Parques Nacionais brasileiros sofrem ameaças com o avatar de Bolsonaro
O pai do futuro embaixador do Brasil em Washington (o rapaz que se gaba por fritar hambúrguer), manja? Ele mesmo. Saiba que já fez pior. Colocou um avatar, tão autoritário e tosco na matéria quanto ele, na cadeira de Ministro do Meio Ambiente. Agora, o neófito ameaça alguns Parques Nacionais brasileiros; o da Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, e o Parque Nacional de Caparaó, na divisa dos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo.
Baixarias do avatar de Bolsonaro nos Parques Nacionais brasileiros
O Parna da Lagoa do Peixe foi o primeiro em que ele pôs os pés, pouco depois da posse. Até então, sequer conhecia a Amazônia. Que dizer de unidades de conservação. O ‘neófito’ foi ouvir queixas, corretas em meu ponto de vista, dos moradores e especialmente produtores rurais. O problema é que o ‘avatar’ costuma só ouvir este lado da questão ambiental.
O currículo do avatar
Em seu currículo há uma condenação por improbidade administrativa quando foi secretário de meio ambiente de São Paulo, tentativas de se eleger deputado, informação que advogou para a Sociedade Rural Brasileira, e a criação do Movimento Endireita Brasil (MEB). Nada contra o cliente, tudo contra um servidor público com o péssimo costume de ‘tomar decisões sem levar em consideração aspectos técnico-científicos’. Na primeira baixaria, ameaçou punir todos os funcionários do ICMBio ausentes duma palestra que fazia para políticos gaúchos e representantes do agronegócio. Não estavam presentes porque não sabiam. Mesmo assim o ministro ameaçou-os em público. Conseguiu, com seu estilo imperial, impensável para o século 21, perder o único especialista de sua equipe. Indignado com a afronta, Adalberto Eberhard entregou a demissão dias depois.
As novas baixarias nos Parques Nacionais brasileiros
Logo em seguida, o ‘avatar’ exonerou o chefe do Parna. Era abril. Assim como seu chefe esperou o filho fazer 35 anos para dar-lhe como mimo a embaixada de Washington, o mutante esperou até agora para anunciar novo chefe. Causou estupor descobrir que a ungida não saiu dos bons quadros do órgão a ele subordinado, o ICMBio, que demonstra desconhecer totalmente.
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A escolhida foi Maira Santos de Souza, herdeira de 25 anos de um dos maiores produtores rurais da região (arroz e soja). Atua como agrônoma nas terras da família, em Mostardas. A história do Parna da Lagoa do Peixe é emblemática do quão pouco sério os sucessivos governos federais agiram na questão ambiental. Neste ponto, concordamos com o avatar. Que fazer, entregá-las para ruralistas?
As reclamações de moradores de Tavares, Mostardas, e São José do Norte, três municípios que perderam parte de suas terras, desapropriadas para a criação do Parna em 1986, são procedentes. Já disse e repito. Fui o primeiro jornalista ambiental a denunciar o descalabro na grande mídia. Nem por isso o avatar deve, uma vez mais, desprezar a própria equipe (ICMBio), e bravatear o meio ambiental escolhendo para chefia uma ruralista da região. Ultraje a rigor? Ou o medíocre estilo imperial?
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O que tem de bom o Parque Nacional da Lagoa do Peixe
Eu terminava uma viagem de veleiro que começou no rio Oiapoque, dois anos antes. A expedição se propôs a produzir a mais minuciosa reportagem (TV, site, livros e DVDs) sobre a ocupação da costa brasileira, virtudes e problemas. Já havia visto de tudo. Algumas praias belíssimas ainda intocadas, baías encantadoras, ilhas caprichosamente esculpidas. Descer a costa gaúcha era cumprir tabela. Eu precisava encerrar. Mas pensava que nada mais iria me emocionar, muito menos a retilínea e monótona costa gaúcha. Foi botar as pernas na península costeira na região do Parna, litoral médio do Rio Grande do Sul, na restinga que separa a Lagoa dos Patos do mar, para que eu ficasse comovido pela esplêndida beleza, e sua extraordinária vida alada, marinha, botânica, geológica, aquática. Como pode uma paisagem tão espetacular, ocupada por milhares de pássaros dos hemisférios Sul e Norte, que voam às vezes milhares de quilômetros para se alimentarem?
O que tem de ruim no Parque Nacional da Lagoa do Peixe
Quando instalado em 1986, o Parque da Lagoa do Peixe desapropriou, mas não pagou, pequenos agricultores, criadores de gado, e silvicultores, além de impor regras para a pesca até então livre. Surgiram conflitos de uso não resolvidos até agora. No Brasil é assim que o poder público tem agido: a vasta maioria das UCs, ao serem implantadas não indenizaram os proprietários. O PARNA Itatiaia, primeira unidade de conservação do País de Macunaíma, foi criado em 1937. Até hoje, ‘ampliado para 30 mil hectares em 1982, não teve sua área totalmente regularizada’. Isso não é novidade, ‘o INCRA não tem a informação completa do cadastro fundiário do país’. Em contrapartida os antigos continuam com parte de suas práticas dentro do espaço que deveria ser protegido por sua riqueza, beleza, ou biodiversidade, ameaçando os dois lados: o que propõe a proteção da biodiversidade, e aqueles que querem fazer uso delas produzindo.
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Óbvio. Mas como em todo conflito é preciso vontade, bom senso, negociação. Para reconhecer a extraordinária beleza, e biodiversidade do Parna, basta olhos para ver. Não por outro motivo foi criado naquele lugar único. Acertadamente. E a legislação brasileira tem mecanismos para resolver casos de indenização. A ‘compensação ambiental, por exemplo, é um instrumento financeiro que visa contrabalançar os impactos ambientais na implantação de grandes empreendimentos’, e sua renda pode ser destinada às desapropriações. E há outras formas. Mas, é preciso vontade. Vontade que não percebemos no avatar. Vontade só pra acabar com o sistema de conservação nacional, seguindo militarmente as ordens do chefe. Um chefe tão obtuso e tosco que, ao ser flagrado pescando numa unidade de conservação de proteção integral, ficou tão furibundo que prometeu, desde a campanha, acabar com a conservação no Brasil.
As baixarias no Parque Nacional de Caparaó
A mesma bazófia e ultraje. Por motivos diversos. Segundo O Eco, ‘o comerciante Dalmes Dutra Cardoso Junior, ‘Juninho do artesanato’, foi escolhido para chefiar o Parque Nacional de Caparaó, UC que abriga o terceiro ponto mais alto do país, Pico da Bandeira, e um dos ícones do montanhismo. Político, filiado do DEM, foi candidato a vice-prefeito nas eleições de 2016. Ficará no lugar do analista ambiental Cristhophe Saldanha Balmant’.
‘Juninho do artesanato’ no lugar de um técnico do ICMBio!
Não quero saber do mérito, falta estômago. Mas denuncio o baixo padrão de procedimento; imperial, desrespeitoso e provocador. A falta de respeito aos técnicos e especialistas e, especialmente, à sociedade. Não se media conflitos espezinhando um dos lados. Um homem púbico de respeito saberia que não deve usar o poder como alavanca para propósitos pessoais. Seja para dar mimo ao filho, ou para firmar-se no radical mundo político atual. Antes de projetos pessoais menores, ele saberia, estão o Brasil e os brasileiros. Ambos, desrespeitados mais uma vez.
Assista ao vídeo (gravado em 2014) e saiba mais sobre o Parna da Lagoa do Peixe
Assista a este vídeo no YouTube
Fontes: https://exame.abril.com.br/brasil/quem-e-ricardo-salles-novo-ministro-do-meio-ambiente/; https://sustentabilidade.estadao.com.br/noticias/geral,apos-reuniao-polemica-ministro-do-meio-ambiente-manda-exonerar-chefe-de-parque-do-icmbio,70002801547; https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2019/07/nomeacao-de-ruralista-para-chefia-de-parque-nacional-de-lagoa-do-peixe-gera-polemica-cjy4pj2py01xc01rvivb89bgt.html; https://www.oeco.org.br/dicionario-ambiental/28899-o-que-e-a-compensacao-ambiental/; https://www.oeco.org.br/blogs/salada-verde/politico-do-dem-e-nomeado-chefe-do-parque-nacional-de-caparao-unidade-que-abriga-o-pico-da-bandeira/.
Não achei nada de errado nas colocações do autor não.
Acho que alguns comentaristas deixam suas opções políticas radicalizadas interferirem na análise de um texto.
Ao que me parece o grande vilão contra a natureza é a pobreza da nossa sociedade. O ministro está tentando gerar desenvolvimento econômico e social nessas regiões para justamente proteger esses eco-sistemas.