Rações para peixes: uma das causas da sobrepesca

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Rações para peixes: uma das causas da sobrepesca

O apetite por salmão no hemisfério norte faz desperdiçar milhões de toneladas de cavalas, sardinhas e anchovas. Esses peixes viram ração para a criação de salmão, mostra uma nova pesquisa. Os autores afirmam que o cultivo no Reino Unido é ineficiente para produzir frutos do mar. Eles alertam: mais de um terço dos peixes selvagens capturados no mundo vira alimento para espécies de fazenda, como o salmão. O aumento no número de fazendas empurra a sobrepesca. A produção de ração virou um dos principais motores desse problema. Só nas fazendas escocesas de salmão, a mortalidade saltou de 3% em 2002 para 13,5% em 2019. Rações para peixes estão entre as causas centrais da sobrepesca.

criação de salmão
A criação de salmão em cativeiro acelera as taxas de sobrepesca no mundo. Imagem, Tavish Campbell.

Criação de salmão em cativeiro e as rações para peixes

Já tratamos desse assunto várias vezes. A maior parte do salmão vendido no Brasil vem do Chile, onde as fazendas de criação funcionam como verdadeiras bombas químicas, como mostramos. Além disso, poluem intensamente o mar. A situação é tão grave que a Argentina proibiu fazendas de salmão na Terra do Fogo.

Salmão de cativeiro
O salmão de cativeiro. Imagem, greenqueen.com.hk.

Agora, um estudo publicado na revista PLOS Sustainability and Transformation analisou a criação de salmão no Reino Unido. Os autores usaram dados globais da aquicultura marinha e concluíram: se os peixes selvagens não fossem retirados para virar ração de salmonídeos, 3,7 milhões de toneladas ficariam no mar, e a produção global de frutos do mar poderia crescer 6,1 milhões de toneladas.

Salmão de viveiro escocês

O salmão de viveiro escocês é hoje a exportação de peixe mais valiosa do Reino Unido. Mas as fazendas dependem de grandes volumes de peixes selvagens. Só assim conseguem garantir ao salmão, um predador, os ácidos graxos ômega-3 de que precisa para crescer.

Rações para peixes ou, a insustentabilidade das fazendas de criação

A indústria tenta reduzir o uso de peixes selvagens como ração. Mesmo assim, ainda consome cerca de 400 mil toneladas por ano para gerar apenas 200 mil toneladas de salmão de viveiro. A imprensa britânica repercutiu o estudo e destacou um ponto crítico: minerais essenciais para a dieta humana e ácidos graxos dos peixes selvagens se perdem quando passam pelo salmão.

Superlotação nos tanques de criação de salmão
A superlotação nos tanques de criação de salmão são a causa da alta mortalidade nas fazendas. Imagem, Daryl Hunt / Creative Commons.

O Dr. David Willer, pesquisador da University of Cambridge e autor do estudo, afirmou: alimentar o salmão escocês apenas com aparas de peixe e redirecionar os peixes selvagens direto para os pratos seria muito mais sustentável e eficiente. Para ele, peixes e frutos do mar são uma fonte vital de nutrientes para populações no mundo inteiro. “Precisamos ter certeza de usar esse recurso com eficiência”, disse. A solução, segundo Willer, é simples: comer mais peixes selvagens e adotar alimentos alternativos nas fazendas de salmão.

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Ainda assim, persistem os problemas relacionados como é o caso da pesca do krill, pequeno crustáceo e base da cadeia alimentar da Antártica, para servir como alimento para ração de peixes, ou de pets.

Carpas e mexilhões não são problema

Segundo o site inews.co.uk, carpas e mexilhões podem ser cultivados de forma sustentável sem pressionar os estoques de peixes selvagens. Estudos mostram que os mexilhões são a fonte de proteína mais sustentável disponível. Eles crescem facilmente ao redor da costa do Reino Unido e ainda funcionam como filtros naturais da água. “Em um mundo ideal, você cultivaria basicamente apenas mexilhões”, disse o Dr. Willer ao inews. “Eles são incrivelmente sustentáveis e muito bons.”

Os pesquisadores afirmam que, em escala global, cultivar mais carpas e menos salmão, e usar apenas ração feita de subprodutos de peixe, poderia deixar 3,7 milhões de toneladas de peixes selvagens no mar. Isso aumentaria em 39% a produção total de frutos do mar.

Mais de 3,3 bilhões de pessoas dependem de peixes para a proteína animal

Há uma responsabilidade global de usar esse recurso de forma sustentável, pois mais de 3,3 bilhões de pessoas dependem dele como fonte de proteína animal.

Dr. Willer, autor da pesquisa, reforça: ‘Ao comparar o salmão com outras opções, nossa pesquisa também destacou os benefícios para a saúde e o meio ambiente de se comer frutos do mar cultivados de forma mais sustentável, como mexilhões.

‘Os mexilhões pertencem à classe de moluscos bivalves que inclui mariscos como amêijoas e ostras (mas não camarões, lagostas ou caranguejos). Nossa pesquisa mostrou que os mexilhões são um dos alimentos mais sustentáveis ​​do planeta, mais do que qualquer outra carne, peixe e a maioria das culturas terrestres, como soja, trigo e arroz’.

A aquicultura do salmão

Para encerrar, uma nova análise da indústria global de criação de salmão realizada pela empresa de pesquisa Just Economics para a organização sem fins lucrativos Changing Markets Foundation, alertou que a agricultura insustentável está levando a enormes perdas, tanto financeiras quanto ambientais. O relatório, intitulado “Dead Loss”, revela que a aquicultura de salmão produziu “externalidades negativas” no valor de US$ 47 bilhões entre 2013 e 2019 . 

Imagem de abertura: Greenqueen.com.hk.

Fontes: https://uk.news.yahoo.com/swap-salmon-sardines-keep-four-190400108.html; https://www.nature.com/articles/s43016-020-0116-8; https://uk.news.yahoo.com/swap-salmon-sardines-keep-four-190400108.html; https://www.theguardian.com/environment/2022/mar/02/wild-fish-stocks-squandered-to-feed-farmed-salmon-study-finds.

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