James Cameron: uma voz a favor da mineração em alto-mar
Quem acompanha este site sabe que a polêmica da vez é a mineração em alto-mar, prevista para começar em 2025. A maioria dos envolvidos é contrária, especialmente pesquisadores e ambientalistas. Contudo, recentemente o conhecido cineasta James Cameron declarou-se favorável à mineração. Ele tornou-se um respeitável explorador submarino e se especializou justamente nos fundos oceânicos. Em 2012 foi a primeira pessoa a descer num batiscafo sozinho até o fundo da Fossa das Marianas, local mais profundo dos oceanos com 10.994m. É um dos promotores da expedição “Deep Sea Challenge”, que tem como objetivo a exploração e investigação científica dos fundos dos oceanos, e já desceu 33 vezes no local de naufrágio do Titanic, a 4 mil metros. Portanto, é oportuno conhecer seus argumentos.
Uma voz a favor da mineração submarina
Nos últimos tempos é raro encontrar alguém, que não esteja diretamente envolvido, falando a favor da mineração submarina. Por isso, e pelo respeito de que desfruta na comunidade científica, consideramos que nossos leitores deveriam conhecer a opinião de James Cameron.
O cineasta explorador teve reconhecimento mundial ao descer ao ponto mais profundo dos oceanos num submersível por ele coprojetado. De tanto se especializar, hoje é coproprietário de uma fábrica de mini submarinos.
Antes dele, apenas duas pessoas conseguiram tal feito: Jacques Piccard e Don Walsh, que desceram juntos em 1960. Isso dá a medida do respeito que a comunidade de pesquisadores oceânicos tem por ele.
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James Cameron argumentou que é “menos errado” minerar no fundo do mar do que minerar em terra. “Já vi muito fundo do mar”, disse o diretor do Titanic e explorador talentoso do fundo do mar. “E embora existam algumas criaturas incríveis, elas tendem a se agrupar em pequenos habitats. O que você mais tem são quilômetros e quilômetros de nada além de argila.
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Sua visão, que ele admitiu torná-lo “uma espécie de atípico”, é contestada por cientistas e ambientalistas que afirmam o contrário: que o fundo do oceano é um lugar mais rico e biodiverso do que se pensava anteriormente, com novas espécies descobertas a cada vez que olham. A mineração em águas profundas, disse um deles, resultaria em “extinção em uma vasta escala de tempo”.
Zona Clarion-Clipperton (CCZ), Pacífico
Por muitas décadas, a planície abissal – onde a luz do sol não consegue penetrar e os organismos precisam se adaptar para lidar com pressões extremas – foi considerada um deserto subaquático. O principal alvo das empresas de mineração em águas profundas é uma área específica do Pacífico, entre o Havaí e o México, a Zona Clarion-Clipperton (CCZ), repleta de rochas e nódulos polimetálicos. Estima-se que ela contenha mais cobalto e níquel – ingredientes-chave em baterias elétricas – do que todos os depósitos de terra conhecidos.
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Cameron – que descobriu várias novas espécies em suas próprias expedições autofinanciadas – vê a mineração em alto-mar como o menor de dois males. Ele observa que a mineração em terra não afeta apenas “ecossistemas de floresta tropical altamente diversos”, mas também populações indígenas. “A sociedade”, diz ele, “tem o estranho hábito de exagerar na proporção da coisa errada”.
Sua opinião ecoa um editorial recente do Economist, argumentando que a mineração em alto-mar é uma forma menos invasiva de obter os minerais necessários para uma economia verde. Os oponentes respondem que, embora Cameron esteja certo sobre o impacto da mineração nas florestas tropicais, é altamente improvável que a mineração em alto-mar reduza qualquer mineração em terra.
‘Existe biologia lá’, diz um dos cientistas ouvidos pelo Guardian
Para finalizar, o Guardian ouviu o Dr. Adrian Glover, biólogo de águas profundas do Museu de História Natural: Existe biologia lá. Se você olhar para a macrofauna, a diversidade é notavelmente alta. As planícies abissais são altas em diversidade, mesmo que sejam baixas em abundância.”
Embora tenhamos “aumentado maciçamente” nosso conhecimento sobre a CCZ, muito ainda não foi descrito, diz ele. “Não conhecemos seu subsolo marinho. É difícil prever a taxa de extinção sem saber onde as coisas vivem.”
Por fim o Guardian diz que os cientistas também receiam os efeitos da poluição sonora que ‘pode irradiar até 500 km, prejudicando os mamíferos marinhos de mergulho profundo, bem como os ecossistemas’.
Para encerrar, saiba que a partir de 2025, e até 2028, a secretária-geral da ISA será a oceanógrafa brasileira, Leticia Carvalho.
Assista ao vídeo usado pelo Guardian para ilustrar a matéria
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