Recursos marinhos vivos: pesca, conheça os problemas
No Brasil a maioria das pessoas associa mar a lazer. Algumas vão além e lembram-se dos recursos marinhos vivos: pesca. Hoje vamos conhecer seus problemas.
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Recursos marinhos vivos: pesca
Nosso mar é rico em biodiversidade (quantidade de tipos de peixes), mas pobre em biomassa pesqueira (quantidade de matéria presente nos seres vivos).
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Setenta por cento do mar que banha os 9.198 quilômetros de linha da costa (considerando as baías, enseadas e ilhas. Fonte livro: Atlântico- A história de um Oceano) é tropical, formado por águas quentes, com poucos nutrientes. Isto explica a pobreza dos recursos marinhos: a pesca.
Para piorar temos poucas áreas marinhas protegidas que, associadas ao crescimento desordenado das grandes cidades do litoral, poluição, desaparecimento de habitats, e sobrepesca, apontam um cenário pessimista mesmo àqueles que vivem da pesca artesanal.
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No Brasil há muitos anos a estatística do pescado diminui ou, quando muito, mantem-se no mesmo patamar em razão do maior esforço de pesca, ou aumento da aplicação de tecnologia. Em 2009 foram 820 mil toneladas (hum milhão e 200 mil toneladas se incluirmos a psicultura), o que representou US 5 bilhões no ano.
No mesmo período, no mundo, tirou-se do mar 140 milhões de toneladas que equivalem a 400 bilhões de dólares por ano (Atlântico- História de um Oceano).
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Dados do Revizee constataram a pobreza de nossa biomassa, e identificaram que os estoques estão sobreexplotados ou no limite da explotação.
O Revizee propõe medidas de conservação não adotadas pelo governo (criação de novas áreas marinhas protegidas):
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há possibilidade de aumento da produção a partir da intensificação do esforço de pesca. Ao contrário,
medidas de conservação dos estoques e restrição ao esforço de pesca são determinantes para sua
recuperação. Elas deverão permitir um incremento nos desembarques totais.
Exceções
Apenas duas áreas de nosso litoral escapam desta sina: a foz do Amazonas, pelos aportes que o rio traz; e a região Sul, em razão do encontro das correntes do Brasil (quente) com a corrente das Malvinas (fria), rica em nutrientes.
Polêmica
Se a decisão fosse do Mar Sem Fim a pesca litorânea ficaria apenas com os nativos, os que praticam a pesca artesanal. Os pescadores industriais talvez pudessem ser dirigidos para a pesca oceânica, praticamente inexistente no Brasil. Esta modalidade exige barcos grandes e sofisticados, caros, que só podem ser bancados por grandes empresas. Os cardumes que frequentam nosso alto-mar fazem a festa de barcos espanhóis, coreanos e japoneses. Estes países enviam navios fábricas que ficam ao largo, fora das 200 milhas, esperando para processar a produção.
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Outra possibilidade seria encaminhar parte dos pescadores industriais, sempre aos poucos, e com políticas públicas adequadas, para outras profissões. A cadeia do petróleo, por exemplo, demanda muita mão de obra de profissionais acostumados ao mar. Ao menos eles têm capacidade de aprender novos ofícios, o que não acontece com os nativos que estão jogados à própria sorte desde que os portugueses chegaram séculos atrás.
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Pescadores artesanais: pobreza demais
Sem possibilidade de estudarem, sem saúde pública adequada, e ainda arraigados a usos e costumes seculares seria muito difícil capacitar os pescadores artesanais para outras atividades que não as que vêm executando há tanto tempo. Uma das possibilidades talvez seja o esoterismo, ou turismo de observação. Mas esta modalidade é quase nula no país. Não há políticas públicas para isso.
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Auxílio governamental
Nos últimos anos tudo que os pescadores conseguiram foi o salário defeso durante três a quatro meses do ano (representou 1 bilhão e 200 milhões de reais em 2011), espécie de “bolsa-família” que passou a ser fonte de corrupção e “inflação de pescadores” nos cadastros do governo desde que foi instituído por Lula. Para obter o benefício o segurado deve ter a pesca como principal meio de renda, com embarcação não ultrapassando o porte de 10 toneladas; não possuir empregados, e comprovar o exercício da atividade através de declaração emitida pela colônia de pescadores registrada no IBAMA. Há mais de dez anos as estatísticas de pescadores artesanais já mostrava o mesmo número de hoje. Desde que começou o salário defeso houve uma “inflação de pescadores”. Pessoas que não exercem o ofício mas se cadastram para receber o benefício. São desempregados, ou pessoal de outras áreas, que pagam para conseguir carteira de pescador.
Conflitos entre pescadores artesanais x profissionais
Uma das piores situações que presenciamos em viagens é a competição desigual entre pescadores industriais e artesanais. Os primeiros, dispondo de barcos grandes, equipados com tecnologia e combustível subsidiado pelo governo, saem para o mar em qualquer tempo. Com suas canoas ou barcos tradicionais, os nativos, e grande parte dos pescadores artesanais donos de pequenos barcos a motor, têm necessariamente que esperar o tempo bom.
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Enquanto isto os industriais passam enormes redes defronte a seus “quintais”, ou às lâminas d’água defronte a qual vivem. Por não vermos outra solução em curto prazo defendemos que o pouco pescado de nosso litoral seja deixado a esta gente, e à pesca esportiva, acabando com a pesca industrial ao menos nas 12 milhas a partir da praia. Alguns acadêmicos que entrevistamos defendem a proibição total da pesca neste espaço. Um deles é o renomado Lauro Barcelos, da FURG. Mas há outros que pensam da mesma forma.
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Industriais e Artesanais
De acordo com dados do MMA a pesca industrial emprega 40 mil pessoas e utiliza uma frota de cinco mil embarcações. Já os artesanais somam cerca de 900 mil pessoas. O mesmo órgão informa que os profissionais respondem “pelo desembarque de metade da produção de pescado de origem marinha”.
Este dado é contestado pelo estudo Avaliação do Seguro Defeso Concedido Aos Pescadores Profissionais no Brasil, patrocinado pelo Governo do Estado de São Paulo, de autoria de Jecemar Tomasino Mendonça e Alineide Lucena Costa Pereira.
Em 2010 a produção total no Brasil foi de 785 mil toneladas, sendo 68,3 da pesca estuaria- marinha e 31,7% da pesca continental.
Em tempo
É preciso também um estudo mais profundo sobre a cadeia produtiva do pescado. Não é possível continuar com preços tão baixos para um recurso natural finito como é o caso. A professora Lúcia Anello (FURG) levantou este problema quando estivemos em Rio Grande gravando programas da série Mar Sem Fim. Atualmente a ponta da cadeia, os pescadores, recebem uma merreca pelo pescado que consumimos a preços altíssimos em restaurantes, ou que compramos em feiras livres.
Boa noite.
Gostaria de entender melhor o que seria pesca industrial ou pescadores profissionais e o que é chamado de pesca artesanal.
Gostaria dá resposta não através somente ao tamanho e equipamentos das embarcações como também em relação ao tipo e toneladas de capitura.
Certo de vossa colaboração.
Atenciosamente.
Marcos
Marcos, em geral diz-se que a pesca industrial é aquela feita por grandes barcos, barcos de propriedade de indústrias, que são donas de grandes frotas. Normalmente elas têm os maiores barcos e, por isso mesmo, os mais letais. A pesca artesanal é aquela praticada pelas populações nativas do litoral, que têm pequenos barcos, canoas, etc. Eles pescam para comer, vendem o que sobra. É isso. Abraços
Concordo e acrescento que o direcionamento dos jovens filhos de pescadores, íntimos do mar, tradicionalmente novos pescadores, sejam no sentido de formar profissionais para área de esporte e recreio. O mercado de embarcações de lazer ou esportes tem crescido velozmente e a formação de profissionais para atender o mercado é lenta. O aproveitamento deses jovens em uma área ligada ao mar é uma forma de diminuir a pesca e garantir a mão de obra que ficará ociosa e desprovida de remuneração em um curto prazo. A vigilância de nossa costa por autoridades competentes e a valorização do peixe são fundamentais para preservação. Pesquei corvina nos anos 90 e lembro quando 1 Kg de corvina valia 3 l. de diesel, também lembro quando na reeleição do Lula, 2006, o preço de 1 x 1. Para concluir, acho que a pesca do dourado, da meca, do atum, a pesca de mar aberto, no azul, como falamos aqui no sul, também depende tão somente do preço do diesel. A última embarcação que vendi tinha 15 mts, construída em 2003, foi armada para o espinhel boiado para pesca do dourado. Atendíamos as exigências do mercado japonês, peixe “apagado” no colchão de esponja, sem bater nas bordas ou no convés, mas quando observei o volume de peixe que tinha que matar para pagar o diesel, resolvi abandonar a pesca. Foram 28 anos engajado na pesca e no turismo náutico (escunas), hoje só vejo saída para os que seguirem “bem embarcados” em embarcações de marinas e clubes bem estruturados, mas para isto tem que ter qualificação.
Olá, Tadeu, obrigado pelo correio e por suas considerações. Grande abraço