Lula ou Bolsonaro…E o meio ambiente?
Finalmente chegamos ao final das eleições que acontecerá domingo, impregnada de ódio e intolerância, com uma divisão nunca vista na sociedade brasileira. E que vai permanecer por longo tempo. Este site sente-se na obrigação de comentar o que é o nosso tema há tantos anos: e o meio ambiente, como ficará? Trata-se, a nosso ver, de escolha de Sofia. Ruim com um, pior com outro. Entretanto, já há algumas eleições, temos analisado a política ambiental proposta pelos respectivos candidatos, como fizemos em 2018 em Propostas ao meio ambiente dos presidenciáveis, conheça. É o que faremos, de maneira breve: Lula ou Bolsonaro?
A incompreensão atual, ou seja, ‘polarização’ é eufemismo
A radicalização é de tal monta que milhares perderem o senso do ridículo, logo, desqualificam a escolha de outro cidadão como se bandido fosse. Nunca houve isso no Brasil, algo pernicioso, desnecessário e, sobretudo, perigoso. É por este motivo que este parêntesis é necessário.
Não temos, neste post de opinião, a pretensão de influenciar quem quer que seja. Mas temos obrigação, com aqueles que nos dão sua preferência, de abordar um dos temas mais importantes da atualidade. O meio ambiente e ‘o maior desafio da humanidade’ como já foi classificado o desenfreado aquecimento global que põe em risco a humanidade.
Curiosamente, este foi dos aspectos menos discutidos até o momento. E só isto já prova o que dissemos: escolha de Sofia entre aparentes alienados.
Debate de ontem…
Uma tremenda perda de tempo, e um deboche com a população, é o mínimo que se pode dizer. Quanto ao tema deste site, inacreditavelmente, Lula perdeu uma enorme oportunidade. É sabido, até pelos simpatizantes de Bolsonaro, que foi no governo Lula que o desmatamento foi contido como mostra o gráfico abaixo, sem falar na criação de Unidades de Conservação.
Ao mesmo tempo, até os simpatizantes de Bolsonaro sabem que o isolamento do Brasil deve-se a política ambiental destrambelhada de seu governo. Um presidente de uma nação importante que até hoje não acredita no aquecimento do planeta. E Lula não soube se aproveitar disso quando teve a chance…É como dissemos, uma escolha de Sofia.
Enquanto isso, os brasileiros hoje são reféns dos eventos extremos. Bilhões de reais em prejuízos, centenas de mortos, e milhares de desabrigados especialmente entre os mais pobres, ano após ano, por inação do poder público.
Lula ou Bolsonaro?
Este site já criticou a política ambiental de João Dória e Bruno Covas, do PSDB; Lula, Dilma, e Marina Silva (quando a serviço do partido), do PT; e, claro, Jair Bolsonaro, e Ricardo Salles, do PL.
Também criticamos o ‘guru’ ambiental de Bolsonaro, Evaristo de Miranda, da Embrapa e, finalmente, publicamos ainda o post Presidentes e o meio ambiente, desde a redemocratização. Nele, fizemos rápida análise de todos os presidentes, desde 1985 e até o atual, do ponto de vista de suas políticas ambientais.
Jair Bolsonaro
Por isto nos sentimos à vontade. Voltemos, portanto, ao que de fato interessa. Bolsonaro é um caso à parte também neste aspecto. Foi o único entre todos os presidentes desde a redemocratização a não criar nenhuma unidade de conservação. Ao contrário. Bombardeou todas. Da ESEC de Tamoios, RJ, onde foi pego em flagrante pescando ainda quando era deputado, até Fernando de Noronha, uma unidade de proteção integral (onde a pesca igualmente é proibida).
E não foi só. Palpiteiro e despreparado, investiu contra a proibição da pesca de arrasto, uma das piores e mais mortíferas artes de pesca, depois que finalmente o Estado do Rio Grande do Sul aprovou uma Lei (por unanimidade na Assembleia Legislativa) restringindo o arrasto a menos de 12 milhas da costa.
Baía de Angra dos Reis, e outros
Quanto à baía de Angra dos Reis, onde fica a ESEC de Tamoios, cismou de ‘transformá-la numa Cancún‘, provando mais uma vez ignorância. Mas isto não foi nem de longe o pior. Duro mesmo foi o desmonte provocado no arcabouço funcional, e jurídico, ambiental. Comentamos no post Política ambiental destroçada, e novas boiadas.
Antes de mais nada, o desmonte já nos custa muito caro. Foi em razão dele, e da deliberada omissão quanto à fiscalização, que a Amazônia está hoje entregue a quadrilhas de grileiros, especuladores, e ao garimpo ilegal. O desmatamento em terras públicas e Terras Indígenas, aliado ao garimpo ilegal, explodiram. Enquanto isso, o Pantanal foi devastado nos últimos quatro anos.
Por considerar que o aquecimento global não existe, seria ‘coisa de comunistas’, o desmatamento acelerado da Amazônia põe em risco o Pantanal onde já chove menos em consequência da perda da floresta úmida. E tudo isto em nome do quê? Segundo o governo Bolsonaro, em nome do agronegócio.
Ora, o agronegócio tão importante para a economia foi o setor mais atingido. O Brasil atual é considerado um pária. E nossos parceiros comerciais já alertaram que a retaliação virá, cedo ou tarde.
Por último, o Brasil de Jair Bolsonaro não tem qualquer política para o aquecimento global. O pouco que havia foi destruído por Ricardo Salles. Com isso, passamos a…
Lula da Silva
Ao tempo de sua pupila, Dilma Roussef, havia um único consenso entre ambientalistas. Qual teria sido o pior governo em termos de meio ambiente? Em qualquer roda ambiental a resposta era unânime: Dilma Roussef. Este site não se cansou de alertar.
Em 2015 publicamos Desmatamento da Amazônia: Dilma cortou verba. Antes, em 2014, outro post: Dilma não criou novas Unidades de Conservação na Amazônia. E assim foi. Dilma era unanimemente tida como a pior. Até o advento Ricardo Salles…ele conseguiu eclipsar o ‘poste’ de Lula.
Contudo, Lula da Silva é responsável pela criação de 26.828.924,53 hectares da Amazônia em unidades de conservação, a maior quantidade entre todos os presidentes desde 1988. FHC, por exemplo, criou 81 unidades de conservação, totalizando 20.790.029,14 de hectares protegidos, ficando em segundo lugar.
No entanto, assim como Bolsonaro ‘aparelhou’ a máquina pública, Lula fez o mesmo com os partidários da esquerda. Assim, alçou ao cargo de ministro do Meio Ambiente, Marina Silva.
Apesar dela ser um ícone do setor, não concordamos com seu estilo messiânico, muito menos com muitas de suas medidas ambientais baseadas mais na crença política que na conservação. Assim, ao tempo de Marina cresceram de forma assustadora as famigeradas RESEX, ou Reservas Extrativistas, mais uma das 12 categorias de unidades de conservação do País que, todavia, nada tem a ver com conservação.
Fez outra bobagem ao desmembrar o Ibama para criar o ICMBio e assim homenagear seu objeto de devoção, Chico Mendes. Mas esqueceu-se de dar estrutura aos órgãos que já eram precários, e que ficaram ainda mais na miséria e, em consequência, semi-inoperantes.
Parques Nacionais ao deus-dará ao tempo de Lula
Por seu viés político, Lula não se apercebeu da importância dos abandonados parques nacionais e seu potencial turístico, como gerador de empregos e renda, por exemplo. Aliás, este talvez seja o único ponto positivo do governo Bolsonaro (do ponto de vista ambiental). Seu ministro, Ricardo Salles, deu andamento, ainda que de forma autocrática, às concessões de unidades de conservação conforme já comentamos.
Mesmo que o resultado tenha sido pífio, por falta de transparência e planejamento, consideramos um mérito do atual governo ter seguido exemplo do Parque Nacional do Iguaçu, o primeiro a operar em regime de concessão a partir de 1998. Não por acaso, a vida dos munícipes mudou. Com os empregos gerados, e a renda produzida, melhorou sensivelmente a qualidade de vida dos cidadãos desde então.
Lula fez ainda outras bobagens inomináveis ao tempo de seu primeiro mandato. Entre elas, talvez a pior, sempre do ponto de vista ambiental, foi a liberação da porteira ao famigerado MST, o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra. E eles atazanaram a vida no campo, em especial, o agronegócio. Muito do apoio do setor ao atual governo deve-se a esta abertura de porteiras…
Por último, Lula da Silva criou o Ministério da Pesca em seu primeiro governo, e prometeu uma reforma aquária (sic). Outra bobagem. A pesca no Brasil é fraca simplesmente porque somos um país tropical de águas quentes, portanto, com pequena biomassa pesqueira. Nada justifica a criação de um ministério da Pesca a não ser o desperdício dos dinheiros públicos.
Finalizando, a conclusão do mar sem fim
Do ponto de vista ético, consideramos ‘empate’ entre Lula e Bolsonaro. E repudiamos a corrupção praticada por ambos. Moralmente, um é cínico, outro, mentiroso compulsivo; e os dois são populistas. Já, do ponto de vista ambiental nada pode ser pior que o governo Jair Bolsonaro. Como se sabe, o Brasil está isolado do bloco ocidental em lugar da ‘referência ambiental’ que já foi.
O desafio do próximo presidente
O desafio será tornar de volta operacional o Ministério do Meio Ambiente completamente asfixiado por falta de verbas, e totalmente ‘aparelhado’ por policiais da PM paulista – obra de Ricardo Salles -, que nada conhecem sobre nossos biomas e problemas ambientais.
Contudo, trazer o MMA de volta à operacionalidade levará anos, se não décadas. Por mais que haja vontade política, a falta de verbas será sempre maior…E não temos mais tempo. Como diz o secretário-geral da ONU, António Guterres, a lerdeza da reação mundial ao enfrentamento do aquecimento do planeta nos leva ao caminho do ‘suicídio coletivo.’
E Jair Bolsonaro sequer acredita que haja aquecimento…por isso mesmo, só uma atitude seria pior que escolher o ‘menos ruim’: a alternativa.
Pense sobre isto, boa eleição, e que semana que vem a família brasileira (inclusa a minha…) se reúna para iniciarmos juntos a fundamental reconciliação nacional.
Concordo, não temos nenhum representante que que se importa com o tema. Mas apenas dois pontos que acredito ter deixado de fora:
1. A liberação dos transgênicos no governo Lula. (Pra mim, uma das piores decisões do nosso país nas questões Saúde e meio ambiente)
2. O novo código florestal do governo Dilma. Uma tragédia irreparável que está mostrando seu resultado agora. Ninguém atribui o desmatamento atual ao novo código florestal, engraçado isso? Como as pessoas esquecem rápido.
Abs
Excelente análise. Infelizmente o ambiente não fez parte do debate eleitoral, como aliás nada de relevante foi discutido na campanha toda. Que falta de mentalidade ao não ver que a maior riqueza brasileira é a natureza!
Muito equilibrado o artigo, com informações gráficas e outras verdades. Sim, nossa escolha só poderá ser o menos pior. Aliás, em tudo, não só no Meio ambiente, como ainda na Educação, Saúde, Infraestrutura que, no conjunto, nos proporcionará uma cultura, o fazer, de uma nova realidade brasileira para o século XXI.
Excelente análise, nossa situação ambiental é crítica e os 2 candidatos não estão preparados para enfrentar o problema. Resta a necessidade de pressão da Sociedade e ações de iniciativa provada