos homens e pensou em abrigá-los e alimentá-los. Os russos perguntaram aos moradores de Gambell se estavam seguros ali e depois pediram asilo. No dia seguinte, a Guarda Costeira levou Sergey e Maksim para Anchorage.
O jornal também informou que os dois russos pareciam fazer parte de um grande grupo. Mais de 200 mil homens fugiram da Rússia desde 21 de setembro. Nesta data, Putin, diante de grandes perdas na Ucrânia, ordenou a mobilização de até 300 mil reservistas para a guerra.
Três meses de detenção em Washington
Somente em janeiro eles foram libertados. Então, diz o New York Times, começaram a entrar em contato com a família e amigos para que soubessem: Eles estavam vivos. Eles fugiram da Rússia. Estavam seguros nos Estados Unidos – por enquanto.
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Sergei e Maksim começaram a compartilhar sua história com o mundo. Eles falaram com o The New York Times, usando um intérprete. As entrevistas feitas no Alasca e em Washington, junto com fotos com marcas de GPS, confirmaram a veracidade de sua jornada.
Assim como a maioria dos russos que chegaram aos EUA recentemente, eles não têm garantias de poderem permanecer. O processo de suas petições de asilo pode levar mais de um ano. Para serem bem-sucedidos, eles precisam provar a ameaça que enfrentaram na Rússia. Seus advogados nos Estados Unidos estão confiantes de que têm um caso forte.
O ser humano e a liberdade
O ser humano é capaz de empreender esforços extraordinários para preservar a liberdade. Ao longo da história, vemos inúmeros exemplos de pessoas enfrentando adversidades, desafiando autoridades opressoras, atravessando territórios perigosos, e até mesmo arriscando suas vidas.
A busca pela liberdade muitas vezes impulsiona as pessoas a superarem limites físicos e psicológicos, criando uma resiliência admirável como Sergei e Maksim mais uma vez provaram.
Para saber mais, assista ao vídeo
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Prezados, boa tarde.
O verão, no hemisfério norte, termina em 20 de setembro. Então acredito que seria mais correto escrever “outono no hemisfério norte”.
Obrigado e parabéns pela sua rubrica.
Mario Treves
Feito!