Nível do mar sobe em razão do El Niño e aquecimento, diz NASA
A média global do nível do mar subiu cerca de 0,76 centímetros de 2022 a 2023. Isso significa quase quatro vezes o aumento do ano anterior, disse a NASA em 21 de março, atribuindo o “surto significativo” a um forte El Niño, em conjunto com o aquecimento. No geral, o nível do mar aumentou cerca de 10 centímetros desde 1993. Nadya Vinogradova Shiffer, da NASA, disse que “as taxas atuais de aceleração significam que estamos no caminho certo para adicionar mais 20 centímetros no nível médio global do mar até 2050”. Isso representa quase o dobro da quantidade de mudanças nas próximas três décadas em comparação com o século anterior. Consequentemente, teremos um futuro em que as inundações serão muito mais frequentes e catastróficas do que hoje.
Conjunto de dados do nível do mar com mais de 30 anos
Segundo a NASA, esta análise tem como base um conjunto de dados do nível do mar com mais de 30 anos de observações de satélites. Eles começaram com a missão TOPEX / Poseidon dos EUA, lançada em 1992. A missão Sentinel-6 Michael Freilich, de novembro de 2020, é a mais recente da série de satélites que contribuíram para este registro do nível do mar.
Os dados mostram que o nível médio global do mar aumentou um total de cerca de 9,4 centímetros desde 1993. Como efeito sazonal, a Nasa diz que o nível global do mar viu um salto significativo de 2022 para 2023, devido principalmente a uma mudança entre as condições do El Niño. Por outro lado, um leve efeito do La Niña de 2021 a 2022 resultou em um aumento menor do que o esperado no nível do mar naquele ano. Em seguida, um forte El Nino desenvolveu-se em 2023, ajudando a elevar a quantidade média de aumento na altura da superfície do mar.
Como são feitas as medições?
Com a palavra, a NASA: Essas observações multidecadais não seriam possíveis sem a cooperação internacional em andamento, bem como as inovações científicas e técnicas da NASA e de outras agências espaciais. Especificamente, os altímetros de radar ajudaram a produzir medições cada vez mais precisas do nível do mar em todo o mundo. Para calcular a altura do oceano, esses instrumentos refletem sinais de microondas da superfície do mar, registrando o tempo que o sinal leva para viajar de um satélite para a Terra, bem como a força do sinal de retorno.
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Segundo matéria do g1, de autoria de Daniel Aloisio e Valma Silva, aproveitando os 475 anos da capital baiana, os autores conversaram com Murillo Anderson Barbosa, doutor em Ciências Agrárias e professor de climatologia na Rede UniFTC.
Algumas características de Salvador oferecem mais riscos em casos de eventos climáticos extremos. “É uma cidade tropical que está no nível do mar. O sistema de drenagem da cidade não é apto a receber toda a água que vem dos eventos de precipitação, por exemplo. Isso já atrapalha muito a vida das pessoas e a tendência é piorar.”
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José Maria Landim, professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), também falou ao g1 .Ele acredita que a praia do Porto da Barra, uma das mais frequentadas da cidade desaparecerá, justamente por causa do aquecimento global e do consequente avanço do mar.
Segundo a matéria, ‘a agência internacional Climate Central previu, há dois anos, que pontos famosos e com grande importância cultural e histórica, serão fortemente afetados pelo avanço do mar até o ano de 2100, entre eles o Mercado Modelo, a Ilha dos Frades e trecho do Subúrbio, além do Porto da Barra.’
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E atenção, isso é só o começo de nossos problemas. Estas previsões sobre Salvador consideram um aumento de temperatura de 1,5ºC, ou seja, a meta do Acordo de Paris. Contudo, muitos cientistas acreditam que ela será ultrapassada.
Enquanto isso, dezenas de cidades costeiras brasileiras empenham milhões de reais na engorda de praias, sem terem certeza de que funcionará. A mais nova candidata para fica na cidade de Navegantes, SC. A prefeitura acaba de lançar um edital da obra conjunta de alargamento da Praia do Gravatá e de construção de um molhe de contenção, com 128 metros. Serão cerca de R$ 35 milhões para conter o avanço do mar, segundo a NSC Total.
E enquanto estas notícias invadem a mídia dia sim, dia não, o Brasil continua atrasado em sem foco. Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), entre 2013 e 2022, o governo federal gastou R$ 13,4 bilhões em recuperação e resposta a desastres e apenas R$ 5,9 bilhões em prevenção.
Fica óbvio que devia ser ao contrário: mais investimentos em prevenção, certamente economizaria vidas e prejuízos.
Enquanto isso Marina Silva dorme sono esplêndido
Em tempo: até o momento Marina Silva ainda não falou a respeito dos problemas da subida do nível do mar em nosso imenso litoral, muito menos apresentou qualquer plano central para conter ou mitigar os efeitos do aumento do nível do mar e dos eventos extremos.
Também não se manifestou quando Recife encomendou um plano para a engorda das praias do município em março deste ano, local de maior apelo turístico da cidade já quase totalmente sem areia em razão de construções muito próximas do mar, aliado à subida de nível e eventos extremos. No entanto, matéria da Folha de S. Paulo informa que ‘a prefeitura do Recife promete fazer debates com ambientalistas sobre o assunto após a finalização da proposta’.
A falta gritante de um plano nacional
Desculpe, mas não se trata de ‘debater com ambientalistas’. Trata-se de uma gritante falta de um plano nacional, centralizado no ministério de Meio Ambiente e Mudança do Clima, uma vez que o problema é grave, não tem data para acabar, é provocado pela mudança do clima e envolve milhares de pessoas.
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A apatia do MMA prossegue mesmo depois de inúmeras praias, nas variadas regiões do litoral, terem passado pelo processo de engorda como Jurerê, SC, Caucaia, CE, Camboriú, PR, etc. São tantas, que em janeiro de 2024 a Folha de S. Paulo publicou a matéria Cidades fazem corrida para alargar praias e projetam usar 12 Maracanãs de areia.
O subtítulo do texto confirma a confusão que reina no litoral: ‘Especialistas alertam para projetos insuficientes e alto custo na manutenção dessas intervenções’. Em outras palavras, pela contínua omissão do MMA, cidades gastam milhões em obras duvidosas, e sem saber se elas serão suficientes, eficientes, ou ainda mais destrutivas.
A ficha do Ministério de Meio Ambiente e Mudança de Clima é dura de cair
A ficha só caiu agora. O site do diligente Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima informou, em 24 de março de 2024 ou seja ontem, que o “Governo federal, Estados e municípios elaboram plano de adaptação à mudança do clima; Representantes dos três níveis de governo participaram de oficina para construção do novo Plano Clima”.
A pergunta é: porque esperar mais de um ano para começarem? Onde está Marina Silva? É inacreditável a ausência. Já em 2021 publicamos Cidades brasileiras mais ameaçadas pelo avanço do mar, mostrando que ‘Porto Alegre, Santos, Salvador, Recife, Fortaleza e São Luís são as cidades mais ameaçadas pela subida do nível do mar de acordo com estudo do Climate Central, ONG que analisa e informa sobre a ciência do clima’.
Na semana em que saiu o estudo do Climate Central foi manchete na mídia nacional, e saiu em dezenas de sites até porque apresentava ilustrações sobre como ficariam estas cidades com aumento da temperatura se mantendo em 1,5ºC, até 4ºC a mais na temperatura. E o resultado impressionou a todos. Todos, menos uma pessoa…
Imagem de abertura: NOAA
Mary Ann Brown Patten: 19 anos, grávida e capitã de um clipper em 1856