Tartaruga-de-couro, conheça uma boa novidade
Elas são animais resistentes e longevos. As tartarugas-marinhas existem há mais de 150 milhões de anos. Elas resistiram à quinta extinção em massa, que aconteceu no período Cretáceo, 65 milhões de anos atrás. Como curiosidade, as tartarugas tiveram sua origem na terra e, ao longo de sua evolução, acabaram por se adaptar também ao ambiente marinho. Mas, se conseguiram sobreviver a todas as grandes mudanças do planeta, agora enfrentam um deles que é o mais perigoso de todos: o ser humano. A boa notícia é que foi descoberto outro ponto de desova da mais ameaçada de todas, a tartaruga-de-couro.
Tartarugas-marinhas, espécies que frequentam nosso litoral
Das sete espécies de tartarugas-marinhas existentes, cinco frequentam a costa brasileira. São elas a cabeçuda (Caretta caretta), a verde (Chelonia mydas), a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata), tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), e a tartaruga-de-couro (Dermochelys coriacea).
Todas estão na lista dos animais vulneráveis, ou ameaçados, da IUCN. E consideradas criticamente em perigo pelo Ministério do Meio Ambiente, com exceção da tartaruga-verde que tem como local de desova as ilhas oceânicas, portanto, longe dos malefícios trazidos pela superpopulação.
O sucesso do projeto Tamar
Se temos hoje tartarugas-marinhas no litoral do País isso se deve ao trabalho exemplar do Projeto Tamar que, desde o fim dos anos 70, iniciou um processo de conscientização dos nativos da costa que as matavam como alimento, justamente quando vinham até às praias para desovar. Em seguida foi iniciado o projeto que monitora as praias e ilhas oceânicas, onde são conhecidas as desovas das variadas espécies.
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Em média, de cada mil filhotes apenas 1 ou 2 conseguem atingir a idade adulta. A maioria das espécies brasileiras desovam em praias que vão do Norte do Rio de Janeiro até o Rio Grande do Norte. A grande novidade foi a descoberta de um novo ponto de desova, justamente da mais ameaçada de todas, a tartaruga-de-couro, também chamada de tartaruga-gigante.
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Tartaruga-de-couro, conheça uma boa novidade
O novo ponto de desova fica no sul do País. Se você pesquisar no site do Tamar verá que consta como local de ‘desovas regulares o Litoral norte do Espírito Santo, próximo à foz do Rio Doce’.
Pesquisadores da Universidade Federal do Paraná registraram, em janeiro de 2021, a desova de uma tartaruga-de-couro na praia do Pontal do Sul, em Pontal do Paraná. A equipe fez a coleta de amostras biológicas da tartaruga para avaliar sua saúde. E realizou microchipagem para rastreio de longo prazo do indivíduo.
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Portanto, nesta temporada já foram duas as desovas. Segundo os pesquisadores, a deposição de ovos pode acontecer até dez vezes na mesma temporada.
Em fevereiro de 2021 também aconteceu uma desova incomum da tartaruga-de-couro. Foi na praia do do Suarão, em Itanhaém (SP). Este caso na época foi monitorado pelo Instituto Biopesca.
A desova na praia do Suarão foi a primeira registrada desde 2015 no âmbito do Projeto de Monitoramento de Praias da Bacia de Santos (PMP-BS).
Tartaruga-de-couro conheça os hábitos
Elas habitam todos os oceanos tropicais e temperados do mundo. Ao nascerem rumam imediatamente para o alto-mar, onde atingem zonas de convergência de correntes que formam grandes aglomerados de algas (principalmente sargaços) e matéria orgânica flutuante. Nestas áreas, que formam um ecossistema, os filhotes encontram alimento e proteção – e assim permanecem por vários anos, migrando passivamente pelo oceano.
A tartaruga-de-couro passa a maior parte da vida no ambiente pelágico. Sua dieta inclui zooplâncton gelatinoso, como celenterados, pyrossomos e salpas. A espécie inicia seu processo reprodutivo após os 20 anos de idade. E a única área regular de desova conhecida no Brasil é o litoral norte do Espírito Santo, na região de Regência.
O animal pode medir mais de 2 metros e pesar entre 400 e 700 kg. Para a pesquisadora Camila Domit “na costa brasileira não temos registro apenas de animais nascidos no Brasil, há ocorrência de grande número de animais que vêm do Gabão e de outras regiões da África, que se alimentam nas águas do Sudeste e sul.”
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“Uma desova como esse evento no Paraná pode estar relacionada a diferentes motivos, inclusive ser consequência dos efeitos de mudanças climáticas, da demanda da espécie por novas áreas para reprodução ou até uma influência do processo comportamental de migração desses animais”
A bióloga e gerente operacional do PMP-BS/UFPR, Liana Rosa, vê como “privilégio” poder monitorar e compartilhar informações sobre a espécie. “A tartaruga-gigante é um animal resistente que habita nosso oceano há milhões de anos, mas está exposta a diversos tipos de impacto. Apesar de sua magnitude, é sensível às mudanças e à degradação ambiental. Sua reprodução geralmente não tem alto sucesso em percentual de nascimento de filhotes e sobrevivência deles até a vida adulta”.
Imagem de abertura: https://www.ufpr.br/.
Fontes: https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/para-preservar-ovos-de-tartaruga-gigante-especie-em-extincao-equipe-de-laboratorio-da-ufpr-isola-area-no-litoral-do-pr/; https://www.ufpr.br/portalufpr/noticias/pesquisadores-da-ufpr-presenciam-mais-uma-desova-da-tartaruga-de-couro-no-litoral-do-parana/?fbclid=IwAR1TUPyg7KTx23BZArPeDYUU0CtQImmdrRZZCOYJkk9Ck8-n_LHlR0eymag; http://biopesca.org.br/noticias/ibp-monitora-ninho-de-tartaruga-em-itanhaem/; https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2021/02/20/tartaruga-gigante-com-300-kg-em-risco-de-extincao-faz-desova-em-praia-do-litoral-de-sp.ghtml?fbclid=IwAR0saHCOrfVshT22Jv9M65_eImlmfSI1Lsxr2Pa–QIR_nNYJTocn7o_2KI.